Durante o tempo que passei na Guiné entendi o sentido de rádios de Paz. José Lamego, Secretário de Estado da Cooperação, Magalhães



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Transcrição:

Em 2001, o Padre Davide Sccioco, missionário italiano do Pime presente na região de Mansoa (Guiné- -Bissau), pediu à Dra. Maria de Jesus Barroso Soares, então Presidente da Cruz Vermelha e também da Pro Dignitate, apoio para a criação de uma pequena rádio local que transmitisse sobretudo notícias positivas. Na conversa que mantiveram ficou um mote: Se uma rádio serve para fazer a guerra, uma rádio também pode servir para fazer a Paz. Maria Barroso, na condição de Presidente da Pro Dignitate, aceitou de imediato o repto. Sugeriu o meu nome para ir um mês à Guiné: vimos as pessoas, analisámos os meios, fizemos propostas e projetos e dei as primeiras formações para jornalistas locais. Os novos formadores em Rádios de Paz Entre outras razões, a Dra. Maria de Jesus sugeriu o meu nome porque eu tinha estado na Guiné entre 1989/ 1990, durante o conflito militar que dividiu famílias, etnias, religiões e lançou ambições regionais. A Rádio Renascença, onde eu trabalhava, mantinha no ar o programa Renascença África, um espaço transmitido na África de expressão portuguesa, através de rádios locais. Era um programa via satélite, um projeto que ligava alguns nomes fundamentais para a cooperação portuguesa: José Lamego, Secretário de Estado da Cooperação, Magalhães Crespo e José Luís Ramos Pinheiro, da Renascença, e Maria de Jesus Barroso que há anos apoiava os projetos da Rádio Renascença para formações em África. Fazia todo o sentido que, durante a guerra, como se dizia na Guiné, o conflito fosse acompanhado localmente. O Programa Renascença África passava diariamente na Guiné-Bissau às 13h00, através dos estúdios da Rádio Bombolom, ocupados pelos rebeldes de Assumane Mané. Era suposto que a essa hora houvesse reportagens da situação local, atentamente escutadas pelas populações. A esse propósito contava-se a seguinte história: no programa entrava um espaço desportivo, a Bola Branca - as notícias na voz popular de Ribeiro Cristóvão; as últimas do Benfica, do Porto etc. Era a hora da guerra parar, porque rebeldes e ninistas queriam ouvir as últimas do futebol. O povo, de rádio em punho, saia então à rua para o reabastecimento necessário. Programa terminado e regresso aos esconderijos. Durante o tempo que passei na Guiné entendi o sentido de rádios de Paz.

