ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE ARTIGOS DEFINIDOS DIANTE DE POSSESSIVOS PRÉ-NOMINAIS E ANTROPÔNIMOS EM DADOS DE FALA* 1

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Transcrição:

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE ARTIGOS DEFINIDOS DIANTE DE POSSESSIVOS PRÉ-NOMINAIS E ANTROPÔNIMOS EM DADOS DE FALA* 1 Alane Luma Santana Siqueira (UFRPE/UAST) alane.siqueira@gmail.com 1. Introdução O Português Brasileiro, diferentemente de outras línguas, apresenta na língua escrita e na língua oral uma variação no uso do artigo definido antes de antropônimos (nomes próprios) e de pronomes possessivos. Há momentos em que observamos a presença desse tipo de artigo (1) e há momentos também em que observamos a sua ausência (2), conforme apresentam os exemplos abaixo: (1) O João perdeu o livro / O meu tio perdeu o livro (2) João perdeu o livro / Meu tio perdeu o livro Todas as construções acima são gramaticais na língua supracitada e, ainda, confrontando os exemplos em (1) e em (2), parece não haver uma diferença em termos semânticos. Nesse sentido, talvez seja possível afirmar que esse tipo de artigo se comporta como um elemento expletivo (cf. CASTRO, 2006; LONGOBARDI, 1994), isto é, sem carga semântica. Desse modo, a utilização de uma forma ou de outra não acarretaria em uma diferença no sentido da sentença nesses contextos pelo menos aparentemente. No estudo apresentado em Pereira & Sedrins (2011), em que o autor analisou a ocorrência de artigos definidos diante de nomes próprios e de possessivos pré-nominais em dados de fala provenientes da região do semiárido pernambucano, foi observada uma baixíssima frequência no uso do artigo definido diante de nomes próprios, com uma maior ocorrência antes de pronomes possessivos. Apesar de ser um fenômeno não estigmatizado, a frequência de uso pode diferir de maneira considerável a depender de algumas variáveis, como mostrado por Callou & Silva (1997), Silva (1998a, 1998b), Pereira & Sedrins (2011), entre outros. Nesse sentido, um estudo linguístico norteado a partir de tal constatação se mostra pertinente a fim de tentar * Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). Processo BIC-2077-8.01/13.

explicar o que está determinando a ausência ou inserção do artigo nos contextos supracitados em dados do sertão de Pernambuco. Desse modo, tomando como arcabouço teórico-metodológico a Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), que acredita ser a língua heterogênea e um retrato social da comunidade, o nosso estudo buscou verificar se e como variáveis de ordem linguística e extralinguística exercem papel na variação do artigo definido nos contextos linguísticos supracitados em dados de fala do município de Serra Talhada, pertencente ao sertão de Pernambuco. O trabalho está estruturado da seguinte forma: na próxima seção, apresentaremos a metodologia utilizada; na seção posterior, mostraremos o resultado da análise das variáveis extralinguísticas e linguísticas que consideramos a fim verificar se influenciariam ou não no fenômeno variável aqui analisado. Após isso, teceremos nossas considerações finais em relação aos resultados obtidos. 2. Metodologia adotada Tomando como arcabouço teórico-metodológico a Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), tentamos verificar, em dados de língua falada coletados por nós no município de Serra Talhada-PE, se algumas variáveis de ordem linguística e extralinguística poderiam estar influenciando no uso ou não do artigo definido diante de nomes próprios e pronomes possessivos. Para tanto, foram coletadas doze entrevistas informais. A amostragem está composta da seguinte forma: TABELA 1. Estratificação das variáveis extralinguísticas Faixa etária Sexo Número de informantes 10 anos masculino 2 10 anos feminino 2 20-39 anos masculino 2 20-39 anos feminino 2 Acima de 55 masculino 2 Acima de 55 feminino 2 Total de informantes 12 Antes da coleta dos dados, elaboramos uma ficha social para recolher os dados sociais dos falantes, assim como um questionário semiestruturado, tentando induzir à ocorrência do fenômeno. Os falantes escolhidos consistem naqueles nascidos e criados na

