Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

Documentos relacionados
O DIREITO À EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEGISLAÇÃO ATUAL. Palavras-chave: direito à educação. Educação infantil. Previsão legal. Período integral.

ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO NONA CÂMARA CÍVEL

VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de

Superior Tribunal de Justiça

T., acima identificados. ACÓRDÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO N /001 Comarca de Guarabira

Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

: MIN. DIAS TOFFOLI SERGIPE

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - ANNIBAL DE REZENDE LIMA 5 de novembro de 2013

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Supremo Tribunal Federal

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

RECOMENDAÇÃO nº 16/2016

Supremo Tribunal Federal

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL RIO GRANDE DO SUL Coordenadoria de Taquigrafia e Acórdãos

ESTADO DE MATO GROSSO AUDITORIA GERAL DO ESTADO ORIENTAÇÃO TÉCNICA Nº. 054/2010

Superior Tribunal de Justiça

RECOMENDAÇÃO nº 03/2014

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DESEMBARGADORA TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO

EMENTA. 2. Recurso parcialmente conhecido e improvido. ACÓRDÃO

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º de 20 de dezembro de 1996

Superior Tribunal de Justiça

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR WASHINGTON LUIS BEZERRA DE ARAUJO

ic6edã Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO n /7-00, da Comarca de

Acórdão. Processo ri /001

PODER JUDICIÁRIO. São Paulo, 27 de abril de REBOUÇAS DE CARVALHO RELATOR

Superior Tribunal de Justiça

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Decisão 911onocrática

Sessão de 02 de fevereiro de 2016 RECURSO Nº ACÓRDÃO Nº REDATOR CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA

Diário n. 130 de 18 de abril de 2016

18/10/2011 Segunda Turma. : Min. Joaquim Barbosa

Supremo Tribunal Federal

Reunião Plenária do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação FNCE Região Centro Oeste

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO N 193 ( )

LACB Nº /CÍVEL

: Triângulo Alimentos Ltda. ADVOGADO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

PORTE ILEGAL DE ARMA ( ABOLITIO CRIMINIS )

Superior Tribunal de Justiça

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

QUARTACÂMARA CÍVEL REEXAME NECESSÁRIO Nº 33071/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL ESTADO DE MATO GROSSO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI

Conflito de Competência n , de Timbó Relator: Des. Eládio Torret Rocha

ESTADO DO AMAZONAS PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. INTERESSADO: Secretaria Municipal de Educação SEMED

Apelante: Apelado: Constante Zahn Comarca: São Paulo (18ª Vara Cível Foro Central) Juíza: Renata Barros Souto Maior Baião

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

: MIN. JOAQUIM BARBOSA

Superior Tribunal de Justiça

JURISPRUDÊNCIA - ÍNTEGRA ACÓRDÃO - ACÓRDÃO STJ RESP PR EM

JULGAMENTO DE RECURSO ADMINISTRATIVO

09/09/2014 PRIMEIRA TURMA : MIN. ROBERTO BARROSO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** PRIMEIRA TURMA ***

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA: ART CPC. ART LINDB (onde está escrito STF leia-se STJ); ART. 35 3, LEI 9307/96; ART CF/88.

02/06/2015 SEGUNDA TURMA : MIN. GILMAR MENDES

Superior Tribunal de Justiça

ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

10 Anos do Estatuto do Idoso e os entraves à sua consolidação

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 23ª CÂMARA CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO EMENTA

JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA GERAL. a ser realizada em 05 de julho de ) DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO

DECISÃO (Fundamentação legal: artigo 557, caput, do CPC)

AUTOS N. :

1 te-vet PODER JUDICIÁRIO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA. VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima identificadas:

Supremo Tribunal Federal

Á'Os. Poder yudiciário 'Tribunal de :Justiça do Estado da 'Paraíba Gabinete da Desembargadora Maria de Fátima Moraes BeJerra Cavalcanti

Superior Tribunal de Justiça

Supremo Tribunal Federal

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO I. RELATÓRIO

Superior Tribunal de Justiça

Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL

Valdisio V. de Lacerda Filho)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança nci /001 Relator

Supremo Tribunal Federal

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADO RUBENS DE MENDONÇA CANUTO - 1º TURMA RELATÓRIO

02/12/2015 PLENÁRIO : MINISTRO PRESIDENTE EDUCAÇÃO - FNDE

: MIN. DIAS TOFFOLI :PAULO RODRIGUES LOPES :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL :SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 14ª Câmara Cível

Supremo Tribunal Federal

Estado da Paraíba Poder Judiciário Tribunal de Justiça

1.5 Abrigo em entidade Abrigo temporário Competência para aplicação das medidas de proteção...165

SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Nº COMARCA DE CAÇAPAVA DO SUL. Vistos, relatados e discutidos os autos.

Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível Isolada. Data de Julgamento: 28/02/2005

Tribunal de Contas do Estado do Pará

IMPETRANTE: SINDICATO DAS AGÊNCIAS DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA DO ESTADO DE SÃO PAULO-SINDAMAR

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

ACÓRDÃO. Belo Horizonte, 26 de julho de DES. FERNANDO BRÁULIO - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. FERNANDO BRÁULIO: VOTO

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA

/001 <CABBCDCAABBAACDAADDAAACDBADABCABACDAADDADAAAD>

Transcrição:

22 de novembro de 2016 1ª Câmara Cível Apelação / Remessa Necessária - Nº 0800141-18.2015.8.12.0012 - Ivinhema Relatora Exma. Sra. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges Recorrente : Juiz Ex Officio Interessado : Diretor da Escola Estadual Angelina Jaime Tebet Apelante : Estado de Mato Grosso do Sul Proc. do Estado: Carlo Fabrizio Campanile Braga Apelado : D R C (Representado(a) por sua Mãe) C B C T DPGE - 1ª Inst.: Seme Mattar Neto E M E N T A APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA MATRÍCULA DE MENOR ESTRANGEIRO EM REDE PÚBLICA DE ENSINO AUSÊNCIA DO VISTO DE ESTRANGEIRO - MERA IRREGULARIDADE RESIDÊNCIA NO BRASIL DIREITO À EDUCAÇÃO GARANTIA CONSTITUCIONAL DEVER DO ESTADO RECURSO E REEXAME NÃO PROVIDOS. "A legislação pertinente ao estrangeiro e seu ingresso em escolas da rede pública de ensino do Estado não pode ser analisada de modo isolado, mas sim fazendo-se uma interpretação conforme a Constituição e seus fins, em análise conjunta com outros dispositivos e sempre à luz do princípio da razoabilidade, observando-se o contexto histórico e social em que se vive." (Apelação / Reexame Necessário - Nº 0005521-73.2011.8.12.0019 - Ponta Porã - 1ª Câmara Cível Des. Joenildo de Sousa Chaves - j. em 31 de outubro de 2012). A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, por unanimidade, negar provimento aos recursos, com o parecer. Campo Grande, 22 de novembro de 2016. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges - Relatora

R E L A T Ó R I O A Sra. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges. Estado de Mato Grosso do Sul, inconformado com a sentença proferida nos autos do Mandado de Segurança, movida por Denis Rodrigues Cabrera Repres.p/Mãe Cynthia Beatriz Cabrera Torres, apela a este Tribunal. Aduz, em síntese, que o ato de negativa da matrícula não foi abusivo, ilegal ou inconstitucional, porquanto a imposição legal de restrições aos estrangeiros em situação irregular residentes no Brasil, está amparada na Constituição e no Estatuto do estrangeiro. Aduz que somente se poderia aventar da inaplicabilidade dos limites ditados por lei infraconstitucional se fosse lei revogada ou declarada inconstitucional, o que não restou fundamentado na sentença recorrida. Afirma que o protocolo MERCOSUL/CMC/DEC nº 06/06, item "b", estabelece a exigência de documentação para os estrangeiros. Ao final, requer o provimento do recurso. Contrarrazões pelo não provimento do recurso. O magistrado sentenciante submete a sentença ao reexame necessário, nos termos do artigo 475, caput, do Código de Processo Civil/73. V O T O A Sra. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges. (Relatora) Tratam-se de apelação cível e reexame necessário interpostos pelo Juízo de primeiro grau e pelo Estado de Mato Grosso do Sul, inconformado com a sentença de fls. 84/87, que no mandado de segurança, impetrado por Denis Rodrigues Cabrera, menor, representado por sua genitora, Cynthia Beatriz Cabrera Torres, concedeu a segurança em definitivo. Preenchidos os requisitos de admissibilidade, passo a analisar a sentença objeto deste recurso, que nos tópicos devolvidos restou assim exarada: "Posto isso, e com apoio no parecer ministerial, concedo, em definitivo, o 'Writ' buscado por Denis Rodrigues Cabrera, qualificado nos autos, pelo que confirmada fica a medida liminar deferida in initio litis. Sem custas e honorários (Súmulas: 105.STJ - Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios e 512.STF - Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança). Comunique-se à autoridade coatora. Submeto a presente à apreciação do Tribunal de Justiça deste Estado (artigo 14, 1º, da Lei 12.016/09). Não havendo recurso, remetam-se". De início, ressalto que tendo sido a sentença prolatada e o recurso interposto ainda sob à vigência do CPC/73, com base nele será examinado o apelo. Passo à análise conjunta da Apelação Cível e do Reexame Necessário. Compulsando os autos, verifica-se que Denis Rodrigues Cabrera,

