Características dos direitos reais (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2017, p ).

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Transcrição:

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 1 / 9 DA POSSE E SUA CLASSIFICAÇÃO P A R T E E S P E C I A L LIVRO III DO DIREITO DAS COISAS TÍTULO I DA POSSE CAPÍTULO I DA POSSE E SUA CLASSIFICAÇÃO Art. 1.196... 1.203 Conceitos: Direitos Reais, Características dos direitos reais, Obrigação proper rem, Coisas apropriáveis, Posse direta, Posse indireta, Posse clandestina, Posse precária, Detenção, Turbação Para correto compreensão do conceito de posse no direito das coisas, mister se faz entender o contexto em que adquire maior relevância. Para tanto, a conceituação dos direitos reais é necessária. Direitos Reais Os Direitos Reais são direitos sobre coisas, em contraposição aos Direitos Pessoais, representados pelas Obrigações e pelos Contratos, e que se caracterizam pelo fato de uma pessoa (o credor) poder exigir determinado comportamento de outra (o devedor). Direitos sobre coisas significam que estes incidem sobre a coisa independente da pessoa que os detenha, de forma que o titular do direito real pode perseguir essa coisa independentemente da pessoa sob a qual se encontre em poder. Características dos direitos reais (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2017, p. 30-32). 1. Aderência ou Especialização: o vínculo (relação direta e imediata) estabelecido é entre o sujeito e a coisa, com total exclusão de terceiros nesse vínculo. 2. Absolutismo: os direitos reais são erga omnes, pois opostos a todos e quaisquer interesses de terceiros, 3. Publicidade ou visibilidade: Os direitos reais devem ser tornados públicos, de modo que seus titulares sejam reconhecidos como os únicos detentores de direitos sobre a coisa. Assim, do imóvel se exige o registro no cartório competente e dos móveis a tradição devidamente comprovada. 4. Taxatividade ou numerus clausus: os direitos reais são criados pelo direito positivo de modo expresso. Obrigação Proper Rem A obrigação proper rem é aquela que recai sobre o sujeito proprietário da coisa caracterizada por direito real. Por exemplo, sobre o proprietário de um imóvel recai a obrigação de pagar IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). A obrigação está intimamente conectada à coisa, mas cabe ao seu proprietário prestá-la. Coisas apropriáveis Coisas apropriáveis são as que podem ser objeto de propriedade. Para o Direito, interessam somente as

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 2 / 9 coisas que apresentam valor econômico. Entretanto, a coisa pública não é apropriável, como determina o Código Civil: Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Entretanto, antes de serem propriedade de alguém, as coisas apropriáveis podem estar sob posse [poder] de quem não é proprietário. Essa posse caracteriza uma situação de fato, que pode coincidir com uma situação de direito (propriedade). Posse Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade [fruição, gozo e disposição] Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Teorias sobre a posse (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2017, p. 49, ). Teoria Subjetiva da Posse de Savigny A posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos: o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa, e o animus, elemento subjetivo que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e de defendê-la contra a intervenção de outrem. Não é propriamente a convicção de ser dono (...), mas a vontade de tê-la como sua (...), de exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular. Pela teoria subjetiva, a locação é caracterizada como detenção, por faltar ao locatário o animus (vontade) de ser dono da coisa. Teoria Objetiva da Posse de Ihering A teoria objetiva da posse considera o animus como elemento integrante do corpus e, por isso, Para caracterização da posse basta a exteriorização da ação correspondente à de como se proprietário fosse. Assim, a conduta do dono pode ser deduzida sem necessidade de verificação de seus requisitos. Posse versus Detenção Posse: conduta do sujeito em relação à coisa como se dono dela fosse. Detenção: conduta do sujeito em relação à coisa a demonstrar que age em nome ou com permissão do proprietário. As situações caracterizadas como detenção estão contidas em textos legais. Exemplo encontra-se no artigo 1.198 do Código Civil. No esbulho, enquanto permanecer a violência, não haverá posse, mas mera detenção da coisa. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

