Registro: 2017.0000325596 TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000, da Comarca de, em que é autor PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA, são réus PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO MANUEL e PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO MANUEL. ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "JULGARAM A AÇÃO PROCEDENTE. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO DIMAS MASCARETTI (Presidente), ARANTES THEODORO, TRISTÃO RIBEIRO, BORELLI THOMAZ, JOÃO NEGRINI FILHO, SÉRGIO RUI, SALLES ROSSI, RICARDO ANAFE, ALVARO PASSOS, AMORIM CANTUÁRIA, BERETTA DA SILVEIRA, ADEMIR BENEDITO, PEREIRA CALÇAS, XAVIER DE AQUINO, ANTONIO CARLOS MALHEIROS, MOACIR PERES, FERREIRA RODRIGUES, PÉRICLES PIZA, MÁRCIO BARTOLI, JOÃO CARLOS SALETTI, FRANCISCO CASCONI, RENATO SARTORELLI E CARLOS BUENO., 10 de maio de 2017 FERRAZ DE ARRUDA RELATOR Assinatura Eletrônica fls. 320
Direta de Inconstitucionalidade: 2011727-29.2017.8.26.0000 Autor: Réus: Procurador Geral de Justiça do Estado de Presidente da Câmara Municipal de São Manoel e Prefeito Municipal de São Manoel VOTO Nº 36.275 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2º DO ART. 42 E O ART. 43 E, DA LEI Nº 3.881, DE 7 DE OUTUBRO DE 2015, DO MUNICÍPIO DE SÃO MANOEL QUE DISPÕE SOBRE A CONCESSÃO DE APOSENTADORIA DE QUE TRATA O 4º DO ART. 40 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NO ÂMBITO DO REGIME PRÓPRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL PARA AS CATEGORIAS QUE ESPECIFICA REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 797.905/SE QUE DECIDIU QUE A MATÉRIA DEVE SER REGULAMENTADA UNIFORMEMENTE, EM NORMA DE CARÁTER NACIONAL REPERCUSSÃO GERAL QUE GERA EFEITO VINCULANTE À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - NÃO SE TRATA DE MATÉRIA DE INTERESSE LOCAL, POIS MERECE TRATAMENTO UNITÁRIO A FIM DE EVITAR QUE SISTEMÁTICAS LOCAIS POSSAM CRIAR UNIVERSOS DISTINTOS PARA UMA MESMA CLASSE DE SERVIDORES AÇÃO PROCEDENTE Cuida-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador Geral de Justiça contra o 2º do art. 42 e o art. 43 e, da Lei nº 3.881, de 7 de outubro de 2015, do município de São Manoel que dispõe sobre a concessão de aposentadoria de que trata o 4º do art. 40 da Constituição Federal no âmbito do regime próprio da previdência social para as categorias que especifica. Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 2/7 fls. 321
O autor alega que os dispositivos legais impugnados são incompatíveis com o art. 126 caput e 4º, da Constituição Estadual. Sustenta ser indispensável a edição de lei complementar federal à luz da competência prevista no art. 24, XII, da CF e que não há autorização para que o município legisle sobre a matéria. ação. Foi concedida a liminar (págs. 265/266). O douto Procurador Geral do Estado se absteve da defesa. Foram prestadas as informações. A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pela procedência da É o relatório. Eis o teor da norma impugnada: (...) Art. 42 - É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos segurados do RPPS de São Manuel, ressalvados os casos de servidores portadores de deficiência, os que exerçam atividades de risco ou cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidos em Leis Complementares federais. (...) 2º - Para os demais servidores, enquanto não for definida Lei Complementar Federal de que trata o 4º do artigo 40 da Constituição Federal, o IPREM-SM somente poderá analisar a Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 3/7 fls. 322
concessão das aposentadorias especiais mediante ordem judicial, respeitadas as regras definidas em norma do Ministério da Previdência Social. Art. 43 - A aposentadoria especial de que trata o artigo 40, 4º, inciso III da Constituição Federal será devida ao servidor que comprovar 25 (vinte e cinco) anos de atividade permanente sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, com exposição a agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos. 1º - Considera-se atividade permanente aquela exercida de forma não ocasional, nem intermitente, na qual a exposição do servidor ao agente nocivo seja indissociável da prestação do serviço público. 2º - A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerão ao disposto na legislação em vigor na época do exercício das atribuições do servidor público, tendo como referência o disposto na Instrução Normativa MPS/SPS nº 1, de 22 de julho de 2010 ou norma que venha a substituí-la. 3º - Não cabe ao IPREM-SM o reconhecimento de tempo especial sem contribuição previdenciária ou com contribuição a outro regime previdenciário, mesmo que a atividade tenha sido exercida no Município de São Manuel, devendo, para fins de contagem recíproca, ser apresentada a respectiva certidão com reconhecimento do tempo especial, nos termos da Portaria MPS n.º 154/08. 4º - O servidor aposentado na forma prevista neste artigo não poderá retornar ou continuar a exercer qualquer atividade, seja pública ou privada, sob condições prejudiciais à saúde ou à Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 4/7 fls. 323
