INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Dossiê. A escola e a pesquisa com o seu cotidiano: pensamentos de Nilda Alves e Regina Leite Garcia

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Transcrição:

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Dossiê A escola e a pesquisa com o seu cotidiano: pensamentos de Nilda Alves e Regina Leite Garcia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG Reitor CLEUZA MARIA SOBRAL DIAS Vice-Reitor DANILO GIROLDO Chefe do Gabinete do Reitor MARIA ROZANA RODRIGUES DE ALMEIDA Pró-Reitora de Extensão e Cultura LUCIA DE FATIMA SOCOOWSKI DE ANELLO Pró-Reitor de Planejamento e Administração MOZART TAVARES MARTINS FILHO Pró-Reitor de Infraestrutura MARCOS ANTONIO SATTE DE AMARANTE Pró-Reitora de Graduação DENISE MARIA VARELLA MARTINEZ Pró-Reitora de Assuntos Estudantis VILMAR ALVES PEREIRA Pró-Reitor de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas RONALDO PICCIONI TEIXEIRA Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação EDNEI GILBERTO PRIMEL EDITORA DA FURG Coordenador JOÃO RAIMUNDO BALANSIN Divisão de Editoração CLEUSA MARIA LUCAS DE OLIVEIRA COMITÊ EDITORIAL PRESIDENTE LUCIA DE FÁTIMA SOCOOWSKI DE ANELLO TITULARES ANDERSON ORESTES LOBATO DENISE MARIA VARELLA MARTINEZ EDNEI GILBERTO PRIMEL JOÃO RAIMUNDO BALANSIN LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA PINTO LUIZ EDUARDO MAIA NERY MARCIO ANDRÉ LEAL BAUER Editora da FURG Campus Carreiros 96203 900 Rio Grande RS Brasil editora@furg.br EDITORES Editor-chefe VANISE DOS SANTOS GOMES, Universidade Federal do Rio Grande, FURG. Editor-adjunto MÁRCIO RODRIGO VALE CAETANO, Universidade Federal do Rio Grande, FURG. ASSISTENTE DE EDITOR Vitor Pereira de Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande, FURG CORPO EDITORIAL ANA CRISTINA COLL DELGADO FURG ANA MOURAZ LOPES Universidade do Porto, Portugal ALESSANDRA FROTA MARTINEZ DE SCHUELER Universidade Federal Fluminense UFF, Rio de Janeiro ALVARO MOREIRA HYPOLITO Universidade Federal de Pelotas UFPel ANTÔNIO OZAÍ DA SILVA Universidade Estadual de Maringá UEM CARMO THUM FURG ELISABETH BRANDÃO SCHMIDT FURG FERNANDO BECKER Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Porto Alegre GOMERCINDO GHIGGI Universidade Federal de Pelotas UFPel HUMBERTO CALLONI FURG IVONALDO NERES LEITE Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, Mossoró JOÃO ALBERTO DA SILVA FURG JULIE DELALANDE Université de Caen Basse- Normandie UCBN, França MARIA ANGELA MATTAR YUNES FURG VICENTE E. R. MARÇAL Universidade Federal de Rondônia UNIR, Porto Velho Solicitamos intercâmbio Endereço para envio de artigos: http://www.momento.furg.br/ Participante do PIDL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Dossiê: A escola e a pesquisa com o seu cotidiano: pensamentos de Nilda Alves e Regina Leite Garcia ISSN 0102-2717 Momento Rio Grande v. 25 (1) p. 1-343 2016

Direitos reservados desta edição: Editora da FURG 2016 Desenhos da capa: Steferson Zanoni Roseiro Capa: Steferson Zanoni Roseiro Diagramação e formatação: João Balansin Gilmar Torchelsen Revisão ortográfica: Liliana Lemos Mendes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Márcia Me. Rodrigues, CRB 10/1411 M732 Momento / Universidade Federal do Rio Grande. Instituto de Educação. Vol. 25, n. 1 (Jan./Jun. 2016) Rio Grande: Ed. da FURG, 1983-. v. ; 21 cm. - Semestral. Subtítulo varia. Publicado pelo: Departamento de Educação e Ciências do Comportamento, 1983-2007; pelo: Instituto de Educação, 2010-. Suspenso entre 2008 e 2009. ISSN 0102-2717 1. Educação. I. Universidade Federal do Rio Grande. Instituto de Educação. CDU, 2.ed.: 37 Índice para o catálogo sistemático: 1. Educação 37