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Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 4 / 9 Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária [enquanto prevalecer o emprego da violência não ocorrerá posse da coisa, mas detenção]. Posse Clandestina e Posse Precária Posse clandestina: posse adquirida sem conhecimento do legítimo possuidor. Posse precária: posse adquirida em razão do abuso de confiança. Em ambas situações, o possuidor direto nega a restituição da coisa e age como se dono fosse. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Turbação: Prejuízo, mediante violência, à que o possuidor exerça o direito de posse sobre a coisa, como a invasão parcial de imóvel ou impedimento de acesso a este. A ação adequada para sanar a turbação é a Ação de Manutenção de Posse (artigo 560 e seguintes do Novo Código de Processo Civil): Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho. Art. 561. Incumbe ao autor provar: (...) IV a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração. Esbulho: Impedimento total (perda) à que o proprietário exerça o direito de posse sobre a coisa, como a invasão de imóvel. A ação adequada para sanar o esbulho é a Ação de Reintegração de Posse (artigo 560 e seguintes do Novo Código de Processo Civil): Exercício Prático Considere o seguinte recurso, reproduzida do Tribunal de Justiça do Paraná (importante: os artigos referidos no acórdão se referem ao código civil de 1916. No entanto, a importância e clareza dos conceitos nele contidos se mantém). Obs. As explicações das expressões em latim inseridas entre "[]" não constam no original. APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. INOCORRÊNCIA. POSSE PRECÁRIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 5 / 9 1) A precariedade impede que a posse adquira status de juridicidade, não permitindo, por consequência, a aquisição da propriedade pela usucapião. 2) Os atos de mera permissão ou tolerância não induzem direitos possessórios (art. 497 do CC). VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n.º 0188220-0, de MAMBORÊ, em que figuram como Apelantes Valter Balieiro Valezi e Iraci Zanin Valezi e Apelados Maria Caldeira Castelo, Maria da Natividade Kailer e Luiz Marques Caldeira. Inconformados com a r. sentença proferida às fls. 127 a 130, que julgou improcedente o pedido de usucapião extraordinária, Valter Balieiro Valezi e Iraci Zanin Valezi interpuseram recurso de apelação, pleiteando a reforma integral da decisão prolatada pelo Juízo a quo, para acolhimento da pretensão inicial, no sentido de conferir o domínio definitivo aos apelantes (fls. 132 a 136). Nas contrarrazões do recurso, a insigne curadora nomeada pede pelo provimento do recurso, vez que os autores/apelantes provaram posse mansa, pacífica e ininterrupta (fls. 141 a 144). Manifestação do Ministério Público às fls. 149 a 152, pugnando pela improcedência da apelação, em razão do não preenchimento dos requisitos legais para o reconhecimento da usucapião. A douta Procuradoria Geral de Justiça exara parecer também pelo improvimento do recurso (fls. 161 a 164). Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso. Para a aquisição da propriedade através da usucapião extraordinária, mister se faz o concurso de alguns requisitos, que são: a) posse justa, mansa, pacífica e ininterrupta; b) prazo prescricional de 20 anos; e c) animus domini [intenção de agir como se dono fosse]. No caso em reexame, não nos parece possível reconhecer a prescrição aquisitiva a favor dos apelantes, em razão do não preenchimento dos referidos requisitos, senão vejamos. A demanda intentada pelos autores fundamentou-se inicialmente em contrato particular de empreitada agrícola (fl. 08), que teria outorgado-lhes direitos possessórios sobre o bem usucapiendo. Ocorre que, referido contrato não induz nenhum direito de posse sobre o bem, ex vi do artigo 497 do Código Civil, que estabelece não induzirem posse os atos de mera permissão ou tolerância. Assim, apesar de possuírem materialmente a coisa empreitada, ou seja, apesar de terem a detenção do bem, não têm posse ad usucapionem [com vista ao usucapião]. Os apelantes, ao exercerem sobre o bem poderes inerentes ao domínio, não exercem posse em nome próprio, mas tão-somente refletem em seus atos a posse do proprietário, bem assim o ânimo de dono, que a este e não àqueles pertence. Vislumbra-se, ainda, do que foi exposto, o caráter injusto da posse dos apelantes, uma vez que eivada do vício da precariedade (art. 489 do CC/1916). Celebrado para findar em 30 de setembro de 1.981, a partir dessa data a posse dos mesmos deixou de ser jurídica, tornandose, doravante, precária. Tal vício inquina a posse impedindo que esta gere qualquer efeito jurídico. Ademais, a precariedade nunca cessa, posto que a obrigação de devolver a coisa recebida jamais se extingue, de modo que a posse viciada em tempo algum convalesce. Assim, restaram não preenchidos dois requisitos da usucapião extraordinária; a posse justa e o animus domini, em razão de sua flagrante precariedade, que constitui mácula insanável. Assim tem entendido este Tribunal. AÇÃO DE USUCAPIÃO. POSSE PRECÁRIA. OCUPAÇÃO DO IMÓVEL COMO MERA LIBERALIDADE DO PROPRIETÁRIO. AUSÊNCIA DE ANIMUS DOMINI. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 6 / 9 1. A POSSE DECORRENTE DA OCUPAÇÃO DO IMÓVEL, POR MERA LIBERALIDADE DO PROPRIETÁRIO, É CLANDESTINA E PRECÁRIA, NÃO ENSEJANDO A PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. 2. A USUCAPIÃO NA FORMA EXTRAORDINÁRIA SOMENTE SE CONSUMA COM A POSSE MANSA E PACIFICA, COM ANIMUS DOMINI, EXERCIDA DURANTE VINTE ANOS. 3. SE NA FIXAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA, FOI LEVADO EM CONTA OS REQUISITOS DO ARTIGO 20, 3 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E O MAGISTRADO FIXOU NO BASE NO BOM SENSO, NÃO HÁ COMO SE MAJORÁ-LA. APELAÇÃO 1 E 2 DESPROVIDAS. (TA/PR - APELAÇÃO CÍVEL - 165490400 - CURITIBA - JUIZ CONV. JUCIMAR NOVOCHADLO - SEXTA CÂMARA CÍVEL - Julg: 12/02/01 - Ac.: 11263 - Public.: 09/03/01). USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO - POSSE PRECÁRIA - ATOS DE PERMISSÃO. ANIMO DE DONO - INEXISTÊNCIA - RECURSO PROVIDO. 1. NA AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO DEVE-SE PROVAR A POSSE, O ANIMO DE DONO E O LAPSO DE TEMPO. 2. NOS CASOS DE POSSE PRECÁRIA DECORRENTE DE MERA PERMISSÃO (ART. 497 CC), INEXISTE ANIMO DE DONO. 3. SE FALTA UM DOS REQUISITOS ESSENCIAIS DO USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO, O PEDIDO DEVE SER JULGADO IMPROCEDENTE. (TA/PR - APELAÇÃO CÍVEL - 0044173600 - CURITIBA - JUIZ CARLOS HOFFMANN - SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - Julg: 09/03/92 - Ac.: 1378 - Public.: 27/03/92). Por outro lado, argumentam que o pai de um dos autores/apelantes, o Sr. Elizeu Valeis, teria comprado o imóvel usucapiendo em data de 10 de novembro de 1.954, conforme declaração de fls. 75, e que este teria transferido o bem aos usucapientes. Ocorre que, tal transferência, para ter validade, deveria ser precedida do consentimento tanto do cônjuge do Sr. Elizeu como dos demais filhos, fato não ocorrido. Acresce notar, ainda, a ausência de atos notariais correspondentes. Destarte, a favor dos autores/apelantes, não ocorreu a aquisição do domínio pela usucapião, em nenhuma de suas modalidades, quer a ordinária, por ausência de título hábil, quer a extraordinária, por inexistência de posse justa e animus domini. Com base no exposto, voto pelo não provimento da apelação. ACORDAM os Juízes integrantes da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. O julgamento foi presidido pelo Juiz Relator, e dele participaram os Senhores Juízes Sérgio Luiz Patitucci e Luís Espíndola. Desenvolva as seguintes atividades tendo por objetivo o desenvolvimento da experiência jurídica: 1) Identifique o fato e o fundamento jurídico contido no acórdão. 2) Pela leitura do acórdão, aponte o pedido imediato e o mediato. 3) Pela leitura do acórdão é possível apontar provável ato de má-fé pelas partes? Justifique. 4) O quê é "posse precária"? 5) O quê é "posse clandestina"? 6) Represente esquematicamente o acórdão empregando o diagrama de Ishikawa.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 7 / 9 Questões extraídas de concursos públicos (data do acesso: 07/03/2017). A reprodução das questões segue a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998), em especial os incisos III e VIII do artigo 46: "Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: (...) III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; (...) VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores." Concurso: XIX Exame de Ordem Unificado - Aplicado em São Paulo Ano: 2015 Caderno: Tipo 01 Branco Questão: 40 Aplicação: FGV Projetos Disponível em: https://fgvprojetos.s3.amazonaws.com/615/15032015183319_caderno_tipo_1_xvi_exame.pdf Mediante o emprego de violência, Mélvio esbulhou a posse da Fazenda Vila Feliz. A vítima do esbulho, Cassandra, ajuizou ação de reintegração de posse em face de Mélvio após um ano e meio, o que impediu a concessão de medida liminar em seu favor. Passados dois anos desde a invasão, Mélvio teve que trocar o telhado da casa situada na fazenda, pois estava danificado. Passados cinco anos desde a referida obra, a ação de reintegração de posse transitou em julgado e, na ocasião, o telhado colocado por Mélvio já se encontrava severamente danificado. Diante de sua derrota, Mélvio argumentou que faria jus ao direito de retenção pelas benfeitorias erigidas, exigindo que Cassandra o reembolsasse. A