TRANSPORTE COLETIVO URBANO E ACESSIBILIDADE NA ÁREA CENTRAL DE TERESINA: um instrumento na (re) organização do espaço



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Transcrição:

TRANSPORTE COLETIVO URBANO E ACESSIBILIDADE NA ÁREA CENTRAL DE TERESINA: um instrumento na (re) organização do espaço Maria do Socorro Ribeiro de Melo Universidade Federal do Piauí-UFPI, Mestranda em Geografia socorromelo.geo@hotmail.com RESUMO Os meios de transporte coletivo são componentes importantes para o desenvolvimento das sociedades, sobretudo, quando esse transporte é acessível (adaptado) e adequado à todas as pessoas. Dessa forma, os objetivos foram: analisar a acessibilidade no transporte coletivo urbano e demonstrar como a acessibilidade nos mesmos possibilita a (re) produção do espaço pelos cadeirantes. A metodologia constituiu-se de revisão bibliográfica, observação direta e aplicação de questionários com cadeirantes. E os resultados indicam que uma parcela significativa de cadeirantes é usuária do transporte coletivo, apontando o Transporte Eficiente como o modo mais utilizado pelos mesmos. Assim, a pesquisa concluiu que o transporte coletivo adaptado exerce grande influência na vida dos cadeirantes, possibilitando aos mesmos (re) produzir o espaço citadino, permitindo-os o exercício da sua cidadania através de uma nova (re) organização do espaço. Palavras-chave: Transporte Acessível. Organização do espaço. Acessibilidade. Cadeirantes 1 INTRODUÇÃO Os meios de transporte coletivo urbano são de essencial importância para a manutenção da dinâmica citadina e no cotidiano das pessoas, pois, através deles parcela significativa da população desloca-se de um lugar para outro, dessa forma, esse meio de transporte é fundamental principalmente para aquelas pessoas que residem longe do local de trabalho e estudo e que não dispõem de recursos financeiros para gastar com outros modos de transporte que exija um investimento maior. Assim, o transporte coletivo surge como uma alternativa para facilitar o deslocamento das pessoas que precisam fazem longos percursos até chegar a seu destino os quais são minimizados devido ao uso massivo do transporte coletivo urbano que é considerado o meio de transporte motorizado mais utilizado. Dessa forma, o transporte coletivo urbano é fundamental no deslocamento das pessoas que são portadoras de necessidade especiais ou que possuem mobilidade reduzida (cadeirantes), pois, elas também são sujeitos sociais que contribuem para a construção e desenvolvimento de um espaço geográfico e, sobretudo, de uma sociedade mais democrática e igualitária e que, através do transporte coletivo adequado ás suas necessidades de deslocamento estes podem usufruir do espaço urbano, assim, como os demais atores que

constituem a sociedade. Nessa perspectiva busca-se analisar a acessibilidade no transporte coletivo urbano e demonstrar como a acessibilidade nos mesmos possibilita a (re) produção do espaço pelos cadeirantes. Assim, para que os objetivos fossem alcançados de maneira satisfatória realizou-se pesquisa de caráter bibliográfica em livros que tratam da questão de organização e produção do espaço, transporte urbano, legislação sobre acessibilidade além de artigos científicos na internet que discutem, essa temática para que estes pudessem fundamentar a análise dos dados coletados em campo. Após o levantamento teórico, foi realizada a pesquisa de campo, na qual coletou-se, os dados através de observação do serviço de Transporte coletivo urbano na cidade de Teresina/PI e da aplicação de questionários junto aos sujeitos pesquisados, a escolha de tal instrumento deve-se a praticidade que este oferece ao pesquisador e aos pesquisados alem de dispensar a identificação deste, conforme destaca Dencker (1998, p.148) Permite a obtenção de uma grande quantidade de informações com referência a aspectos bastante diversificados. Nessa etapa ainda foi possível o registro fotográfico do transporte coletivo urbano e das condições que estes apresentam com relação à acessibilidade para cadeirantes identificando quais são os elementos que marcam esse processo. 2 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO O espaço geográfico é resultante da atuação humana constituindo-se, assim, em espaço social, o qual está constantemente sendo (re) organizado para atender as diversas necessidade e contradições sociais presente no espaço. E são essas contradições que garantem ao espaço uma interdependência entre os diferentes segmentos da sociedade, Assim, por ser o local de moradia e trabalho do homem, ele contem uma variedade de formas e conteúdos que estão em constantes mudanças as quais são promovidas pelo tempo, pela técnica e principalmente, pelas relações sociais e de produção que se desenvolvem nesse espaço. Essas mudanças deixam marcas, que se materializam através das formas que estão presentes no espaço como afirmam Santos (1978, p.122) O espaço se define como um conjunto de formas representações de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções.

