UTILIZAÇÃO DE TESTES DE TOXICIDADE EM PEIXES TELEOSTEI PAULISTINHA (Danio rerio) NOS EFLUENTES DO RIO SARAPUÍ

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Transcrição:

UTILIZAÇÃO DE TESTES DE TOXICIDADE EM PEIXES TELEOSTEI PAULISTINHA (Danio rerio) NOS EFLUENTES DO RIO SARAPUÍ Robert Lundstedt Ana Paula Pinto Fernandez RESUMO: Este trabalho objetiva determinar a ação tóxica dos efluentes tratados pela estação de tratamento da empresa Tribel S/A, que são lançados no rio Sarapuí, que é mais um rio problemático em relação à poluição industrial que desemboca na Baía de Guanabara. Mostra ainda que os testes de toxicidade devem ser considerados como uma análise indispensável no controle da poluição hídrica, pois fundamentam-se na utilização dos organismos vivos que são diretamente afetados pelo desequilíbrio que eventualmente ocorre nos ecossistemas aquáticos onde vivem, uma vez que as análises químicas apenas identificam e quantificam as substâncias presentes na água ou sedimentos, mas não detectam os efeitos sobre a biota. Procura também, verificar se a biologia da espécie de peixe Danio rerio é a mais adequada para este tipo de análise. ABSTRACT: The main target of this work is to define the toxic action caused by the chemical waste provided from Tribel S/A. chemical waste treatment station, that are being thrown in Sarapuí river, which is another problematical river, considering the industrial pollution that is delivered in Guanabara s Bay. It s also supposed to show that toxicity tests must be considered indispensable analysis for the control of the river s water pollution, because they re substantiated on the use of the living organisms that are directly affected by the unbalance that occasionally strikes on the aquatic ecosystems where they live, once that chemical analysis only identifie and show the amount of the substances present in the water or sediments, but do not detect the effects on the biota. It also looks for to verify if the biology of the species of Danio rerio fish is adjusted for this type of analysis. Palavras-Chave: Toxicidade Efluente Rio Sarapuí Danio rerio. Keywords: Toxicity Effluent Sarapuí River Danio rerio. 1 INTRODUÇÃO Graduado em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Augusto Motta. Doutoranda e mestre em Oceanografia pela UFF e professora do Centro Universitário Augusto Motta. Durante a década de noventa, o homem demonstrou uma melhor compreensão do seu habi- tat e maior objetividade nas ações para conserválo, integrando a qualidade ao meio ambiente. Des- 55

de então, conceitos como desenvolvimento sustentável, monitoramento ambiental atuação responsável, conscientização ambiental, qualidade de vida, gestão ambiental, dentre outros, são prioridade de empresas que buscam uma atuação responsável junto à sociedade, como a Tribel S/A, que possui um sistema integrado de proteção ambiental composto de: um incinerador de resíduos, um forno estático, um aterro industrial classe I, uma estação de tratamento de efluentes industriais e um laboratório com análises físico-químicas, ecotoxicológicas e amostragem em chaminés. A gestão ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. (VALLE, 1995). O monitoramento ambiental pode ser definido como um sistema contínuo de observação, medições e avaliações com os objetivos de: 1) Documentar os impactos resultantes de uma ação proposta; 2) Alertar para impactos adversos não previstos ou mudanças nas tendências previamente observadas; 3) Oferecer informações imediatas, quando um indicador de impactos se aproximar de valores críticos; 4) Oferecer informações que permitam avaliar medidas corretivas para modificar ou ajustar as técnicas utilizadas. Um grande número de substâncias químicas são lançados nos ecossistemas aquáticos, terrestres e na atmosfera, caracterizando um impacto sobre esses sistemas. Essas substâncias e seus subprodutos podem causar efeitos adversos aos ecossistemas, assim como no homem. A Ecotoxicologia vem estudando o comportamento e as transformações das substâncias químicas no meio ambiente, assim como seus efeitos sobre os organismos que vivem nos ecossistemas aquáticos e terrestres. (CETESB, 1999). 