NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO E NO CAMPO

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Transcrição:

NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO E NO CAMPO Rafaela Cristina Bernardo 1 Maria Aparecida Cecílio 2 RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar a condição de invisibilidade na qual se encontra a população adulta camponesa no que tange à garantia do acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA), e sua relação com o neoliberalismo enquanto pacote de politicas incorporadas na realidade brasileira a partir da década de 1990. Neste sentido, a pesquisa qualitativa com abordagem metodológica materialista histórica, tem por finalidade compreender a totalidade de relações sociais, políticas e econômicas que permeiam o neoliberalismo no Brasil, e por meio da categoria mediação, inter-relacionar tais impactos na política de Educação de Jovens e Adultos (EJA) resultando no analfabetismo e analfabetismo funcional da população que vive do e no campo. A pesquisa justifica se na medida em que a políticas de educação tem priorizado as demandas urbanas, deixando o campo com os resquícios de uma educação precarizada e que não atende as necessidades sociais, regionais e culturais de quem vive nela. PALAVRAS-CHAVE: invisibilidade; Educação de Jovens e Adultos; neoliberalismo; campo. INTRODUÇÃO O objeto da pesquisa é a condição de invisibilidade na qual se encontra a população adulta camponesa no que tange ao acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA), para discutir tal condição, buscou se analisar as relações sociais, político e econômicas produzidas pelo que Cruz (2010) chama de pacote de programas neoliberais ou de programa político, os quais foram incorporados no governo brasileiro a partir da década de 1990, como medida para reformular o papel do Estado diante do movimento econômico mundial, buscando adequar a máquina pública as exigências do capitalismo central. Quando falamos em pacote de programas neoliberais, em primeiro lugar estamos ressaltando a discussão de Cruz (2010) de que o neoliberalismo não pode ser analisado apenas enquanto ideologia, fazer isso é incorrer no erro de torna lo imutável e desligado das condições materiais que justificam sua integração em terreno brasileiro na década de 1990, assim o neoliberalismo é ideologia, mas também é movimento e pacote de políticas. Em 1 2 Universidade Estadual de Maringá (UEM) Programa de Pós Graduação em Educação (PPE), Mestranda em Políticas e Gestão da Educação. E-mail: rafaelabernardo89@hotmail.com. Universidade Estadual de Maringá (UEM) Programa de Pós Graduação em Educação (PPE), Doutora em Educação. E-mail: maacecilio@hotmail.com. 1

segundo lugar porque quando se caracteriza como política, os construtores da ideologia não são apropriados, de modo que passam a ser substituídos por organismos unilaterais influenciados diretamente pelo capitalismo central, a exemplo do Banco Mundial e o FMI. Deste modo, esse processo de reformulação do Estado atingiu diretamente a organização e desenvolvimento das políticas sociais, as quais segundo Boito (1999) acabaram por minimizar a intervenção do Estado e ao mesmo tempo transferir para mercado e para a sociedade civil a condição de executor principal de políticas como saúde e educação. Esse pacote de programas impregnado a partir de 1990, busca entre outras questões, minimizar a responsabilidade publica na garantia efetiva de políticas sociais, e estimula a difusão do individualismo, e do consumo no atendimento às necessidades sociais, inclusive educação, considerada diante da política neoliberal como interesse intelectual. Assim podemos compreender uma das determinações que expressa a situação de invisibilidade da população do campo, a minimização da atenção publica em políticas sociais, bem como a relação entre necessidade social e capacidade de consumo, leva ao esquecimento do sujeito do campo, como se estes ficassem invisíveis aos olhos do Estado e das políticas sociais. Esta questão pode ser exemplificada quando comparamos os índices de educação entre a população urbana e rural, onde a desigualdade no acesso à educação entre esses grupos populacionais se revela no índice do IBGE (2010) de instrução da população adulta e jovem entre 25 a 34 anos, apontando que 52,5% da população urbana têm escolaridade de nível médio e superior completo, enquanto apenas 17% da população do campo têm acesso a esses mesmo níveis de instrução. Segundo dados do IBGE (2010) o índice de analfabetismo funcional de pessoas com 15 anos ou mais complementa a desigualdade entre as áreas urbanas e rurais, colocando que 25,8% da população analfabeta funcional reside na zona rural, contra 13,5% da zona urbana, entre homens e mulheres está disparidade revela que 16,1% das mulheres são analfabetas funcionais contra 14,9% do publico masculino. É de se considerar que esses dados expressam claramente a retração do Estado neoliberal na garantia à EJA, juntamente com as exigências postas ao mundo do trabalho, de modo que a família do campo, sem escolaridade necessária acabou por se submeter ao trabalho braçal, do qual após estar fora da idade escolar dependeria retornar ao ensino pela via da Educação de Jovens e Adultos (EJA), contudo os centros de Educação Popular estão prioritariamente localizados nos centros 2