Ainda segundo o autor, o espaço pode ser entendido como sendo um reflexo, ou seja, uma representação das relações que ocorrem no espaço. No entanto não pode-se conceber, que o espaço seja compreendido e apreendido como sendo, uma mera representação da realidade e, que, dessa forma, ele estar passivo diante da ação humana, e sim, que o espaço é um fato; um fator e uma instância social, ou seja, que ele é um elemento que exerce influência, determinando muitas vezes as funções que serão atribuídas a essa categoria, mas que também é influenciado pelas ações que são desenvolvidas nele em uma tentativa de adequá-lo a interesses diversos. Nesse contexto, o espaço tende a torna-se cada vez mais contraditório, pois, em um mesmo período e lugar, ocorrem processos históricos e sociais diferentes surgindo assim, novas estruturas para atender aos interesses e necessidades de determinados grupos em detrimento de outros tornando esse espaço cada vez mais diversificado e fragmentado. Assim, ao analisar o espaço é necessário compreender, que as formas nele impregnadas, nada mais são, que o registro material da interação e da interdependência das relações sociais que ocorreram e que ainda ocorrem, em determinado período, elas desempenham papel diferenciado de acordo com a apropriação que são realizadas nas mesmas pois, segundo o interesse de quem se apropria, as formas podem desenvolver diversas funções, portanto, ao longo do tempo elas ganham novos significados no desenvolvimento da sociedades, na qual estão inseridas e dela são representante. 2.1 A cidade e suas contradições O espaço urbano é o local de diferentes usos e apropriação da terra, isso faz com que, ele seja simultaneamente fragmentado e articulado entre suas diferentes partes. Ele é fragmentado porque em cada lugar ele apresenta uma forma de organização que é resultante das influências de um momento do passado quanto do presente, assim, o uso do solo passa a delimitar a forma de apropriação, pois: Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas de residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e entre outras aquelas de reserva da terra para futura expansão. (CORRÊA, 1999, p.7) A partir dessa a apropriação diferenciada do solo surge a necessidade de articulação espacial entre essas diferentes áreas, pois, mesmo o espaço urbano apresentando áreas

diversificadas tanto em formas quanto em qualidade dos serviços que são ofertados à população, elas precisam estabelecer entre si uma relação de harmonia, equilíbrio e uma certa interdependência, pois são as diferentes áreas com suas respectivas atividades que constituem o sistema urbano e, dessa forma estão ligadas umas as outras, formando assim, uma rede urbana. Em virtude de tal articulação, o espaço urbano fica sujeito a mutações que são realizadas pela sociedade, pois, na ânsia de satisfazer seus interesses, mudam o espaço ou as formas espaciais, fazendo destas, uma representação do momento político; econômica; técnico e social pelo qual a sociedade atual vivencia. Dessa forma, o espaço urbano através da sua função simbólica materializada consegue retratar diferentes grupos sociais em diversos momentos, interagindo entre si, e isso fornecelhe a função de se comportar como um fato; um fator e uma instância social, o que impulsiona os seus produtores (os proprietários dos meios de produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos) na busca incessante de criar e recriar esse espaço ou, esse modo de vida conforme afirma Carlos ( 2005, p.26) A cidade é um modo de viver, pensar, mas também sentir. O modo de vida urbano produz ideias, comportamentos, valores, conhecimentos, formas de lazer também uma cultura. Assim, a cidade constitui-se em local de libertação e refúgio pois, é na cidade que se encontra a materialização mais visível do trabalho humano e, é essa materialização que garante a reprodução da cidade como um sistema constituído de desigualdades, já que tais desigualdades referem-se as formas de apropriação e trabalho que são desenvolvidos em determinada época. Dessa forma, a cidade é um cenário de constantes disputas não apenas políticas, econômicas e sociais, mas também ideológica, pois, a cidade é concebida e também vivenciada de forma diferente pelos agentes sociais que a constituem. Nesse contexto, evidencia-se também o processo de segregação espacial que ocorre na cidade, pois, nem todos que a produzem têm o direito de desfrutá-la da maneira plena. E essa segregação não se refere apenas às áreas de moradia, mas também, aos meios de transportes os quais não são ofertados de maneira adequada para atender as necessidades dos seus usuários, principalmente quando estes, são pessoas portadoras de necessidades especiais, destacando os cadeirantes que encontram grandes obstáculos para locomoção no espaço urbano. Portanto, estas desigualdades são evidenciadas pelo processo de (re) produção do capital, que passa a comandar os rumos da produção social a qual muitas vezes é sufocada,