APRESENTAÇÃO Encontros com Regina Leite Garcia e Nilda Alves: por uma escola e um mundo onde caiba a vida e o direito à diferença Alexsandro Rodrigues Marcio Caetano Em bons encontros conversantes, resolvemos, em certa ocasião, movidos pelos afetos aprendentes e ensinantes que produzem deslocamentos em nossos exercícios docentes, implicados com a formação de professores/as, pensar e nos pôr a escrever, com a escola, a educação e seus sujeitos na perspectiva multidisciplinar dos Estudos com os Cotidianos. Concluímos, naquela ocasião, sem dificuldade, acerca da impossibilidade de assumirmos tal tarefa sem convocar/convidar diferentes interlocutoras/es que se colocam em interseção com o pensamento e trabalho das Professoras Regina Leite Garcia e Nilda Alves. Desafiados por nós mesmos, pois esta homenagem e reconhecimento nos importam, colocamo-nos em movimentos e fomos acolhidos pela Revista Momento: Diálogos em Educação, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande FURG. Exercitando uma coragem esperançosa, a certeza de belas e potentes composições era o que nos movia naquele momento. Por que Regina Leite Garcia e Nilda Alves? Resposta simples: mulheres, militantes e professoras que nos ensinam a fazer volta no pensamento, na construção e na afirmação de uma escola pública aberta à multiplicidade e à diferença, que se recusa a assumir a lógica da mesmice. Desejosos e movidos por nosso objetivo de juntar mais gente, colamo-nos a pensar como seria fazer esse Dossiê e quem estaria conosco. Não foi difícil juntar pessoas que tiveram oportunidade de, com Regina e Nilda, aprofundar seus estudos e trabalhos com a educação e formação de professoras/es. As pessoas que compõem este Dossiê, amorosamente, responderam ao nosso convite e

provocação. Muitos/as de nós alunos e alunas de Regina Leite Garcia e Nilda Alves e outros/as, alunos e alunas de alunos e alunas dessas professoras, juntamo-nos num crescente que se expande em todas as direções na construção e efetivação do trabalho coletivo que, por hora, temos a grata satisfação de apresentar. Publicar este número da Revista Momento: Diálogos em Educação é a oportunidade que temos, neste momento, para continuarmos a contribuir com as redes de conhecimentos singularizados como potência-força no trabalho destas professoras, que tanto amamos e a quem agradecemos. Nossa aposta é que as paisagens, os coloridos e a pluralidade presente nos textos desse Dossiê possam desdobrar-se em afecções políticas a favor da democratização da escola, da justiça social e do conhecimento. As redes de amizades de Regina Leite Garcia e Nilda Alves são intensas/imensas e se espalham pelo Brasil e mundo afora. Juntar fios, histórias, saberes e sabores nos pareceu ser uma tarefa para um século de existência. E, ainda, não seria suficiente. Assim, para esse Dossiê, nossa rede está recheada de boas companhias e eternos/as alunos/as destas professoras. Os sujeitos/atores/autores que compõem este trabalho estão posicionados como professoras/es em diferentes Universidades brasileiras e espaços de formação. Com o pensamento aguerrido e militante, porque desconfiadas/os de algumas versões sobre a escola e seus sujeitos, o pensamento em forma de escrita que tinge as páginas desta revista nada mais é que um exercício de coragem e liberdade. Alexsandro Rodrigues e Marcio Caetano, trabalhando com suas memórias feitas de bons encontros, perseguem, em suas escritas, um estilo com forma e conteúdo para melhor compreenderem as provocações bonitas da prática militante e aguerrida das Professoras Nilda Alves e Regina Leite Garcia. O texto buscou costurar momentos/acontecimentos como experiências, em que a presença das professoras e de suas redes contribuíram e contribuem para a emergência da novidade na formação de professoras/es e para o exercício da pesquisa em educação. O artigo afirma, confirma e considera os trabalhos e as vidas de Nilda Alves e Regina Leite Garcia como obras de arte. As obras de arte dos trabalhos de Regina Leite Garcia e Nilda Alves estão em coerência política a favor da escola pública comprometida com a justiça social e com as classes populares. Nessa rede de aprendentes, porque ensinando se aprende e aprendendo se ensina, Inês Barbosa de Oliveira fala do privilégio

