TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO TOCANTINS APELAÇÃO CÍVEL N 3713/03 ORIGEM : COMARCA DE WANDERLÂNDIA-TO APELANTE : JOSEFA MARIANO RODRIGUES APELADO : HSBC - SEGUROS (BRASIL) S/A RELATOR : Desembargador MOURA FILHO RELATÓRIO Trata-se de APELAÇÃO CÍVEL, interposta por JOSEFA MARIANO RODRIGUES contra sentença do MM. Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de Wanderlândia-TO, proferida nos autos da AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGUROS N 575/00, movida pela Apelante em desfavor de HSBC - SEGUROS (BRASIL) S/A, ora Apelado. Na sentença recorrida (fls. 70/71), o magistrado a quo, por entender que os acidentes envolvendo ônibus têm tratamento específico e não se enquadra no seguro obrigatório geral, tomando por base a Resolução-CNSP n. 56/2001, que divide os veículos em categorias diversas, sendo os ônibus pertencentes a categoria 3 cujo seguro DPVAT é operado de forma independente por cada sociedade operadora, considerou que a Recorrida-apelada é parte 1 / 6
ilegítima para figurar no pólo passivo da ação, extinguindo o processo, ao final, sem julgamento do mérito. Irresignado com esse decisório, a Apelante dele recorreu (fls. 74/76) alegando, em síntese, que a lei 6.194/74 que trata do seguro obrigatório DPVAT em nenhum dos seus artigos faz qualquer referência sobre essa distinção mencionada pelo juiz singular e também não autoriza o CNSP a dar tratamento diferenciado de acordo com o tipo de veículo. Argumenta que se essas resoluções existem é contra a vontade do legislador ordinário e não tem a força de revogar uma lei ordinária por ser norma de hierarquia inferior. Pugna, ao final, pela reforma da decisão para declarar a Recorrida como parte legítima da ação. Contra-razões às fls. 96/106, nas quais o Apelado defende a manutenção da sentença recorrida. Em cumprimento às disposições ínsitas na Resolução n." 001/2003, publicada no Diário da Justiça n." 1.143, de 25/06/2003, vieram os autos a esta relatoria por redistribuição por sorteio. É o relatório que encaminho à apreciação de meu ilustre Revisor. Palmas-TO, 06 de novembro de 2006. Desembargador MOURA FILHO Relator 2 / 6
VOTO A presente apelação preenche os pressupostos recursais objetivos e subjetivos, motivo por que dela conheço. No caso em tela, conforme relatado, a Recorrente insurge-se contra decisão do juiz de primeiro grau que considerou a Recorrida-apelada parte ilegítima para figurar no pólo passivo da ação, extinguindo o processo, sem julgamento do mérito, por entender que os acidentes envolvendo ônibus têm tratamento específico e não se enquadra no seguro obrigatório geral, conforme Resolução-CNSP n. 56/2001. Convém esclarecer que o caso sob exame cuida de matéria de direito, portanto, aprecio desde logo a lide, pois o processo está maduro, em condições de imediato julgamento, nos moldes do art. 515, 3, do CPC, com nova redação dada pela Lei 10.352, de 26/12/2001. Pois bem. Cumpre examinar o alcance da Resolução que exclui do convênio de seguro obrigatório os veículos de transporte coletivo, ônibus, microônibus e lotação. O ponto fulcral, portanto, é o de que o DPVAT nesses casos não é pagável pelo DUT, mas apenas por bilhete de seguro emitido por seguradora específica. A guisa de esclarecimento, convém ter presente, o teor do art. 7 da Lei n 8.441J92, que altera alguns dispositivos da Lei 6.194/74, que dispõe sobre o DPVAT, e que não faz qualquer restrição por categoria de veículos, verbis: "Art. 7. A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, com seguro não realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazos dos demais casos por um consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. " - grifei. 3 / 6
Ora, o dispositivo supracitado prevê o pagamento da indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada por um consórcio constituído obrigatoriamente por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta Lei. À mão de ilustrar, o Senhor Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, objetivamente, comentou: "O fato de atribuir-se ao Conselho Nacional de Seguros Privados competência para estabelecer normas 'para atender ao pagamento das indenizações previstas neste artigo, bem como a forma de distribuição pelas seguradoras participantes do consórcio', não significa que possa a resolução regulamentar a matéria com a exclusão de certas categorias de veículos. Quisesse o legislador fazer a distinção, de forma a excluir os transportes coletivos, exatamente a maior fonte de acidentes urbanos, teria incluído na lei tal possibilidade. Se assim não fez, não pode ser reconhecida à autoridade administrativa competência para fazê-lo. " Eis a ilustrativa ementa do julgado: STJ - "Seguro obrigatório. DPVAT Acidente provocado por veículo de transporte coletivo. Art. 7 da Lei n 6.194/74 com a redação dada pela Lei n 8.441/92. Resolução da SUSEP. 