DESEMPENHO DA INDÚSTRIA CALÇADISTA NA BAHIA INTRODUÇÃO A Indústria de calçados é um segmento da Indústria de transformação que tem um papel importante na desconcentração da matriz industrial do estado, porque está distribuída espacialmente em diversos municípios do interior, se tornando uma fonte efetiva de geração de emprego e renda e de estímulo da atividade econômica regional. O processo de atração dessas indústrias foi marcado por uma série de incentivos governamentais, envolvendo desde isenções fiscais, principalmente de ICMS, passando por cursos de qualificação, até investimentos públicos em infraestrutura (construção do galpão da unidade fabril, pavimentação do acesso e energia na sede do empreendimento, etc). Outro elemento relevante para a decisão de instalação das indústrias foi a extensiva e farta oferta de mão de obra. Com isso, uma série de indústrias se instalou na Bahia, formando um polo calçadista, que segundo notícia da Gazeta Mercantil, publicada em 26/04, conta atualmente com 50 empresas, por exemplo: Vulcabrás Azaléia (Itapetinga), Amazonas Calçados e Ramarim (Jequié), Calçados Pegadas do Nordeste (Ruy Barbosa), Calçados Malu (Alagoinhas), Calçados Bel Passo (São Francisco do Conde), etc. Ao longo de 2012, após sucessivas perdas de empregos, o subsetor vem enfrentando uma forte crise, que inclui inclusive o fechamento de unidades fabris no estado. Um dos motivos revelado pelos empresários para as dificuldades financeiras do negócio é a diminuição acentuada de sua competitividade, causada pela excessiva entrada de produtos importados a preços muito baixos. Diante desse contexto, serão examinados os dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (CAGED/MTE), com o objetivo de identificar como o subsetor vem se comportando em termos da geração de empregos ao longo do tempo e no território baiano.
GERAÇÃO RECENTE DE EMPREGOS CELETISTAS NA INDÚSTRIA CALÇADISTA BAIANA Observou-se que houve movimentação de trabalhadores (admissões e desligamentos) e, por conseguinte, saldo de empregos em 50 dos 417 municípios baianos no ano de 2012 (janeiro a outubro). Rui Barbosa destacou-se com o maior saldo de 500 empregos criados no ano, seguido por Ipirá, com 423 postos e Sapeaçú (169 empregos), enquanto Itapetinga fechou 2.593 postos, registrando o menor saldo em igual período. Itaberaba teve o segundo menor saldo (-314 empregos), embora a diferença para o saldo de Itapetinga seja bastante significativa (Tabela 1). Certamente, a perda de postos de trabalho em Itapetinga teve uma magnitude tão elevada que deprimiu todo o desempenho do subsetor calçadista no estado. Ressalte-se que o saldo total do subsetor Indústria de calçados nos dez primeiros meses de 2012 foi -3.003 empregos, afetando o desempenho do saldo final de todos os setores do estado, de 19.888 empregos. TABELA 1 Movimentação de trabalhadores e saldo de empregos celetistas na Indústria de calçados Municípios baianos, acumulado de janeiro a outubro de 2012
Classificação Município-Bahia Total Adm. Deslig. Saldo 1 Ruy Barbosa 750 250 500 2 Ipirá 652 229 423 3 Sapeaçú 259 90 169 4 Conceição do Almeida 237 133 104 5 Serra Preta 202 123 79 6 Esplanada 141 64 77 7 Anguera 46 9 37 8 Amargosa 157 130 27 9 Salvador 35 9 26 10 Porto Seguro 26 6 20 11 Alagoinhas 40 30 10 12 Teolândia 22 17 5 13 Coração de Maria 5 1 4 14 Maragogipe 5 3 2 15 Guanambi 1 0 1 16 Presidente Tancredo Neves 35 34 1 17 Riachão do Jacuípe 3 2 1 18 Ilhéus 0 1 1 19 Sátiro Dias 0 1 1 20 Castro Alves 92 94 2 21 Potiraguá 0 2 2 22 São Felipe 0 2 2 23 Itabuna 1 4 3 24 Feira de Santana 46 50 4 25 Itarantim 0 4 4 26 Irecê 2 8 6 27 Lauro de Freitas 17 23 6 28 Amélia Rodrigues 8 20 12 29 Teixeira de Freitas 104 119 15 30 Ubaíra 0 17 17 31 Poções 1 19 18 32 Caatiba 5 24 19 33 Jacobina 108 131 23 34 Santaluz 116 141 25 35 Muritiba 38 73 35 36 Vitória da Conquista 852 889 37 37 Conceição do Jacuípe 54 94 40 38 Cruz das Almas 150 217 67 39 Itororó 110 185 75 40 Macarani 60 153 93 41 Serrinha 156 249 93 42 Firmino Alves 43 144 101 43 Itambé 28 133 105 44 Valente 97 210 113 45 Jequié 1.289 1.410 121 46 Santo Antônio de Jesus 123 271 148 47 Conceição do Coité 104 283 179 48 Santo Estevão 942 1.157 215 49 Itaberaba 283 597 314 50 Itapetinga 445 3.038 2.593 Total 7.890 10.893 3.003 Total do saldo estadual 651.945 632.057 19.888
