A EDUCAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE SABERES NO/PELO TRABALHO Márcia Maria Gurgel Ribeiro César Quintão Froes Abordamos, no presente artigo, aspectos sobre as relações sociais dos processos de trabalho coletivo, solidário e cooperativo, relacionados aos saberes que são construídos no, pelo e para o trabalho, no contexto das configurações econômicas e culturais da sociedade contemporânea. Indagamos sobre os processos de formação e de educação que se plasmam na organização do trabalho e que constituem elementos da própria cultura do trabalho que vai se concretizando no espaço do trabalho cooperativo. Consideramos, como objetivo, analisar as relações entre os processos de organização e gestão de trabalho pelos próprios trabalhadores em associações, cooperativas e outras formas de produção autônoma e coletiva e os processos educativos não formais. Salientamos que as associações cooperativas e outras formas de produção autônoma e coletiva têm assumido caráter formal e que ao tratar de processos educativos não formais que nelas ocorrem, esses processos estão colocados em relação com os processos escolarizados. Apresentamos a revisão bibliográfica sobre o tema Trabalho e Educação na contemporaneidade, constituindo aportes para a compreensão de alternativas da economia informal e solidária e da organização do trabalho de forma cooperativa numa associação local de trabalhadores. Focalizamos, ainda, aspectos sobre o tema construção de saberes que se dá pelo e no trabalho, privilegiando a relação entre o trabalho cooperativo e processos formativos e educativos. esgarçada 1. O trabalho na sociedade contemporânea: dados de uma humanidade A tendência à informalidade do trabalho tem se acentuado desde as décadas de 1980 e 1990 em que predomina uma tendência de redução do assalariamento com carteira assinada e de aumento do desemprego e das ocupações sem carteira assinada. Apesar de estar em queda, em 2006 (IPEA, 2007), a taxa de desemprego era de 8,4% da população economicamente ativa e o grau de informalidade era de 55,1%, do total de trabalhadores ocupados no Brasil, indicadores que não tem se alterado significativamente.
2 Outro fator relacionado à expansão da informalidade do trabalho é o analfabetismo ou a baixa escolaridade. No país, havia em 2007 (IBGE, 2008) 14,1 milhões de analfabetos entre as pessoas de 15 anos ou mais de idade - uma taxa de 10,0%, com redução em relação a 1997, quando a taxa era de 14,7%. A distribuição espacial desse grupo mostrava, em 2007, uma concentração (52%) no Nordeste. O fenômeno do analfabetismo também está bastante relacionado às áreas rurais. A taxa rural (23,3%) era três vezes maior que a urbana (7,6%), embora a comparação com os dados de 1997 (taxa rural de 32,0%) mostre redução expressiva. A sociedade brasileira desafia pelos seus elevados indicadores de exclusão, apesar de, paradoxalmente, ocupar o sexto lugar entre as maiores economias do mundo e responder por 3% do PIB do planeta. A Síntese dos Indicadores Sociais 2008- Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira (IBGE, 2008) - mostra que, entre 1997 e 2007, caiu de 31,6% para 23,5%, o percentual de famílias com rendimento familiar per capita de até ½ salário mínimo. No Nordeste, essa queda foi de 53,9% para 43,1%. Em 2007, aproximadamente um terço das famílias vivia com rendimento mensal de até ½ salário mínimo per capita. No caso dos domicílios com crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, essa proporção subia para 46%. De acordo com essa Síntese, a contribuição da renda dos idosos representa mais da metade do total da renda domiciliar em 53% dos domicílios com idosos. No conjunto dos arranjos familiares no País, que correspondia a 60,1 milhões, em 2007, cerca de 39,0 milhões (65%) eram constituídos por casais e, em apenas 38,6% desses, ambos estavam trabalhando e tinham rendimento do trabalho. A análise do diferencial entre o rendimento do cônjuge e o do responsável mostra que a mulher cônjuge, em 73,8% dos casos, ganha menos que a pessoa de referência. O Nordeste (51,6% da população total) é a região que reconhecidamente apresenta o maior percentual de pessoas com rendimento familiar mensal de até ½ salário mínimo (SM) per capita. Quando se destaca apenas a população jovem da região (de 0 a 17 anos), o percentual nessa faixa de rendimento até ½ salário mínimo (SM) per capita passa para 68,1%. Destes, 36,9% viviam com somente até ¼ SM de rendimento familiar. Entre as crianças menores de seis anos do Nordeste, o percentual das que viviam com até ¼ de SM de rendimento familiar é ainda mais expressivo: 39,2%. Todos esses dados apontam para a informalidade do trabalho como condição de sobrevivência em populações social e economicamente excluídas (OLIVEIRA, 1997) em cuja configuração atuam fatores importantes como o analfabetismo, principalmente nas áreas rurais e as características dos arranjos familiares associadas a trabalho, idade e rendimento familiar extremamente baixo (até ¼ de salário mínimo). Segundo Oliveira (1997, p. 52), o uso atual do conceito exclusão relaciona-se com o chamado desemprego estrutural e reporta-nos aos excluídos que se tornaram desnecessários economicamente, mas também diz respeito aos