Quando surge a guerra, aparecem dezenas de jornalistas experientes, correspondentes de guerra. A função era sempre a mesma: seguir os líderes que estão em queda ou em ascensão, as zonas ocupadas ou abandonadas. Ou seja, seguir o trajeto dos elefantes que lutam na relva. Raramente o editor ou o patrão do jornal, da rádio ou dos mass media permitem que se acompanhe a guerra do lado da relva, ou seja da construção da Paz: os refugiados, os velhos, as mulheres, as crianças ou as populações em fuga. Foi essa opção que eu fiz na altura: acompanhar o martírio da população. E hoje tenho a grande alegria, quando vou à Guiné, de ver pessoas a perguntar: Lembras-te de mim? Encontrei-te quando estava escondido ou refugiado em tal ou tal sítio. Políticos que recordam que fui encontrá-los na tabanca tal ou tal onde estavam refugiados. A Dra. Maria Barroso tem desde os anos oitenta lutado contra o problema da violência nos media, tem sido particularmente sensível ao problema da violência que é transmitida pelas rádios africanas. São sociedades dominadas ainda pela rádio, pela voz, pela memória auditiva. Nas zonas rurais de toda a nossa África a rádio é um instrumento insubstituível de formação, de desenvolvimento social, político e económico. Mas é também, muitas vezes um instrumento de violência e de divisão, de conflito. Em África e na Guiné a rádio foi e é instrumento de conflito. Está-lhe nos genes. Nasceu para garantir a subsistência do imperialismo: dividir etnias, alargar a conflitualidade, garantir a duração do colonialismo. Rádios de mentira e da intriga. A estas se sucederam as vozes da libertação, também rádios de mentira, de intriga e de conflito. Depois das independências surgiram as rádios ao serviço do Estado e, através do Estado, ao serviço do clã, da etnia, do grupo económico e até mesmo da religião. Por isso a Pro Dignitate lançou este projeto de rádios ao serviço das comunidades: orientadas pela paz e não pela violência; orientadas pela verdade mas com caridade, orientadas pela procura de soluções ao serviço do interesse popular. Um projeto que tem como aliados a Conferência Episcopal Italiana, a Universidade de Rhode Island (Providence), os Bispos da Guiné-Bissau, a Rádio Sol Mansi, Rádios Católicas da Guiné e a Fundação Guineense Voz di Paz. Objetivo: formar jornalistas, mas sobretudo treinar jornalistas que saibam ler, ouvir e ver as notícias com critério e seleção. Infelizmente as notícias não são como água pura, sem cor, sem cheiro e sem sabor. Somos infelizmente, ainda hoje, as vozes de donos que não controlamos: grupos económicos, lobbies. Cada jornalista que formamos deve saber que a notícia tem consequências; não queremos censuras mas é preciso que o jornalista conheça e entenda o efeito que a notícia provoca a nível local, nacional e global. António Pacheco Jornalistas Amad Uri Djaló, Mussa Sani e Casimiro Cajucam Entre 2005 e 2009, a Dra. Maria Barroso foi a Presidente de Honra dos Encontros para a Cidadania - a Igualdade entre Homens e Mulheres, uma iniciativa inédita, em Portugal - e, ao que julgamos, única em países de emigração - destinada a levar às comunidades portuguesas da Diáspora um forte apelo à participação de todos na afirmação dos valores de género e geração, na vivência da democracia e na valorização de uma cultura universalista, como é a nossa. Foi verdadeiramente um correr mundo para a Dra. Maria Barroso e para um conjunto de personalidades que a acompanhava, e que incluía, para além de membros do Governo, representantes de organizações da sociedade civil, unidos

e motivados pela mesma causa, a de aprofundar a consciência das discriminações que subsistem e assumem contornos específicos no quadro das migrações, assim promovendo a inclusão dos grupos mais marginalizados da sociedade, através do exercício concreto e efetivo dos seus direitos e dos seus talentos. Há muitos anos que admirava a Dra. Maria Barroso e que com ela tinha colaborado, sobretudo nestes domínios dos direitos humanos, dos direitos das mulheres, em colóquios e congressos da Associação de Estudos Mulher Migrante, onde sempre foi uma presença influente e mobilizadora. Contudo, nunca tinha partilhado com ela longas viagens através dos oceanos (um tempo que, em conversa, ouvindo-a, passava célere), e a intensidade do dia a dia feito de debates vivos e memoráveis, de convívio em que os temas dos encontros se continuavam, incessantes, nas pausas, nos almoços e jantares, com que as nossas comunidades gostam de acolher os visitantes... Nunca tinha podido sentir tão de perto a profunda afetividade que desperta a Dra. Maria Barroso em todos quantos escutavam as suas palavras brilhantes, na substância e na forma como as diz, com a marca da convicção e da autenticidade, e com a simplicidade natural, com que se torna tão próxima ( uma de nós, sem que nunca esqueçamos a sua absoluta excecionalidade!). Esses Encontros faziam História, como reconhecíamos já então, porque significavam o princípio da aplicação das políticas da igualdade de género em Portugal, no seu inteiro espaço humano, para além das fronteiras territoriais, e também porque eram encabeçados por um autêntico expoente das qualidades e capacidades da Mulher Portuguesa. Para as emigrantes, um exemplo vivo de como ser Mulher e Cidadã, que estava ali a seu lado, tão acessível e solidária. Para os convidados de um País estrangeiro, uma singular mensageira de Portugal, da sua verdadeira dimensão cultural e política. O primeiro de seis encontros foi o da América do Sul, realizado em Buenos Aires, seguindo-se o da Europa, em Estocolmo, os da América do Norte, no leste do Canadá, em Toronto e no ocidente dos EUA, em Berkeley, o da África em Joanesburgo e, por último, o encontro dos encontros, um congresso internacional no nosso País. Sobre cada um deles se poderia escrever uma longa crónica longa e feliz. Aqui fica apenas um breve e objetivo registo de factos, que se espera sejam, de qualquer modo, sugestivos do ambiente vivido, das esperanças despertadas, do impacte que se prolonga até hoje, em novas iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita à política de Estado para as comunidades, que passou a incorporar, esperamos que definitivamente, uma componente de género. Buenos Aires, 16 e 17 de novembro de 2005 Biblioteca Nacional, Salão Jorge Luís Borges Organização local: Embaixada de Portugal e da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina. Sob a égide do grande escritor argentino, que, por ascendência e por afeto, é também nosso, com a presença simbólica de Maria Kodama, a viúva de Borges, num auditório repleto de ilustres participantes portugueses e argentinos, com jornalistas dos principais media nacionais - imprensa, rádio, RTP - se reiniciou uma caminhada histórica, que tivera o seu começo precisamente 20 anos antes, no 1º Encontro Mundial de Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo, convocado durante o Governo de Mário Soares. O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas António Braga propunha-se, como asseverou publicamente, retomar uma questão que andava esquecida pelos governos nas suas políticas de emigração há muitos anos. Aí, em Buenos Aires (capital de um País onde a Mulher já ascendera à Presidência da República, e onde uma Portuguesa - Regina Patini - fora a única Primeira-Dama estrangeira), partilhando a mesa de honra com António Braga, com o Embaixador Almeida Ribeiro e comigo mesma, a Dra. Maria Barroso proferiu a conferência de abertura - dando-nos uma perspetiva diacrónica sobre a luta das mulheres pela plenitude dos direitos de cidadania e convidando-nos a participar na aventura de equacionar e de construir o seu futuro. Depois de dois dias de debates e da aprovação das conclusões, que são um notável documento sobre as matérias em análise, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade. As comemorações da Associação Mulher Migrante constituíram, logo depois, a parte festiva destas jornadas de trabalho. E, como são sempre celebradas em ambiente de grande entusiasmo e confraternização inter-associativa, e paritária