Especificando os 10 municípios baianos com maior e os 10 com menor saldo de empregos na Indústria de calçados de janeiro a outubro de 2012, nos de saldos positivos, encontra-se em Ipirá um desempenho mensal mais uniforme na geração de postos de trabalho, registrando saldos positivos em todos os meses, a exceção de outubro (-4 postos). Já Ruy Barbosa teve diversos saldos negativos no decorrer do ano, apesar de pouco expressivos. O conjunto desses municípios geraram 1.462 empregos no período (Tabela 2). Dentre os 10 municípios baianos com os menores saldos, Itapetinga destaca-se muito dos demais municípios, com um saldo de -2.593 empregos, formado por saldos negativos em todos os meses até outubro de 2012. O conjunto desses municípios foram responsáveis pelo fechamento de quase 4 mil postos de trabalho no ano. TABELA 2 Saldo de empregos celetistas no subsetor Indústria calçadista Municípios baianos com maior e menor saldo no ano, janeiro-outubro 2012 10 Municípios baianos Período com maior saldo jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 Ruy Barbosa 3 74 41 12 28 169 356 25 15 31 500 Ipirá 43 69 26 32 18 112 32 24 71 4 423 Sapeaçú 95 38 5 2 23 4 10 8 10 6 169 Conceição do Almeida 1 27 1 2 12 29 69 27 3 5 104 Serra Preta 12 59 11 32 2 9 10 9 10 19 79 Esplanada 26 15 4 3 17 6 7 8 6 3 77 Anguera 0 0 0 0 0 0 42 2 1 2 37 Amargosa 1 16 11 12 14 8 39 3 10 17 27 Salvador 0 1 1 5 2 1 3 0 5 10 26 Porto Seguro 0 2 0 2 2 1 2 0 3 12 20 Total 173 247 8 74 86 321 550 34 50 65 1.462 10 Municípios baianos Período Total com menor saldo jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 Serrinha 12 23 21 12 17 8 3 9 13 17 93 Firmino Alves 2 31 16 0 16 9 5 13 21 20 101 Itambé 2 7 8 1 12 8 20 21 35 7 105 Valente 47 11 9 3 15 15 4 30 3 0 113 Jequié 135 247 1 77 36 19 54 82 67 277 121 Santo Antônio de Jesus 2 0 2 26 111 39 1 4 8 15 148 Conceição do Coité 14 40 27 22 24 28 13 35 26 2 179 Santo Estevão 41 10 98 26 37 181 10 70 65 129 215 Itaberaba 23 55 8 41 41 187 64 15 12 2 314 Itapetinga 91 500 406 167 185 281 228 292 169 274 2.593 Total 99 320 290 265 420 775 294 563 213 743 3.982 Total
Ao selecionar os cinco municípios baianos com saldos mais expressivos de empregos celetistas no ano de 2012 (janeiro a outubro), tem-se que, em todos eles, o saldo do subsetor Indústria de calçados é muito relevante para o saldo total de todos os subsetores de atividade econômica. Este fato evidencia a importância que esse segmento industrial tem na dinâmica econômica dos referidos municípios, constituindo-se em uma forte alternativa de trabalho e renda para a população, além de ter um real impacto em setores como Comércio e Serviços (Gráfico 1). GRÁFICO 1 Saldo de empregos celetistas por subsetores de atividade econômica Municípios baianos selecionados, janeiro-outubro de 2012 Mais especificamente em outubro de 2012, pode se perceber que todos os municípios baianos selecionados fecharam postos de trabalho na Indústria calçadista. Os resultados deste subsetor influenciaram, principalmente, os saldos finais de empregos nos municípios de Ruy Barbosa, Itapetinga e Itaberaba (Gráfico 2). GRÁFICO 2 Saldo de empregos celetistas por subsetores de atividade econômica Municípios baianos selecionados, outubro de 2012
Deve-se ressaltar que Itapetinga, além de ser o município baiano com o menor saldo de empregos celetistas da Indústria de calçados em 2012, registrou fechamento de postos nos dez primeiros meses do ano, sobretudo em fevereiro (-500 empregos) e março (-406 empregos), quando os saldos foram mais negativos. Ao verificar o comportamento desse subsetor em Itapetinga no mesmo período do ano anterior, nota-se que o desempenho já era desfavorável em 2011, com um saldo no acumulado de meses do ano da ordem de -2.285 empregos. Novamente, há uma perda generalizada de postos de trabalho mensalmente, exceto em julho (+20 postos). Dentre os meses que tiveram saldos negativos, fevereiro sobressaiu-se com -482 empregos e chama a atenção os resultados expressivos de fechamentos de postos nos meses de abril a julho de 2011 (Tabela 3). TABELA 3 Movimentação de trabalhadores e saldo de empregos celetistas Município de Itapetinga-BA, 2011 e 2012 (janeiro-outubro)