1.1 Objetivos Objetivos Gerais O objetivo deste trabalho é determinar a ação tóxica dos efluentes causados por agentes tóxicos em peixes da espécie Danio rerio, conhecido vulgarmente como paulistinha, presentes nos efluentes gerados pelas fábricas do complexo industrial da Bayer S/A e tratados pela estação de tratamento da Tribel S/A, que são lançados no rio Sarapuí, que é mais um rio problemático em relação à poluição industrial que desemboca na Baía de Guanabara. Os testes foram realizadas no laboratório da empresa Tribel S/A situada no complexo industrial da Bayer em Belford Roxo pelo período de novembro de 2002 a maio de 2003. Objetivos Específicos Analisar, através de ensaios in vivo, a ação tóxica dos efluentes da estação de tratamento da empresa Tribel S/A; verificar se a espécie Danio rerio é adequada aos ensaios em laboratório, utilizados para análises de toxicidade com efluentes industriais e ainda, verificar se sua biologia corresponde às exigências dos testes de toxicidade. 1.2- Justificativa Atualmente, tem sido identificado um número aproximado de quatro milhões de produtos químicos sintéticos. Mais de sessenta mil destes produtos são usados diariamente na forma de combustível, solventes industriais, drogas, pesticidas, fertilizantes etc. Além disso, a cada ano são acrescentados em torno de quinhentos a mil novos produtos. (DIKSHITH, 1988; KRISTEN- SEN, 1994). Diante desse quadro, tem ocorrido um aumento significativo do número de parâmetros necessários para a avaliação da qualidade da água. Hoje, são aproximadamente cento e trinta e acredita-se que, em 2020, tal número atinja cerca de duzentos, o que não assegurará que se disporá de uma água tão segura como aquela disponível em 1925, caracterizada por uma quantidade irrisória de parâmetros (HESPANHOL, 1999). Entre os parâmetros de qualidade de água que se tornaram clássicos e de uso generalizado em todo o mundo, podem ser citados os números mais prováveis de coliformes, a demanda bioquímica de oxigênio e, de uso mais recente e em fase de generalização, os bioensaios para a determinação de toxicidade potencial (BRANCO, 1999). Os testes de toxicidade devem ser considerados como uma análise indispensável no controle 56

da poluição hídrica, pois fundamentam-se na utilização dos organismos vivos que são diretamente afetados pelos desequilíbrios que eventualmente ocorrem nos ecossistemas aquáticos onde vivem, uma vez que as análises químicas apenas identificam e quantificam as substâncias presentes na água ou sedimento, mas não detectam os efeitos sobre a biota (HOFFMAN, 1995; ZAGATTO, 1999). Além dos testes, os biomarcadores celulares são ferramentas importantes, pois muitas vezes a exposição prolongada dos organismos a agentes tóxicos não provocam diretamente a morte, mas afeta a estrutura e função de alguns órgãos vitais, como brânquias, gônadas, rins, fígado, dentre outros, comprometendo a viabilidade do indivíduo. Por isso, as mudanças morfológicas devem ser avaliadas a nível microscópico de tecidos e celulas, podendo os resultados ser extrapolados para o ambiente em questão (POLEKSIC & MITOROVIC-TUTUNDZIC, 1994; MUNOZ et alii, 1994; SÁ, 1998 e AU et alii, 1999). Diante do exposto, torna-se claro o papel da ecotoxicologia na avaliação e no monitoramento dos sistemas naturais, de modo a auxiliar na redução dos impactos ou até mesmo recuperar áreas degradadas. Para adquirir os conhecimentos sobre a toxicidade e avaliar o efeito dos agentes químicos para a biota aquática, têm sido realizados, nestas últimas décadas, testes de toxicidade com organismos de águas continentais, estuarinas e marinhas, em condições laboratoriais e/ou em campo (CETESB, 1999). A sensibilidade de organismos aos efeitos de agentes tóxicos pode variar consideravelmente de uma espécie para outra devido a diferenças em seus metabolismos e a natureza de seus habitats. Os peixes são