(com os líderes das maiores instituições envolvidos na homenagem aos méritos e realizações da primeira associação feminina da comunidade), foram mais um meio de alargar a reflexão sobre as questões da cidadania, dos direitos e deveres em que esta se expressa, do novo papel das mulheres. Estocolmo, março de 2006 Museu Etnográfico Organização local: PYCO, Federação Internacional de Mulheres Lusófonas Presente ao lado da Dra. Maria Barroso e do Embaixador de Portugal, a antiga Ministra, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres, Anita Gradin, que foi uma próxima e importante colaboradora de Olaf Palme e uma pioneira, grande impulsionadora da praxis da paridade na Suécia, primeiramente no seu próprio partido. Entre ambas, como entre todas nós, na organização dos trabalhos, e entre nós e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, representando o Governo, havia uma evidente sintonia de posições. E, tal como na Argentina, foi ampla a participação de personalidades e de ONG s do país que nos acolhia, a permitir a troca de experiências e ensinamentos. A imprensa nacional e regional esteve presente e deu notícia das propostas deste novo congresso. É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres, salientou a Dra. Maria Barroso. Este ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, na linha de pensamento das feministas da 1ª República, leva-nos a vê-la, nos ideais, como na ação concreta pela liberdade e democracia, como uma genuína herdeira dessa plêiade de notáveis Portuguesas do começo de novecentos. Toronto, março de 2007 Auditório do Metro Hall, Conferência para a Participação Cívica e Política Organização Local: Consulado Geral de Portugal, e um elevado número de ONG s luso-canadianas e canadianas. Patrocínio da Região Autónoma dos Açores A conferência reuniu muitos membros de associações, universitários e investigadores, deputadas canadianas, e ativistas dos direitos humanos, mulheres e homens, e teve uma cobertura excecional de todos os media em língua portuguesa de Toronto (muitos e muito bons), que, de uma forma unânime, saudaram aquela realização e deram a medida do seu relevo, contribuindo para que as temáticas desenvolvidas e o essencial de uma mensagem tão clara e forte chegasse à comunidade inteira. O Secretário de Estado Jorge Lacão, esteve, naturalmente, nos momentos protocolares de abertura e encerramento, mas também participou ativamente nos trabalhos de todos os painéis. Aí divulgou o Plano Nacional para a Igualdade e a extensão da Lei da Paridade às eleições do Conselho das Comunidades Portuguesas (que viriam a ser as primeiras a que as novas regras se aplicaram). O Embaixador Silveira de Carvalho e o Dr. Álamo de Oliveira em representação dos Açores foram também brilhantes intervenientes. E a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva foi unanimemente elogiada pela organização da Conferência, e, mais globalmente, pelo desempenho à frente do Consulado, onde foi a primeira mulher a exercer o cargo. A Dra. Maria Barroso, partilhou do entusiasmo geral, falando da abertura de horizontes ( A Mulher de hoje pode governar uma Nação ), não deixou, todavia, de denunciar, em contra corrente, muitas discriminações que subsistem: Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade.

