I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Franca, 22 a 24 de setembro de 2014



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Transcrição:

Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira: uma análise em escolas públicas estaduais de ensino fundamental II na cidade de Franca SP na perspectiva da Lei Nº 10.639/2003 Marley de Fátima Morais Borges. Mestranda do curso de Pós-Graduação em Mestrado Profissional. Planejamento e Análise de Políticas Públicas FCHS - Campus de Franca Orientador: Jonas Rafael dos Santos marleyfmborges@yahoo.com.br Resumo Este trabalho busca investigar como está sendo inserido o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira no material didático, do ensino fundamental II, usado na rede pública estadual da cidade de Franca SP; juntamente com a prática docente na disciplina de História a luz da Lei Nº 10.639/2003. Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de vivermos em um ambiente mais humano, sem preconceito, respeitando as diferenças étnicas e culturais. A metodologia utilizada terá como referência a abordagem qualitativa de pesquisa em educação, recorrendo a fontes de informações em livros didáticos, entrevista semi-estruturada e questionário. A base do referencial teórico será de pesquisadores que defendem a reescrita da história afro-brasileira de forma positiva, valorizando a cultura africana. Pretende-se com o resultado da pesquisa, preparar material didático que professores de História possam usufruir para melhor eficácia e eficiência na implementação da Lei Nº 10.639/2003. Palavras- chave: Educação; Questões Étnico- raciais; Material Didático; Lei Nº 10.639/2003. The History and Culture Study of African- Brazilian: a public school analysis in Franca- SP under the perspective of Law 10.639/2003. Abstract This paper investigates how the African-Brazilian History and culture study is being inserted in the didactic material used by middle school students from public schools of

Franca- SP as well as in History classes according to law 10.639/2003. This research justifies because of the need of people to live in a more human environment, without prejudice. Furthermore it will help to make ethnic anal cultural differences be respected. The methodoly will have the qualitative approach as reference to educational researches and also the use of books, interviews and questionnaires. The theoretical base will be the researchers who defend the rewritirig of African- Brazilian history in a positive way. The research results which History teachers may have to upgrade heir classes as well as implement law 10.639/2003. Key: words- educational- ethnic-racial- didactic material. Introdução A relevância deste tema está em considerar a diversidade da formação identitária brasileira, de matriz branca europeia, indígena do nativo e do negro africano e que vem intensificando o interesse de pesquisas nessa área do conhecimento. Observando que, durante centenas de anos, o ensino nacional esteve voltado para atender às necessidades educacionais da população branca e economicamente dominante. Somente nos anos 80 do século passado, com a redemocratização pós Ditadura Militar e as pressões da comunidade negra é que as questões antirracista relacionadas às políticas de igualdade, reconhecimento e alteridade ganham visibilidade. Importante ainda é ressaltar que a institucionalização da Lei 10.639/2003, embora traga em seu bojo a obrigatoriedade dos estudos sobre a cultura africana,é necessário exigir que os currículos escolares e o material didático utilizado, tratem do tema de forma positiva e sem estereótipos. Fatores sobre os quais o historiador Mattos debate, focando a necessidade de haver currículos que privilegiem essa temática e sobre a dificuldade da elaboração em nossa sociedade. Visto que esta possui característica multicultural, em que a supremacia branca ocidental impôs seu legado cultural e que, na maioria das vezes, reproduzimos mesmo que inconscientemente. Viés argumentativo validado por Mattos, ao alegar que: Da importância e necessidade de se considerar, na elaboração dos projetos pedagógicos e currículos escolares, um conjunto de concepções, orientadoras de práticas sociais comum ás populações negras brasileiras que, por suas notórias vinculadas a um passado africano reconstituído no Brasil, convencionou-se nomear valores civilizatórios afro-brasileiros. Procura-se chamar atenção para a historicidade dessas concepções, bem como das práticas nelas fundamentais, como forma deliberada de fazê-las figurarem na esfera das políticas educacionais com efetivas possibilidades de colaboração