3 excluídos desnecessários não apenas econômica, mas, sobretudo, socialmente e que se tornaram socialmente ameaçantes e, por isso, passíveis de serem eliminados. O aumento da desigualdade e da exclusão é representado socialmente como condição pessoal mais do que socioeconômica e estrutural, o que gera dificuldade de auto-aceitação e sofrimento, principais conseqüências pessoais do modelo atual de organização capitalista do trabalho. Isso é o que Sennet (1999) denomina de a "corrosão do caráter", marca do atual estágio do capitalismo. A crise que vem sendo enfrentada pelo capitalismo desde os anos de 1970 atinge, simultaneamente, as instituições responsáveis pela coesão social o Estado-Providência, as relações entre economia e sociedade a crise do trabalho e os modos de constituição das identidades individuais e coletivas crise de sujeito. Desemprego, a precarização do trabalho nos diferentes setores da economia e a apologia do individualismo e da competitividade se articulam na continuidade, metamorfoseada, do modo capitalista de produção (ANTUNES, 1995; FRIGOTTO, 2003; POCHMANN, 2001). 2. Uma nova economia para a solidariedade No contexto descrito nesses dados, tem se construído uma nova economia, expressão utilizada por Cattani (2003, citado por FISHER E ZIEBELL, 2005, p.1) para designar várias formas de organizar a produção material e os serviços que aparecem como alternativas à economia capitalista como empresas autogestionárias e cooperativas. O trabalho em associação, cooperativo, em outras formas de produção autônoma e coletiva é visto como alternativa de enfrentamento ao desemprego e a falta de fonte renda, tal como o emprego formal. A denominação de economia solidária abrange tais experiências como todas as formas de organizar a produção, a distribuição e o crédito por princípios solidários (SINGER, 1999, p. 27, nota, citado por RIBEIRO, 2001, p. 23). Geiger (1999) traz o conceito de economia popular solidária para abranger as formas de atividades econômicas que envolvem diferentes setores produtivos e categorias sociais mescladas, que se organizam também de formas variadas em associações, cooperativas, empresas de pequeno e médio porte e cujas origens tanto podem basear-se em vínculos comunitários ou familiares como podem resultar de lutas coletivas de trabalhadores urbanos e rurais a partir de mobilizações de caráter político. Pode se considerar que nela encontra-se uma economia alternativa, porque diferencia-se das relações fundadas na lógica capitalista. Pode se também nela situar alternativas econômicas, que podem significar empreendimentos viáveis
4 com os quais os trabalhadores desempregados possam vir a recriar suas vidas, tendo-se o cuidado para não perder de vista os limites e contradições dessas novas experiências (GAIGER, 1999, p. 29 citado por RIBEIRO, 2001, p. 23) Essa economia considerada como popular é forma de garantia das necessidades básicas, materiais e imateriais, através da utilização da força de trabalho e dos recursos disponíveis dos setores populares, nas suas atividades econômicas e práticas sociais (ICAZA E TIRIBA, 2003). Também se encontra ligada diretamente à reprodução ampliada da vida, transcendendo a obtenção de ganhos materiais como assinala Coraggio (2000). As experiências de associativismo, cooperativismo e de economia popular, contribuem, segundo Razeto (1999), para resgatar os sujeitos e suas relações cooperadas e solidárias para além do plano das relações meramente capitalistas. A economia de solidariedade se caracteriza como formulação teórica por articular alguns traços, como a solidariedade, a autogestão e a cooperação, que a diferenciam da lógica econômica capitalista. Associando economia popular e economia de solidariedade, o autor define economia popular de solidariedade como [...] aquela parte da economia popular que manifesta alguns traços especiais que permitem identificá-la também como economia de solidariedade, ou, pelo contrário, é aquela parte da economia de solidariedade que se manifesta no contexto da que identificamos como economia popular (RAZETO, 1999, p. 45, citado por RIBEIRO, 2001, p. 25-26). Levando em conta a diversidade de atividades daqueles que, na impossibilidade de assegurar o trabalho assalariado, mobilizam sua capacidade de trabalho e os escassos recursos que dispõem para produzir seus próprios meios de sobrevivência, Tiriba (1999) sinaliza que os conceitos de economia formal e informal não são suficientes para explicar a complexidade do atual tecido social e que a racionalidade da economia popular não se caracteriza pela acumulação de capital, mas fundamentalmente pela reprodução da vida mesma. A autora dedica seu estudo às organizações econômicas populares e busca apreender as motivações e práticas dos trabalhadores associados, as relações de mercado e os vínculos que estabelecem com os movimentos populares e com a comunidade local. Em sua análise são explicitados processos educativos que ali se materializam e que são parte integrante de uma cultura do trabalho que contém elementos contraditórios que reproduzem a ordem capitalista e, ao mesmo tempo, se manifestam como relações sociais e econômicas de novo tipo. Ribeiro (2001, p.25) adverte que essas experiências de economia popular solidária constituem alternativas buscadas diante do desemprego e da negação dos direitos sociais, mas não se tornam solidárias só por isso; precisam construir-se como tal, porque os trabalhadores