Para além da Conferência, houve ainda ocasião para corresponder a convites da comunidade, do Museu dos Pioneiros e da Associação de Apoio a Deficientes Portugueses, onde a Dra. Maria Barroso e eu recebemos o título de Presidentes de Honra. Recém inaugurada esta grandiosa obra de solidariedade, converteu-se já um ex-libris da nossa Comunidade, tornou-se centro de apoio e, também, de animação cultural e de valorização humana dos mais velhos e dos mais marginalizados. Na despedida de Toronto fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu amplamente: Viemos ver coisas extraordinárias. O articulista do Pós milénio foi um dos que sintetizou bem o espírito destas iniciativas: Um encontro para a cidadania tem que se lhe diga. É bem capaz de cavar alicerces que nem sempre foram abertos para todos (...) de trazer à discussão temas do maior interesse, que levam a harmonia a uma sociedade, por vezes pouco lógica e racional. É de assinalar ainda, fora de Toronto, uma deslocação breve da Dra. Maria Barroso a Montreal para um outro encontro, a celebrar o Dia Internacional da Mulher - uma iniciativa que o jornal Luso Presse promove todos os anos. Com a presença do Cônsul-Geral Dr. Carlos Oliveira e da Ministra da Imigração do Québec, de várias deputadas e de uma vereadora portuguesa, de uma sala cheia de portugueses, viveram-se momentos irrepetíveis de emoção até às lágrimas, com a Dra. Maria Barroso a receber uma infindável ovação, no fim de uma memorável mensagem sobre a história e o futuro da nossa democracia. Joanesburgo, março de 2008 Sala de Conferência do Lusito, Associação em favor de Crianças Deficientes Organização Local: Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul. Patrocínio da Região Autónoma da Madeira e do Consulado Geral de Portugal Nas esplêndidas instalações do Lusito, para uma audiência onde predominavam as mulheres, mas onde estavam também o Embaixador Paulo Barbosa, o Cônsul-Geral Manuel Gomes Samuel e os dirigentes das principais instituições da comunidade, a Dra. Maria Barroso falou da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância - e esta é justamente uma das injustiças a que o exercício da cidadania no feminino procura pôr fim. A oradora focou muito em especial a participação das Portuguesas na luta pela democracia e a importância que isso e outros fatores, como a grande guerra mundial e a guerra colonial, tiveram na ascensão das mulheres e abordou preocupações e uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos, a exclusão social, os maus tratos a crianças, a violência doméstica. O Encontro ganhou uma dinâmica original, a marca do modo de funcionamento da Liga da Mulher, com a organização de quatro workshops sobre: a situação das mulheres portuguesas na África do Sul e o seu diálogo e colaboração com as naturais do País; os diferentes processos de afirmação das Portuguesas na Diáspora e no nosso País; os principais domínios em que se reconhece perdurarem discriminações; o ensino do português a da nossa cultura na África austral. Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se confirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.

