Radiologia Intervencionista no Transplante Hepático. Carlos Abath ANGIORAD REAL HOSPITAL PORTUGUÊS DO RECIFE

Documentos relacionados
XIV Reunião Clínico - Radiológica. Dr. Rosalino Dalazen.

FÍGADO E TRATO BILIAR

Indicações e Resultados do Tratamento Percutâneo de Obstruções à Via de Saída do VD

Intervenções percutâneas. Tratamento das obstruções da via de saída do Ventrículo Esquerdo

Avaliação por Imagem do Pâncreas. Aula Prá8ca Abdome 4

REUNIÃO TEMÁTICA ANGIOGRAFIA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE PATOLOGIA ISQUÉMICA MEMBROS INFERIORES. Frederico Cavalheiro Março 2011

Portaria nº 451 de 12 de Julho de O Secretário de Assistência à Saúde, no uso de suas atribuições legais,

ACESSOS VASCULARES PREVENÇÃO E CUIDADOS DE ENFERMAGEM RESIDÊNCIA INTEGRADA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE ENFª FRANCIELE TONIOLO ENFª LUIZA CASABURI

Oferecemos uma ampla gama de tratamentos entre os que podemos destacar:

Seminário Grandes Síndromes ICTERÍCIA

FÍGADO. Veia cava inferior. Lobo direito. Lobo esquerdo. Ligamento (separa o lobo direito do esquerdo) Vesícula biliar

INTERVENÇÃO EM PONTES DE SAFENA

Sessão Cardiovascular

HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE EDITAL Nº 05/2007 DE PROCESSOS SELETIVOS GABARITO APÓS RECURSOS

Intervenção Coronária Percutânea de Salvamento, Facilitada e Tardia (> 12 horas), no Infarto Agudo do Miocárdio.

Diagnosis and prevention of chronic kidney allograft loss

ANGIOGRAFIA DOS ACESSOS, SÃO ASSIM TÃO DISPENDIOSAS? JORGE SILVA, ALMADA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS MÉDICO ANGIOLOGISTA

I Características Técnicas e Funcionais do Curso

Comparison of Histidine-Tryptophan-Ketoglutarate Solution and University of Wisconsin Solution in Extended Criteria Liver Donors

8:00 Horas Sessão de Temas Livres concorrendo a Premiação. 8:30 8:45 INTERVALO VISITA AOS EXPOSITORES E PATROCINADORES.

RESPOSTA RÁPIDA 355/2014 Informações sobre Questran Light

Fígado e Vesícula Biliar: Vascularização e Inervação. Orientador: Prof. Ms. Claúdio Teixeira Acadêmica: Letícia Lemos

Secretaria Municipal da Saúde Coordenação de Integração e Regulação do Sistema

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS MÉDICO CIRURGIÃO TORÁCICO

DISSECÇÃO AÓRTICA. Eurival Soares Borges Revisão - Ronaldo Ducceschi Fontes DEFINIÇÃO HISTÓRICO ETIOLOGIA CLASSIFICAÇÃO PATOGÊNESE E HISTÓRIA NATURAL

TREINAMENTO CLÍNICO EM MANEJO DA DENGUE Vigilância Epidemiológica Secretaria Municipal de Saúde Volta Redonda

Introdução. Metabolismo dos pigmentos biliares: Hemoglobina Biliverdina Bilirrubina Indireta (BI) ou nãoconjugada

Assunto: Nova classificação de caso de dengue OMS

DENGUE. Médico. Treinamento Rápido em Serviços de Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac

Prof. Dr. José O Medina Pestana. Hospital do Rim e Hipertensão Disciplina de Nefrologia, Universidade Federal de São Paulo

As disfunções respiratórias são situações que necessitam de intervenções rápidas e eficazes, pois a manutenção da função

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

02 DE AGOSTO DE 2015 (DOMINGO)

NOTA TÉCNICA Nº 001 DIVE/SES/2014

TEXTO BÁSICO PARA SUBSIDIAR TRABALHOS EDUCATIVOS NA SEMANA DE COMBATE À DENGUE 1

2ª. PARTE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS. 21. Essencial para a utilização bem sucedida da prótese para o amputado da extremidade inferior:

Anomaliascoronárias avaliadaspor TC: variantes e risco

Cardiologia Hemodinâmica

EVOLUTIVAS PANCREATITE AGUDA

5ª Reunião de Casos.