utilizados como indicadores desses efeitos há mais de um século, porque dentre os organismos aquáticos são os mais estudados e conhecidos biologicamente. Entretanto, as espécies de peixes a serem utilizadas devem atender a determinados critérios que devem atender às seguintes especificações: 1) serem relativamente sensíveis a substâncias tóxicas; 2) os organismos devem ter o tamanho adequado para os testes que é de 3,0 ± 1,0 cm; 3) espécies bastante estudadas biologicamente; 4) de fácil manutenção em laboratório, incluindo: resistência ao transporte, baixa susceptibilidade a doenças e possibilidade de reprodução em laboratório; 5) facilmente adquiridas no comércio e disponíveis em abundância durante todo o ano (OECD, 1992). 2 MATERIAIS E MÉTODOS Meio de Cultura O meio de cultura é utilizado como água de diluição das amostras e do padrão, os reagentes utilizados bem como suas concentrações estão descritos abaixo. A condutividade da água utilizada para preparo do meio deve está entre 0 e 10 µs/cm. O meio deve ser avaliado quanto aos seguintes parâmetros: 1) Dureza total (expressa como mg/l CaCo 3 ): de 40 a 48 mg/l; 2) ph: 7,4 + 0,2; 3) Oxigênio dissolvido (OD): pelo menos 80% do valor de saturação do ar atmosférico; 4) Condutividade: 160 µs/cm (140 a 180 µs/cm); 5) Validade: 2 meses. (FEEMA, 1993; ABNT, 1993). Soluções de 1 a 4: 100 ml para cada 100 litros de meio de cultura Ex.: Para o preparo de 100 litros de meio de cultura, foi enchido um barrilete de 100 litros com água deionizada ou água Milli- Q e retida cerca de 1 litro (para que na adição das soluções não ultrapasse 100 litros totais). Adicionou-se os respectivos volumes, homogeneizando cada solução antes da adição, completando o volume final com água deionizada ou água Milli-Q (ABNT, 1993): 1) SULFATO DE CÁLCIO (CaSO 4. 2H 2 O) 30g/l; 2) CLORETO DE POTÁSSIO (KCl) 2g/l; 3) BICARBONATO DE SÓDIO (NaHCO 3 ) 48g/l; 4) SULFATO DE MAGNÉSIO (MgSO 4. 7H 2 O) 614g/l. Após verificação dos parâmetros e estando todos dentro das especificações ou corrigidos, o meio está liberado para uso. Caso algum dos parâmetros esteja fora da especificação e não sendo possível sua correção, o meio deve ser descartado. Organismo Teste O organismo-teste utilizado é o Danio rerio que foi descrito por Hamilton e Buchanan em 1822, conhecido vulgarmente como Paulistinha ou Peixe-zebra. Ele pertence à família Cyprinidae 57

e é originária da costa indiana de Coromandel, onde ele é encontrado nas correntes rápidas. Trata-se de um peixe onívoro com índole de nadar em cardumes e de aquário comunitário (FEEMA, 1993). O peixe ultrapassa raramente um comprimento de 45 mm, o corpo é arrendado dorso-ventralmente e alongado ântero-posteriormente, com sete a nove linhas horizontais azul-pretos sobre o prata ou dourado que seguem a extensão de toda a superfície de seu corpo. Estas linhas se prolongam sobre as nadadeiras anais e caudais, as nadadeiras pélvicas não acompanham este padrão. A superfície dorsal é da cor verde-oliva. Sua nadadeira dorsal é localizada bem próximo à região anal. O peixe é capaz de suportar grandes faixas de temperatura, ph e de dureza da água. FEEMA, 1993; OECD, 1992; ABNT, 1993; citam uma faixa de temperatura de 15,5 a 43ºC e um ph de 6,6 a 7,2. O peixe se reproduz, se criado e mantido em água de torneira com uma dureza total de 300 ppm (CaCo 3 ) e um ph de 7,7 a 8,2. A temperatura é mantida em 26 ± 1ºC e atinge 27 ± 1ºC para induzir a postura. Tanto o aquário para quarentena/estoque e os recipientes-testes devem comportar um volume que permita manter a relação de, no máximo, 1,0 g de peixe por litro. Os organismos devem ser mantidos em laboratório e selecionados de um lote único de Danio rerio, contendo 600 peixes. (BERTOLETTI; FERRARI, 1992). Os peixes são mantidos em aclimatação no aquário de quarentena / estoque por pelo menos 9 dias (48 h de estabilização + sete dias de quarentena), em água com as mesmas condições que a utilizada no ensaio para observação e avaliação do lote antes do início do teste. (BERTOLETTI; FERRARI, 