ESTUDO SOROLÓGICO DA TOXOPLAS MOSE CANINA, PELA PROVA DE IMUNOFLUORÉSCENCIA INDIRETA, NA CIDADE DE CAMPINAS, 1981

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Transcrição:

53 ESTUDO SOROLÓGICO DA TOXOPLAS MOSE CANINA, PELA PROVA DE IMUNOFLUORÉSCENCIA INDIRETA, NA CIDADE DE CAMPINAS, 1981 PEDRO MANOEL LEAL GERMANO Professor Assistente Doutor Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP ELCIO BENEDITO ERBOLATO Auxiliar de Ensino Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP MASAIO MIZUNO ISHIZUKA Professora Adjunta Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP GERMANO, P.M.L.; ERBOLATO, E.B.; ISHIZUKA, MJH. Estudo sorológico da toxoplasmose canina, pela prova de imunofluorescência indireta, na cidade de Campinas, 1981. Rev.Fac.Med. vet.zootec.univ.sjaulo, 22(1): 53-58,1985. RESUMO: A prevalencia de infecção toxoplásmica em cães da cidade de Campinas, avaliada pela prova de imunofluorescência direta, revelou ser igual a 91% (88,8 I t 93,2%). Não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre as proporções de reagentes, quando considerados os sexos. Os diferentes grupos etários mostraram-se iguiamente infectados e o nível de anticorpos anti-toxoplasma mais frequentemente observado foi igual a 1.000. UNITERMOS: Toxoplasmose+ ; Toxoplasma gondii, prevalência+; Imunofluorescência indireta INTRODUÇÃO A toxoplasmose é uma moléstia parasitária de caráter zoonótico, provocada pelo Toxoplasma gondii e que na espécie humana assume grande importância, dada a gravidade com a qual se manifesta na forma congênita de transmissão (FRENKEL2, 1971; SCOTT7, 1978). No cão, a exemplo do que ocorre no homem, a infecção é de evolução crônica, assintomática na grande maioria dos casos, mas que quando diante de condições imunossupressoras manifesta-se clinicamente como uma moléstia grave. No passado acreditava-se que a toxoplasmose fosse uma doença naturalmente transmissível entre as diferentes espécies de animais e entre estas e o homem. A partir dos estudos de FRENKEL2 (1971), fundamentados no conhecimento do ciclo biológico do T.gondii, a cadeia de transmissão da moléstia foi melhor esclarecida. Assim, o homem e todos aqueles animais nos quais o T. gondii tem sido descrito, com exceção dos felinos, são considerados como hospedeiros acidentais e, em alguns casos, como terminais, isto é, quando não ocorre a transmissão congénita. Os alimentos vegetais contaminados com oocistos e os de origem animal, principalmente produtos suínos com cistos, são os maiores responsáveis pela infecção humana. No cão, além destes alimentos, estão envolvidos, ainda, o solo contaminado e roedores infectados, ingeridos parcial ou to talmente, como consequência do hábito de camivorismo exercido por estes animais. Do ponto de vista de Saúde Pública, a infecção na população canina significa que a área envolvida rèpresenta um nicho ecológico para o parasita e, conseqüentemente, um risco para a população humana. Levantamentos soroepidemiológicos, realizados em a- nimais da espécie canina, evidenciam a elevada prevalência com que a infecção ocorre nesta população. TURNER (1976) afirma que os valores de prevalência da toxoplasmose canina variam de 20 a 80%, confirmando assim, ser esta infecção bastante disseminada. ISHIZUKA et alii4 (1974) e ISHIZUKA & YASUDA^ (1981) em São Paulo, em levantamentos sorológicos efetuados na população canina e realizados em épocas distintas, encontraram, respectivamente, 72,0% e 63,8% de prevalência de anticorpos anti-toxoplasma gondii, confirmando também, que em nosso meio a toxoplasmose canina está bastante difundida. Em razão destes resultados e com a finalidade de determinar os níveis de ocorrência da infecção por T. gondii em cães de outros centros urbanos, elegeu-se para a realização do presente trabalho, a cidade de Campinas, segunda metróple do estado de São Paulo, com 750.000 habitantes e uma população canina estimada em 75.250 animais. Destarte, o estudo em apreço objetiva avaliar a frequência de cães reagentes à prova de imunofluorescência indireta para toxoplasmose e, ainda, ao teste das seguintes hi-