5 reunidos em cooperativas podem, se estiverem seduzidos pelos apelos do mercado, ser tentados a reproduzir os mecanismos de exploração do capital. A autora salienta, então, que as experiências de trabalho cooperativo não podem ser idealizadas, mas deve-se refletir criticamente, junto com os trabalhadores, sobre elas. Chama a atenção para contradições presentes nas experiências de economia popular solidária e aponta questões tais como o crescimento e a despolitização [...] (RIBEIRO, 2001, p. 24) a substituição do trabalho políticoorganizativo pelas empresas cidadãs, as relações do chamado terceiro setor com o Banco Mundial, visando obter financiamentos para aplicar em políticas sociais que originalmente deveriam estar a cargo do Estado. A autora destaca que ao invés da conquista da autonomia, as experiências [...] poderão significar a manutenção do individualismo e da dependência através de trabalhos meramente assistenciais (idem). Pelo exposto, procuramos destacar alguns conceitos e elementos importantes a assinalar, que são: a) A nova economia para a solidariedade a nomeia diferentes formas de organizar a produção material e os serviços que surgem como alternativas à economia capitalista. Desse modo, a organização de empresas autogestionárias e cooperativas que emergem a partir da luta pela sobrevivência e pelo direito ao trabalho empreendido por segmentos das populações excluídas são exemplos desta nova economia para a solidariedade ; b) O conceito de economia popular solidária Cunhado por Geiger (1999) 12, já citado, o termo refere-se às formas variadas de organização da atividade econômica em associações, cooperativas,empresas de pequeno e médio porte,entre outros. Quanto à origem, foi apontado que a economia popular solidária tem sua gênese em vínculos de natureza comunitária ou familiar, como podem ser o fruto de lutas coletivas de trabalhadores a partir de mobilizações de caráter político. A importância desses micromovimentos mobilizadores de base comunitária reside no seu papel transformador da sociedade através da expansão dos espaços políticos e da conscientização das populações e da construção de sua próprias organizações. Trata-se, portanto, de grupos de pessoas que se envolvem em lutas políticas para instituir direitos (MELO NETO, FROES, p. 85, 2002). A contribuição de Razeto, já referido neste estudo, salienta que as experiências de associativismo e de economia popular valorizam o resgate dos sujeitos e de suas relações solidárias para além do plano das relações meramente capitalistas. Isso acontece devido ao fato de que economia solidária, como formação teórica, caracteriza-se por articular alguns traços novos, como a autogestão e a cooperação.
6 Tiriba, já referida neste trabalho em sua análise das ferramentas de trabalho as organizações econômicas populares, explicita processos educativos que nelas se materializam e que são parte de uma cultura de trabalho. Para esta autora, os processos educativos, e de maneira especial, os processos de formação de trabalhadores associados, não podem ser concebidos como constituídos de fora para dentro, mas como processos que se desenham na organização mesma do trabalho. São, portanto, elementos da própria cultura do trabalho que ali vai se constituindo e que contêm elementos contraditórias que reproduzem a ordem capitalista e, ao mesmo tempo, se apresentam como relações sociais e econômicas de novo tipo. 3. Uma educação para o trabalho solidário Retomando a problemática de trabalho e educação, por ser esta pertinente nesse artigo para tratar dos processos de aprendizagem não formais ou não escolarizados e de construção de saberes que se dá pelo e no trabalho, tomamos como referência o trabalho de Tiriba (1998, 2001). Nele, a contribuição de Gramsci fundamenta a conclusão da autora de que [...] mas organizações da economia popular são conteúdo e fim do trabalho como princípio educativo, porque este trabalho tanto é fonte de produção de bens para a satisfação de necessidades básicas materiais e espirituais, quanto é fonte de produção de conhecimentos e de novas práticas sociais (citado por RIBEIRO, 2001, p. 26). Como salienta Tiriba (1998), a escolarização ainda é necessária para que o trabalhador possa ter acesso aos instrumentos básicos para a aquisição e domínio da cultura e do conhecimento científico, e, nesse sentido, aponta a perspectiva de que a economia popular seja fundamento de uma educação popular. A economia popular é uma escola que deve ser vivida, não apenas para amenizar o problema do desemprego, mas para que os trabalhadores e a sociedade descubram que é possível uma nova maneira de fazer e conceber as relações econômicas e sociais não apenas no âmbito do local de trabalho, mas também no âmbito de toda a sociedade. (TIRIBA, 1998, p. 215, citado por RIBEIRO, 2001, p.27).