PROVA ESPECÍFICA Cargo 53

APRESENTAÇÃO DE ARTIGO MARCELO TELES R3

Pancreatite Aguda. Se internar solicitar

TC de pelve deixa um pouco a desejar. Permite ver líquido livre e massas. US e RM são superiores para estruturas anexiais da pelve.

DOENÇAS VENOSAS CRÔNICAS E O CUIDADO DE ENFERMAGEM

Assine e coloque seu número de inscrição no quadro abaixo. Preencha, com traços firmes, o espaço reservado a cada opção na folha de resposta.

HEMORRAGIA DIGESTIVA POR VARIZES ESÔFAGO GÁSTRICA: CONDUTA A TOMAR. Julio Cesar Pisani Prof. Adjunto de Gastroenterologia

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Pâncreas. Pancreatite aguda. Escolha uma das opções abaixo para ler mais detalhes.

Implante Implante Transcateter Valvar Valvar Aórtico: Curso de Pós Graduação Lato Sensu Hospital Beneficência Portuguesa SP Maio/2010

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

PROVA ESPECÍFICA Cargo 51

PÔSTERES DIA 13/11/ :00 ÀS 12:00 TÍTULO

Mal formações do trato urinário. Luciana Cabral Matulevic

Resolução CNRM Nº 14/2004, de 16 de novembro de 2004

cateter de Swan-Ganz

Reunião de Casos. Camilla Burgate Lima Oliveira Aperfeiçoando de RDI da DIGIMAX (A2)

Abcessos Hepáticos. Hospital de Braga. Cirurgia Geral. Director: Dr. Mesquita Rodrigues. Pedro Leão Interno de Formação Específica em.

ANOMALIAS DO TRATO URINÁRIO UNIDADE DE NEFROLOGIA PEDIÁTRICA HC - UFMG BELO HORIZONTE - BRASIL

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEFROLOGIA

PANCREATITE CRÔNICA TERAPÊUTICA Rio de Janeiro Junho 2011

NOTA TÉCNICA Nº. 01/2010/DIVE/SES

PEDIATRIA CLÍNICA 1. OBJETIVOS

Reunião de casos clínicos

C L A S S I F I C A D O S P A R A A 2ª F A S E (Ref: 2016)

GRUPO CODIGO PROCEDIMENTO

Abordagem a Linfonodomegalia Periférica. Guilherme Medeiros Reunião Clínica Real Hospital Português

Pancreatite aguda e crônica. Ms. Roberpaulo Anacleto

Encargo ADSE. Encargo Beneficiário. Código Designação Preço RADIOLOGIA CABEÇA E PESCOÇO

Bibliografia: Capítulo 2 e 3 - Nowak Capítulo 12, 13 e 14 Fisiopatologia Fundamentos e Aplicações A. Mota Pinto Capítulo 4 S.J.

Pós operatório em Transplantes

CATATERIZAÇÃO DA ARTÉRIA UMBILICAL

Ministério da Saúde MS Secretária de Atenção à Saúde Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Próteses e Materiais Especiais do SUS.

/2 Info Saude

TOMOGRAFIA E RESSONÂNCIA CARDIOVASCULAR. Renato Sanchez Antonio Santa Casa RP

ESÔFAGO-GÁSTRICASGÁSTRICAS

Workshop de Angiografia Da Teoria à Prática Clínica

Dengue grave. Diagnóstico laboratorial da dengue em seres humanos

Histórico Diagnóstico Indicações Tratamento cirúrgico Resultados e Complicações

Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Cirrose hepática Curso de semiologia em Clínica Médica

Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva

Elizabeth Balbi Hepatologista Centro Estadual de Transplantes - RJ

GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA LICA DIAGNÓSTICO HELMA PINCHEMEL COTRIM FACULDADE DE MEDICINA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

GABARITO DE CIRURGIA GERAL

03/05/2012. Radiografia simples do abdome

Bursite do Olécrano ou Bursite do Cotovelo

UNILUS CENTRO UNIVERSITÁRIO LUSÍADA PLANO ANUAL DE ENSINO ANO 2010

Abordagem da reestenosee. Renato Sanchez Antonio

Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)

CASOS CLÍNICOS DIGIMAX. Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Raphael Salgado Pedroso

Cardiologia - Síndromes Coronarianas Agudas 1 / 17

Cardiologia - Síndromes Coronarianas Agudas 1 / 17

COD PROTOCOLOS DE GASTROENTEROLOGIA

Transcrição:

Radiologia Intervencionista no Transplante Hepático Carlos Abath ANGIORAD REAL HOSPITAL PORTUGUÊS DO RECIFE

