Influência da peletização na germinação e vigor de sementes de Melissa officinalis L. Paulo de A. Silva 1 ; Antônio L. dos Santos Neto 1 ; Sebastião Medeiros Filho 1 ; Arie Fitzgerald Blank 2 1 UFC-CCA/Depto. de Fitotecnia, C. Postal. 12168, 60356-001 Fortaleza-CE. e- mail:filho@ufc.br. 2 UFS - Depto. de Engenharia Agronômica, Av. Marechal Rondon s/n, 49100-000 São Cristóvão-SE. afblank@infonet.com.br. RESUMO A técnica de peletização promove a racionalização do consumo de sementes, pois aumenta o tamanho e o peso, além de uniformizar a forma, mas pouco se sabe dos efeitos deletérios desta técnica nas sementes erva-cidreira. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da peletização na germinação e no vigor de sementes de Melissa officinalis L. Para a confecção dos péletes foi utilizada uma mistura de areia fina e microcelulose e cola de acetato de polivinila. Foram feitos testes de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG) e peso de 1000 péletes em dois tamanhos (peneira 8 e peneira 10) e na testemunha não peletizada. A eficiência da técnica foi calculada através do número de péletes com uma semente. A germinação das sementes peletizadas de tamanho de peneira 8 não diferiu significativamente das sementes nuas, mas diferiu dos péletes de tamanho de peneira 10. Os dois tamanhos de péletes não diferiram significativamente entre si, porém mostraram IVG inferiores às sementes sem revestimento. Os péletes de peneira 10 diferiram significativamente dos péletes de peneira 8, sendo observado uma maior porcentagem de péletes com apenas uma semente na peneira 10. Palavras-chave: Melissa officinalis L.; péletes; eficiência. Influence of pelleting on germination and vigor of Melissa officinalis L. ABSTRACT It is known that the pelleting promotes a rationalization on seed use, since it increases size, weight and shape standardization. Considering that little is known about the harmful effects of this technique on Melissa officinalis L. seeds, the objective of this work was to evaluate the effect of pelleting on germination and energy of its seeds. To make the pellets, a mixture of fine sand, microcellulose and of polivinila acetate glue was used. It was performed germination tests, index of germination speed (IVG) and weight of 1000 pellets in two sizes (sieve 8 and sieve 10) and control (without pelleting). The efficiency of the technique was calculated by the number of pellets with a seed. The germination of sieve 8-size pelleted
seeds were not significantly different from naked seeds, but it was different from sieve 10- size pelleted. The two different pelleted sizes were not significantly different amongst themselves, however they produced lower IVG compared to seeds without coating. Sieve 10- pellets were significantly different from sieve 8-pellets, furthermore the first displayed a higher percent of a single-seed per pellet. Keywords: Melissa officinalis L.; pellets; efficiency. A erva cidreira verdadeira (Melissa officinalis L.) é uma planta herbácea da família Lamiaceae com centros de origem identificados entre Europa e Ásia (Martins et al., 1998). O seu óleo essencial é largamente utilizado pela indústria farmacêutica por possuir atividades antioxidativa, antivirótica e sedativa (Tekel et al., 1997). O processo de peletização em sementes tem sido freqüentemente utilizado como uma alternativa para aumento de tamanho e uniformização de forma. Essa torna a semente mais facilmente manipulável, sendo assim possível a aplicação da semeadura de precisão. Segundo Silva & Nakagawa (1998a), esta técnica consiste em uma cobertura sólida seca, composta basicamente de um material inerte de granulometria fina, dito material de enchimento, e um agente cimentante com alta solubilidade em água, visando dar nova forma e tamanho à semente. Considerando a deficiência de trabalhos relativos ao processo de peletização em erva-cidreira, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o efeito da técnica na porcentagem e velocidade de germinação de sementes de Melissa officinalis L. MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras (DAG / UFLA). O revestimento foi feito com uma mistura constituída de areia fina e microcelulose (proporção de 1:1), utilizando cola à base de acetato de polivinila a 10% diluída em água, e betoneira adaptada para mistura. As sementes revestidas foram separadas por tamanho utilizando-se peneiras número 8/64 (Peneira 8) e 10/64 (peneira10) e, em seguida, colocadas em estufa com circulação forçada de ar por 24 horas à temperatura de 40 C. Depois de secos, foram feitos testes de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), eficiência da técnica e peso de 1000 péletes nos dois tamanhos e sementes sem revestimento. O teste de germinação foi conduzido em caixas tipo gerbox com 4 repetições de 50 péletes por tratamento. Foi utilizado um regime de temperatura de 25ºC em câmara de germinação tipo BOD. As avaliações foram feitas diariamente durante 10 dias.
