LIGA ACADÊMICA DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: SUBSIDIANDO O FUTURO PROFISSIONAL ENFERMEIRO COM BASE CIENTÍFICA E PRÁTICA

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Transcrição:

LIGA ACADÊMICA DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: SUBSIDIANDO O FUTURO PROFISSIONAL ENFERMEIRO COM BASE CIENTÍFICA E PRÁTICA Área temática: Saúde SANTOS, Willians Guilherme dos 1 ; BALBINO, Paula Coelho 1 ; BEIRIGO, Brenda Alves 1 ; VALENTE, Pâmela Torres 1 ; PINTO, Anna Clara Santiago Nunes 1 ; EXPEDITO, Adélia Contiliano 1 ; FERNANDES, Maiane da Silva 1 ; TOLEDO, Luana Vieira 1 ; CORREIA, Marisa Dibbern Lopes 1 ; 1 Universidade Federal de Viçosa (UFV). Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCB). Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM). Resumo: Introdução: A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma metodologia que vem ganhando espaço na prática profissional do enfermeiro. A implantação da SAE pode ser considerada fundamental na assistência de enfermagem, além de ser uma exigência legal; entretanto, alguns obstáculos impedem o seu desempenho, destacando-se principalmente, o desconhecimento dos profissionais. Assim, a fim de sedimentar os conhecimentos sobre a temática, os docentes e discentes do curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal de Viçosa (UFV) fundaram a Liga Acadêmica de Sistematização da Assistência de Enfermagem (LASAE) com o objetivo de desenvolver atividades que subsidiem o exercício profissional de enfermagem de qualidade, pautado em base científica. Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo descritivo que objetiva relatar as atividades desenvolvidas pela LASAE da UFV. Resultados: A LASAE é uma entidade estudantil e foi fundada em 2011, visando sedimentar o conhecimento sobre a sistematização da assistência de enfermagem entre docentes, discentes e profissionais da área por meio do desenvolvimento de atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão. Entre 2011 e 2016, foram desenvolvidas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Até o momento, foram realizadas 74 reuniões que contaram com a presença de 15 participantes, em média. Conclusão: As atividades

extrapolam as barreiras físicas da universidade, a fim de disseminar conhecimento para a comunidade local, sensibilizando-os sobre a importância de um cuidado sistematizado tanto para o cliente quanto para o profissional. Palavras chave: Enfermagem; Processos de enfermagem; Sistematização da Assistência de Enfermagem. 1. Introdução A enfermagem é uma ciência que se dedica ao cuidado de pessoas, famílias ou comunidades a partir de ações direcionadas à prevenção de doenças, promoção, manutenção e/ou reabilitação da saúde. Para desenvolver essas ações, a enfermagem necessita adotar referenciais teóricos que darão suporte à sua práxis, com o propósito de exercer uma prática baseada em evidências científicas (TRINDADE, 2015). Em consonância com esta conjuntura, um dos referenciais teóricos adotados é a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). A SAE é um referencial de processo de trabalho da enfermagem que teve início em 1970 com a teórica Wanda Horta (SANTOS, 2015; SOARES, 2015). A SAE é reconhecida como processo útil para organizar o trabalho da enfermagem quanto ao método, pessoal e instrumentos, sendo capaz de conduzir e operacionalizar as práticas de saúde para o indivíduo, família e comunidade, qualificando a assistência de enfermagem prestada. Diante desta importância, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução nº 358 de 2009, determina a obrigatoriedade da SAE em qualquer instituição de saúde onde se faz presente a Enfermagem, normatizando a SAE como uma função privativa do enfermeiro, que tem impacto direto na qualidade de vida e satisfação do cliente (BRASIL, 2009). Para a implementação desse referencial, faz-se necessário o Processo de Enfermagem (PE), ao qual é composto por 5 etapas, dinâmicas e inter-relacionadas que compreendem: Coleta de dados (1); Diagnóstico de Enfermagem (2); Planejamento de Enfermagem (3); Implementação (4); e, Avaliação de Enfermagem (5) (BRASIL, 2009).