A missão na RAS, como, aliás, as anteriores, traduziu-se na discussão de ideias e no traçar de metas para trabalho futuro, mas também na criação de laços de amizade que facilitarão a cooperação para a sua prossecução concreta. E houve tempo para a nostalgia, para a Dra. Maria Barroso lembrar que ali estivera a acompanhar o seu filho, salvo pelo empenho e qualidade da medicina sul-africana, depois de um acidente quase fatal. Ou para recordar um prévio encontro com o Dr. Paulo Barbosa, então Embaixador em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo do Presidente Mário Soares e da Dra. Maria Barroso. Pedaços da história à qual a antiga fundadora do PS, Deputada e Primeira-Dama, pertence para sempre. Califórnia, 25 de setembro de 2008 Berkeley, Universidade da Califórnia Organização Local: Profª Deolinda Adão, (Universidade de Berkeley) e Cônsul-Geral de Portugal, Dr. António Alves de Carvalho A nível da coordenação nacional, foi diretamente a Fundação Pro Dignitate e não a AEMM que assumiu o papel operacional de coordenação, a cargo do Dr. António Pacheco, atualmente o Secretário-geral da Fundação. A caminho da costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da Paz e da Igualdade. Com Monsenhor Antão, um verdadeiro líder espiritual da comunidade, de quem a Dra. Maria Barroso diria tratar-se de uma personalidade de exceção, visitámos a escola que tem o seu nome, (uma honra num país onde é raríssimo atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas). Um Liceu muito prestigiado, com vocação para as artes e a música, onde jovens americanos cantaram o nosso hino nacional na perfeição. Difícil foi conter a emoção... Berkeley recebeu o Encontro sobre O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia, pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com uma admirável introdução da Profª Adão), e da colaboração intergeracional assim como do papel dos media na formação para a igualdade. No encerramento, o SECP António Braga e a Presidente Maria Barroso deixaram a certeza de que as soluções ali propostas não seriam esquecidas. Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar (e todos nisso a secundávamos) que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença. Seguiu-se um encontro mais restrito no departamento de Estudos Europeus, com bolseiros portugueses que naquela tão conceituada universidade preparam doutoramento em diversos domínios. Antes do regresso a Portugal, nova passagem por Elizabeth, onde Monsenhor João nos preparara uma surpresa, um singular tributo à Dra. Maria Barroso, no termo de um longo périplo por tantas comunidades: naqueles poucos dias da nossa ausência na Califórnia, o talentoso artista Roger Gonzalez (a quem se devem as obras-primas de arte sacra da Igreja de Nossa Senhora de Fátima) pintara um esplêndido retrato da Dra. Maria Barroso, à entrada da ala da residência onde estivera hospedada! Ao findar um périplo por tantas comunidades, reavivando a importância histórica do congressismo na luta pela igualdade das mulheres, readaptada aos tempos de hoje, a Presidente dos Encontros deixava assim simbolicamente o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, capaz de mobilizar pela palavra e pelo exemplo para a mudança em sociedades cada vez mais abertas a todos os seres humanos, mais livres e democráticas. Em Espinho, em Março de 2009, num último Encontro internacional, com a presença das responsáveis pela organização de todos os que ocorreram na Diáspora, e a presidência da Dra. Maria Barroso um ciclo se encerrou, na esperança

de que o projeto de mobilização para a cidadania iria prosseguir na rede de solidariedades que ficou criada, e em gestos concretos de vivência da cidadania que as mulheres aprenderam umas com as outras. Esperança bem fundada, que hoje podemos ver ínsita em novas manifestações de mobilização para a igualdade. Manuela Aguiar Ex-Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, fundadora da Associação Mulher Migrante. Dr. Victor Nogueira, Presidente da Direção da Amnistia Internacional Portugal, Dr. António Pacheco, Secretário- -geral da Pro Dignitate, Dra. Maria de Jesus Barroso Soares, Presidente da Pro Dignitate e Engº Fernando Roque de Oliveira, Presidente do Observatório Permanente sobre a Produção, Comércio e Proliferação das Armas na cerimónia de assinatura da carta que dirigiram ao Ministro dos Negócios Estrangeiros.

INSTITUIÇÕES GRANDES BENEMÉRITAS DA FUNDAÇÃO PRO DIGNITATE EM 2013: Banco BPI, S.A. INSTITUIÇÕES BENEMÉRITAS DA FUNDAÇÃO PRO DIGNITATE EM 2013: Fundação Idílio Pinho Fundação Montepio Geral Banco BIC Português, S.A. Caixa Geral de Depósitos Jerónimo Martins INSTITUIÇÕES BENFEITORAS DA FUNDAÇÃO PRO DIGNITATE EM 2013: Fundação Calouste Gulbenkian Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento Fundação Millennium BCP Fundação Galp Energia APOIANTES DA FUNDAÇÃO PRO DIGNITATE EM 2013: Praça da Estrela, nº 12 1º 1200-667 Lisboa Tel: 213929310 E-mail: prodigni@prodignitate.pt www.prodignitate.pt BRISA Cecília Caria Mendes Estoril-Sol Manuel Rui Azinhais Nabeiro, Lda. Seth