7 Outra referência para o desenvolvimento desta tese é Gadotti e Gutiérrez (1999) que relacionam a economia popular à educação comunitária. Os autores consideram que a economia popular é uma opção de vida com base em uma produção associada, a qual cria valores solidários, de participação, autogestão, autonomia e, apesar de certas ambigüidades, sinaliza para uma nova maneira de ser povo, para uma lógica de pensar, produzir e relacionar-se que difere das formas econômicas próprias do capitalismo (ibidem, p. 13-14). Nesse sentido, há o desafio de superar a cultura individualista em que geralmente estamos inseridos e para isso deve contribuir a educação comunitária que não pode estar separada da educação escolar e que deve vincular o produtivo, o organizativo e o educativo (ibidem, p. 15). A partir de vários estudos (CHARLOT, 1997; PINEAU, 2004 e SILVA, 2007) consideramos que os percursos de formação e as trajetórias de vida interagem e assim evidenciam a relevância da experiência na construção de saberes e na aprendizagem de jovens e adultos demonstrando que os tempos formadores são demasiadamente importantes para serem reduzidos aos das formações instituídas. Segundo Silva (2007, p. 1), ao se pensar e organizar a formação é necessário considerar "a autoria dos sujeitos da/em formação, dimensão fundamental para o seu (auto)reconhecimento social e para a (re)construção de identidades". Esses estudos têm contribuído para esclarecer sobre as relações entre educação e legitimação de saberes no e para o trabalho associado e sobre o desenvolvimento de propostas de formação que permitam a apropriação crítica dos trabalhadores de sua experiência de trabalho, questão-chave para o desenvolvimento do seu protagonismo e autonomia no trabalho. O trabalho de Schmitz (2006) aborda os saberes produzidos no trabalho focalizando uma associação de trabalhadores urbanos em que se encontra um associado protagonista, um sujeito inacabado, que se desenvolve nas práticas diferenciadas de trabalho e de relacionamento, produzindo novos saberes. Fisher e Ziebell (2005) analisam saberes de 15 mulheres de dois empreendimentos econômicos solidários, moradoras de periferias urbanas, em que destacam os produzidos na vida comunitária, em situações de trabalho formal e não formal e em empreendimentos econômicos solidários e incluem uma reflexão a respeito do ato de conhecimento estabelecido na relação entre saberes da experiência e saberes formais. Como as autoras assinalam, os empreendimentos econômicos solidários compreendem as diversas modalidades de organização econômica, originadas da livre associação dos trabalhadores, com base em princípios de autogestão, cooperação, eficiência e viabilidade. Aglutinando indivíduos excluídos do mercado de trabalho, ou movidos pela força de suas convicções, à procura de alternativas coletivas de sobrevivência, os empreendimentos econômicos solidários desenvolvem atividades nos setores da produção ou da prestação de serviços, comercialização e do crédito. (GAIGER, 2003, p.135, citado por FISHER E ZIEBELL,2005,p.1).