Conflitos de interesse Nenhum para este tópico

Intervenção pós transplante hepático TÉCNICA CIRÚRGICA Doador cadáver (OLT) Intervivos Divisão do fígado (SPLIT) COMPLICAÇÕES VasculareArteriais Vias biliares

Complicações vasculares Artéria hepática 10% Veia porta 2% Veias sistêmicas 1% Hiperplasia miointimal Torsão Problemas técnicos

Complicações arteriais Estenose: 4-10% Trombose: 5% Pseudoaneurisma < 1%: técnico ou micótico Síndrome do roubo arterial FATORES PREDISPONENTES Técnica cirúrgica Desproporção de calibre doador/receptor TACE Múltiplos episódios de rejeição Enxerto aórtico sequencial

Diagnóstico das complicações arteriais 20% assintomáticos Elevação AST e ALT Colestase, colangite Abscesso hepático Lesões isquêmicas biliares Necrose hepática Septicemia USG Doppler TC/MR Angiografia

Conduta nas estenoses arteriais Tratamento endovascular como primeira opção terapêutica Cirurgia no insucesso ou complicações Angioplastia com stent, de preferência farmacológico Angioplastia em segmentos curvos, de preferência com balão farmacológico Tech Vasc Interv Radiol,2007;10:207-20 Transplantation,1997;63:250-55 J Vasc Interv Radiol,2005;16:795-805

Estenose de artéria hepática (stent coronário)

Resultados na estenose arterial Sucesso técnico > 90% Dissecção e trombose Restenose com DEB de até 33,3% Restenose com DES de até 25% Ruptura da anastomose? Seguro após 1 semana

Conduta nas tromboses arteriais Diagnóstico por USG Doppler, TC/RM Trombectomia mecânica e/ou fibrinólise (r-tpa) Angioplastia/stent da lesão subjacente Cirurgia reservada para a falha ou complicações da técnica percutânea Transplantation 1996;62:1584-1587 World Journal of Gastroenterology,15,684-93,2009

Resultados na trombose arterial Sucesso da trombólise em 68% Hemorragia 22% Retrombose 4-5% Mortalidade 50-58% Maioria requer re-transplante Mortalidade após re-transplante de 27-30%

Pseudoaneurisma Possibilidade de hemorragia Geralmente ao nível da anastomose Problema técnico Infecção Pós angioplastia Opções terapêuticas: cirurgia, embolização, stent recoberto Cortesia do Dr Argiro (Itália)

Síndrome de roubo arterial Hipoperfusão arterial pós transplante hepático Desvio do fluxo arterial hepático para as artérias esplênicas e/ou gastroduodenal Fator de risco para trombose da artéria hepática Diagnóstico angiográfico Embolização com plugs ou molas

Complicações no sistema porta Anastomose termino-terminal, 2-5 cm acima da confluência da VE e VMS Enxerto venoso ou protético Trombectomia pré transplante Divisão do fígado doador Estenose e trombose portal

Diagnóstico das complicações portais Diagnóstico precoce (0-3 meses): disfunção e insuficiência hepática Diagnóstico tardio: hipertensão porta, com sangramento, ascite e encefalopatia 2% dos adultos 12% das crianças

Conduta nas complicações portais Expectante nos assintomáticos, sem hipertensão portal Acesso transhepático Avaliação do gradiente pressórico Fibrinólise e trombectomia mecânica e aspirativa na trombose Angioplastia e stent no tratamento das estenoses

Resultados nas complicações portais Literatura escassa Sucesso elevado nas estenoses Patência de 71,4% nas estenoses tratadas com angioplastia Melhora da patência com o uso de stents Recanalização em 8/17 pacientes com trombose porta Complicações: hemoperitôneo e hemotórax Intervenção bem sucedida aumenta a sobrevida no grupo pediátrico Ann Surg, 2002;236:658-666 Cardiovasc Interv Radiol(2003),36;1562-1571

Complicações nas veias sistêmicas Técnica piggyback: 1-3% VCI; 0,8% VH Intervivos e divisão do enxerto: 1-6%

Obstrução das veias sistêmicas PRECOCE Problemas técnicos Desproporção doador/receptor Torsão das veias Flap intimal TARDIA Hiperplasia intimal Fibrose perianastomótica Crescimento do enxerto com compressão e torsão das veias