cidade em estudo ou que tenham sido inseridos no município antes dos cinco anos de idade, para que não tivesse, como afirma Tarallo (2006, p. 28), [...] reflexo sobre a marca sociolinguística do grupo estudado. Fizemos as entrevistas orais informais tentando fazer com que o informante ficasse à vontade no momento da entrevista, se preocupando mais com o que iriam responder e não com a maneira em que iriam falar. Após a entrevista, explicamos ao informante o verdadeiro motivo da pesquisa e, caso ele permitisse a utilização da gravação, pedíamos que assinasse um termo de consentimento. Posteriormente, fizemos as transcrições com base nas normas do Programa de Estudos Linguísticos (PRELIN) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Sabendo que a Sociolinguística Variacionista defende que há uma correlação entre a língua e o social, selecionamos algumas variáveis de ordem linguística e extralinguística a fim de verificar se elas estariam ou não influenciando na escolha do falante por uma ou outra forma da língua (isto é, com artigo ou sem artigo). Para o resultado extralinguístico, tanto em relação aos nomes próprios quanto em relação aos pronomes possessivos, selecionamos a variável faixa etária, sendo seus fatores: (i) 10 anos, (ii) 20-39 anos e (iii) acima de 55 anos, a fim de verificar se há uma diferença a depender da faixa de idade do falante. Além disso, selecionamos a variável sexo, sendo seus fatores: (i) masculino e (ii) feminino, com intuito de verificar se há ocorrência maior de uso do artigo pelo sexo masculino ou pelo sexo feminino ou se não há divergência. Para a análise linguística em relação aos nomes próprios, consideramos as seguintes variáveis: (i) status informacional, (ii) tipo de informação, (iii) sintagma nominal regido ou não por preposição e (iv) tipo de preposição. Para a análise linguística em relação aos possessivos, selecionamos as variáveis: (i) status informacional, (ii) relação semântica, (iii) a pessoa do discurso, (iv) sintagma nominal regido ou não por preposição e (v) tipo de preposição. Após selecionarmos os dados para análise, inserimos códigos neles a fim de rodarmos no programa computacional GOLDVARB X para verificar quais variáveis consideradas foram realmente significativas e quais não foram. Os sistemas de códigos utilizados para a análise linguística e extralinguística podem ser visualizados a seguir, apresentando, nesse sentido, os fatores de cada variável analisada. O quadro 1 mostra o sistema utilizado para os possessivos e o quadro 2 mostra o sistema de códigos utilizado para os nomes próprios.

QUADRO 1. Sistema de códigos para os dados com pronomes possessivos SISTEMA DE CÓDIGOS (POSSESSIVOS) Variável dependente C (= com artigo) S (= sem artigo) Variáveis independentes extralinguísticas Grupo 1: Gênero F (= feminino) M (= masculino) Grupo 3: Contexto preposicionado P (= preposição) Q (= sem preposição) Grupo 5: A pessoa do discurso G (= meu, minha, meus, minhas) H (= seu, sua, seus, suas) I (= nosso, nossa, nossos, nossas) Grupo 7: Status informacional V (= elemento novo) A (= elemento antigo) Grupo 2: Faixa etária 1 (= faixa 1 10 anos) 2 (= faixa 2 20-40 anos) 3 (= faixa 3 acima de 50) Variáveis independentes linguísticas Grupo 4: Tipo de preposição X (= por) Y (= em) Z (= de) L (= para) U (= sem preposição) Grupo 6: Relação semântica B (= parentesco) D (= possuído inerente) E (= possuído não inerente) J (= relações humanas) K (= outro) C (= com artigo) S (= sem artigo) Grupo 1: Gênero F (= feminino) M (= masculino) Grupo 3: Contexto preposicionado P (= preposição) Q (= sem preposição) Grupo 5: Tipo de informação C (= compartilhada) N (= não compartilhada) QUADRO 2. Sistema de códigos para os dados com antropônimos SISTEMA DE CÓDIGOS (NOMES PRÓPRIOS) Variável dependente Variáveis independentes extralinguísticas Grupo 2: Faixa etária 1 (= faixa 1 10 anos) 2 (= faixa 2 20-40 anos) 3 (= faixa 3 acima de 50) Variáveis independentes linguísticas Grupo 4: Tipo de preposição X (= por) Y (= em) Z (= de) L (= para) U (= sem preposição) Grupo 6: Status informacional V (= elemento novo) A (= elemento antigo) programa. A seguir, apresentaremos os resultados percentuais e probabilísticos gerados pelo