54 GERMANO, P.M.L.; ERBOLATO, E.B.;' ISHIZUKA, MJvl. póteses de nulidade: 1) não existência de diferença estatisticamente significante na proporção de reagentes à prova de imunofluorescência indireta, segundo o sexo; 2) não diferença estatisticamente significante na proporção de reagentes pelos diferentes grupos etários; 3) não existência de diferença na proporção de ocorrência dos diferentes valores dos títulos de anticorpos anti-toxoplasma gondii em soros de c3es. É propósito do trabalho rejeitar as hipóteses acima citadas ao nível de rejeição de 5%. MATERIAL E MÉTODOS Animais Durante a Campanha de Vacinação Anti-rábica realizada em Campinas, de 17 a 22 de agosto de 1981, foram selecionados ao acaso, 13 postos de vacinação, tomando-se as devidas precauções para que os mesmos se distanciassem e- quitativamente, abrangendo toda a cidade em estudo. Deste modo, de cada posto coletou-se sangue de cada 10 animais apresentados para a vacinação anti-rábica, independente de raça e porte e considerados como restrições sexo e idade aproximada. Desta forma, coletaram-se 657 amostras de sangue de cies que, após devidamente tratadas no laboratório, forneceram igual quantidade de amostras de soro. Prova sorológica Utilizou-se a prova de imunofluoresciéncia indireta segundo a técnica adaptada por ISHIZUKA et alip (1974). Método estatístico O procedimento estatístico baseou-se na estimativa por intervalo da verdadeira proporção de c2es reagentes à toxoplasmose para um limite de confiança igual a 95,0% (LESER et alii6, 1973) e no teste da diferença entre duas porporções com aproximação normal (BERQUÓ et alii 1981). RESULTADOS Preliminarmente, constatou-se que dos 657 soros examinados, 598 foram positivos a uma diluição de pelo menos 1: 16 à prova de imunofluorescência indireta, revelando ser de 91,0% a estimativa da prevalência da infecção toxoplásmica em cães da cidade de Campinas. Uma vez submetido este valor de prevalência à estimativa por intervalo para 95,0% de Confiança de conter pelo menos um animal reagente, obteve-se um intervalo igual a: lim ite de Confiança (88,8% i J 92,3%) 95,0% A seguir, construiu-se a Tab. 1, onde se apresenta a frequência de animais reagentes e não reagentes à prova de imunofluorescência indireta segundo o sexo, na qual se pode observar que 93,0% dos reagentes pertencem ao sexo masculino e 86,7% ao sexo feminino. Os dados desta Tabela foram tratados estatisticamente, através da aplicação do teste de duas proporções com aproximação normal, que forneceu para a estatística Z um valor igual a 2,60, o qual se revelou significante para o nível de rejeição adotado. Na Tab. 2 encontram-se os valores pertinentes aos resultados da prova de imunofluorescência indireta segundo a condição de reagentes ou não reagentes, classificados quanto à idade aproximada. Com base nos dados obtidos para os animais reagentes e através da utilização do teste de duas proporções, calculado para todas as faixas etárias, não houve diferença estatisticamente significante entre as proporções dos diversos grupos etários ao nível de rejeição adotado. A Tab. 3 apresenta os resultados da prova de imunofluorescéncia indireta dos animais reagentes, levando-se em consideração os diferentes títulos de anticorpos, classificados segundo o grupo etário. Para a verificação do título de anticorpo anti-toxoplasma mais frequente, constituiu-se a Tab. 4 que revelou ser a mediana igual a 1000. DISCUSSÃO Avaliação quantitativa de ocorrência de infecção toxoplásmica no homem e diferentes espécies animais tem despertado o interesse dos epidemiologistas e,neste contexto, o cão, animal de estimação preferencial do homem, representa objeto de indagação epidemiológica. Isto se deve ao fato de tanto o homem quanto os cães estarem, em muitas oportunidades, expostos ao mesmo risco de infecção representado pelo habitat e hábitos alimentares de camivorismo. Assim, a prevalência da infecção que é a expressão da magnitude de ocorrência da mesma, no Município de Campinas, em agosto de 1981, foi igual a 91,0% e que para 95,0% de confiança podemos dizer que se encontra entre os valores 88,8 e 93,2%. O valor encontrado neste experimento é consideravelmente superior ao encontrado por ISHIZUKA & YASUDA5, em São Paulo, em 1981, que fora igual a 63,8%. Este último trabalho revelou não haver diferença significante na ocorrência da infecção quando considerados os animais agrupados segundo o sexo, o que foi também comprovado por nós. Este último aspecto é facilmente compreendido, visto estar a transmissão da toxoplasmose relacionada com a ingestão de alimentos contaminados com T. gondii. Rev.Fac.Med.vet.Zootec.Univ.S.Paulo, 22(l):53-58,1985.