de ter começado sua carreira profissional na Universidade Federal Fluminense, ao lado de Nilda Alves e Regina Leite. Em seu texto, nos conta que, naquela época, o cotidiano escolar como espaçotempo de pesquisa era, notadamente, um lócus, objetificado pela produção de pesquisas sobre o cotidiano, em que se destacavam críticas intermináveis àquilo que ali se fazia. Inês nos fala que foi com Regina e Nilda que aprendeu que precisávamos sair do falar sobre a escola para, entrando na escola, buscar melhor compreendê-la. Neste texto, Inês busca apresentar um pouco das aprendizagens sobre docência, cotidiano escolar, pesquisa na universidade e outros temas na companhia de Regina e Nilda. Maria Teresa Esteban, companheira de longas datas destas professoras, discute a proposta de formação da professora pesquisadora a partir das contribuições apresentadas por Nilda Alves e Regina Leite Garcia. Em seu artigo, nos diz, na mais íntima relação de ensinar e aprender, que a perspectiva teóricoepistemológica assumida pelas autoras mostra-se relevante para a configuração de percursos potentes de formação, muito especialmente para as estudantes das classes populares. Carlos Eduardo Ferraço nos oferece um artigo produzido a partir de títulos de livros, capítulos de livros, artigos e fragmentos da obra de Regina Leite Garcia. Seu objetivo nesse texto é nos mostrar a importância do pensamento crítico-contestador da autora para se problematizar questões que, historicamente, pautaram a educação pública no Brasil, e que são, permanentemente, atualizadas pelos discursos prescritivos oficiais. Além disso, Carlos busca evidenciar algumas das principais questões protagonizadas em seus escritos, com destaque para sua luta política em favor dos/as subalternizados/as, luta essa que sempre sustentou e deu sentido a sua produção acadêmico-intelectual. Eduardo Simonini inicia seu artigo discutindo o conceito de cotidiano pela abordagem mais comum que o mesmo assume: rotina e repetição sem criação. Em seguida, apresenta algumas contribuições de Nilda Alves e Regina Leite Garcia para o campo dos estudos no cotidiano escolar, dando especial destaque ao modo político de abordagem desse cotidiano, considerado por Alves e Garcia como um campo de diversidade, conflitos e produção de conhecimento e não apenas como uma dinâmica de repetição sem criação. Wagner dos Santos, interessado e implicado com os estudos com os cotidianos em seu fazer docente, faz, em seu artigo, uma análise criteriosa da produção científica dos estudos com os

cotidianos, destacando a importância de Nilda Alves e Regina Leite Garcia para a constituição e consolidação desse grupo no campo do currículo. Para esta ocasião, Wagner toma como fontes as Reuniões Anuais da ANPED, a Revista Brasileira de Educação e os livros publicados pelo Grupo de Trabalho Currículo, em parceria com a UniCamp, no período de 1995-2008. Roberto Marques constrói o seu artigo em forma de carta. Com isso, discute a construção do conhecimento na educação a partir da produção científica da professora Regina Leite Garcia. A opção por escrever como carta se deveu à tentativa de estabelecer um diálogo com sua obra Cartas Londrinas, escrita em 1993. A pluralidade, a complexidade, os sujeitos e a justiça social são condimentos que importam aos estudos dos/nos/com os cotidianos. De diferentes lugares, diferentes pesquisadores/as, com suas redes conversantes, aproximam-se como chegantes desta produção, alinhavando, com seus fios de interesses, uma infinidade de possibilidades para pensar-nos, pensando a educação. Os/As chegantes e suas redes nos ofereceram diferentes fios de conversas e boas conversas. Com saberes e sabores, os/as diferentes autores e autoras, afetados/as e implicados/as com múltiplas questões com a escola, falaram, ao longo desta revista, sobre: metodologias com os cotidianos, cinema, imagens, audiovisual, sexualidade, gênero, currículos, escolas, hospitais e folclore e muito mais. Nesta rede de conversantes em seus desdobramentos plurais, Denize Sepulveda e Adriana de Almeida apresentam-nos um artigo que tem por objetivo compreender os processos cotidianos como lócus de produção de preconceitos e discriminações praticados/as contra alunos e alunas com orientação homossexual e, também, entender a problemática do fracasso e da evasão escolar. Desse modo, as autoras destacam o paradigma indiciário e a análise do discurso como fundamentos teórico-metodológicos que nos permitem interpretações diferentes sobre a realidade. As autoras consideram que as práticas cotidianas são sociais e favorecem os processos de exclusão, também desenvolvidos nas e pelas escolas. Aristóteles Berino e Maria da Conceição Silva Soares, implicados com o campo de cinema e da educação, mas não só, problematizam as noções de ensino e de educação, muitas vezes tomadas como indistintas nos textos de políticas públicas para a área. No texto, tecem suas provocações a partir de uma conversa com o filme Nenhum a menos, de Zhang Yimou, considerando que a criação de currículos acontece nos cotidianos das escolas. Os