A partir do PE o enfermeiro é capaz de identificar os problemas de enfermagem existentes, planejar os cuidados, implementar as ações planejadas e avaliar os resultados alcançados. Com efeito, há uma qualificação da assistência de enfermagem. com vista a potencializar melhorias no processo saúde-doença, seja do indivíduo, família ou comunidade (TRINDADE, 2015). Por se tratar de uma metodologia assistencial utilizada pelo enfermeiro para aplicar seus conhecimentos técnico-científicos, a SAE traz a este profissional uma diretriz a seguir, definindo seu papel e espaço de atuação, saindo do assistir intuitivo, assistemático, para o agir organizado e sistemático (TANNURE, 2008; FERREIRA, 1990). A implementação da SAE por meio do PE requer do profissional enfermeiro habilidades gerenciais e assistenciais, além de reorganização dos recursos físicos, humanos, administrativos, materiais, avaliação e acompanhamento dos recursos orçamentários e uma nova concepção de cuidado focado na integralidade das pessoas e prestado a partir de um marco conceitual que favoreça esse novo direcionamento das ações pelos enfermeiros (TANNURE; PINHEIRO, 2010). Conquanto, apesar de ser considerada obrigatória a realização da SAE de acordo com legislação profissional da enfermagem, muitas instituições de saúde ainda não a utilizam integralmente em seu cotidiano, argumentando inúmeros fatores dificultadores, destacando-se o número limitado de profissionais nos serviços, a sobrecarga de trabalho, o excesso de clientes assistidos por um mesmo enfermeiro, a precária infraestrutura de muitos serviços de saúde, a complexidade na formulação de diagnósticos, a burocracia, a falta de capacitação, a ausência de impressos suficientes, a descontinuidade do processo e até mesmo a falta de conhecimento dos profissionais sobre a temática (SILVA, 2011). Uma vez que a SAE deve fazer parte do cotidiano dos enfermeiros e ser implantada nas instituições de saúde e ensino do Brasil, nota-se a importância de sedimentar a temática entre os futuros enfermeiros e enfermeiros dos serviços, empoderando-os para o exercício de um cuidado sistematizado. Assim, os docentes e discentes do curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal de Viçosa (UFV) fundaram a Liga Acadêmica de Sistematização da Assistência de Enfermagem (LASAE) com o objetivo de desenvolver

atividades de ensino, pesquisa e extensão, subsidiando o exercício profissional de enfermagem de qualidade, pautado em base científica. 2. Materiais e Métodos Trata-se de um trabalho descritivo sobre a criação e as atividades desenvolvidas pela Liga Acadêmica da Sistematização da Assistência de Enfermagem (LASAE) entre 2011 e 2016. A LASAE é uma entidade estudantil composta por docentes e discentes do curso de Bacharelado em Enfermagem vinculado ao Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV, devidamente registrada na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura sob forma de um projeto. A LASAE possui um livro ata onde são anotadas todas as atividades desenvolvidas, contando-se assim com um registro histórico de sua atuação, sendo, portanto, fonte de dados para este trabalho. O Processo de Fundação da Liga Como percurso histórico, a LASAE foi criada em 2011. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos publicados relacionados a atuação de ligas acadêmicas; além disso, realizou-se benchmarking com outras ligas universitárias da própria universidade e de outras instituições. Com isto, observou-se que ligas acadêmicas visam complementar a formação acadêmica a partir do desenvolvimento de atividades de extensão, ensino e pesquisa, aproximando os futuros profissionais dos cenários reais de atuação. A partir desta compreensão, sete membros do curso de enfermagem da UFV (dois docentes e cinco discentes) compuseram a diretoria fundadora da LASAE, organizando o seu Regimento Interno e o fluxograma burocrático dentro da UFV. A diretoria da liga reunia-se semanalmente a fim de discutir os trâmites necessários para a sua viabilidade. Neste contexto, após as reuniões organizacionais a LASAE foi apresentada aos membros do Colegiado do Departamento de Medicina e Enfermagem, sendo aprovada por unanimidade. A LASAE apresenta autonomia em suas decisões e relaciona-se ao curso de Enfermagem da UFV, visando cumprir objetivos de ensino, pesquisa e extensão de forma integrada e indissociável. No mês de novembro de 2011, a liga foi devidamente registrada

no sistema de atividades de extensão universitária da UFV (RAEX) e iniciou suas atividades. A composição da LASAE A primeira ação dos membros da diretoria da LASAE foi recrutar estudantes do curso de enfermagem da UFV para fazerem parte dessa entidade. O ingresso dos membros discentes ocorre por meio de processo seletivo, o qual se inicia com um curso teórico sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem seguido de uma avaliação teórica. Além destes, fazem parte da LASAE, os membros docentes e também os membros convidados, sendo estes profissionais enfermeiros que atuam no município de Viçosa (MG) e região. Desde sua criação, a LASAE já contou com 63 membros. Das atividades de extensão A área de extensão está relacionada ao desenvolvimento de atividades junto à comunidade para viabilizar a implantação da SAE nas instituições de saúde, além do desenvolvimento de atividades práticas nessas instituições e a organização de cursos, palestras, jornadas, congressos, simpósios e outras atividades científicas relacionadas à SAE. Das atividades de ensino Dentre as atividades relacionadas ao ensino, destacam-se a antecipação e/ou sedimentação da vivência teórica e prática de seus membros, a organização de atividades de caráter científico e social, bem como o estímulo para a elaboração, apresentação e discussão de casos clínicos. Das atividades de pesquisa No que se refere as atividades relacionadas à pesquisa pode-se destacar o estímulo à realização de pesquisas relacionadas à SAE e ao processo de enfermagem, bem como a organização e publicidade dos dados coletados, o que contribui para o desenvolvimento científico da enfermagem.

