Turma e Ano: Separação dos Poderes / 2016 Matéria / Aula: Poder Legislativo I (Parte II) / Aula 07 Professor: Marcelo Tavares Monitora: Kelly Silva Aula 07 Como as Casas Legislativas são integradas? Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos. A Câmara de Deputados é composta por Deputados Federais, que são eleitos para uma Legislatura (4 anos). A Constituição não fixa o número de deputados, deixando essa matéria para ser disposta através de uma lei complementar. O que a Constituição define é que os deputados sejam eleitos no sistema proporcional, de acordo com o tamanho da população de cada Estado. Assim, os Estados que são mais populosos terão um número maior de representantes. O que a Constituição faz é estabelecer um limite mínimo e um limite máximo, que varia de 8 a 70. É mais fácil eleger deputado através de um estado menos populoso do que através de um estado mais populoso. Isso violaria a igualdade do voto? De alguma forma isso cria um desvio na representação democrática, mas é um desvio previsto pela própria Constituição na sua redação original, o que não enseja uma declaração de inconstitucionalidade, uma vez que no Brasil não se adota a tese da possibilidade de declaração de inconstitucionalidade de uma norma originária da Constituição. Em síntese, os deputados são eleitos para uma legislatura (4 anos), em um sistema proporcional. Esse sistema proporcional propicia a maior representatividade de minorias e favorece, também, o papel dos partidos políticos. A lei complementar fixa o número de 513 deputados federais. Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.
Se o Brasil tivesse territórios federais, a representação deste seria fixa de 4 deputados. O Senado é integrado por senadores, que são eleitos para 2 Legislaturas (8 anos). A renovação é feita a cada Legislatura na proporção de 1/3 e 2/3, alternadamente. A Constituição não define o número total de senadores. Como o senador é um representante do Estado da federação, mas não do povo, não há federação sem Senado, uma vez que o Senado é essencial para a existência da federação, pois o senador representa o Estado-membro. A Constituição não define um número total de senadores, mas define que cada Estado tenha 3 senadores. Consequentemente, como o Brasil tem 26 Estados da federação mais o Distrito Federal, existirão 81 senadores. O Senador já é eleito com seus dois suplentes. A chapa do senador já apresenta os nomes dos suplentes. A suplência na Câmara de Deputados é realizada de uma forma mais democrática do que no Senado, pois quando um deputado não exerce o seu mandato, ele é substituído por um candidato que foi para a eleição, não obteve o número suficiente de votos, mas teve um número de votos razoável. Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos. 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes. O princípio majoritário é aquele que prevê a formação de distritos eleitorais (vota somente quem está naquele distrito). O distrito do senador é o território de todo o estado da federação. O senador tem mandato de 8 anos e cada estado da federação elege 3 senadores. Em todos os estados da federação e no Distrito Federal, para uma legislatura há uma vaga e para a outra legislatura há duas vagas, ou seja, 1/3 e 2/3, alternadamente. Assim, o trabalho do Senado também respeita o princípio da Legislatura, mas o mandato é de 2 legislaturas (8 anos), e não de uma somente. Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. O princípio geral de votação é o princípio da maioria relativa, ou seja, presente a maioria absoluta, o projeto será considerado aprovado quando obtiver o primeiro número inteiro depois da metade dos presentes. Princípio geral de votação = maioria simples (é a presença da maioria absoluta e quando se atinge o primeiro número inteiro depois da metade dos presentes). No Senado são necessários, no mínimo, 41 senadores para abertura da votação.
A maioria absoluta vai ser exigida, por exemplo, para aprovação de lei complementar e ocorre quando se atinge o primeiro número inteiro após a metade dos integrantes da Casa (ex: O Senado é composto por 81 senadores e a metade é 40,5. Assim, a maioria absoluta corresponde a 41 senadores. A Câmara é composta por 513 deputados e a metade é 256,5. Assim, a maioria absoluta corresponde a 257 deputados). A votação também pode ocorrer por maioria de 2/3 dos integrantes (ex: impeachment). A votação também pode ocorrer por maioria de 3/5 (ex: emenda constitucional). SENADORES PRESENTES VOTOS APROVADO? 1 41 22 Sim, pois o primeiro número inteiro após a metade é 21 70 34 Não, poiso primeiro número inteiro após a metade é 35 60 31 Sim, pois o primeiro número inteiro após a metade é 31 55 27 Não, pois o primeiro número inteiro após a metade é 28 Casos Concretos: 1ª Questão Projeto de lei aprovado na Câmara é objeto de emenda substitutiva no Senado, volta à Câmara e, uma vez aprovada, é encaminhada para sanção. Inconstitucionalidade do procedimento? ADI (MC) 2182. Não há inconstitucionalidade no procedimento. Tem-se a Casa iniciadora, que no caso foi a Câmara dos Deputados, e a Casa revisora, que no caso foi o Senado. A Casa iniciadora aprovou o projeto e encaminhou para a Casa revisora, que apresentou uma emenda substitutiva, ou seja, substituiu o projeto inicial por outro e encaminhou para a Casa iniciadora, que aprovou o projeto e encaminhou para o Presidente da República. O procedimento está adequado e é constitucional. Foi isso que ficou decidido na ADI 2182 EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 1. QUESTÃO DE ORDEM: PEDIDO ÚNICO DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DE LEI. IMPOSSIBILIDADE DE EXAMINAR A CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. 2. MÉRITO: ART. 65 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI 8.429/1992 (LEI DE IMPROBIDADE 1 Considerar para fins de maioria simples.