A fórmula proposta por Maguire (1962) serviu de base para o cálculo do IVG. O peso de 1000 péletes foi feito segundo recomendações da Regra para Análise de Sementes (Brasil, 1992). A eficiência da técnica de revestimento foi feita contando-se o número de pélete, com apenas uma semente. Utilizou-se quatro amostras de 100 sementes de cada tratamento, que foram embebidas para que o revestimento dissolvesse e em seguida foram contados os péletes com apenas uma semente. O delineamento experimental utilizado para porcentagem de germinação e índice de velocidade de germinação foi inteiramente casualizado com três tratamentos (pélete 8, pélete 10, semente nua), e quatro repetições por tratamento. Para a eficiência da peletização foi utilizado delineamento inteiramente casualizado com dois tratamentos e quatro repetições. A análise de dados foi realizada pelo Sistema de Análise Estatística para Microcomputadores SANEST (Zonta & Machado, 1984). RESULTADOS E DISCUSSÂO A técnica de peletização promoveu diminuição na germinação (Tabela 1), fato relatado com grande freqüência por diversos autores. Lima & Silva (2001), trabalhando com uma mistura de microcelulose e areia fina (1:1) sobre sementes de cenoura obtiveram um decréscimo de 10% na germinação, corroborando com trabalhos de Bonome (2003) que utilizando o mesmo revestimento em sementes de brachiaria, obteve também decréscimo na germinação. O dano mecânico tem sido citado como principal fator de diminuição de germinação, pois durante o processo de peletização a semente é submetida a choques sucessivos que ocasionam estes danos. Gulliver & Hallen (1993), acompanharam a germinação de sementes de brássicas peletizadas através de eletroforese de isoenzimas e observaram uma maior concentração de álcool desidrogenase em detrimento a malato desidrogenase nos extratos da eletroforese, concluindo que o revestimento diminui o aporte de oxigênio, fazendo com que a respiração siga a rota fermentativa. TABELA 1 Resultados médios de porcentagem de germinação e índice de velocidade germinação de sementes de Melissa officinalis submetidas a peletização e testemunha sem Pelete %Germinação IVG Não peletizada 96 a 15,09 a Peneira8 90ab 10,38 b Peneira10 88 b 10,31 b revestimento. UFC, Lavras, MG, 2003.