1992). A sala de quarentena deve ser limpa, livre de vapores tóxicos e perturbações externas, com temperatura de 23 (+ ou - 1)ºC, intensidade luminosa 600 lux e 11 horas de foto período. Diariamente são mensurados: temperatura ambiente, máxima e mínima, se houve alimentação e a luminosidade da sala. Os peixes são alimentados no mínimo três vezes por semana, 24 horas antes do início a alimentação deve ser interrompida. Para que os testes prossigam, tem de haver um critério para aceitação do lote de Danio rerio (OECD, 1992; ABNT, 1993; FEEMA, 1993). Mortalidade menor que 5% do lote: aceitação para uso em teste; Mortalidade entre 5 a 10% do lote: a quarentena deve se estendida por mais sete dias; Mortalidade maior que 10% do lote em sete dias: o lote deverá ser descartado; Caso ocorra mortalidade acima de 5% do lote, no aquário-estoque, durante a utilização dos organismos em teste, deve-se cancelar o teste e providenciar outro teste respeitando a data de validade da amostra conservada. A manutenção rotineira no aquário de quarentena é realizada a cada lote novo, esvaziando-se o aquário e limpando-o com água deionizada ou Milli-Q. O tempo de duração do lote varia de a- cordo com o número de testes realizados, podendo ser utilizado em até 2 meses, após a data de entrada. O tamanho do peixe deve ser de 3,0 ± 1,0cm. Caso o lote se enquadre nos parâmetros, o lote é aceito, já se os mesmos se encontrarem fora do parâmetro, o lote deve ser descartado uma vez que pode influenciar no desenvolvimento dos estudos. Para a avaliação do comprimento do Danio rerio, foi necessário retirar por amostragem com auxílio de rede de filó, 2% do lote adquirido. Colocá-los em papel toalha ou dentro de um recipiente (um aquário ou um bécher, por exemplo) e aguardar a letalidade dos organismos. Logo após, realizou-se a medição do comprimento do peixe, através de um paquímetro calibrado (OECD, 1993). Teste Preliminar Foram preparados cinco soluções-teste com volume de 2.000 ml, de modo a abranger uma faixa ampla de concentrações em progressão geométrica preferencialmente com razão 10, entre as concentrações, por exemplo, 0,01; 0,1; 1,0; 10; 100 mg/l, estabelecendo o intervalo delimitado pela menor concentração que causa morte em 100% dos peixes e a concentração em que nenhuma morte é observada, que seria assim adotada no teste definitivo, não havendo a necessidade de duplicatas no teste preliminar (FEEMA, 1993). Soluções-teste: as soluções-teste são preparadas diluindo-se as devidas proporções da solução-mãe 58

ou soluções-estoque em meio de cultura, de modo a obterem-se as concentrações-teste desejadas. Solução-mãe: esta é a primeira solução a ser preparada para o teste, a partir desta, deve-se realizar as diluições necessárias para o ensaio. Esta solução deve ser preparada no momento da realização do teste. O preparo desta solução é feito dissolvendo-se uma quantidade determinada da substância-teste em meio de cultura, de forma a obterse a concentração desejada. O balão volumétrico contendo esta solução deverá ser identificado com o nome e a concentração da substância-teste. Solução-estoque: as soluções-estoque devem ser preparadas, se necessário, a partir da soluçãomãe e devem ser identificadas como solução I, solução II etc. O balão volumétrico contendo essas soluções deve ser identificado com o nome e a concentração da substância-teste. Este ensaio deve ser realizado em 96 horas, podendo, em caso de urgência, ser realizado em 48 horas. Não há necessidade de renovação de solução a cada 24 horas, ou seja, o teste preliminar deve ser realizado no sistema estático. Caso o teste preliminar não forneça dados suficientes para estabelecer uma faixa de concentrações para o teste definitivo, o procedimento préliminar deve ser repetido com novas faixas de concentração. No caso do presente estudo, por se tratar de um resíduo já conhecido e previamente analisado quimicamente, só foram feitos os testes preliminares no início e no final da pesquisa, e quando houve uma descaracterização da amostra. 