Diagnóstico das obstruções em veias sistêmicas VCI acima das VH: + frequente Disfunção hepática, hepatomegalia, ascite, dor abdominal, derrame pleural, edema MMII VCI abaixo das VH: edema MMII VH: hipertensão portal com ascite e sangramento de varizes

Conduta nas obstruções de veias sistêmicas Acesso transjugular, transfemoral ou transhepático Avaliação do gradiente pressórico Fibrinólise em caso de trombose Angioplastia e stent

Resultado das intervenções em veias sistêmicas Sucesso técnico: 100% Normalização clínica-laboratorial em poucos dias Múltiplas dilatações em caso de recorrências Aumento da sobrevida Complicações menores em 10% Migração do stent Ann Surg, 2002;236:658-666

Complicações biliares Inicialmente 48% Atualmente 5-25% Principal causa de morbimortalidade Estenoses e vazamentos: + comuns Hemobilia Cálculos Biloma Abscesso Disfunção esfincter de Oddi DIAGNÓSTICO Sintomas e drenos cirúrgicos USG, TC, RM e colangiorm Colangiografia endoscópica Colangiografia percutânea

Fatores predisponentes Tamanho do enxerto: intervivos e pediátricos Qualidade do enxerto: morte cardíaca e reperfusão Coledococoledocostomia: + frequente, + estenose Coledocojejunostomia e Y de Roux: + vazamento, + refluxo entérico Isquemia biliar: biloma, abscesso e estenoses tardias

Estenoses biliares INCIDÊNCIA Intervivos: 5-15% Doador cadáver: 28-32% Apresentação: 5-8 meses CLASSIFICAÇÃO Anastomótica: 80%, precoce no primeiro ano Não-anastomótica: 20%, tardia após primeiro ano

Estenose biliar anastomótica Geralmente por problemas técnicos Discreto vazameno biliar inflamação estenose Isquemia local, lesão plexo parabiliar Fibrose de cicatrização Icterícia, dor abdominal, febre (colangite), alterações laboratoriais Responsiva ao tratamento

Estenose biliar não-anastomótica Hilo ou intrahepática difusa Isquemia global ou rejeição crônica Recorrência de colangite esclerosante primária Relacionada à incompatibilidade sanguínea ABO Múltiplos episódios de colangite Pouco responsiva ao tratamento Sobrevida do enxerto em 3 anos: 30-50% Re-transplante

Conduta na estenose biliar Estenose da artéria hepática duplica o risco de complicações biliares ATP e stent só surtem efeito se realizados nos primeiros 6 meses Abordagem endoscópica: stents plásticos (60-75% estenoses anastomóticas e 25-33% nas nãoanastomóticas) Percutânea: Y Roux, múltiplas drenagens e dilatações (33-74% em 5 anos)

Técnica percutânea na estenose biliar anastomótica Punção guiada por fluoroscopia nas vias biliares dilatadas Punção guiada por USG quando não há dilatação Drenagem biliar interna-externa Dilatação com balão

Avanços terapêuticos na estenose biliar Stents recobertos por via endoscópica Stents recobertos por via percutânea Stents biodegradáveis

Litíase e barro biliar Estenose e colestase Litíase biliar em 4-6% Barro biliar em 2,5-18% Isquemia, rejeição e infecções 22% re-transplante Tratamento: esfincterotomia, balão, cesta de Dormia, litotripsia

Vazamento biliar e biloma 2-25% Erro técnico Isquemia Ducto cístico remanescente Superfície de corte no fígado doador dividido DIAGNÓSTICO Muitos assintomáticos Deterioração clínica Dor abdominal persistente Drenagem persistente pelo dreno cirúrgico Biloma

Conduta nos vazamentos e bilomas Expectante nos vazamentos pequenos Resolução espontânea em 5 semanas em 88% Drenagem endoscópica e stent plástico Drenagem percutânea interna-externa Drenagem percutânea do biloma Cirurgia Re-transplante

Disfunção esfincteriana 2-7% Denervação cirúrgica Esfincter hipertônico Colangite, pancreatite, dilatação da árvore biliar Tratamento: esfincterotomia com drenagem

Conclusões O radiologista intervencionista é componente essencial no grupo multidisciplinar envolvido no transplante hepático Necessidade de entendimento da técnica cirúrgica utilizada em cada caso Aplicação das técnicas intervencionistas usuais na resolução das complicações vasculares e biliares do transplantes hepático Incidência decrescente das complicações, devido à curva de aprendizado e aperfeiçoamento das equipes cirúrgicas

Obrigado!!!!