O relator da Convenção 158 na Comissão de Relações Exteriores, deputado Júlio Delgado (PSB/MG), posicionou-se abertamente contrário à ratificação da Convenção 158. No entendimento do parlamentar, a Constituição de 88 rejeitou a convenção por ter ampliado as garantias aos trabalhadores. A dispensa sem motivo deve ser tratada por lei complementar", defendeu. A julgar pelas declarações do relator, o movimento sindical e o Governo deverão fazer gestões para que Júlio Delgado mude suas posições, pois está na contramão do debate acerca da Convenção 158, para um parlamentar da base aliada. Alysson Alves O relator da Convenção 158 na Comissão de Relações Exteriores, deputado Júlio Delgado (PSB/MG), posicionou-se abertamente contrário à ratificação da Convenção 158. No entendimento do parlamentar, a Constituição de 88 rejeitou a convenção por ter ampliado as garantias aos trabalhadores. A dispensa sem motivo deve ser tratada por lei complementar", defendeu. E continou: apenas 34 países ratificaram a convenção desde a adoção da norma pela OIT. Portugal, França e Espanha adotaram a convenção e têm enormes problemas de empregabilidade, disse. O parlamentar questionou a existência ou não de um levantamento que trate do interesse do trabalhador, ao saber que pode comprometer o FGTS, a multa rescisória e o aviso prévio. A Comissão de Relações Exteriores debateu hoje (7), em audiência pública, a mensagem do Executivo para que o Congresso Nacional aprove a ratificação, pelo Brasil, da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe a demissão imotivada. A divergência foi a tônica do debate. Entre patrôes e trabalhadores não há nenhum ponto convergente sobre este tema. 1 / 9
Inicialmente, o presidente do colegiado, deputado Marcondes Gadelha (PSB/PB), informou que ao pedir ao Itamaraty as razões que levaram o Brasil a denunciar a Convenção 158, soube que o documento havia sido elaborado pelo Ministério do Trabalho e até o momento não obteve uma resposta. Na audiência, ficou nítida a falta de consenso ou convergência quanto ao conteúdo da convenção e seus efeitos nas relações trabalhistas. A favor da ratificação posicionou-se o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), presidente da Força Sindical, que representou os trabalhadores; o secretário adjunto de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), André Luis Grandizoli; e o chefe da divisão de temas sociais do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Sílvio José Albuquerque. Contra a norma, falou o membro do Conselho Temático de Relações do Trabalho e Desenvolvimento Social da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Osmani Teixeira de Abreu. Antecedentes históricos A Convenção 158 foi aprovada pela OIT em 1982. O Congresso Nacional havia ratificado a norma em 1992, tendo sido incorporada ao direito positivo brasileiro em 1996. Ainda naquele ano, o STF concedeu liminar à Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) proposta pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Também em 1996, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, denunciou a convenção, o que fez com que o STF não julgasse o mérito do processo (Adin 1480). 2 / 9
Agenda única O deputado Paulo Pereira da Silva destacou as marchas dos trabalhadores convocadas pelas centrais sindicais e demais representações dos trabalhadores, que conquistaram uma política de recuperação para o salário mínimo até 2023 e a correção da tabela do imposto de renda até 2011. A agenda unificada do movimento sindical em 2007/2008 está pautada pela redução da jornada de trabalho sem redução do salário; o estabelecimento da negociação coletiva no serviço público a ser assegurada com a ratificação da Convenção 151; e a garantia de estabilidade do trabalhador no emprego com a Convenção 158. A Convenção 151 tem importância porque muitas vezes o prefeito ou o governador eleito não estabelece nenhuma negociação com os servidores públicos. O caso dos servidores da Receita, que há mais de trinta dias estão em greve deve ser lembrado, disse. E continuou: Com os fiscais da Receita percebemos que há má vontade do Governo para resolver a negociação. Quanto a Convenção 158, o parlamentar destacou que dados do Caged dão conta que houve 14 milhões de contratações em 2007, mas 12 milhões de assalariados perderam o emprego. Quase a metade dos trabalhadores do Brasil foram demitidos para a contratação de outro 3 / 9