autores abordam a questão analisando processos curriculares apresentados no filme e defendem que várias concepções, valores e apostas sobre o que é/deveria ser o ensino, a educação e o papel do/a professor/a circulam e embaralham-se, tanto na narrativa cinematográfica como nos múltiplos contextos cotidianos das escolas. Janete Magalhães Carvalho, Sandra Kretli da Silva e Tânia Mara Zanotti Guerra Frizzera Delboni, apresentam-nos movimentos de uma pesquisa gerados na tentativa de capturar as forças e potências que as imagens-cinema provocam, afetam, deslocam, inventam e rasuram. Assim, as autoras engendram, nas linhas de forças, de vida e de escrita, a cartografia de um corpo coletivo, vibrátil, pulsante e desejante para se pensar processos de vida, de currículo, de docência e de infância. A aposta desse trabalho acontece na força e potência do encontro com as imagens cinematográficas, que faz a língua pegar delírio e impulsiona o pensamento para outros possíveis. As autoras acreditam que os usos das imagens-cinema nos cotidianos escolares promovem o desalojar, rompem com os modos de pensar dogmáticos que impedem a fluidez do plano de imanência e abrem possibilidades de fazer a vida florescer. Vanessa Maia Barbosa de Paiva busca, com seu artigo, narrar experiências de jovens alunos/as na produção audiovisual de documentários que discutem temas pertinentes ao mundo habitado por nós, mas excluído da mídia hegemônica. Assim, a autora problematiza em seu texto, corpos padronizados em modelos estereotipados, juventudes, sexualidades. Vanessa entende que esta experiência audiovisual está enredada nos currículos em rede e podem produzir uma linha potente para trabalharmos os currículos a partir de suas interfaces com as sexualidades, os modelos de corpos padronizados e juventudes. Para Helane Súzia Silva dos Santos e Maria dos Remédios de Brito, a questão que move a construção das reflexões propostas no trabalho com os cotidianos escolares é a tentativa de responder à seguinte questão: os/as alunos/as da educação básica vivem uma sexualidade que escapa do padrão ditado pelas Ciências e pelo discurso da máquina escolar? Para responder a esse questionamento, utilizam como ferramenta a filosofia da diferença para pensar a sexualidade como produção desejante, que escapa às definições, às regras e normas impostas pela máquina social. Para as autoras, as paisagens educacionais compõem-se de linhas que se deslocam em diferentes latitudes e longitudes, em que os alunos

inventam seus trajetos traçados por uma sexualidade que potencializa vidas. Heloisa Raimunda Herneck e Gabriela Rodrigues de Castro, implicadas com os estudos de gênero e educação, buscam compreender as linhas de fuga traçadas por meninas do quarto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Viçosa, Minas Gerais, para desenvolverem suas sexualidades frente ao poder disciplinar e à invisibilização do tema no contexto escolar. Os momentos de disciplinamento se fazem presentes nos rituais religiosos que ainda existem no cotidiano da referida escola, nas conversas e nos silêncios. Em contrapartida, as linhas de fugas são criadas pelas garotas nos aplicativos, nas conversas, nos olhares e sorrisos. Nesse sentido, as autoras consideram que os sujeitos são ativos na construção de suas identidades, implicando numa necessária e urgente problematização do disciplinamento do corpo feminino no cotidiano escolar. Paulo Melgaço da Silva Júnior busca abordar alguns modos com os quais os alunos da educação infantil co-constroem e vivenciam, por meio de jogos e brincadeiras, suas masculinidades. Para esta discussão, o autor se apropria dos Estudos de Gênero, Estudos Culturais e dos Estudos Winnicottianos. O autor defende a importância desta questão para os estudos com os cotidianos, uma vez que compreende que a escola constitui um local privilegiado para que meninos e meninas aprendam as possibilidades de ser masculinos e femininos. Dentre algumas conclusões, Paulo pode perceber que, nesta faixa etária, os jogos e brincadeiras de faz de conta simulam situações reais, nas quais, por meio de personagens fictícios, as crianças criam um mundo imaginário sustentado por elementos reais. Maria Luiza Süssekind e Wilza Lima dos Santos, partindo indiciariamente da narrativa de uma professora sobre o presente trazido pelo mau estudante Jorge, discutem a cartografia do pensamento abissal e o papel do feio para refletir a importância da ecologia das diferenças em práticas curriculares que se identificam com a luta processual e cotidiana pela justiça cognitiva. As autoras sugerem que o currículo pode ser entendido como uma conversa complicada e ecológica potencializando a desvisibilização de situações de valorização da diferença. Concluem dizendo que as políticas de unificação curricular são abissalizadoras, à medida que sufocam as diferenças nas conversas de sala de aula. A aposta das autoras está nas narrativas, conversas e práticas curriculares baseadas na ecologia e justiça cognitivas porque compreendem que