Médias seguidas de uma mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade O revestimento causou uma queda no vigor das sementes peletizadas. Os dois tamanhos de péletes não diferiram significativamente entre si, porém mostraram índices de velocidade de germinação significativamente inferiores às sementes sem revestimento (Tabela 2). Resultados de trabalhos de Bonome (2003) mostram uma queda acentuada no vigor das sementes revestidas. Silva & Nakagawa (1998b) peletizando sementes de alface, e Lima & Silva (2001) e Santos et al. (2001), revestindo sementes de cenoura, também obtiveram uma perda de vigor quando as sementes foram peletizadas. É consenso que o grande fator responsável pela diminuição na velocidade de germinação em sementes revestidas é a barreira física imposta à semente, que causa um retardamento na protrusão radicular, sendo tão mais grave quanto maior e mais resistente for o revestimento. Como na germinação, a baixa troca gasosa imposta pelo revestimento, toxidez e restrição hídrica, são fatores que também podem afetar o vigor destas sementes. Os péletes de peneira 10 diferiram significativamente daqueles de peneira 8, com uma maior porcentagem de péletes com apenas uma semente para os primeiros (Tabela 2). Esta diferença está relacionada principalmente com a maior freqüência de unidades sem sementes na amostra de peneira 8, que são formadas pela presença de grãos de areia ou microcelulose de maior granulometria. Silva & Nakagawa (1998a), relatam que o material de enchimento deve constituir-se de partículas grossas e uniformes, visando a formação de poros grandes. Isso porque, grãos grandes aderem entre si, não aderindo às sementes, por conseqüência ocorre à formação de péletes vazios, e essa freqüência é aumentada em amostras separadas por peneira de menor numeração. TABELA 2 Resultados médios de eficiência da técnica com número de péletes com uma semente e peso de mil péletes em Melissa officinalis. UFLA, Lavras, MG, 2003. Pelete % Pélete unitário Peso de 1000 Péletes(g) Não peletizada - 0,63* Peneira8 88 a 18,98 Peneira10 96 b 35,61 Médias seguidas de uma mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade * Peso de Mil Sementes O processo utilizado para revestimento resultou num aumento de tamanho e peso das sementes (Tabela 4). Miller & Sooter (1967) consideram que a vantagem desse aumento de tamanho e peso é a economia de sementes, redução ou eliminação do desbaste, maior uniformidade na maturação e populações definidas de plantas. Já Borderon
(1989) e Sachs et al. (1982) afirmam que o aumento de tamanho e peso, possibilita a semeadura de precisão. Roos & Moore III (1975), confirmam as observações anteriores enfatizando ainda a possibilidade de semeadura mecanizada pois, além de tamanho e peso, a técnica uniformiza forma. O tamanho de pélete de peneira 10 é recomendado para o revestimento de sementes de Melissa officinalis, apesar da peletização diminuir a porcentagem e velocidade de germinação das sementes. LITERATURA CITADA BONOME, L. T. S. Condicionamento fisiológico e revestimento de sementes de Brachiaria brizanta cultivar Marandu. 2003. 99p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) UFLA, Lavras, MG. BORDERON, M. A. Enrobage et pelliculage: La semence habillée. Cultivar, Santa Cruz, v.246, p. 77-78, 1989. BRASIL. Ministério da Agricultura. Regras para Análise de Semente. Brasília: Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária, 1992. 365 p. GULLIVER, C. V.; HALLEN, A. Mechanisms of desiccation tolerance in developing of seeds. Seed Science Research, Wallingford, v.3, n.3, p.231-246, sept. 1993. LIMA, G. B.; SILVA, J. B. C. Emergência de plântulas de cenoura originadas de sementes peletizadas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, p.59-63, março 2001. MAGUIRE, J. D. Speed of germination-aid in selection and evalution for, seedling emergemce and vigor. Crop science, 2(2); 176-177, 1962. MILLER, W. F.; SOOTER, C. Improving emergence of pelleted vegetable seed. Transactions of the ASAE, St. Joseph, v.10, n.5, p.658-666, Sept./Oct.1967. ROOS, E.E.; MOORE III, F,D. Effect of seed coating on performance of lettuce seeds in greenhouse soil tests. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 100, p.573-576, 1975. SACHS, M.; CANTLIFE, D. J.; NELL, T. A. Germination behavior of sand-coated sweet pepper seed. Journal of the American Society for Horticultural Science, v.107, p.412-416, 1982. SANTOS, P. E. C.; SILVA, J.; NASCIMENTO, W. M. Avaliação de materiais para peletização de sementes de alface. Horticultura Brasileira, Brasília, v.18, p.1036-1037, Jul 2001. Suplemento. SILVA, J.B.C.; NAKAGAWA, J. Confecção e avaliação de péletes de sementes de alface. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 16, n. 2, p. 151-158, novembro 1998b. SILVA, J.B.C.; NAKAGAWA, J. Métodos para avaliação de materiais de enchimento para peletização de sementes. Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1, p. 44-49, maio, 1998a.
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