com formação escolar, não só respeitadora das diferenças, mas, verdadeiramente, pluricultural. (MATTOS, 2003, p. 229.) Partindo desse pressuposto, é possívelidentificar e analisar as referências bibliográficas utilizadas, no que tange ao estudoda cultura afro-brasileira e das africanidades no ensino fundamental II, na cidade de Franca SP, possibilitando,assim, observar as questões étnico- raciais neste lócus. Além de contribuir para a formação e prática de professores. As investigações serão realizadas a partir de bases teóricas de estudiosos, que defendem a reescrita da história afro-brasileira de forma positiva, valorizando a cultura africana e a participação do negro na construção da identidade nacional. Nessa perspectiva podemos citar alguns especialistas, os quais se embasam o desenvolvimento da pesquisa: Munanga, Dias, Rodrigues, Ferreira Jr, Silvério, Schwarcz, Gomes, Matos e Oliva. Será importante também ressaltar o trabalho de Neves, Calado & Ferreira, Pimentel, Boni & Quaresma,para direcionar o trabalho de campo. É necessário ainda análise e reflexão crítica de documentos como a Lei 10.639/ 2003 e as Propostas Curriculares de Ensino do Estado de São Paulo em especial na área de ciências Humanas e suas Tecnologias. As questões raciais da LDB/1961 a Lei nº 10.639/2003 O povo brasileiro, segundo o IBGE senso de 2010, é constituído em sua maioria por negros. Indivíduos de diferentes etnias africanas, que foram bruscamente separadas de seu universo cultural em seu continente, para serem a partir de 1555, deportadas em terras americanas; aqui permanecendo como escravizados por mais de três séculos afastados de seus costumes, tradições, religiões e idiomas, sendo obrigados a incorporar, os valores civilizatórios europeus. Em uma conjuntura de dominados (índios e negros) e dominador (branco europeu), ao negro não foi permitido à educação formal, trajetória que vem se modificando nas últimas décadas, através da luta de comunidades negras, estudiosos e acadêmicos que defendem educação para todos e de qualidade, pois vê nesse processo uma forma do negro, através do conhecimento, equiparar-se ao não negro, nas

oportunidades iguais de trabalho e nos vários segmentos sociais. Nesse aspecto a lei nº 10.639/03 constitui-se em importante passo institucional de reconstrução da trajetória do afrodescendente, propondo uma reescrita historiográfica da contribuição do negro, na constituição da identidade do povo brasileiro de forma positiva, permitindo revermos conceitos, até então estabelecidos, sobre a lógica do colonizador europeu, e reconstruir novos paradigmas, resignificando e valorizando a diversidade cultural aqui existente. Reconhecendo a importância da lei nº 10.639/03 e das ações desencadeadas nos últimos anos, que se baseiam em pressupostos democráticos, analisaremos estudos, realizados pelos teóricos: Kabemgele Munanga, Lucimar Rosa Dias e Tatiane Cosentino Rodrigues. Munanga (2001) faz uma análise das condições afro-brasileiras na atualidade, realizando um comparativo entre o negro e o branco nos domínios: da renda, da representação política, das condições de saúde, das oportunidades educacionais, de lazer, cultural etc. Em que o negro ocupa, na maioria das vezes, cargos inferiores na hierarquia social; quadro este de desigualdade, que não é constituído apenas pela herança de um passado escravista, mas continuam sendo perpetuado no tecido social desigual de oportunidades, no qual, negros e não negros estão submetidos no presente. Ainda segundo Munanga (2001) sobre a escravidão no Brasil, pode-se ressaltar um discurso cheio de estereótipos e preconceitos que sempre estiveram aliados a uma relação de poder, entre dominante e dominado, em que o colonizador, justifica todas as atrocidades cometidas contra os povos africanos, com chamada Missão Civilizatória, ou seja, converter o negro aos valores europeus; pois se pensava os africanos como: degenerados, desvirtuados, de natureza pecaminosa, resistentes aos ensinamentos cristãos, assim a escravização seria a única possibilidade de salvação desses povos. Assim afirmando este autor: A desvalorização e a alienação do negro estendem-se a tudo que toca a ele: o continente, os países, as instituições, o corpo, a mente, a língua, a música, a arte, etc. Seu continente é quente demais, de clima viciado, malcheiroso, de geografia tão desesperada que o condena à pobreza e à eterna dependência. O negro é uma degeneração devido à temperatura excessivamente quente. (MUNANGA, 2001, p.21)