2.1 - Aplicação do Método Este teste é aplicável a todos os tipos de efluentes líquidos industriais, inclusive águas residuais com cor e substâncias químicas solúveis em água ou que possam ser dispersadas por meios químicos (solventes orgânicos, dispersantes) e/ou físicos (agitação mecânica, dispersão ultrasônica) e tem como finalidade identificar a quantificação de níveis de contaminantes potenciais que oferecem risco à qualidade da água, bem como à biota aquática. Neste caso especificamente, no teste de toxicidade de efluentes líquidos provenientes do tratamento pela Tribel S/A dos resíduos gerados pelas fábricas do complexo da Bayer. Este método não se aplica à amostra de água com salinidade superior a 5 g/kg, a não ser se queira verificar o efeito da salinidade isoladamente (FEEMA, 1993). Os ensaios foram desenvolvidos utilizando o método de sistema-estático, que é um teste com organismos aquáticos no qual não ocorre nenhum fluxo de solução de teste, ou seja, as soluções permanecem inalteradas por toda a duração do teste, e que neste trabalho, consiste na exposição de peixes a várias concentrações destas soluções. Neste caso, foram utilizadas 5 concentrações da substância-teste, por um período total de 96 horas de exposição, sob condições controladas de temperatura, PH, OD e fotoperíodo. As mortalidades dos organismos-teste são registradas em 24, 48, 72 e 96 horas e a CL(i)50 e/ou U.T. calculadas, quando possível (OECD, 1992; ABNT, 1993; FEEMA, 1993). Para que um teste tenha validade é necessário que as seguintes condições sejam cumpridas: a) mortalidade no(s) controles não deve exceder 10% (dez por cento) no final do teste; b) condições constantes devem ser mantidas tanto quanto possível durante o teste; c) a concentração de o- xigênio dissolvido deve ter sido pelo menos 60% (sessenta por cento) do valor de saturação do ar durante o teste; d) deve haver evidência de que a concentração da substância sendo testada foi satisfatoriamente mantida e, de preferência, deve ter sido pelo menos 80% (oitenta por cento) da concentração nominal durante o teste. Se o desvio da concentração nominal for maior do que 20% (vinte por cento), os resultados devem ser baseados na concentração determinada (OECD, 1992). Antes do preparo da amostra, é importante ter conhecimento das características físicas, químicas e toxicológicas da substância-teste, com o propósito de tomar os cuidados necessários no manuseio da amostra. O preparo das soluções e todas as etapas do ensaio foram realizados em ambiente isento de vapores ou poeiras tóxicas. Quando necessário, as amostras de efluentes líquidos e águas continentais devem ser colocadas, para decantação dos sólidos em suspensão, por duas horas. Após este período, retira-se com um sifão a porção mediana da amostra, devendo ser esta porção a ser utilizada no ensaio (BERTOLETTI; FERRARI, 1994). 59

Calculou-se, antes do início do teste, as concentrações desejadas, de modo a obter volumes suficientes de solução-mãe e soluções-estoque. Preparou-se a solução-mãe e as soluções-estoque de acordo com os cálculos realizados. A partir das soluções preparadas, foram feitas as soluçõesteste diretamente nos recipientes-testes (bécher de 5.000 ml ou aquário de acrílico de 10.000 ml com tampa, revestidos com sacos plásticos descartáveis), para um volume final de 4.000 ml por concentração, efluentes: 1 solução-teste por concentração, substância de referência: 1 solução-teste por concentração, substância química: 2 soluçõesteste por concentração (BERTOLETTI; FERRA- RI, 1994). Para cada teste ou grupo de testes, preparouse um controle, somente com meio de cultura e com o mesmo número de organismos. No caso do uso de solventes, deve-se preparar, além das soluções-teste de controle com meio de cultura, outra solução-teste, em duplicata, com meio de cultura contendo a máxima concentração de solvente utilizado no teste. (BERTOLETTI; FER- RARI, 1994). Cada lote de peixes foi previamente avaliado, de modo a aferir suas condições para utilização no teste. Para