JETLAG SOCIAL E ESTABILIDADE POSTURAL DINÂMICA E ESTÁTICA EM ADULTOS JOVENS Ana Flávia Abrantes, Isabela Lopes Laguardia Abranches, Fabianne Magalhães Girardin Pimentel Furtado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais campus Barbacena INTRODUÇÃO O sono é um processo homeostático no qual as horas dormidas contribuem para o nível de alerta do dia subsequente (WEINGER; ANCOLI-ISRAEL, 2002). Particularmente, em adolescentes e adultos jovens os hábitos de lazer, de estudo e profissionais podem levar à diminuição das horas de sono durante os dias úteis (2ª a 6ª) causando sonolência excessiva, de maneira aguda ou crônica, déficit que geralmente é compensado aos finais de semana (RUTTERS et al., 2014).O jetlag social (JLS) representa justamente essa discrepância entre o relógio biológico, chamado de circadiano, e o relógio social (WITTMANN et al., 2006). A privação parcial ou total de sono pode causar um déficit na estabilidade postural (EP), pois gera menor ativação de áreas encefálicas (tálamo, córtex pré-frontal e temporoparietal direito) responsáveis pela integração dos inputs visuais, vestibulares e proprioceptivos (QUARCK et al., 2006).Poucos são os estudos que avaliam déficits motores, em se tratando de pequenas restrições diárias de sono que não chegam a se tornar queixas (REILLY; EDWARDS, 2007).Ainda pouco se sabe sobre a repercussão do padrão do sono na EP de indivíduos assintomáticos.até o momento, não há nenhum estudo na literatura pesquisada que tenha analisado o efeito do JLS na EP em indivíduos adultos jovens. Palavras-chave: sono, equilíbrio postural, síndrome do Jet Lag. Categoria: Nível Superior (BIC), Área: (b) Ciências Biológicas e Ciências da Saúde. OBJETIVO GERAL Avaliar o jetlag social na estabilidade postural, estática e dinâmica, em adultos jovens. OBJETIVO ESPECÍFICO Verificar se a média das horas de sono durante a semana é diferente das horas dormidas no final de semana e se essa diferença influencia no desempenho nos testes de estabilidade postural. 1
MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionados 30 voluntáriosnão-atletas, de ambos os gêneros, com idade entre 18 e 26 anos. Excluíram-se os indivíduos com relato de problemas de equilíbrio, com lesões nos membros inferiores recentes (< 6 meses), diagnóstico de labirintite e/ou déficit visual. Todos os participantes incluídostiveram o índice de massa corporal (IMC) calculado eresponderam às perguntas do Questionário de Identificação de Indivíduos Matutinos e Vespertinos (questionário de cronotipo) e da Escala de Sonolência de Epworth (ESE), sobre a possibilidade de cochilar em oito situações cotidianas. A análise das variáveis dosono (tempo de sono total TST; tempo de despertar após o início do sono, do inglês WASO; e eficiência do sono) foi realizada a partir dos dados captados pelo actímetroacttrust da Condor Instrument com o softwareactstudio.o actímetro foi colocado no punho e assemelha-se a um relógio. Para a avaliação da EPutilizou-se o Biodex Balance System (BBS). Neste aparelho os voluntários foram submetidos a 2 tipos de testes distintos: um com a plataforma do nível mais estável (nível 12) para o nível menos estável (nível 1) em que os voluntários realizaram 5 repetições de 30 segundos em cada uma das situações: olhos abertos sem cursor, olhos abertos com cursor e com olhos fechados; e um segundo, estático, denominado de teste de organização sensorial em 4 situações, repetidas por 2 vezes/cada: olhos abertos na superfície firme, olhos fechados na superfície firme, olhos abertos sobre a almofada, e olhos fechados sobre a almofada. As variáveis fornecidas pelo aparelho BBS no teste dinâmico são chamadas de índice de estabilidade (geral, ântero-posterior e mediolateral). No teste estático é dado um índice chamado de sway index. Quanto mais parada a plataforma ficar, melhor. Em ambos os testes, quanto menor o valor, melhor o desempenho. Os testes de EP foram realizados na 6ª feira e na 2ª feira subsequente. Todas as variáveisdo sono foram agrupadas em dois blocos: dias de semana (de segunda a quinta) e finais de semana (sexta a domingo e feriados). A comparação dos dados intra-sujeito, descritos em média e desvio-padrão, foi feita por meio do teste t Student pareado. Foi considerado nível de significância de 5%, utilizando o software SPSS 20.0. RESULTADOS 2