Essa herança social está arraigada ao cotidiano da sociedade brasileira e ao ambiente escolar, embora não seja o único, constitui um lócus privilegiado, no qual se aprende e compartilha: saberes, valores, crenças e costumes, desconstruindo e reconstruindo novos valores. Portanto, lugar capaz de articular e reescrever a história do negro de forma positiva. Pensando nas conquistas educacionais de forma progressiva, no que se refere à inclusão do negro no ensino formal a lei nº 5.540/68 e a lei nº 5.692/71, não trouxeram transformações, mantendo os textos anteriores, ou seja, a condenação ao preconceito de raça que aparecia na lei 4.024/61. Já o processo de elaboração da lei nº 9.394/96, ocorre de maneira muito intensa em suas discussões; com grande movimentação civil, pertinente ao período de redemocratização. Esse momento é marcado também por dois importantes acontecimentos que encabeça reflexões sobre as questões raciais: o Centenário da Abolição em 1988 e os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares; estedando origem ao documento Zumbi, Tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, defendendo políticas antirracistas, as chamadas ações afirmativas, com prioridade para educação. Neste mesmo ano 1995, acontece a Marcha Zumbi dos Palmares, que reúne cerca de mil negros. Dias considera que a LDB 9.394/96, apresenta conquistas importantes, quando traz no artigo 26, parágrafo 4º, que o ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente as de matriz indígena, africana e européia. (p.57). Porém são com os desdobramentos da lei e o passar dos anos, que estão se efetivando, reivindicações da comunidade negra e de intelectuais engajados na luta por políticas antirracistas. Conquistas que se fazeram sentir através da elaboração de leis e ações governamentais como: a publicação dos PCNs, que incluem o volume Pluralidade Cultural, o qual a diversidade racial no Brasil é vista de forma positiva; e mais recente a lei 10.639/03, sancionada pelo presidente Lula, que altera a lei nº 9.394/96, nos artigos 26 e 79, tornando obrigatória a inclusão no currículo oficial do ensino a temática História e Cultura Afro-brasileira, como podemos constatar: 1º - O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,

resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. 2º - Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. A lei também estabelece que o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia nacional da Consciência Negra. Em 10/3/2004, também é aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional da Educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Pode-se concluir que as questões relacionadas à raça e à inclusão do negro nas escolas públicas, só estão ocorrendo diante de fortes pressões do movimento negro e de acadêmicos engajados que, nas últimas décadas, vêm lutando para que ações públicas ocorram, como forma de equiparar direitos iguais entre negros e não negros no Brasil. A Lei nº 10.639/2003 e seus desdobramentos Rodrigues (2005) realiza uma interessante abordagem referente à lei nº 10639/03, como parte do desdobramento das intensas discussões da sociedade civil brasileira, que acontece sobre as lideranças de ativistas do movimento negro e acadêmicos engajados, com as questões ético-raciais. Segundo a pesquisadora, os debates em torno desta temática intensificaram-se no início de 2.000, devido ao processo de preparação para a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerância Correlata, que ocorreu em Dubai África do Sul em 2001. A preparação do Brasil para participar da conferência em Durban, desempenhou importante papel no sentido de eliminar a discriminação contra mulheres e minorias étnicas, objetivando equiparar brancos e negros para participarem da sociedade com igualdade de oportunidades; pois neste momento o governo brasileiro assume publicamente, pela primeira vez, a existência da discriminação racial no Brasil, afirmando por tanto, a necessidade de se buscarem justas compensações para os afrodescendentes. A atuação de autoridades governamentais ficou visível no empenho e

esforço de recursos do Itamaraty para que acontecesse a participação brasileira no evento. O Brasil se fez presente na Conferência de Durban com uma grande delegação: o movimento negro enviou cerca de 200 ativistas, a delegação do governo marcou presença com 50 pessoas, incluindo representantes do governo e da sociedade civil, ressaltando ainda que foi escolhida a brasileira Edna Roland, ativista do movimento negro para ser a relatora geral da Conferência. Após a Conferência de Durban, no Brasil ocorreu considerávelempenho do governo em propor ações com princípios de igualdade, inclusive racial, com foco nos direitos humanos. Entre as ações governamentais, ligadas à educação podemos citar: reserva de vagas nas universidades públicas, para alunos pretos e pardos, programas de ampliação, acesso e permanência do negro no ensino superior, com programas de bolsas, e a promulgação da lei nº 10.639/03, que foi amplamente saudada pela comunidade negra. A promulgação dessa lei foi ao encontro das antigas reivindicações do movimento negro, e já havia sido apresentada pela deputada Benedita da Silva, no momento de elaboração da atual LDB. A educação brasileira da Constituição de 1988 a lei nº 10.639/2003 A educação nacional brasileira, por vários séculos, foi conduzida e tratada de forma homogênea, que sobre o manto da chamada democracia racial de povo mestiço e igual, toda diversidade nacional fora encoberta e a única diferença percebida era a econômica. Nesta conjuntura diferenças de raça, gênero e orientação sexual, só passaram a ser discutidas de formas contundentes no final da década de 80 do século passado, a partir da rearticulação dos movimentos sociais, em sua maioria de caráter identitários como, por exemplo, o movimento negro. Oensino universalista adotado no Brasil não leva em consideração a diversidade da constituição do povo brasileiro razão pela qual énecessário uma nova proposta educacional, com olhar que passa pela lógica da diversidade que constitui a nação brasileira; pois todo processo de ensino aqui existente até por volta de 1980 fundamentava-se em um modelo educacional universalista, pautado na hegemonia