Estudo sorológico da toxoplasmose canina 55 Quando considerados os grupos etários, observou-se que os animais, desde a mais tenra idade, já se mostravam reagentes à imunofluorescência indireta, não sendo possível estabelecer-se uma idade limiar a partir da qual a porcentagem de infectados seria significantemente maior. Relativamente aos níveis de anticorpos, verificou-se pelo cálculo da mediana, que o valor do título de anticorpos mais frequente é igual a 1000. Este valor, juntamente com o valor da prevalência observada 91,0%, permitem concluir que, além da infecção toxoplásmica ocorrer com elevada frequência, também se manifesta com elevada intensidade. Os dados encontrados neste experimento sugerem que a infecção deve ser estudada neste município, do ponto de vista epidemiológico mais abrangente, a fim de se elucidarem as razoes de tão elevada prevalência. CONCLUSÕES encontrava-se entre os valores de 88,8 e 93,2%. 2) Não houve diferença estatisticamente significante na proporção de reagentes entre os sexos. 3) Os animais mostraram-se reagentes desde a mais tenra idade (menos de 1 ano). GERMANO, P.M.L.; ERBOLATO, E.B.; ISHIZUKA, M.M. Serological study of canine toxoplasmosis through indirect immunofluorescent technique. Rev.Fac.Med.vet.Zootec.Univ. S-Paulo, 22(l):53-58, 1985. SUMMARY: The prevalence of canine toxoplasmosis in dogs of Campinas city, evaluated through the indirect immunofluorescent technique, was 91.0% (88,8 1----- 193,2%). Considering the sex of the animals^ statistical significant differences were not observed among the proportion of reagents; further animals of different ages revealed the same infection rate. The most frequent value of anti-toxoplasma antibody titer observed was 1.000. 1) A prevalência de reagentes à toxoplasmose pela UNITERMES: Toxoplasmosis"*"; Toxoplasma gondii, prevalence+; prova de imunofluorescência indireta, em cães da cidade de Immunofluorescent techniques* Campinas, foi igual a 91,0%, e que para 95,0% de confiança, TABELA 1 - Animais da espécie canina, segundo os resultados da prova de Imunofluorescência indireta para avaliação de anticorpos anti-toxoplasma gondii e sexo. Campinas, SP, 1981. Sexo ^"vçon dição ^ Reagentes Não reagentes F % F % Total Masculino 422 93,0 32 7,0 454 Feminino 176 86,7 27 133 203 Total 598 91,0 59 9,0 657 % = Porcentagem Rev.Fac.Med.vetJZootec.Univ.S.Paulo, 2 2(l):5 3-5 8,1985.

56 GERMANO, P.M.L.; ERBOLATO, E.B.; ISHIZUKA, MM. TABELA 2 Animais da espécie canina, segundo os resultados da prova de Imunofluorescência indireta para avaliação de anticorpos anti-toxoplasma gondii e idade. Campinas, SP, 1981. % = Porcentagem Rev.Fac.Med.vet.Zootec.Univ.S.Paulo, 2 2(1)5 3-58,1985.