3. Resultados e Discussões As reuniões quinzenais da LASAE As atividades da liga são desenvolvidas pelos seus membros extrapolando-se as barreiras da universidade, levando o conhecimento para a comunidade local a fim de incorporar a prática da sistematização nos cenários de aprendizagem dos graduandos. Quinzenalmente os membros da liga se reúnem nas instalações do Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV e promovem momentos de compartilhamento de saberes oriundos de referenciais teóricos e de atuações práticas. Com base no livro de registros da LASAE, verificou-se que entre o mês de setembro de 2011 e abril de 2016, foram realizadas 74 reuniões que contaram com a presença de 15 participantes, em média. A relação LASAE e ensino A enfermagem caminha rumo à ciência, tendo o cuidado como foco principal e deve buscar constante aprimoramento. Como este cuidado deve ser pautado em referencial teórico, os enfermeiros dispõem de diversas Teorias de Enfermagem para tal. A escolha da Teoria vai depender do profissional e da clientela atendida, pois ela auxiliará o profissional a compreender e analisar a realidade a partir de elementos científicos que se interrelacionam. Assim, visando aprofundar o conhecimento sobre as Teorias de Enfermagem, a LASAE realizou discussões entre seus membros, com o foco no ensino das teorias, Dentre as teorias discutidas estavam: Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta, Teoria do autocuidado de Dorothea Orem, Teoria ambientalista de Florence Nightingale, Teoria Holística de Myra Levine, Teoria do Alcance de Metas de Imogene King e Teoria Interpessoal de Hildegard Peplau. Em todas as reuniões desta temática, a abordagem é feita da seguinte forma: apresentação da teoria, onde são abordados os pontos fundamentais e pressupostos de cada uma; discussão entre os membros, onde são destacados os benefícios, direcionamento para clientes específicos; aplicabilidade por

meio da apresentação de um artigo científico que descreva a aplicação prática da teoria em determinada situação. Também a ênfase no PE é dada em outras reuniões. Na segunda etapa do PE, o diagnóstico de enfermagem (DE), visa identificar as necessidades do indivíduo atendido pela equipe de enfermagem (SILVA et al, 2015). Durante o decorrer das reuniões da Liga, os integrantes tiveram a oportunidade de participar de discussões sobre os DE, sendo abordados a história, a definição, os elementos estruturantes, os tipos de diagnósticos e o manuseio do livro da taxonomia da North American Nursing Diagnosis Association - International (NANDA-I). Além disso, foi possível realizar a aplicabilidade desses diagnósticos, juntamente com as etapas de planejamento e implementação de enfermagem, no qual foram destacados o conceito, a definição e as taxonomias Nursing Interventions Classification (NIC) e Nursing Outcomes Classification (NOC). Além da taxonomia da NANDA-I, a LASAE explorou em suas reuniões o uso da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) e Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC), a fim de instrumentalizar os seus membros sobre as diferentes taxonomias e a sua aplicabilidade. Além destas, a cada semestre letivo a LASAE desenvolve o SAEMULADO, que consiste em uma seleção de questões relacionadas a SAE e PE, que são respondidas e discutidas, permitindo aos membros alinhar os conhecimentos apreendidos e preparar para os processos seletivos do mercado de trabalho. A contribuição científica da LASAE A LASAE desenvolveu diversas pesquisas científicas, tendo como objetivo a busca pelas melhores evidências (i); a criação e validação de instrumentos para o registro das atividades de enfermagem à luz de teorias de enfermagem (ii); e, a mensuração da frequência dos diagnósticos de enfermagem em enfermarias de um hospital no município de Viçosa (iii). Como produção, os membros da LASAE publicaram mais de 48 trabalhos científicos. Estes produtos gerados foram apresentados em congressos locais, regionais, nacionais e internacionais, visando propagar a importância da assistência da enfermagem