nasceu em 18 de agosto de 2008, na cidade de Bella Vista Norte -Amambay Paraguai (fl.12). Contudo, o menor e sua genitora são residentes e domiciliados na Comarca de Ivinhema-MS, consoante comprovado pela fatura de água acostada à fl. 13. Desse modo, são titulares dos direitos e garantias individuais previstos na CF/88, consoante se infere do art. 5º, caput: "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:" Do art. 6º da CF/88, o direito social à educação: "Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição." (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010). Do art. 205, que estabelece:"a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." Já o art. 227 dispõe: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão." E o art. 208, e seu 1º "o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; sendo direito público subjetivo da pessoa o acesso à educação", de modo que não é possível haver ato normativo inferior, que reduza ou condicione àquela garantia constitucional, ou, ainda, que discrimine os destinatários da norma. Outrossim, o Estatuto do Estrangeiro estabelece: "Art. 95. O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis", bem como a dignidade da pessoa humana (art. 1, inc. III, da CF), e o Estatuto da Criança e do Adolescente prescreve nos artigos 4º e 54: "Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária." (Destaquei) "Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola." E a Lei n.º 9.394/96, no art. 4º, estabelece que o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de educação: "Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;" (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). Por conseguinte, deve ser garantido ao infante o acesso à escola, porquanto se trata de direito fundamental reconhecido expressamente na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional, cabendo ao Ente Público criar os meios para amplo acesso ao ensino. Corroborando deste entendimento, julgados deste Sodalício: "EMENTA REEXAME NECESSÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIMENTO DE MATRÍCULA DE MENOR ESTRANGEIRO RESIDENTE NO BRASIL, EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO, POR AUSÊNCIA DO REGISTRO JUNTO AO ÓRGÃO COMPETENTE MERA IRREGULARIDADE ACESSO À EDUCAÇÃO DEVER DO ESTADO DIREITO GARANTIDO A TODOS

PELA CARTA MAIOR E PELO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO PRINCÍPIO DA IGUALDADE REEXAME IMPROVIDO. A legislação que cuida do estrangeiro e seu ingresso em escolas da rede pública de ensino do Estado não pode ser analisada de modo isolado, mas em conjunto com a Constituição Federal e afins, com relevo ao princípio da razoabilidade, observando-se o contexto histórico e social em que se vive, tornando-se imprópria a negativa de acesso ao ensino de criança estrangeira." (TJMS - Reexame Necessário - Nº 0000947-21.2012.8.12.0003 - Bela Vista 5ª Câmara Cível Rel. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva j. em 21 de novembro de 2013). "EMENTA REEXAME NECESSÁRIO APELAÇÃO CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA MATRÍCULA DE MENOR ESTRANGEIRO RESIDENTE NO BRASIL EM ESCOLA DA REDE ESTADUAL DE ENSINO POR AUSÊNCIA DO VISTO DE ESTRANGEIRO MERA IRREGULARIDADE ACESSO À EDUCAÇÃO DEVER DO ESTADO DIREITO GARANTIDO A TODOS PELA CARTA MAIOR E PELO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO PRINCÍPIO DA IGUALDADE RECURSOS IMPROVIDOS. A legislação pertinente ao estrangeiro e seu ingresso em escolas da rede pública de ensino do Estado não pode ser analisada de modo isolado, mas sim fazendo-se uma interpretação conforme a Constituição e seus fins, em análise conjunta com outros dispositivos e sempre à luz do princípio da razoabilidade, observando-se o contexto histórico e social em que se vive." (TJMS - Apelação / Reexame Necessário - Nº 0005521-73.2011.8.12.0019 - Ponta Porã - 1ª Câmara Cível Des. Joenildo de Sousa Chaves - j. em 31 de outubro de 2012). Nesse contexto, a intervenção do Poder Judiciário se faz necessária, para assegurar o direito constitucional à educação ao ser humano, toda vez que for injustamente recusada, de modo a não merecer reparos a sentença. Pelo exposto, conheço de ambos os recursos (voluntário e necessário) e nego-lhes provimento. D E C I S Ã O Como consta na ata, a decisão foi a seguinte: POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS, COM O PARECER. Presidência do Exmo. Sr. Des. Sérgio Fernandes Martins Relatora, a Exma. Sra. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges. Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges, Des. Sérgio Fernandes Martins e Des. Divoncir Schreiner Maran. Campo Grande, 22 de novembro de 2016. ggm