3. Resultados obtidos No nosso corpus, selecionamos 159 sintagmas com nomes próprios e 272 sintagmas com pronomes possessivos. O gráfico 1 apresenta os resultados em relação ao primeiro contexto e o gráfico 2 apresenta o resultado percentual em relação ao segundo contexto. GRÁFICO 1. Resultado geral de ausência e presença de artigo antes de nomes próprios 100,00% 85,50% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% 14,50% Com artigo (23/159) Sem artigo (136/159) GRÁFICO 2. Resultado geral de ausência e presença de artigo antes de pronomes possessivos 77,20% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 22,80% Com artigo (62/272) Sem artigo (210/272) Em relação aos nomes próprios, apenas 14,50% (23 de 159) dos dados vieram com artigo definido, em confronto com 85,50% (136 de 159) de ausência. Já em relação aos pronomes possessivos, o índice de uso do artigo foi um pouco maior, com 22,80% (62 de 272). Nesse sentido, em ambos os contextos, a preferência dos falantes foi em não usar o artigo (sendo que antes de possessivos, a ocorrência de utilização foi um pouco maior). Nas próximas subseções, apresentaremos algumas das variáveis que condicionaram esses resultados percentuais.

3.1 Resultado da análise das variáveis linguísticas Nesta subseção, apresentaremos os resultados das variáveis linguísticas que selecionamos como possíveis favorecedoras do uso ou não do artigo definido antes de nomes próprios e pronomes possessivos. Em relação ao status informacional, verificamos se os nomes próprios e possessivos eram elementos novos ou antigos no texto, isto é, levamos em consideração aqui se o referido havia feito a sua primeira entrada no discurso narrativo ou se ele já havia sido mencionado anteriormente. Tal variável não foi selecionada como significativa pelo GOLDVARB X. A tabela 1 apresenta o resultado dos nomes próprios e a tabela 2 o resultado dos pronomes possessivos. Tabela 1. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação ao status Elemento novo Com artigo Sem artigo Peso relativo % (15/111) 13,5% (96/111) 86,5%.506 Elemento antigo Com artigo Sem artigo Peso relativo % (8/48) 16,7% (40/48) 83,3%.487 Tabela 2. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação ao status Elemento novo Com artigo Sem artigo Peso relativo % (30/147) 20,4% (117/147) 79,6%.466 Elemento antigo Com artigo Sem artigo Peso relativo % (32/125) 25,6% (93/125) 74,4%.540 Nos nossos dados, o programa não selecionou tal variável como sendo significativa para o fenômeno, estando os pesos relativos na escala de neutralidade (que é entre 0.45 a 0.55) 2. Os percentuais apontam também que não há uma diferença significativa. Nos nomes próprios, a ocorrência de uso de artigo quando o elemento era novo foi de 13,5% e quando era antigo foi de 16,7%; já com os possessivos, a ocorrência de uso foi de 20,4% quando era um elemento novo e quando antigo foi de 25,6%. Em relação ao contexto preposicionado, esta variável foi selecionada como significativa apenas nos dados com possessivos, mas não com os antropônimos. A tabela 3 a 2 Essa escala de neutralidade indica que o fator não favorece nem desfavorece o uso de uma das variantes dependentes.

seguir apresenta os resultados em relação aos nomes próprios e a tabela 4 apresenta os resultados em relação ao primeiro contexto, dos possessivos. Tabela 3. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação ao contexto preposicionado Com preposição Com artigo Sem artigo Peso relativo % (4/12) 33,3 (8/12) 66,7.689 Sem preposição Com artigo Sem artigo Peso relativo % (19/147) 12,9% (128/147) 87,1%.484 Tabela 4. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação ao contexto preposicionado Com preposição Com artigo Sem artigo Peso relativo % (44/53) 83% (9/53) 17%.979 Sem preposição Com artigo Sem artigo Peso relativo % (18/219) 8,2% (201/219) 91,8%.289 O GOLDVARB X não selecionou a variável contexto preposicionado como sendo significativa para o fenômeno em análise nos dados com nomes próprios, estando, inclusive, o peso relativo do fator sem preposição na escala de neutralidade (.484). Já em relação aos dados com possessivos, tal variável se mostrou bastante significativa. Quanto mais uso de preposição antes dos pronomes, mais uso de artigo (.979); quanto mais ausência de preposição, maior probabilidade de não aparecer artigo em tais contextos. No que diz respeito à variável tipo de preposição, verificamos que esta se mostrou significativa somente nos dados com pronomes possessivos. Vale salientar que nos dados com nomes próprios só apareceu a preposição de. As tabelas a seguir apresentam os resultados percentuais e pesos relativos nos dois contextos aqui analisados. Tabela 5. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação ao tipo de preposição De Com artigo Sem artigo Peso relativo % (4/13) 30,8% (9/13) 69,2%.459 Tabela 6. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação ao tipo de preposição De Com artigo Sem artigo Peso relativo % (18/28) 64,3% (10/28) 35,7%.163