tanto para o paciente quanto para o profissional, além de demonstrar a aplicabilidade da SAE nos campos de atuação do enfermeiro. Diante disso, a LASAE já recebeu 4 menções honrosas em eventos científicos ao longo de sua história. Além desta, outra ação de pesquisa foi o Júri Simulado sobre a implementação da SAE na Atenção Primária à Saúde (APS). O enfermeiro que ao atua na Estratégia de Saúde da Família (ESF), dentre suas diversas funções, deve elaborar planos de cuidado ao nível individual e familiar, supervisionar a equipe de enfermagem e o cuidado prestado por ela, desenvolver atividades de gerenciamento e realizar treinamento da equipe. Com isso, para que as atividades realizadas pelo Enfermeiro sejam capazes de favorecer o cuidado de qualidade, se faz necessário que este profissional utilize a SAE, afim de promover a melhoria da assistência e fortalecimento do vínculo profissional-serviço-comunidade (BARROS, 2016). Diante disso, esse júri simulado, teve como finalidade sensibilizar os membros e convidados sobre a importância da implementação da SAE na Atenção Primária à Saúde (APS), no qual foram discutidas as potencialidades e fragilidades da SAE nesse nível de atenção à saúde. A LASAE para além da universidade A SAE configura-se como uma ferramenta da prestação do cuidado, e conforme determinada por lei profissional, deve fazer parte do dia-a-dia do Enfermeiro. Entretanto, sua implementação na prática é dificultada por diversos fatores. Alguns deles são: falta de treinamento, falta de registro adequado da assistência, aversão às mudanças, ausência de estabelecimento de prioridades organizacionais, entre outros (REMIZOSKI, 2010). Objetivando contribuir para a implementação da SAE nas instituições, a LASAE desenvolveu o projeto de extensão intitulado Implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem no Hospital São Sebastião, Viçosa MG a fim de contribuir com os profissionais de um hospital no munícipio de Viçosa na implementação da SAE. A LASAE durante esses anos buscou expandir suas atividades para além das reuniões realizadas entre seus membros e para isso realizou um evento denominado I Seminário de Sistematização da Assistência de Enfermagem no qual contou com a participação de alunos do curso de graduação de enfermagem da Universidade Federal de

Viçosa, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Este evento teve por finalidade principal destacar o uso da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE). Por fim, como outra atividade de extensão, a LASAE realizou cinco cursos introdutórios e um simpósio acadêmico. Além da realização de visitas in loco em um hospital viçosense para sensibilizar auxiliares, técnicos e enfermeiros para a implementação da SAE e seus benefícios. 4. Considerações Finais A LASAE enquanto uma entidade estudantil vinculada ao curso de graduação em Enfermagem, vem ao longo dos seus cinco anos de existência, sedimentando o conhecimento científico sobre a SAE entre graduandos e profissionais da área, promovendo um estímulo ao pensamento crítico e reflexivo sobre a enfermagem enquanto ciência. Observa-se que as atividades desenvolvidas pela liga sustentam a tríade ensinopesquisa-extensão, o que reforça a sua importância no cenário acadêmico, profissional e social. Porém, extrapolar as barreiras institucionais da universidade configura-se como um grande desafio para a plena consolidação do cuidado sistematizado. Esse cuidado deve ser realizado não apenas pelos membros da liga e futuros enfermeiros, mas também por aqueles que já se encontram inseridos no mercado de trabalho e desempenham diariamente a arte de cuidar. Espera-se que a partir das ações da LASAE, os serviços de saúde locais sejam sensibilizados sobre a importância da realização do Processo de Enfermagem tanto para a enfermagem quanto para os clientes. A partir dessa sensibilização e adesão ao cuidado sistematizado poderão ser evidenciadas melhorias na assistência ofertada à população.

5. Referências BARROS, A.P.M; PEREIRA, F.G. Aplicabilidade da sistematização da assistência de enfermagem na Estratégia de Saúde da Família: uma revisão bibliográfica. Revista Eletrônica Gestão & Saúde. Vol.07, N. 01, Ano 2016 p.388-06. BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM-COFEN. Resolução Cofen nº 358, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília-DF. Disponível em: http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen- 3582009_4384.html MEDEIROS, A.L, Santos SR, Cabral RWL. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva dos enfermeiros: uma abordagem metodológica na teoria fundamentada. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33 (3):174-181. REMIZOSKI, J; ROCHA, M.M; VALL, J. Dificuldades na implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem SAE: Uma revisão teórica. Cadernos da Escola de Saúde, Curitiba, 03: 1-14, 2010. SANTOS, J.A; et al. Sistematização da Assistência de Enfermagem na visão de enfermeiros. CuidArte, Enferm. 2015, v. 9, n. 2, p. 142-147. SILVA, C.F.M, et al. Sistematização da assistência de enfermagem: percepção dos enfermeiros. Rev Enferm UFPI. 2015 Jan-Mar;4(1):47-53. SILVA, E.G.C; et al. O conhecimento do enfermeiro sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem: da teoria à prática. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2011, vol.45, n.6, pp.1380-1386 SOARES, M.I; et al. Sistematização da assistência de enfermagem: facilidades e desafios do enfermeiro na gerência da assistência. Escola Anna Nery. 2015, v. 19. n. 1, p. 47-53.

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