isso, foi efetuado um teste preliminar utilizando uma substância de referência. Dentre as substâncias indicadas, o dicromato de potássio (K 2 Cr 2 O 7 ) apresenta a vantagem de ser, de fácil manipulação, não biodegradável, não volátil, altamente solúvel em água e disponível em alto grau de pureza (ABNT, 1993). No teste, os peixes foram expostos a várias concentrações de dicromato por 96 horas, neste caso já previamente estabelecidos em: 29, 53, 72, 175 e 309 mg/l e, para que o lote seja aprovado, a CL 50 deve estar entre 70 e 140 mg/l (FEEMA, 1993; ABNT, 1993), após esse tempo. Este cálculo é feito pelo método estatístico Spearman- Karber, que é um método que estima a distribuição da tolerância da relação logarítmica. Este método é recomendado quando ocorre apenas uma mortalidade parcial ou ainda quando as mortalidades parciais não atendem outros métodos. Caso a distribuição da tolerância da relação logarítmica seja simétrica, este valor estimado é equivalente à estimativa à distribuição da tolerância da relação logarítmica média. Caso as proporções principais estejam decrescentes ou constantes em relação ao aumento da concentração, os dados estão regulares. Condições para o cálculo: Para o cálculo da CL 50 ou CE 50 estimado, a proporção de mortalidade para a menor concentração de efluente deve ser zero e para a maior deve ser 1. Para o cálculo do intervalo de confiança a 95% para a CL 50 / CE 50 estimada, os valores para a menor concentração de efluente deve ser zero e para a maior deve ser 1. Procedimento Geral: Primeiramente deve-se ajustar a proporção observada Pi para que atenda ao intervalo P0 <... < Pk, caso o valor não esteja neste intervalo, ou seja, Pi < Pi 1, tem de ser feita a seguinte correção: P S i-1 = P S i = P i + P i 1 /2 Onde, P S i = mortalidade proporcional corrigida para a concentração da amostra. Ajustar a proporção de mortalidade em cada concentração da amostra, utilizando a fórmula de Abbot: P a i = (P S i P S 0) / (1 P S 0). Onde, P S 0 = mortalidade proporcional do controle. Plotar os dados ajustados em papel semi-log, onde o eixo logarítmico y é utilizado para concentração percentual da amostra e o eixo linear x é utilizado para mortalidade percentual. Calcular o Log da CL 50 / CE 50 estimada (m) como demonstrado a seguir: m = k-1 i=1 (P a i + 1 P a i). (X i + X i + 1 ) / 2 Onde, P a i = mortalidade proporcional ajustada na concentração i. X i = log da concentração i. K = número de concentrações testadas sem incluir o controle. Calcular a variância estimada de m como a seguir: V(m) = k-1 i=2 P a i (1 P a i). (X i + 1 X i 1 ) 2 / 4 (ni 1). Onde, ni = número total de organismos testados na concentração i da amostra. 60

Calcular o intervalo de confiança a 95% para m, como a seguir: m + 2. V (m) Os valores de CL 50 / CE 50 estimada e o intervalo de confiança a 95% podem ser calculados aplicando-se a base 10 antilogarítmica dos valores calculados acima. Caso o teste definitivo não forneça dados suficientes para o cálculo da CL(I) 50, o teste deve ser repetido com uma nova faixa de concentrações, ou seja, fazer um novo teste com uma diluição maior ou menor em cada concentração, como for necessário. As soluções-teste são preparadas em uma série de concentrações intermediárias em progressão geométrica, com fator não maior que 2,0 (Tabela 01). DILUIÇÃO Tabela 01: VOLUME DE DILUIÇÃO DAS AMOSTRAS VOLUME DE AMOSTRA VOLUME DE ÁGUA RECONSTITUÍDA VOLUME FINAL 2 2.000 ml 2.000 ml 4.000 ml 4 1.000 ml 3.000 ml 4.000 ml 8 500 ml 3.500 ml 4.000 ml 16 250 ml 3.750 ml 4.000 ml 32 125 ml 3.875 ml 4.000 ml O aquário de quarentena/estoque deve estar próximo aos recipientes-testes, e a transferência dos organismos foram efetuada por meio de puçá de naylon. Os peixes que acidentalmente caírem fora do recipiente-teste devem ser descartados. Para cada concentração e para o controle, foram adicionados um total de dez organismosteste. Os organismos foram colocados aos poucos, em um número não superior a 20% do total previsto para cada recipiente-teste. A colocação