europeia de dominação: masculina, branca, heterossexual e ocidental, em que não se levava em consideração, a cultura e os valores indígenas e africanos que, juntamente com a cultura europeia, contribuirão para a formação identitária brasileira. Diante de questões sérias e urgentes, em que educação é sinônimo de desenvolvimento, institucionalizam-se no Brasil, importantes leis como: a Constituição Federal de 1988, de caráter democrático e igualitário, e a Lei 10.639/03, que alterou a LDB/96 e que torna obrigatória a reconstrução curricular, institucionalizando estudos afros nas escolas; o que vem permitir, reconstruir a história do povo brasileiro a partir de uma nova historiografia, de reparação de uma injustiça histórica cometida anos a fios com o afro-brasileiro utilizando a justificativa da democracia racial, como afirma MOYA & Silvério. É apenas com a aprovação da Lei 10.639 em 2003 que a LDB é alterada e passa a incorporar a diferença, ou seja, após quatro anos de aprovação da LDB é possível se pensar em uma lei que parte do reconhecimento da diferença e de sua afirmação e valorização no cotidiano escolar.(moya & SILVERIO, 2010, p.58). Ao analisar a implementação destas leis citadas no parágrafo anterior, é importante pensar que a educação básica no Brasil, enquanto um direito social de todos os cidadãos brasileiros é algo bem recente se pensando na História educacionalbrasileira, que durante centenas de anos foi voltada para uma minoria branca e economicamente elitizada; pois somente com Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, estas conquistas foram efetivadas. A existência das leis que amparam a educação no Brasil, não é sinônimo de eficácia, pois segundo LUIS; SILVA; PINHEIRO(2011) pode-se constatar nas várias regiões da federação um considerável índice de analfabetismo, caracterizando que o Estado não tem cumprido em sua totalidade, com o que reza a Constituição Federal de 1988, de que é dever do Estado: oferta obrigatória e gratuita do ensino fundamental, da educação infantil para crianças de até cinco anos de idade e oferta de ensino noturno regular. Salientando que a educação básica consiste na: Educação Infantil, Ensino Fundamental, e Ensino Médio; ensino estes que devem ser oferecidos a todos

brasileiros, através de um regime de colaboração entre a União, os Estados, O Distrito Federal e os Municípios. Em observação as leis que garantem educação para todos, os governantes brasileiros, implementam políticas públicas educacionais, com objetivo de suprir as carências nesta área. Todavia os governantes são de caráter instável, ou seja, governam por tempo determinado, provocando muitas vezes a descontinuidade das políticas públicas, constituindo o chamado movimento de pêndulo, que em alguns casos atravancam o processo de reforma educacional. Pensando as políticas educacionais no âmbito social, é necessário que as mesmas busquem a redução das desigualdades, promovendo a equidade e a justiça, através de políticas permanentes que perpassam o termino de cada governo, como: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei nº 10639/2003, o Plano Nacional de Educação (PNE), entre outras. Na tentativa de que haja no Brasil, um ensino público e de qualidade para todos, algumas políticas públicas vem sendo implantadas em todo pais, como as inclusivas que através do FNDE ( Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) que considera os índices do IDEB, vem executando programas como: alimentação escolar, biblioteca na escola, formação pela escola, livro didático, livros em Braille, plano de ações articuladas e proinfância. É importante refletirmos ainda, que as políticas públicas educacionais são ações do Estado, para fazer cumprir as leis, e que são direitos de todos os cidadãos brasileiros, e não serem vistas como ajuda, de caráter paternalista, e sim que as concebemos através de lutas e reivindicações populares que deu origem as suas institucionalizações. Considerações finais Pode-se observar por meio de analise bibliográfica, realizada com pesquisadores já citados no texto, que a formulação e implementação de Políticas Públicas que privilegie as questões referentes aos estudos da cultura negra e africanidades na Educação Básica,na prática não garantem a efetividade e a eficácia desta temática. Pois

a literatura pesquisada nos indica que a históriabrasileira precisa ser reescrita em sintonia com as demandas de um povo que vem buscando redesenhar a memoria identitária nacional, na expectativa de valorizar a trajetória africana e sua cultura enquanto contribuição na formação da nação brasileira. Sendo importante a realização de pesquisas, avaliações e se necessário intervenções que auxiliem na prática os educadores, enquanto atores no processo de implementação da Lei Nº 10.639/2003.

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