1. Não prevendo o dispositivo da lei especial de regência a exclusão de determinada categoria de veículos automotores do sistema legal de pagamento de indenização para vítimas de veículo não identificado, com seguradora também não identificada, não pode a resolução fazê-lo. 2. Recurso especial conhecido e provido." (REsp 620178/RJ - Terceira Turma - j. 25/10/2005 - uno ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito DJ 20.02.2006 - p. 332) - grifei. Ademais, de acordo com a jurisprudência dominante do STJ, qualquer seguradora que opera no sistema pode ser acionada para pagar o valor da indenização correspondente ao seguro obrigatório, assegurado o direito de regresso (REsp 401.4UYMG, ReI. Min. Ruy Rosado de 4 / 6
Aguiar, DJ de 100&2002; REsp 602.165AU, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 1310912004; REsp 579.8911SP, ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 0811112004). Assim, a Requerida-apelada (HSBC SEGUROS BRASIL SI A) é parte legítima para figurar no pólo passivo da presente ação. Diante do exposto, conheço do recurso, por presentes os requisitos de sua admissibilidade, e DOU-LHE PROVIMENTO para reformar a sentença recorrida, no sentido de julgar procedente o pedido, condenando a Requerida-apelada, por ser parte legítima a figurar no pólo passivo da presente ação, ao pagamento da indenização do seguro DPVAT, em 40 (quarenta) salários mínimos, vigentes à época do sinistro, corrigidos monetariamente a partir do evento lesivo e juros de mora computados a partir da citação da seguradora, fixo, ainda, os honorários advocatícios em 20% sobre o valor da condenação e demais custas processuais. É o meu voto que submeto à apreciação dos ilustres Desembargadores componentes da 2a Turma Julgadora da 2a Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça. Palmas-TO, 31 de janeiro de 2007. Juiz JOSÉ RIBAMAR MENDES JÚNIOR Relator EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DPVAT ILEGITIMIDADE PASSIVA DE SEGURADORA NÃO CARACTERIZAÇÃO ACIDENTE PROVOCADO POR VEÍCULO DE TRANSPORTE COLETIVO - ART. 7 DA LEI N 6.194/74 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N 8.441192 - RESOLUÇÃO-CNSP. RECURSO PROVIDO. - Segundo jurisprudência dominante do STJ, qualquer seguradora que opera no sistema pode ser acionada para pagar o valor da indenização correspondente ao seguro obrigatório, assegurado o direito de regresso. Logo, a Requerida-apelada (HSBC - SEGUROS BRASIL 5 / 6
S/A) é parte legítima para figurar no pólo passivo da presente ação: 'Não prevendo o dispositivo da lei especial de regência a exclusão de determinada categoria de veículos automotores do sistema legal de pagamento de indenização para vítimas de veículo não identificado, com seguradora também não identificada, não pode a resolução fazê-lo. (REsp 620178IRJ ReI. Min. Carlos Alberto Menezes Direito DJ 20.02.2006 - p. 332)'. ACÓRDÃO Acordam os Desembargadores componentes da 2ª Turma Julgadora da 2a Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, de conformi pde com a Ata de Julgamento, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, por presentes os requisitos de sua admissibilidade e DAR-LHE PROVIMENTO para reformar a sentença recorrida, no sentido de julgar procedente o pedido, condenando a Requerida-apelada, por ser parte legítima a figurar no pólo passivo da presente ação, ao pagamento da indenização do seguro DPVAT, em 40 (quarenta) salários mínimos, vigentes à época do sinistro, corrigidos monetariamente a partir do evento lesivo e juros de mora computados a partir da citação da seguradora, fixando, ainda, os honorários advocatícios em 20% sobre o valor da condenação e demais custas processuais. Votaram, com o Relator, Juiz JOSÉ RIBAMAR MENDES JúNIOR, o Desembargador DANIEL NEGRY, que presidiu a sessão, e o Juiz SÂNDALO BUENO DO NASCIMENTO. Ausência momentânea do Desembargador LUIZ GADOTTI. Compareceu, representando a Douta Procuradoria Geral de Justiça, o Exm". Sr. Dr. MARCO ANTÔNIO ALVES BEZERRA, Procurador da Justiça. Palmas-TO, 31 de janeiro de 2007. 6 / 6