dos peixes deve ser ao acaso, sendo que todos os recipientes-testes receberam igual percentagem de organismos antes de iniciar a próxima etapa de colocação e assim por diante, até completar o numero total de indivíduos por recipiente. Caso o oxigênio dissolvido nas soluçõesteste apresentem valores abaixo de 40% de saturação, deve-se empregar aeração artificial (OECD, 1992; ABNT, 1993; FEEMA, 1993; CETESB, 1999). O ph, a condutividade, o oxigênio dissolvido, a temperatura e a letalidade foram verificados no início do teste e ao intervalo de cada 24 horas de ensaio, de cada solução-teste. Outras variáveis, como dureza total, devem ser verificadas ao menos na concentração mais baixa, na intermediária e na mais elevada, sendo também efetuadas a cada 24 horas. Retira-se os peixes mortos, observados no decorrer do teste. Um peixe só é considerado morto quando não esboçar mais nenhum movimento, mesmo quando tocado. (OECD, 1992; ABNT, 1993; FEEMA, 1993). A U.T., Número de Unidades de Toxicidade, representa a maior concentração testada de um agente tóxico na qual não ocorre efeito tóxico agudo (mortalidade) dentro do prazo de teste. Caso aconteça uma única mortalidade em alguma concentração ou ainda mortalidades nas menores concentrações não havendo nas maiores, devemos observar se no padrão contendo o branco houve mortalidade, ou ainda se o problema teve origem de fatores externos ou do próprio peixe utilizado no teste. A U.T. estipulada pela FEEMA para efluentes é de dois a oito, ou seja, nas diluições dois, quatro e oito são toleráveis haver mortalidades. O teste deve ser realizado sem ajuste do ph. Se houver mudanças significativas de ph no decorrer do teste, este deve ser repetido com o ph corrigido. Neste caso, ajustar o ph da soluçãoestoque para o mesmo valor do ph da água de diluição, usando soluções de ácido clorídrico ou hidróxido de sódio. O ajuste do ph só deve ser feito se não causar alterações na concentração do agente tóxico nas soluções, provocadas por diluição, reações químicas, precipitações e decomposição. Recomendam-se que sejam realizados 61

dois testes em paralelo, um com ph corrigido e outro com ph sem corrigir. No caso de amostras com alto consumo de oxigênio dissolvido devem ser realizados dois testes em paralelo: um aerado e outro sem aeração. (OECD, 1992; ABNT, 1993; FEEMA, 1993). Os peixes que sobreviveram ao teste não podem ser utilizados em outros ensaios, podendo servir para testes histológicos, ou controle de peso e tamanho do lote. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Resultados Durante o período de realização dos testes não foram encontrados quaisquer condições que invalidassem os testes realizados. Os resultados obtidos durante o período de teste estão discriminados nas tabelas a seguir: Tabela 02 RESULTADOS DA CE96H DOS TESTES DE DICROMATO DE POTÁSSIO. REFERÊNCIA DATA DE INÍCIO DO TESTE VALOR DA CE96H TPP-17/02 25/11/2002 134,8 TPP-18/02 16/12/2002 135,6 TPP-02/03 27/01/2003 101,0 TPP-05/03 25/02/2003 120,5 TPP-06/03 17/03/2003 135,6 TPP-09/03 28/04/2003 93,9 TPP-10/03 12/05/2003 120,5 Tabela 03: RESULTADOS DA U.T. DAS AMOSTRAS. REFERÊNCIA DATA DE INÍCIO DO TESTE VALOR DA U.T. P. 42 24/11/02 25/11/2002 4 P. 42 10/12/02 16/12/2002 2 P. 42 19/01/03 27/01/2003 4 P. 42 17/02/03 25/02/2003 2 P. 42 14/03/03 17/03/2003 2 P. 42 23/04/03 28/04/2003 2 P. 42 08/05/03 12/05/2003 2 3.2 Discussão Durante o período de observação do teste, foram levantadas algumas questões que poderiam influenciar nos resultados obtidos. A principal delas é a aceitação da U.T. (unidade tóxica) pela FEEMA, pois apesar de a U.T. estar no padrão exigido pela entidade, que é entre dois e oito, cabe ressaltar a diferença na U.T. como observado na tabela 03, nos meses de Novembro de 2002 e de Janeiro de 2003, onde houve mortalidades de 30% e 100% respectivamente na concentração dois, ou seja, 2.000 ml de amostra e 2.000 ml de água reconstituída, que pode ter sido causado por algum efluente tratado e liberado de alguma das fábricas do complexo Bayer, que fugia das características normalmente apresentadas que não são muito tóxicas. Deve-se considerar ainda a vazão da emissão do efluente no rio, pois, como comprovado nos ensaios, estes efluentes são tóxicos em uma concentração alta, o que levanta a questão de um controle mais intenso da vazão deste efluente, para que não ocorra um impacto ambiental que 62