diante do interesse que determinado grupo manifesta. 2.2 Transporte coletivo e a acessibilidade Nas cidades o transporte coletivo constitui-se em um bem social de altíssima importância como afirma Ferraz (2004) De fundamental importância nas cidades é o transporte público coletivo. Em primeiro lugar por, seu aspecto social e democrático, uma vez que o transporte público representa o único modo motorizado seguro e cômodo acessível às pessoas de baixa renda, bem como uma importante alternativa para quem não pode dirigir (crianças, adolescentes, idosos, deficientes doentes etc.), preferem não dirigir. Também compartilhando dessa ideia Spósito (1996), destaca que o transporte público coletivo é um componente vital para a manutenção da dinâmica citadina, além de proporcionar uma maior mobilidade espacial para todas as pessoas. Dessa forma, o transporte coletivo faz o diferencial na vida das pessoas principalmente daquelas que possuem alguma restrição de mobilidade como os cadeirantes, que enfrentam muitas dificuldades e desafios em seu deslocamento, entretanto, esses obstáculos são minimizados quando este dispõe de um serviço de transporte adequado às suas necessidades de deslocamento como os ônibus acessíveis ou adaptados. Assim, o termo acessibilidade faz referência a existência de condições que facilite às pessoas, deslocar-se de um lugar para outro permitindo-as, usar equipamentos de maneira autônoma e segura, sem que seja necessário o auxílio de terceiros na realização de atividades simples, como o ato de caminhar pela calçada. Assim, tem-se, que acessibilidade é: Condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistema e meio de comunicação, e informação, por pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida. LEI 10.098/2000, Art.2º Essa condição de igualdade que estabelece a Lei 10.098/2000 foi regulamentada pelo Decreto Federal Nº. 5.296/04, ART. 8º, tornando a aplicação e fiscalização da mesma obrigatória. Nesse perspectiva acessibilidade pode ser considerada de acordo com NBR 9050 (2004) Possibilidade e condição de alcance, dos elementos urbanos pelas pessoas com mobilidade reduzida.