Em Com artigo Sem artigo Peso relativo % (24/25) 96% (1/25) 4%.863 Por Com artigo Sem artigo Peso relativo % (1/1) 100% (0/1) 0% * KnockOut * Para Com artigo Sem artigo Peso relativo % (1/1) 100% (0/1) 0% * KnockOut * O peso relativo em relação aos antropônimos mostra que a variável tipo de preposição não foi condicionante, uma vez que ficou na escala de neutralidade (.459). Os pesos relativos em relação aos possessivos, por sua vez, mostram que quando a preposição é em (.863) há uma tendência muito maior em usar o artigo do que se vier com a preposição de (.163), mostrando que essa variável foi significativa. Os dados que deram knockout, por virem com 100% de uso, tiveram que ser descartados pelo fato de o programa só trabalhar com variação para gerar os pesos relativos (por isso, apresentamos apenas a porcentagem). Em relação ao tipo de informação, que foi verificado apenas nos dados com nomes próprios, levamos em consideração se a informação era compartilhada, isto é, se o antropônimo utilizado era do domínio público, como artistas de televisão, jogadores de futebol etc., ou se a informação era não compartilhada, ou seja, se o antropônimo não era de uma pessoa pública. Observe os resultados obtidos na tabela 7. Tabela 7. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação ao tipo de informação Compartilhada Com artigo Sem artigo Peso relativo % (19/97) 19,6% (78/97) 80,4%.597 Não compartilhada Com artigo Sem artigo Peso relativo % (4/62) 6,5% (58/62) 93,5%.350 O programa, mais uma vez, não selecionou tal variável como sendo significante. Se olharmos para os percentuais e pesos relativos, percebemos que realmente não há uma diferença de uso relevante para apontar tal variável como sendo significativa. As variáveis relação semântica e a pessoa do discurso que selecionamos para os dados com possessivos também não foram significativas, sendo a relação de parentesco a

que mais condiciona o não uso do artigo (cf. tabela 8), ao que parece, e o pronome de terceira pessoa nosso (a) (cf. tabela 9). Tabela 8. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação ao tipo de relação semântica Parentesco Com artigo Sem artigo Peso relativo % (16/153) 10,5% (137/153) 89,5%.410 Relações humanas Com artigo Sem artigo Peso relativo % (5/34) 14,7% (29/34) 85,3%.553 Possuído inerente Com artigo Sem artigo Peso relativo % (0/2) 0% (2/2) 100% * KnockOut * Possuído não inerente Com artigo Sem artigo Peso relativo % (18/49) 36,7% (31/49) 63,3%.601 Outro tipo de relação Com artigo Sem artigo Peso relativo % (23/34) 67,6% (11/34) 32,4%.698 Tabela 9. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação à pessoa do discurso Meu(s), minha(s) Com artigo Sem artigo Peso relativo % (58/259) 22,4% (201/259) 77,6%.498 Seu(s), sua(s) Com artigo Sem artigo Peso relativo % (3/10) 30% (7/10) 70%.498 Nosso(s), nossa(s) Com artigo Sem artigo Peso relativo % (1/3) 33,3% (2/3) 66,7%.634 Em relação às variáveis linguísticas, apenas duas foram significativas para os dados com pronomes possessivos: (i) contexto preposicionado e (ii) tipo de preposição. Já em relação aos antropônimos, nenhuma variável foi significativa. A seguir, apresentaremos os resultados das variáveis extralinguísticas. 3.2 Resultado da análise das variáveis extralinguísticas Para a análise das variáveis externas à língua, selecionamos: (i) a faixa-etária e (ii) o sexo do informante, conforme mencionado anteriormente.

Em relação à faixa etária, esta foi selecionada como significativa apenas nos dados com antropônimos. Perceba que quando o informante é mais jovem, maior a tendência de uso de artigos, diminuindo a probabilidade quando o informante é mais velho. Tabela 10. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação à faixa-etária Faixa 1 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (20/79) 25,3% (59/79) 74,7%.673 Faixa 2 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (3/49) 6,1% (46/49) 93,9%.238 Faixa 3 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (0/31) 0% (31/31) 100% * KnockOut * A tabela 11 a seguir mostra que tal variável foi descartada pelo programa como significativa, estando na escala de neutralidade, mostrando que o uso de artigo antes de pronomes possessivos parece não ser influenciado pela idade do informante como foi nos dados com antropônimos. Tabela 11. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação à faixa-etária Faixa 1 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (15/97) 15,5% (82/97) 84,5%.456 Faixa 2 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (30/94) 31,9% (64/94) 68,1%.0583 Faixa 3 Com artigo Sem artigo Peso relativo % (17/81) 21% (64/81) 79%.455 No que tange à variável sexo, nos dados com antropônimos, tal variável foi significativa, uma vez que o sexo feminino tende a favorecer muito mais o uso do artigo (.777) se comparado ao sexo masculino (.287) este, por sua vez, tende a favorecer o não uso do artigo. Tabela 12. Ausência/presença de artigo com antropônimos em relação ao sexo Feminino Com artigo Sem artigo Peso relativo % (19/67) 28,4% (48/67) 71,6%.777 Masculino Com artigo Sem artigo Peso relativo