pode causar danos à biota residente neste rio ou ainda no local de desemboco, neste caso a Baía de Guanabara. Sobre os resultados do padrão com Dicromato de Potássio, embora não haja uma certa constância dos resultados, eles estão dentro da faixa da Ce96h estipulada que é de 70 a 140. Sendo que os resultados muito próximos do limite poderiam ser refeitos para uma confirmação de resultados. 4 CONCLUSÃO Durante os sete meses de realização dos testes e acompanhamento dos resultados, foi visto que há uma constância de resultados, pois, estão com a U.T. (unidade tóxica) variando entre dois e quatro, o que significa dizer, que apenas nos meses de novembro de 2002 e de janeiro de 2003, houve alguma mortalidade, mas todos estão dentro da faixa aceitável estipulada pela FEEMA. A metodologia empregada é bem enquadrada para as características das amostras analisadas, mas as faixas de aceitação, são um pouco incoerentes com a biota aquática, pois há organismos aquáticos mais sensíveis que o utilizado como referência (Danio rerio), como microcrustáceos que podem sofrer com mais facilidade o impacto gerado com o despejo de resíduos considerados pouco poluentes, portanto, ainda há brechas para uma má utilização do método, por pessoas que não estão preocupadas com os impactos gerados por estas atitudes, principalmente no que diz respeito à vazão do afluente emitida ao rio, que muitas vezes já vêm sofrendo com a ação de outros resíduos lançados por outras entidades e ainda há a ação do homem, que lança dejetos e esgoto sanitário sem nenhum tipo de tratamento, fazendo assim com que a situação dos rios e o local de desemboco se agrave ainda mais, que neste caso é o rio Sarapuí e a já muito poluída Baía de Guanabara. A espécie Danio rerio se mostrou satisfatória para os testes realizados, uma vez que suportou as variações de parâmetro como: temperatura, ph, oxigênio dissolvido etc., e ao mesmo tempo, sensível á ação tóxica do afluente. Esta espécie é fácil de ser adquirido nos padrões requeridos e possui características de fácil manutenção, armazenamento e manipulação. Os estudos ecotoxicológicos são de suma importância para a manutenção da biota nos rios que são inseridos os afluentes industriais. E é somente através destes estudos é que teremos a real conclusão dos impactos gerados por tais despejos, seja a curto, médio ou longo prazo. Mas o mais importante é que empresas como a Tribel S/A já estão com essa consciência ecologicamente correta. 5 REFERÊNCIAS OECD. Diretriz para teste de substâncias químicas. 1992. FEEMA. MF-455.RO Método de determinação do efeito agudo letal causado por agentes tóxicos da espécie Brachydanio rerio Método Estático. 1993. ABNT, NBR 12.714 Água Ensaio de toxicidade aguda com peixes Sistema estático. 1993. ESPÍNDOLA, E. L. G.; BOTTA-PASCHOAL, C. M. R.; ROCHA, O.; BOHRER, M. B. C.; OLIVEIRA-NETO, A. L. de (eds.). Ecotoxicologia: Perspectiva para o século XXI. São Carlos: RiMa, 2000. CETESB. Métodos de avaliação da toxicidade de poluentes a organismos aquáticos, Vol. I. São Paulo, 1999. BERTOLETTI, E.; FERRARI, L. R. Metodologia para avaliação da toxicidade crônica com o peixe (Brachydanio rerio). São Paulo: CETESB, 1994. 19 p + anexos. BERTOLETTI, E.; FERRARI, L. R. Desenvolvimento e implantação de testes de toxicidade com organismos a- quáticos, Vol. II. Testes crônicos com peixes. São Paulo: CETESB, 1992, 18 p. (VALLE, 1995), (HOFFMAN, 1995; ZAGATTO, 1999), (DIKSHITH,1988; KRISTENSEN, 1994), (HESPA- NHOL, 1999), (BRANCO, 1999), (POLEKSIC & MI- TOROVIC-TUTUNDZIC, 1994; MUNOZ et alii, 1994; SÁ, 1998 e AU et alii, 1999) citados no site: www.ufrgs.br. 63

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