Nesse contexto, ao falar de acessibilidade reportar-se imediatamente ao espaço geográfico onde são desenvolvidas todas as atividades humanas, e nele, encontram-se as reais condições que este oferece aos diversos grupos sociais que nele vivem e convivem de forma contraditória estabelecendo entre si relações de uso e apropriação do solo bastante diferenciadas, segundo seus interesses. Em virtude dessa apropriação diferenciada e desigual faz-se necessário, promover a acessibilidade aos mais variados grupos sociais aos espaços de uso coletivo, tornando esses ambientes verdadeiramente coletivos e sociais, tal medida deve ser realizado através de políticas de planejamento conforme aponta Pereira (2007, p.72) O planejamento urbano deve priorizar os interesses coletivos e deve estar associado à estruturação do sistema de transporte público, que proporcione a acessibilidade à cidade, considerando as diferentes áreas onde se localizam as atividades de trabalho, educação, saúde, lazer, comércio e serviços. Quando a acessibilidade não é favorecida fortalece-se ainda mais a diferenciação socioespacial. Portanto ao passo que se promove a acessibilidade no sistema de transporte coletivo possibilita-se também o desenvolvimento e/ou ampliação da mobilidade, visto que com a meios de transporte acessível os deslocamentos são favorecidos, porém, nos espaços urbanos as formas de acessibilidades existentes ainda são muito tímidas e isso requer uma ação mais firme por parte do poder público e jurídico que garanta a acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades especiais aos diversos espaços que a cidade possui, através do cumprimento da lei. Nesse contexto, acessibilidade diz respeito à igualdade de oportunidade, que segundo a Constituição Federal (1988), todos as pessoas tem o direito de ir e vir sem qualquer restrição, assim, com o transporte coletivo acessível, os cadeirantes passam a garantir esse direito essencial, passando a participar ativamente da construção da sociedade, diminuindo assim, as desigualdades encontradas nas cidades visto que, são nestas as maiores modificações ocorridas no espaço, devido a grande dinamicidade pelas quais são submetidas cotidianamente. É, através de um sistema de transporte que atenda adequadamente as necessidades de locomoção dos cadeirantes que estes, passam a produzir e apropriar-se do espaço, imprimindo neste, novas formas, as quais são mais adequadas à circulação dos mesmos favorecendo assim, a mobilidade destes sujeitos sociais que, conforme Vasconcellos (2001), mobilidade refere-se à capacidade de deslocar-se efetivamente, a qual é influenciada por uma série e

fatores tais como renda, escolaridade, idade, gênero entre outros. O espaço está organizado de maneira a atender aos interesses de determinados grupos sociais que o produz, assim, ao longo do tempo as estruturas sociais transformam-se e essas transformações impulsiona uma nova (re) organização do mesmo, como a implantação de elementos que favoreçam a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Dessa forma, ao analisar a organização do espaço, tendo como referencia os elementos de acessibilidade, pode-se perceber que a área central da cidade de Teresina/PI, apresenta alguns elementos que possibilitam o exercício do direito de ir e vir pelos cadeirantes, ou seja, estes passam a ter uma maior mobilidade no espaço urbano, visto que, os mesmos necessitam de infraestrutura adequada e que favoreça o seu deslocamento, como: ônibus acessíveis; e as ruas em bom estado de conservação. Entretanto no que no que refere-se aos meios de transporte coletivo, existentes na área, o que verificou-se foi uma ausência de táxis adaptados para que possa atender esse contingente de maneira mais coerente com suas condições, além disso, os outros modos de transporte coletivo que circulam com maior frequência nesse recorte, são os ônibus convencionais, porém, a periodicidade desse modo que são adaptados a atender os cadeirantes é bastante irregular e a capacidade de atendê-los deixa muito a desejar em diversos aspectos, como: a quantidade de passageiros que são atendidos em cada ônibus, visto que essa capacidade é de apenas um passageiro. Assim, o que se pôde observar foi que dos modos de transporte coletivo, o que estar mais adequado para atender os cadeirantes é o Transporte Eficiente, pois este realiza um atendimento porta a porta, porém, esse apresenta algumas limitações quanto à quantidade de veículos disponíveis, para atender os usuários, visto que, há um grande número de pessoas cadastrado para utilizar esse serviço e principalmente uma demanda crescente de pessoas que querem cadastrar-se para poder usar esse meio de transporte. 2.3 A acessibilidade da área central de Teresina sob a ótica dos cadeirantes O Transporte coletivo é um elemento essencial para a manutenção da dinâmica citadina, constituindo-se, em um elemento social democrático e de uso indiscriminado demonstrando que parcela significativa da população cadeirante pesquisada é usuária do transporte coletivo urbano, correspondendo assim a 80%, tal porcentagem, reflete a dinamicidade desse contingente populacional que na medida das limitações e das dificuldades