2011 2012 Período Movimentação de trabalhadores Movimentação de trabalhadores Saldo Admitidos Desligados Admitidos Desligados Saldo Janeiro 94 472 378 0 91 91 Fevereiro 20 502 482 40 540 500 Março 276 303 27 57 463 406 Abril 43 445 402 85 252 167 Maio 22 445 423 44 229 185 Junho 30 430 400 22 303 281 Julho 238 218 20 111 339 228 Agosto 222 233 11 2 294 292 Setembro 136 243 107 84 253 169 Outubro 226 301 75 0 274 274 Total 1.307 3.592 2.285 445 3.038 2.593 Uma vez que em Itapetinga está situada a sede da indústria de calçados Vulcabrás Azaléia, este município é o principal gerador de empregos celetistas, nesse segmento, no Território de Identidade Médio Sudoeste da Bahia, ao qual faz parte. Diante da situação adversa que este subsetor tem enfrentado, já é possível sentir os desdobramentos em sete dos 13 municípios 1 que compõem o território nos dez primeiros meses de 2012 (Tabela 4). TABELA 4 Movimentação de trabalhadores e saldo de empregos celetistas da Indústria de calçados Municípios com saldo do Território Médio Sudoeste da Bahia, janeiro-outubro/2012 Municípios do Médio Sudoeste Movimentação de trabalhadores da Bahia com saldo na Indústria Saldo de calçados Admitidos Desligados Itapetinga 445 3.038 2.593 Itambé 28 133 105 Firmino Alves 43 144 101 Macarani 60 153 93 Itororó 110 185 75 Caatiba 5 24 19 Itarantim 0 4 4 Potiraguá 0 2 2 1 Os 13 municípios que integram o território Médio Sudoeste da Bahia são, em ordem alfabética: Caatiba, Firmino Alves, Ibicuí, Iguaí, Itambé, Itapetinga, Itarantim, Itororó, Macarani, Maiquinique, Nova Canaã, Potiraguá e Santa Cruz da Vitória.
No que se refere ao estoque de empregos celetistas da Indústria de Calçados em Itapetinga, agora considerando uma série histórica maior, com início em janeiro de 2010, verifica-se que assim como foi demonstrado acima, o desempenho do setor na geração de postos de trabalho começa a declinar e reduzir de forma progressiva o seu ritmo de crescimento a partir de janeiro de 2011, quando se registrou o maior estoque de 13.779 empregos, até outubro de 2012, atingindo um estoque de 8.397 empregos. De forma contrária, o ano de 2010 foi marcado pelo crescimento do estoque de empregos (Gráfico 3). GRÁFICO 3 Evolução do estoque de empregos formais celetistas no subsetor da Indústria de Calçados Município de Itapetinga-BA, janeiro/2010-outubro/2012 A trajetória declinante do estoque de empregos celetistas da Indústria de calçados em Itapetinga a partir de janeiro de 2011 é confirmada pela evolução da taxa de variação do estoque, que no início do período era 15,8%, após quatro meses (em maio) passou a ser negativa (-1,4%) e continuou diminuindo até outubro de 2012 com -26,9% (Gráfico 4). GRÁFICO 4 Taxa de variação do estoque de empregos formais celetistas no subsetor da Indústria de Calçados Município de Itapetinga-BA, janeiro/2011-outubro/2012
A situação em que se encontra o subsetor da Indústria de calçados em Itapetinga é ainda mais grave, porque além da redução da capacidade de geração de empregos, há um processo contínuo de redução da participação relativa desse segmento na Indústria de transformação durante o período, passando de 93,1%, em janeiro de 2011, para 88,7%, em outubro de 2012 (Gráfico 5). GRÁFICO 5 Participação (%) do subsetor da Indústria de Calçados no estoque de empregos formais da Indústria de transformação Município de Itapetinga-BA, janeiro/2011-outubro/2012
Fonte: MTE. Caged Nota: (1) Não incorpora as declarações fora de prazo. (2) Por motivo de erro de registro o total não incorpora o estoque do subsetor Indústria de produtos minerais não metálicos