% (4/92) 4,3% (88/92) 95,7%.287 sexo. A tabela 13 a seguir apresenta os resultados do uso/não uso do artigo em relação ao Tabela 13. Ausência/presença de artigo com possessivos em relação ao sexo Feminino Com artigo Sem artigo Peso relativo % (34/134) 25,4% (100/134) 74,6%.540 Masculino Com artigo Sem artigo Peso relativo % (28/138) 20,3% (110/138) 79,7%.462 Conforme é possível perceber, a variável sexo não foi significativa, estando os pesos relativos na escala de neutralidade. 4. Considerações finais O primeiro ponto que merece ser mencionado é o fato de o artigo se comportar de maneira distinta nos contextos selecionados. Em relação aos nomes próprios, as únicas variáveis consideradas significativas foram: faixa etária e sexo. Já em relação aos pronomes possessivos, as variáveis selecionadas foram: contexto preposicionado e tipo de preposição. Mesmo que tais contextos não tenham sido influenciados pelas mesmas variáveis, apresentam uma sistematicidade, conforme pudemos perceber nos resultados. É interessante mencionar que, ao que parece, na medida em que o falante vai ficando mais velho, a tendência é utilizar menos artigos antes de nomes próprios, indicando que o uso parece não fazer parte da gramática daquela comunidade, e o índice significativo produzido pela faixa 1 é possível graças a uma influência externa, possivelmente midiática, em falantes que ainda não possuem a gramática adulta (estando mais sensíveis à influência). Um indício disso foi a faixa 3 dos informantes mais velhos ter sido anulada por vir com 100% de ausência de artigos diante dos antropônimos. Como afirma Mollica (2007, p. 11), [...] os condicionamentos que concorrem para o emprego de formas variantes são em grande número, agem simultaneamente e emergem de dentro ou de fora dos sistemas lingüísticos. Mesmo que algumas das variáveis que consideramos não tenham se mostrado significativas, outras podem estar também

influenciando o sistema ao mesmo tempo, mostrando que essa influência parece ser inesgotável e permitindo a sistematicidade da língua, mesmo nesses casos de variação em que o falante faz suas escolhas linguísticas de forma espontânea. Por fim, esperamos que esta pesquisa possa contribuir com a construção de uma fotografia sociolinguística do sertão de Pernambuco, que ainda é pouco estudado em termos sócio(linguísticos). Referências CALLOU, Dinah; SILVA, Giselle Machline de Oliveira e. O uso do artigo definido em contexto específico. In: HORA, Dermeval da (Org.). Diversidade Linguística no Brasil. João Pessoa: Idéia, 1997. CASTRO, A. On possessive in Portuguese. Tese de doutoramento, Universidade Nova de Lisboa/Université Paris 8. 2006. LABOV, W. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972]. LONGOBARDI, G. Reference and Proper Names: A Theory of N-Moviment in Syntax and Logical Form. Linguistic Inquiry 25,4: 609-665. 1994. MOLLICA, Maria Cecilia. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza (orgs.). Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 9-14. PEREIRA, D. K. F.; SEDRINS, A. P. S. A variação na realização do artigo definido na língua falada no sertão pernambucano. In: XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 2011, Serra Talhada. Anais... [Recife]: Adaltech, 2011. SILVA, Giselle Machline de Oliveira e. Realização facultativa do artigo definido diante de possessivo e de patronímico. In: SCHERRE, Maria Marta Pereira; SILVA, Giselle Machline de Oliveira e (orgs.). Padrões sociolinguísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1998. p. 119-145.. Emprego do artigo diante de possessivo e de patronímico: resultados sociais. In: SCHERRE, Maria Marta Pereira; SILVA, Giselle Machline de Oliveira e (orgs.). Padrões sociolinguísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1998. p. 265-281. TARALLO, F. A Pesquisa Sociolinguística. 7. ed. São Paulo: Ática, 2006.