TABELA 3 Animais da espécie canina^ reagentes à prova de Imunofluorescência indireta para avaliação de anticorpos anti-toxoplasma gondii, segundo os títulos de anticorpos e idade. Campinas, SP, 1981. < 1 6 9,8 7 11,5 17 27,9 22 36,1 9 14,7 61 100,0 1»2 10 8,5 17 14,5 24 20,6 30 25,6 36 30,8 117 100,0 2 (3 9 8,5 16 15,1 18 17,0 28 26,4 35 33,0 106 100,0 3 i4 9 7,3 13 10,5 32 26,1 36 29,3 33 26,8 123 100,0 4 <5 1 1,6 10 16,1 13 21,0 21 33,9 17 27,4 62 100,0 5 (6 3 6,9 4 9,3 12 27,9 15 34,9 9 21,0 43 100,0 Estudo sorológico da toxoplasmose canina 57 's^t ítulo 6 64 256 1000 4000 TOTAL Idade F % F % F % F % F % F % S86I 8S- S:(ï)Z:t OfnEJS-AIUQ-33}OOZ-J3A-p3JV'3BJ'A3H 6 il 4 12,5 5 15,6 6 18,8 8 25,0 9 28,1 32 100,0 7 18 1 6,2 2 12,6 1 6,2 4 25,0 8 50,0 16 100,0 8 19 - - 4 21,2 3 15,8 5 26,3 7 36,8 19 100,0 9.10 - - - - - 3 60,0 2 40,0 5 100,0 > 10 1 7,1 1 7,1 7 50,0 3 21,5 2 14,3 14 100,0 TOTAL 44 7,4 79 13,2 133 22,2 175 29,3 167 27,9 598 100,0 % = Porcentagem

58 GERMANO, P.M.L.;.ERBOLATO, E.B.; ISHIZUKA, M.M. TABELA 4 - Animais da espécie caninajreagentes à prova de Imunofluorescência indireta para a a avaliação de anticorpos anti-toxoplasma gondii, segundo a frequência e títulos de anticorpos. Campinas, SP, 1981. F T í t u l o s \ ^ Absoluta Relativa (%) Acumulada 16 44 7,4 44 64 79 13,2 123 256 133 22,2 256 1000 175 29,3 431 4000 167 27,9 598 Total 598 100,0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - BERQUÓ, E.S.; SOUZA, J.M.P.; GOTLIEB, S.L.D. Bioestatística. São Paulo, E.P.U., 1981. 2 - FRENKEL, J.K. Toxoplasmosis: mechanisms of infection, laboratory diagnosis and management. Curr. Top. Path., 54:28-75, 1971. 3 - ISHIZUKA, M.M.; MIGUEL, O.; BROGLIATO, D.F. Estudo comparativo entre as provas de Sabin- Feldman e imunofluorescência indireta para a a- valiação de anticorpos anti-toxoplasma em soros de cães. Rev.Fac.Med.vet.Zootec.Univ.SPaulo, 11:127-32, 1974. 4 - ISHIZUKA, M.M.; MIGUEL, 0.; BROGLIATO, D.F. Prevalência de anticorpos anti-toxoplasma em soros de cães do município de São Paulo. Rev. Fac.Med.vet.Zootec.Univ.SPaulo, 11:115-25, 1974. 5 - ISHIZUKA, M.M. & YASUDA, P.N. Incidência de infecção por Toxoplasma gondii em cães do município de São Paulo. Rev.Fac.Med.vet.Zootec. Univ.S Paulo, 18:161-5, 1981. 6 - LESER, W.; RIBEIRO NETTO, A.; GERMEK, O A.; MARLET, JJvl. Elementos de estatística para a área de ciências da saúde. São Paulo, Escola Paulista de Medicina, 1973. (Apostila) 7 - SCOTT, R J. Toxoplasmosis. Bur. Hyg. and Trop. Dis., 75:809-27, 1978. 8 - TURNER, G.V.S. Toxoplasmosis as a public health hazard. J. S. Afr. vet. Assoc., 47:227-31, 1976. Recebido para publicação em: 26/09/84 Aprovado para publicação em: 25/09/85 Rev.Fac.Med.vet.Zootec.Univ.S.Paulo, 22(1)53-58, 1985.