Os participantes apresentaram média de idade de 21,30 (DP= 2,21) anos e IMC de 22,21 (DP= 3,72). Em média, o registro do actímetro foi feito por 14,63 dias (DP= 2,93). Os parâmetros do sono, excetuando o TST, mostraram-se estatisticamente sem diferenças, em média, entre os dias de semana e os finais de semana (tabela 1). Seis indivíduos (20%) tiveram o cronotipo classificado como moderadamente vespertino ; 20 (66,7%) como indiferente ; 3 (10%) como moderadamente matutino e 1 (3,33%) como matutino extremo. Tabela 1 Parâmetros do sono (n=30) Dia de semana Fim de semana p-valor TST (min) 460,53 (56,67) 512,33 (60,54) *<0,0001 Jet lag (min) 51, 8 WASO 7,32 (5,39) 8,27 (4,95) 0,25 Eficiência 0,9848 (0,10) 0,98433 (0,008) 0,70 ESE 8,27 (3,39) 9 (3,80) 0,16 Dados descritos em média (desvio-padrão); TST: tempo de sono total; WASO: Wake AfterSleepOnset; ESE: Escala de Sonolência de Epworth; teste t pareado; *significância estatística. Nos testes dinâmicos da EP com a plataforma partindo do nível mais estável (12) para o nível menos estável (1), em praticamente todos os testes, houve melhor desempenho na segunda avaliação (após o final de semana) (tabela 2). Tabela 2- Índices de estabilidade postural com a plataforma decrescendo do nível 12 para o nível 1 (n=30) Dia de semana Fim de semana p-valor Média DP Média DP Olhos abertos IEG 1,47 0,52 1,36 0,63 0,32 IEAP 1,02 0,47 0,93 0,51 0,36 IEML 0,83 0,34 0,67 0,34 *0,02 Cursor IEG 0,77 0,30 0,65 0,21 *<0,0001 3
IEAP 0,54 0,23 0,45 0,15 *0,006 EML 0,44 0,17 0,41 0,25 0,49 Olhos fechados IEG 3,87 1,72 3,36 1,41 *0,006 IEAP 2,68 1,23 2,30 1,02 *0,01 IEML 2,20 1,06 1,95 0,83 *0,04 IEG: índice de estabilidade global; IEAP: índice de estabilidade ântero-posterior; IEML: índice de estabilidade médio-lateral. No teste estático (tabela 3), a condição de olho aberto em superfície firme (OASF) foi a única que apresentou piora no segundo momento (após final de semana). Tabela 3 Sway index do teste estático de organização sensorial Dia de semana Final de semana p-valor Média DP Média DP OASF 0,72 0,21 0,84 0,32 *0,02 OFSF 0,91 0,26 0,85 0,26 0,15 OASA 1,06 0,31 1,12 0,36 0,13 OFSA 2,52 0,64 2,58 0,56 0,49 DP: desvio-padrão; OASF: olhos abertos, superfície firme; OFSF: olhos fechados, superfície firme; OASA: olhos abertos, superfície com almofada; OFSA: olhos fechados, superfície com almofada. DISCUSSÃO O ritmo circadiano controla o relógio biológico interno por um período aproximado de 24 horas e, portanto, regula o ciclo sono/vigília. Irregularidades no sono durante a semana, normalmente devido à privação parcial de sono podem se tornar crônicas e causar comprometimento do desempenho motor (LOUZADA; MENNA-BARRETO, 2007). O JLS neste estudo ocorreu por consequência da variação dos valores do TST dos participantes, (p <0,0001), com 51,8 min, em média, a mais no final de semana. Isso promoveu melhora do desempenho na segunda avaliação da EP dinâmica, pois o nível de alerta aumenta com mais horas dormidas (WEINGER; ANCOLI-ISRAEL, 2002). Com relação aos parâmetros do sono, o WASO, um indicador da fragmentação do sono, manteve-se estatisticamente inalterado. Apesar de dormirem menos tempo durante a semana, a qualidade do sono foi equivalente à dos finais de semana. 4
Em todos os testes dinâmicos, o maior TST no final de semana, influenciou positivamente no desempenho da EP. Entretanto, no teste estático, a maioria das condições não apresentou variação na EP, provavelmente devido à fadiga do próprio teste, que foi o último, ou à situação de monotonia (o que explica o pior resultado na condição OASF após o final de semana). Estudos futuros se fazem necessários para aumentar o número de indivíduos avaliados e também o número de testes ao longo de um dia, para análise da influência do ritmo circadiano. CONCLUSÃO O jetlag social diminui a estabilidade dinâmica em adultos jovens nos dias de semana. REFERÊNCIAS LOUZADA, F. M.; MENNA-BARRETO, L. O sono na sala de aula: tempo escolar e tempo biológico. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2007. QUARCK, G.; VENTRE, J.; ETARD, O.; DENISE, P. Total Sleep deprivation can increase vestíbulo-ocular responses. Journal of Sleep Research, Oxford, v. 15, n. 4, p. 369-374, 2006. REILLY, T.; EDWARDS, B. Altered sleep-wake cycles and physical performance in athletes.physiology and Behavior, Elmsford, v.90, n.2-3, p.274-284, 2007. RUTTERS, F; LEMMENS S.G.; ADAM, T.C.; BREMMER, M.A.; ELDERS, P.J.; NIJPELS, G.; DEKKER, J.M. Is social jetlag associated with an adverse endocrine, behavioral, and cardiovascular risk profile? Journal of Biological Rhythms, Thousand Oaks, v. 29, n. 5, p. 377-383, 2014. WEINGER, M.B.; ANCOLI-ISRAEL, S.Sleep deprivationand clinical performance. JAMA, Chicago, v. 287, n. 8, p. 955-957, 2002. WITTMANN, M.; DINICH, J.; MERROW, M.; ROENNEBERG, T. Social jetlag: misalignment of biological and social time. ChronobiologyInternational, New York, v. 23, n.1-2, p. 497-509, 2006. 5