trabalhador que ganha menos, afirmou Paulinho. Mobilização Paulinho destacou também que no próximo dia 28, as centrais sindicais irão realizar uma grande mobilização em favor das Convenções 158 e 151, e da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Os portos irão parar neste dia, afirmou o presidente da Força Sindical. O presidente da Força Sindical enfatizou por último que a intenção do movimento sindical é que se construa um grande entendimento para as quatro questões: a ratificação das convenções 151 e 158; a redução da jornada de trabalho em quatro horas, que vai gerar inicialmente 2 milhões de novos empregos; e a proposta mais recente do Governo de desonerar a folha de pagamento, inicialmente rejeitada pelo movimento sindical. Legalidade da convenção Ao defender a ratificação da Convenção 158, o representante do MTE, André Luis Grandizoli, afirmou que a norma não trata apenas da demissão imotivada, mas também da motivada quando analisa, por exemplo, o comportamento do trabalhador. Grandizoli foi enfático ao afirmar que é falacioso o argumento de que a ratificação da convenção vai extinguir a multa de 40% do FGTS e eliminar o aviso prévio. 4 / 9
A convenção não trata da impossibilidade de demissão, mas aponta a necessidade de uma justificativa que pode ser, por exemplo, uma queda da produção por conta da redução do consumo. Quanto à declaração de inconstitucionalidade da norma porque a demissão sem motivo deve ser regulamentada por lei complementar [essa foi a justificativa da CNI ao propor a Adin contra a ratificação da Convenção 158 aprovada pelo Congresso Nacional em 1992], Grandizoli disse que a Emenda Constitucional 45 dispõe que as convenções internacionais, que tratam de direitos humanos e os direitos trabalhistas têm esse enquadramento; por parte do Governo o entendimento é de que se trata de lei complementar. Em relação à legislação trabalhista e a necessidade de proteção do trabalhador disse: a legislação trabalhista não protege o trabalhador, mas aplica uma pena ao empregador por ter agido contrário à legislação. Grandizoli disse ainda que a Convenção 158 não representa engessamento da legislação, mas uma mudança de conceito. Ao invés de deixar um problema de lado, nas relações de trabalho haverá a busca de solução da questão. Ele citou o exemplo da trabalhadora gestante, afastada 120 dias pela licença-maternidade e que muitos empresários consideram esse direito inegociável um grande um problema. 5 / 9
Aspectos internacionais O representante do Ministério das Relações Exteriores, conselheiro Sílvio José Albuquerque e Silva, destacou em sua participação os aspectos internacionais das convenções da OIT. Atualmente, a Convenção 158 é ratificada por 34 países e existem 185 convenções e algumas datam de 1919, ano de fundação da OIT. E foi além: a constatação de que apenas 34 países ratificaram a Convenção 158 não pode ser considerado como falta de credibilidade internacional da norma. Segundo o conselheiro, entre 1995 e 2002, a OIT fez uma revisão das convenções e 71 normas internacionais do Trabalho, incluindo as fundamentais e as prioritárias, foram consideradas atualizadas e prontas para aplicação. Em relação à convenção 158, Silva disse que a norma está em vigência e não há necessidade de revisão. O conselheiro do MRE declarou não ter conhecimento de que os demais países que integram o Mercosul tenham interesse em ratificar a convenção. E quanto à provável ilegalidade da norma, afirmou que o direito ao trabalho consta da Declaração dos Direitos Humanos e, portanto, ao ratificar um tratado internacional, o Brasil estaria adotando o status de uma emenda à Constituição, superando, portanto, a pretensa declaração de inconstitucionalidade da norma. 6 / 9
Posição patronal O representante da CNI na audiência, Osmani Teixeira de Abreu, destacou em sua fala os aspectos de inconstitucionalidade e os prejuízos de uma nova ratificação da Convenção 158, segundo a visão patronal, quais sejam: 1) a Constituição determina que a regulamentação da demissão sem motivo seja por lei complementar; 2) a impossibilidade de demissão sem motivo estimula a informalidade; 3) custos de manutenção do emprego e eventuais demissões reduzem os salários dos empregados; 4) estímulo à automação e o conseqüente aumento das demissões; 7 / 9
5) estímulo do conflito nas relações de trabalho; 6) desestimulo aos investimentos; 7) estabelece a perda de competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional; 8) com o fim da dispensa sem justa causa, o FGTS deve ser extinto; e 9) não haverá redução do desemprego e, portanto, aumento na quantidade de novos postos de trabalho; Questionado sobre a quantidade de desemprego caso a Convenção 158 seja adotada, o representante da CNI declarou não possuir os números, mas disse que a experiência do Brasil comprova que 60% dos trabalhadores estão na informalidade. 8 / 9
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) [NORMAS INTERNACIONAIS] Júlio Delgado posiciona-se contrário Osmani voltou a reforçar o entendimento do STF que já declarou inconstitucional a Convenção 158. A norma é comparada com lei ordinária e a demissão sem motivo deve ser regulamentada por meio de lei complementar. Aprovada novamente pelo Congresso, a CNI poderá ingressar com nova ação na Suprema Corte. 9 / 9