essas permitem a desconstrução de hierarquias, exclusões e invisibilidades. Vannina Silveira e Anelice Ribetto, por meio das pesquisas cartográficas, buscam problematizar políticas e poéticas entre escolas e hospital. Para elas, a produção poética de políticas públicas e práticas de educação especial e inclusão que se dão entre escolas e hospital o configuram enquanto espaço legítimo de escolarização das pessoas com condições físicas deficientes e severas. O convite das autoras é para a atenção. E, com esta atenção, narram, por meio de crônicas escritas e imagéticas -, a experiência de escolarização no hospital. Patricia Porto, em seu artigo sobre o folclore na escola e na vida, tem como ponto de partida o possível diálogo entre a vivência com a literatura e algumas tramas do tecido escolar: a linguagem, a memória e a narrativa, afirmando o aluno e o professor como sujeitos de histórias e autores/atores das suas palavras. Nesse encaminhamento, a autora afirma uma postura pedagógica que propicie a inclusão da prática da linguagem e sua consequente pluralidade de textos orais e escritos; enfatizando o direito do/a educador/a e do/a educando/a à leitura de mundo na escola. E, por fim, Conceição Soares e Nilda Alves nos apresentam uma linda e inspiradora entrevista com a professora Regina Leite Garcia. Abraços carinhosos!

SUMÁRIO Apresentação:... 5 RODRIGUES, Alexsandro; CAETANO, Marcio. Tempos miúdos, transpassados e embichados: encontros (des)aprendentes com Nilda Alves e Regina Leite Garcia e suas provocações com a educação... 15 OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Cotidianos aprendentes: Nilda Alves, Regina Leite Garcia e as lições nos/dos/com os cotidianos... 33 ESTEBAN, Maria Teresa. Mais uma vez e sempre: conversas com professoras... 51 FERRAÇO, Carlos Eduardo. Regina Leite Garcia: um bom encontro com a vida, sempre!... 75 SIMONINI, Eduardo. O cotidiano: rotina, imitação e invenção... 93 SANTOS, Wagner dos. Constituição do campo do currículo e as pesquisas nos/dos/com os cotidianos... 107 MARQUES, Roberto. Carta à Regina Leite Garcia... 127 HERNECK, Heloisa Raimunda; CASTRO, Gabriela Rodrigues de. A decência das garotas: o disciplinamento dos corpos e as linhas de fuga produzidas no cotidiano escolar... 137 SEPULVEDA, Denize; ALMEIDA, Adriana de. Algumas experiências tecidas com as pesquisas nos/dos/com os cotidianos das escolas... 155 BERINO, Aristóteles; SOARES, Maria da Conceição Silva. Nenhum a menos: tramas entre o cinema, a educação e o currículo... 187

CARVALHO, Janete Magalhães; SILVA, Sandra Kretli da; DELBONI, Tânia Mara Zanotti Guerra Frizzera. Movimentos de invenções curriculares no cotidiano escolar: a potência da imagem-cinema fazendo a língua pegar delírio... 205 PAIVA, Vanessa Maia Barbosa de. Escritas Audiovisuais, Currículos e Educação apontamentos sobre juventudes, sexualidades, corpos padronizados, mídias hegemônicas e acontecimentos audiovisuais ou da sobrevivência de alguns vaga-lumes... 221 SANTOS, Helane Súzia Silva dos; BRITO, Maria dos Remédios de. Esquizografias dos afetos: sexualidade entre paisagens... 233 SILVA JÚNIOR, Paulo Melgaço da. Entre jogos e brincadeiras, se produzem os homens do amanhã: reflexões sobre o processo de construção das masculinidades na Educação Infantil... 257 SÜSSEKIND, Maria Luiza; SANTOS, Wilza Lima dos. Um Abaporu, a feiúra e o currículo: pesquisando os cotidianos nas conversas complicadas em uma escola pública do Rio de Janeiro... 273 SILVEIRA, Vannina; RIBETTO, Anelice. Estar juntos : o cotidiano entre hospital, escolas e poética da diferença... 289 PORTO, Patrícia. Folclore na escola: uma pronúncia de mundo... 309 SEÇÃO Entrevista SOARES, Conceição; ALVES, Nilda. Regina Leite Garcia por ela mesma: narrativas que produzem redes de aprendizagens, afetos e sensibilidades... 331