possui uma vida normal, ou seja, eles são sujeitos socialmente ativos e participativos da sociedade. As pessoas com necessidades especiais também são sujeitos de direitos, entretanto esses direitos são muitas vezes suprimidos devido à ausência de um ambiente que lhes permitam exercer sua cidadania e usufruir o direito de ir e vir de forma autônoma e segura sem que para a realização de simples atividade seja necessário contar com a ajuda de terceiros. Assim, identificou-se que o modo de transporte mais utilizado pelos cadeirantes é o Transporte Eficiente devido às condições de comodidade no deslocamento que este oferece para seus usuários, pois, 65% dos cadeirantes pesquisados afirmou utilizar esse modo de Transporte. Essa é uma modalidade Transporte que pega os usuários, cadeirantes cadastrados no programa em casa, e leva-os ao local desejado (trabalho, universidade...), de acordo com a figura 1. Figura 1: Usuário do Transporte Eficiente Fonte: Melo, 2011 Porém, dos cadeirantes, pesquisados, 30% afirmou usar o ônibus convencional, essa porcentagem reflete ainda a existência de barreiras à acessibilidade estas são tão de caráter físico como: ruas em mal estado de conservação, algo que dificulta e muitas vezes impedem o deslocamento dos cadeirantes de sua residência até o ponto de ônibus de forma segura, e

independente, além das barreiras atitudinais figura 2, estas referem-se as atitudes que as pessoas tem em relação á aos cadeirantes sobretudo aos motoristas que param o ônibus distantes do ponto dificultando mais ainda o acesso dos cadeirantes a cidade. Figura 2: Barreiras atitudinais Fonte: Melo, 2011 A existência de tais atitudes que tornam esse modo de transporte pouco atraente para os usuários de cadeirantes e com relação aos 5% que usam o táxi como principal meio de transporte reflete um pouco sobre a renda dos cadeirantes evidenciando que uma pequena parcela deles dispõe de recursos financeiros para serem gastos com os deslocamentos realizados por táxi, visto que o custo desse meio de transporte é mais elevado que os do ônibus e o do transporte eficiente. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os objetivos propostos pela pesquisa e os resultados obtidos na mesma, pode-se constatar que no recorte espacial focos da análise apresentam alguns elementos de acessibilidade possibilitando assim, uma nova re/organização do espaço, porém, estes ainda não atendem de maneira satisfatória as necessidades de deslocamento dos cadeirantes, no entanto, percebe-se o surgimento de uma nova configuração espacial da área em estudo.

Com relação aos modais de transporte coletivo e sua contribuição para a reorganização de um espaço geográfico mais adequado, pôde-se perceber que o modo mais utilizado pelos cadeirantes é o Transporte Eficiente, pois este realiza o serviço de atendimento aos cadeirantes porta a porta, o que facilita o deslocamento destes sujeitos. Mas os mesmo apontaram como segunda alternativa de meio de transporte coletivo, o ônibus convencional, embora, este apresente ainda muitas dificuldades para serem utilizados pelos mesmos como: a existência de ruas e calçadas muito esburacadas e, sobretudo a falta de prepara dos motoristas e cobradores em operar o transporte acessível. No entanto, esse meio de transporte contribui significativamente para um aumento do fluxo de cadeirantes pela área central da cidade de Teresina, desde que haja uma interação e uma adequação das vias públicas e do transporte para atendê-los. Dessa forma, conclui-se, que o transporte coletivo adaptado contribui para a construção e re/organização de um espaço urbano mais democrático e que possa ser utilizado por todos os membros da sociedade, pois, possibilita que muitos cadeirantes saiam de sua casa e chegue à área em análise para trabalhar, estudar e realizar outras atividades sem tantas dificuldades, principalmente se elas estiverem deslocando-se no Transporte Eficiente, o qual dá maior segurança aos cadeirantes, pois, eles sabem que utilizando esse sérvio, não encontrarão ruas ou calçadas esburacadas que impeça o seu deslocamento porque essa modalidade de transporte deixa-os no local desejado. Assim, os resultados obtidos atendem aos objetivos propostos na pesquisa, porém, apontam a existência de uma acessibilidade frágil, diante dos elementos de acessibilidade existentes e principalmente por causa da qualidade desses elementos espaciais que ainda não satisfazem plenamente as necessidades de deslocamento dos cadeirantes de maneira autônoma e segura pela área de estudo. 4 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbano. ABNT NBR 9050:2004. Brasília, 2006.1 CD-ROM., Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbano. Lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2006.1 CD-ROM. Ministério da Educação. Constituição. Brasil, 1888.

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