ADMINISTRATIVA): INEXISTÊNCIA. 1. Questão de ordem resolvida no sentido da impossibilidade de se examinar a constitucionalidade material dos dispositivos da Lei 8.429/1992 dada a circunstância de o pedido da ação direta de inconstitucionalidade se limitar única e exclusivamente à declaração de inconstitucionalidade formal da lei, sem qualquer argumentação relativa a eventuais vícios materiais de constitucionalidade da norma. 2. Iniciado o projeto de lei na Câmara de Deputados, cabia a esta o encaminhamento à sanção do Presidente da República depois de examinada a emenda apresentada pelo Senado da República. O substitutivo aprovado no Senado da República, atuando como Casa revisora, não caracterizou novo projeto de lei a exigir uma segunda revisão. 3. Ação direta de inconstitucionalidade improcedente. 2ª Questão Mandado de Segurança impetrado por deputado em face de abertura de sindicância que apura fato enquadrado como falta de decoro ocorrido em legislatura anterior. MS 24.458. O ocorrido foi que no finalzinho de uma Legislatura o deputado começou a responder por uma sindicância de quebra de decoro. Diante disso, ele renunciou ao mandato no final da Legislatura em questão. Contudo, o mesmo foi eleito na Legislatura seguinte. No momento em que iniciou-se a nova Legislatura, abriu-se novamente a sindicância por quebra de decoro relativa ao fato ocorrido na Legislatura anterior, que também era objeto da sindicância anterior. Diante disso, o deputado impetrou um mandado de segurança no STF e invocou que (1) a nova Legislatura não podia investigar fato passado. Contudo, o STF disse que pode investigar sim porque a análise é política e os parlamentares podem decidir não querer conviver com o deputado que praticou um ato na vigência de uma Legislatura anterior, sobretudo com a renúncia que impediu a perda de mandato. Além disso, o impetrante também alegou que (2) haveria bis in idem, pois havia uma sindicância e foi aberta uma nova. O STF afirmou inexistir bis in idem, pois a sindicância anterior não foi levada a termo normal, uma vez que teve o termo antecipado pela renúncia do deputado. O PRINCÍPIO DA UNIDADE DE LEGISLATURA NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE CASSAÇÃO DE MANDATO LEGISLATIVO, AINDA QUE POR ATOS ATENTATÓRIOS AO DECORO PARLAMENTAR COMETIDOS, POR TITULAR DE MANDATO LEGISLATIVO, NA LEGISLATURA ANTERIOR. O Ministro Celso de Mello ressalta que o princípio da unidade da Legislatura é um princípio relativo à atribuição legislativa, e não à atribuição disciplinar da própria Casa. Os seguintes trechos foram destacados pelo Prof.: Quando do julgamento do MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, ocasião em que esta Suprema Corte, tendo presente situação virtualmente idêntica à que ora se registra neste processo, rejeitou a tese de que a Casa legislativa não pode decretar a cassaç("caso Talvane Neto")ão de mandato de qualquer de
seus membros, por falta de decoro parlamentar, se o fato motivador dessa deliberação houver ocorrido na legislatura anterior. Isso porque o princípio da unidade da Legislatura ege, essencialmente, o processo de elaboração legislativa, tanto que, encerrado o período quadrienal a que se refere o art. 44, parágrafo único, da Constituição Federal, dar-se-á, na Câmara dos Deputados, o arquivamento das proposições legislativas, havendo exceções nas Casas. o princípio da unidade de legislatura não se reveste de efeito preclusivo, em tema de cassação de mandato legislativo. Na realidade, o procedimento de apuração preliminar da conduta alegadamente indecorosa do ora impetrante, instaurado na legislatura anterior, não se concluiu, em decorrência de obstáculo exclusivamente criado pelo próprio impetrante, que renunciou ao seu mandato, impedindo, assim, ante a superveniente perda de objeto, a conclusão(fls. 46/49) da sindicância. Então, o parlamentar deu causa ao arquivamento prematuro da primeira sindicância, não podendo na nova Legislatura afirmar que houve bis in idem. Assim, a decisão do STF referente ao MS 24.458 é uma decisão importante porque fixa que o princípio da unidade da Legislatura é mais afeto a questão relativa ao processo legislativo, e não a questão disciplinar de se analisar eventual processo de perda de mandato. O segundo ponto importante é que não houve bis in idem, uma vez que a sindicância aberta na primeira Legislatura teve seu encerramento prematuro por um ato exclusivamente imputável ao parlamentar, que renunciou ao seu mandato para fugir da investigação. Deste modo, ao ser eleito para nova Legislatura, esta pode iniciar o processo de investigação preliminar através de sindicância de um fato ocorrido na Legislatura anterior.