respeito do pleito de Mélvio, assinale a afirmativa correta (A justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) Mélvio não faz jus ao direito de retenção por benfeitorias, pois sua posse é de má-fé e as benfeitorias, ainda que necessárias, não devem ser indenizadas, porque não mais existiam quando a ação de reintegração de posse transitou em julgado. B) Mélvio é possuidor de boa-fé, fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias e devendo ser indenizado por Cassandra com base no valor delas. C) Mélvio é possuidor de má-fé, não fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias, mas deve ser indenizado por Cassandra com base no valor delas. D) Mélvio é possuidor de má-fé, fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias e devendo ser indenizado pelo valor atual delas. Concurso: Ministério Público do Estado do Acre Ano: 2014 Caderno: Único Questão: 5 Aplicação: CESPE/UnB

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 8 / 9 Disponível em: http://www.cespe.unb.br/concursos/mpe_ac_13/arquivos/mpeac14_001_01.pdf Com base no que dispõe o Código Civil sobre posse, assinale a opção correta (A justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) Caracteriza-se como clandestina a posse adquirida via processo de ocultamento em relação àquele contra quem é praticado o apossamento, embora possa ser ele público para os demais. Por tal razão, a clandestinidade da posse é considerada defeito relativo. B) Na posse precária, o vício se inicia no momento em que o possuidor recebe a coisa com a obrigação de restituí-la ao proprietário ou ao possuidor legítimo. C) A ocupação de área pública, mesmo quando irregular, pode ser reconhecida como posse, podendo-se admitir desta o surgimento dos direitos de retenção e de indenização pelas acessões realizadas. D) É possível reconhecer a posse a quem não possa ser proprietário ou não possa gozar dos poderes inerentes à propriedade. E) É injusta a posse violenta, por meio da qual o usurpado seja obrigado a entregar a coisa para não ver concretizado o mal prometido, incluindo-se entre os atos de violência que tornam a posse injusta o temor reverencial e o exercício regular de um direito. Concurso: Edital 003/2015 Procurador Municipal Prefeitura de Trindade GO Ano: 2016 Caderno: Prova Objetiva Questão: 13 Aplicação: Funrio Disponível em: https://www.concursosfunrio.org.br/uploads/47/concursos/5/anexos/a4aecb8e20cb71085e66a4efdf09df72.pdf Em relação aos efeitos e à perda da posse, é INCORRETA a seguinte afirmativa (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica): A) A posse, diante da funcionalização dos institutos jurídicos, deve exercer uma função social. B) Ainda que o possuidor não tenha presenciado o esbulho, caso a coisa tenha sido tomada por terceiro, considera-se perdida a posse. C) O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. D) Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. E) A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Concurso: Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso Analista (Advogado) Ano: 2015 Caderno: Tipo 01 Branco

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 9 / 9 Questão: 54 Aplicação: FGV Projetos Disponível em: http://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/concursos/dpmt/def- MT_2015_Analista_(Advogado)_(NS002)_Tipo_1.pdf Rita, por 11 anos, sem interrupção nem oposição de quem quer que seja, possui, como seu, imóvel no qual estabeleceu a sua moradia habitual. Considerando que Rita não possui qualquer título referente à titularidade proprietária do imóvel, assinale a afirmativa correta (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) Estando Rita de comprovada boa-fé, e somente nesse caso, poderá adquirir a propriedade do bem imóvel por meio de ação de usucapião, na qual requeira ao juiz declaração por sentença, que servirá como título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. B) Independentemente de comprovada boa-fé, Rita poderá adquirir a propriedade do bem imóvel por meio de ação de usucapião, na qual requeira ao juiz declaração por sentença, que servirá como título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. C) Independentemente de agir com boa-fé, Rita não poderá adquirir a propriedade do bem imóvel por não ter atingido ainda o tempo mínimo da prescrição aquisitiva, qual seja, quinze anos. D) Estando Rita de comprovada boa-fé, e somente nesse caso, poderá adquirir o direito de superfície do bem imóvel por ter atingido o tempo mínimo para a titularidade, qual seja, cinco anos. E) Independentemente de agir com boa-fé, Rita não poderá adquirir a propriedade do bem imóvel por não haver realizado nele obras ou serviços de caráter produtivo.