8 Em seus estudos, Fisher e Ziebell (2005, p. 3), [...] têm trabalhado com a identificação, reconhecimento, valorização e ressignificação dos saberes da experiência para afirmação histórica do ser humano e do trabalho, preocupada com o valor de uso, mais do que com o valor de troca implicados. Aqui podemos citar, por exemplo, os trabalhos de Correia (1997), Santos (2000) e Schwartz (2003) e Tiriba (2000). Esta orientação permite uma importante articulação entre reflexões sobre o protagonismo de sujeitos individuais e coletivos na economia. Do estudo de Santos (2000), que se apóia em Charlot (1991), consideramos a relação ao saber como uma relação de sentido logo de valor, entre um indivíduo (ou grupo) e os processos ou produtos do saber. Por saber entendem-se processos e produtos: o ato de aprender, situações, processos, lugares e pessoas que podem especificar este ato; o fato de saber; os saberes como produtos duma aprendizagem ou como objetos culturais, institucionais, sociais (CHARLOT, 1991, citado por SANTOS, 2000, p. 127). Segundo a autora a relação ao saber [...] permite visualizar o espaço de realização de potencialidades que estão presentes no trabalho (ibidem). Tiriba (2001, p.358-359) entende que os saberes e os processos pedagógicos (como práxis educativa) se constituem em elementos da cultura do trabalho, mediando as condições objetivas e subjetivas do processo produtivo. A dinâmica da produção, propriamente dita, é fonte de saberes práticos, adquiridos e produzidos no processo de trabalho, reconhecendo-se limites colocados pelo não domínio de tecnologia e de fundamentos que permitam aos trabalhadores encontrar formas para dispor os meios de produção a seu serviço. 4. Considerações finais e provisórias Neste artigo articulamos a revisão bibliográfica sobre o tema Trabalho e Educação na sociedade atual na busca dos elementos para a compreensão da economia informal e solidária e da organização do trabalho de forma participativa e cooperativa. Procuramos, igualmente, alinhavar elementos sobre o tema construção de saberes que se dá pelo e no trabalho, focalizando a relação entre o trabalho cooperativo e os processos formativos e educativos nele inseridos. O horizonte para este artigo acerca das relações estabelecidas entre bordadeiras e artesãos inseridos nas práticas de economia solidária popular, como espaços da organização da vida e do trabalho, pode ser o que Freire (2003) aponta como um sonho político. Esse sonho, portanto, está voltado para a construção de relações mais democráticas e solidárias que
9 contribuam para a consolidação de um projeto social e educacional inclusivo e emancipador, articulado às necessidades vivenciadas no mundo do trabalho. Referências AMORIM, Brunu Marcus F.; ARAÚJO, Herton Ellery. Economia solidária no Brasil: novas formas de relação de trabalho? Brasília: IPEA (Nota Técnica), 24 de ago 2004. http://www.ipea.gov.br/pub/bcmt/mt_24i.pdf ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus,1995; MATTOS, Carmen de. Estudos Etnográficos da educação: uma revisão de tendências no Brasil. Educação em Foco (Juiz de Fora)., v.2, p.39-57, 2006. ANTUNES R. L.. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995. CHARLOT, Bernard. Du rapport au savoir: éléments pour une théorie. Paris: Anthropos, 1997 (Charlot, Bernard. Da relação com o saber. Elementos para uma teoria. Porto Alegre: ArtMed, 2000) CORAGGIO, J.L. Desarrollo humano, Economia Popular y Educación. In: GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. CORAGGIO, J.L. Desenvolvimento Humano e educação: o papel das ONGs latinoamericanas na iniciativa da educação para todos. São Paulo: Cortez, 2000. FIORI, José Luis. Os moedeiros falsos. Petrópolis:Vozes, 1998. FISCHER, Maria Clara Bueno; ZIEBELL, Clair Ribeiro. Mulheres e seus saberes engravidando uma outra economia. In: 28ª Reunião Anual da ANPEd, Caxambu: ANPEd, 2005. FISCHER, Maria Clara Bueno. Produção e legitimação de saberes no e para o trabalho e educação cooperativa. Educação Unisinos, v.10, n.2, p. 154-158, maio/agosto 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Cortez, 2003; GADOTTI, Moacir, GUTIÉRREZ, Francisco (orgs.). Educação comunitária e economia popular. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1999. GAIGER, Luiz Inácio, (1999). Significados e tendências da economia solidária. GT Economia Solidária. In: Sindicalismo e economia solidária: Reflexões sobre o projeto da CUT. São Paulo: CUT Nacional. dez., p. 29-42. GAIGER, Luiz Inácio. Empreendimentos econômicos solidários. In: CATTANI, Antônio David (org.). A outra economia. Porto Alegre: Veraz, 2003, p. 135-143. IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais 2008- Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira. Rio de Janeiro: IBGE,2008 Disponível em http://www.w3c.org/tr/1999/rec-html401-19991224/loose.dtd 24 de setembro de 2008 IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais 2008- Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira. Rio de Janeiro: IBGE,2008 Disponível em http://www.w3c.org/tr/1999/rec-html401-19991224/loose.dtd 24 de setembro de 2008 ICAZA & TIRIBA, 2003. Economia Popular. In CATTANI, A. D. (Org.) A outra economia. Porto Alegre: Veraz, 2003. MELO NETO, Francisco Paulo e FROES, César. Empreendedorismo Social: a transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
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