urbanos, o que dificulta ainda mais o acesso destas famílias a conclusão do ensino. Segundo Godotti (2011) a condição critica das escolas do campo, apresentam estruturas improvisadas e que não oferecem todas as modalidades de ensino. É por esta razão que a discussão sobre o acesso à educação de Jovens e Adultos deve ser feita na perspectiva da política de educação do e no campo, a qual vem em luta contra a condição de descompromisso publico no enfrentamento dos problemas que impedem o acesso à educação para todos, e que de acordo com Caldart (2011) que seja uma educação para quem vive do e no campo, buscando garantir um ensino que atenda as suas reais necessidades e o direito dos camponeses de concluir os estudos pela via do ensino formal. OBJETIVO GERAL Analisar a relação entre a invisibilidade da população adulta camponesa no acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e sua relação com o pacote de programas políticas neoliberais incorporadas à realidade brasileira a partir da década de 1990. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Compreender os impactos do pacote de políticas neoliberais no âmbito da educação. Discutir a retração do Estado neoliberal na garantia do acesso à EJA para a população do Campo. Compreender como se constrói a condição de invisibilidade da população adulta rural frente aos índices de analfabetismo e analfabetismo funcional. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa qualitativa busca através da abordagem teórico metodológica materialista histórica, analisar o objeto, ou seja, a condição de invisibilidade na qual se encontra população adulta camponesa no acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA) a partir de suas múltiplas determinações, buscando segundo Netto (2011, p, 28) o conhecimento do objeto de sua estrutura e dinâmica tal qual ele é em si mesmo, na sua existência real e efetiva, independente de desejos e das aspirações e representações do pesquisador. Nesta perspectiva, se faz necessário empreender as categorias analíticas de totalidade, mediação e contradição no 3

que tange a relação entre o singular, ou seja, o analfabetismo e analfabetismo funcional de quem vive e trabalha no campo, até suas determinações mais complexas, enquanto processo relacionado ao pacote de programas neoliberais incorporados no Brasil a partir da década de 1990, o qual por si, também se relaciona ao movimento social e econômico mundial, principalmente do capitalismo central. A perspectiva da contradição busca analisar a unidade de contrários, do qual busca compreender as questões que explicam a aplicação de políticas sociais através do Estado e ao mesmo tempo a ampla participação da empresa privada e do terceiro setor neste meio, principalmente na oferta de educação, precarizando o acesso à educação publica, e, atendendo condições mínimas de qualidade, junto da priorização dos centros urbanos em detrimento do campo. Nesse sentido, a preocupação ética da pesquisa esta na necessidade de explicitar a condição de vulnerabilidade social na qual se encontra a população que vive no e do campo, demandando políticas sociais que atendam diretamente suas necessidades, e assim desenvolver seu potencial critico e social frente ao processo denominado por Alves (2004) de barbárie sócio-metabólica na qual a sociedade do consumo esta submersa e afunda cada vez mais quem vive invisível a ela. CONCLUSÕES Compreender a relação entre neoliberalismo e política social exige a compreensão de que as condições materiais, e, portanto históricas, que levaram a sua construção e difusão são mutáveis e dinâmicas, o movimento do qual Cruz (2010) nos leva a fazer, coloca a relação entre o neoliberalismo enquanto ideologia, movimento e pacote de políticas neoliberais. A incorporação destas políticas, impostas pelo capital imperialista por meio de seus representantes, os organismos multilaterais, impuseram a reformulação do Estado brasileiro sob moldes neoliberais, diminuindo a intervenção do Estado nas suas mais variadas esferas, principalmente nas áreas em que a iniciativa privada pudesse inferir, atraindo o consumidor individual, inclusive na oferta de educação e saúde. Este processo revela a retração do Estado na garantia de políticas sociais voltadas para o campo, onde a precarizada educação publica, atende prioritariamente a força de trabalho necessária para o desenvolvimento do capital, e que por sinal, se localiza nos centros urbanos, já que o campo é reconhecido pelo capital 4

enquanto terreno do agronegócio, colocando quem vive da e na terra na condição de invisibilidade e assim omitindo a realidade de analfabetismo e analfabetismo funcional que a população rural adulta se encontra. REFERÊNCIAS ALVES, Giovanni. Crise da globalização e lógica destrutiva do capital: notas sobre o sóciometabolismo da barbárie. Katálysis, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2004. BOITO JR., Armando. BOITO JR, Armando. Neoliberalismo e burguesia. In:. Política neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Xamã, 1999. p. 23-76. CRUZ, Sebastião Carlos Velasco. Organizações internacionais e reformas neoliberais: reflexões sobre o tema da propriedade intelectual. In:. O Brasil no mundo: ensaios de análise política e prospectiva. São Paulo: UNESP; Unicamp; PUC, 2010. p. 25-41. GODOTTI, Moacir. ROMÃO, José Eustáquio. Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposto. 12º edição, São Paulo, Cortez, 2011. IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma analise das condições de vida da população brasileira. Rev. Eletr. Estudos e Pesquisa, informação demográfica e socioeconômica, nº27. Brasília, 2010. Disponível em< http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinte seindicsociais2010/sis_2010.pdf> NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011. 5