integridade física, sob pena de cassação do benefício. 5º. Exigir-se-á, para a concessão de aposentadoria especial, que todo o tempo tenha sido exercido sob condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física, não se admitindo a conversão em tempo de contribuição comum para qualquer efeito. 6º - Os proventos da aposentadoria concedida nos termos desta Seção serão integrais, calculados na forma prevista no artigo 80 desta Lei, aplicando-se o critério de reajuste de que trata o artigo 104. Afirma o douto Procurador Geral de Justiça que é indispensável a edição de lei complementar pela União estabelecendo norma geral de caráter nacional, à luz da competência arrolada no art. 24, XII, da Constituição Federal, sequer se autorizando o exercício da competência legislativa plena pelos entes subnacionais nessa matéria. Alega que não há motivos que justificariam a competência legislativa municipal, haja vista que a disciplina de regras diferenciadas para aposentadoria para servidores que exerçam atividade de risco têm relevância além dos limites do Município, pois representa interesse nacional. Portanto, o legislador municipal extrapolou sua competência. Não obstante que grande parte do texto da norma impugnada seja reprodução de texto da Constituição Federal ou do Decreto Federal nº 3.048/1999, assiste razão ao autor porque não cabe ao município legislar a respeito. O Supremo Tribunal Federal no julgamento da Repercussão Geral no Recurso Extraordinário nº 797.905/SE, definiu a competência da União para Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 5/7 fls. 324
editar as leis complementares de que trata o 4º do art. 40 da Constituição Federal, bem como a legitimidade passiva do Presidente da República para os respectivos mandados de injunção, inclusive quando impetrados por servidores estaduais, distritais ou municipais. Confira-se: Sobre o tema, esta Corte assentou que, apesar de a competência legislativa ser concorrente, a matéria deve ser regulamentada uniformemente, em norma de caráter nacional, de iniciativa do Presidente da República. Destarte, ao afastar a legitimidade passiva ad causam dos Governadores e Prefeitos, extrai-se que os entes subnacionais, não poderão valer-se da competência legislativa plena para regular a matéria. Acrescente-se, ainda, que ao afirmar que a matéria deve ser regulamentada uniformemente, em norma de caráter nacional, a alegação de que se trata de matéria de interesse local não se sustenta. Trata-se, pois, de matéria que merece tratamento unitário a fim de evitar que sistemáticas locais possam criar universos distintos para uma mesma classe de servidores. Com efeito, a decisão proferida em sede de repercussão geral gera efeito vinculante em relação à Administração Pública, devendo, pois, ser observada. Oportuno observar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do AgrR RE nº 628.318/DF, a Segunda Turma, sob a Relatoria do Min Celso de Mello deixou assentado que: (...) o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 6/7 fls. 325
MI 1.832-AgR/DF, Rel. Min Carmem Lúcia, firmou o entendimento de que a colmatação da omissão normativa em causa, considerada a natureza da matéria a ser regulamentada (regime de aposentadoria especial), compete, exclusivamente, a instituições estruturadas no âmbito da União Federal (a Presidência da República e o Congresso Nacional). A mesma questão já foi enfrentada por este Colendo Órgão Especial no julgamento da ADI nº 2131973-25.2015.8.26.0000, sob a Relatoria do Des. Borelli Thomaz, ocorrido em 11/11/2015 : AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR 309, DE 18 DE SETEMBRO DE 2013, DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA, A INSERIR O ARTIGO 97-A NA LEI COMPLEMENTAR 141, DE 22 DE JUNHO DE 2007. DISPOSIÇÕES SOBRE CRITÉRIOS DIFERENCIADOS PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA AOS GUARDAS CIVIS MUNICIPAIS. DESCABIMENTO. COMPETÊNCIA NORMATIVA PELO MUNICÍPIO EXTRAVASADA. INCONSTITUCIONALIDADE. DESRESPEITO AOS ARTIGOS 126 E 144 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO. AÇÃO PROCEDENTE. Por todo o exposto, julgo procedente a ação. FERRAZ DE ARRUDA Desembargador Relator Direta de Inconstitucionalidade nº 2011727-29.2017.8.26.0000 - - VOTO Nº 7/7 fls. 326