CONCESSÃO DE AEROPORTOS NO BRASIL: O CASO DO AEROPORTO INTERNACIONAL TANCREDO NEVES- CONFINS Izabela Davanzo de Paiva Wesllay Carlos Ribeiro
CONCESSÃO DE AEROPORTOS NO BRASIL: O CASO DO AEROPORTO INTERNACIONAL TANCREDO NEVES-CONFINS Izabela Davanzo de Paiva Wesllay Carlos Ribeiro Universidade Federal de Alfenas Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública e Sociedade RESUMO Este trabalho aborda a infraestrutura aeroportuária no Brasil e o regime de concessões de aeroportos no país, analisando principalmente o processo de concessão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves- Confins. Será desenvolvida uma pesquisa descritiva, através da técnica de análise documental, aliada à pesquisa bibliográfica, para desenvolver um estudo de caso. O estudo contará com três partes principais. A primeira parte abordará a infraestrutura aeroportuária brasileira, suas formas de gestão e suas limitações. A segunda tratará da participação da iniciativa privada na gestão de aeroportos, analisando modelos internacionais, o modelo brasileiro e sua efetivação por meio da concessão de seis aeroportos. A terceira parte será a descrição do processo de concessão do Aeroporto de Confins com um estudo baseado primordialmente nos documentos referentes ao leilão e ao contrato firmado entre o Poder Público e a concessionária. 1.PROPOSTA DE PESQUISA O transporte aéreo é fundamental para um país com as dimensões do Brasil, possibilitando o deslocamento de pessoas e o transporte de cargas de diversos setores econômicos. Esse modal de transporte é um elemento de integração do território nacional e se constitui em um setor estratégico para desenvolvimento do país (IPEA, 2010). No Brasil, a infraestrutura aeroportuária tem a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária Infraero como uma das principais gestoras. Até o ano de 2010, a Infraero era a administradora de todos os principais aeroportos, sendo esses responsáveis por 97% do movimento de passageiros transportados no Brasil (INFRAERO, 2013). Entretanto, grande parte desses aeroportos encontrava-se ou ainda se encontra com problemas de saturação, limitações e gargalos. As dificuldades existentes na infraestrutura aeroportuária, não trazem transtornos apenas à indústria da aviação. Elas possuem impactos negativos na sociedade, em que os indivíduos têm seu processo de deslocamento comprometido; e em setores econômicos, como serviços e indústria que dependem do transporte de passageiros e cargas realizados por intermédio do modal aéreo. Assim, a necessidade de reestruturação e desenvolvimento demandou do poder público uma alternativa de gestão de aeroportos, que envolve a participação da iniciativa privada através do regime de concessão em alguns aeroportos brasileiros. Destarte, o objetivo primário deste trabalho consiste em analisar a infraestrutura aeroportuária brasileira e descrever o processo de parceria entre o setor público e o privado para a gestão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves- Confins. Para que tal objetivo seja alcançado, será necessário estudar a infraestrutura aeroportuária brasileira; analisar o modelo brasileiro de concessão de aeroportos; descrever as etapas das concessões dos aeroportos no 1
país e contextualizar o Aeroporto Internacional Tancredo Neves- Confins na infraestrutura aeroportuária existente no Brasil. Para atingir a esses objetivos a dissertação consistirá em um estudo descritivo, que utilizará a estratégia de pesquisa denominada estudo de caso. A técnica de pesquisa utilizada será a documentação indireta, através de pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Os documentos serão analisados pelo processo de triangulação, em que diversas fontes de evidências são exploradas para melhor compreensão do processo (MARTINS E THEÓPHILO, 2009). As principais fontes serão os dados e documentos disponibilizados pela literatura correlata pela União, a Agência Nacional de Aviação Civil- ANAC, a Empresa Brasileira de Estrutura Aeroportuária- INFRAERO, a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, o Consórcio Aero Brasil- concessionária que arrematou o Aeroporto de Confins, e a gestão administrativa do próprio Aeroporto. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os aeroportos no Brasil são de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica-CBA aeródromos públicos, não pela sua forma de propriedade, e sim conforme seus propósitos.na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CRFB/88, segundo o art. 21, XII é competência da União explorar diretamente ou por meio de autorização, concessão ou permissão, entre outros serviços, a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária. O CBA (1986) contempla de maneira mais específica as formas de construção e gestão de aeroportos, sendo elas: a) diretamente pela União: aeródromos públicos administrados pelo Comando da Aeronáutica-COMAER; b) por empresas especializadas da Administração Federal Indireta ou suas subsidiárias, vinculadas ao Ministério da Aeronáutica: aeroportos administrados pela Infraero; c) por convênios com estados e municípios: aeródromos públicos delegados aos outros entes da federação; d) através de concessão: aeroportos delegados à iniciativa privada por meio de leilão público e;e) mediante autorização: aeródromos públicos administrados pela iniciativa privada, autorizado por meio de ato do poder público. Até o ano de 2012 os 66 principais aeroportos do país eram geridos pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária- Infraero, empresa pública vinculada à Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República-SAC/PR. Contudo, esse modelo se mostrou ineficiente em diversos aspectos (FIUZA, 2008). Assim, diversos estudos apontavam a participação da iniciativa privada na gestão dos aeroportos como alternativa para minimizar os problemas de infraestrutura(oliveira, 2007, SALGADO, 2009; IPEA, 2010; MCKINSEY & COMPANY, 2010). O modelo de participação adotado pelo governo brasileiro foi o regime de concessão, que já estava previsto na CRFB/88 e no CBA conforme demonstrado anteriormente. A concessão é um instituto em que um serviço público é delegado pelo Estado à iniciativa privada, com a garantia contratual de equilíbrio econômico-financeiro e remuneração da empresa privada principalmente por tarifas cobradas diretamente dos usuários (BANDEIRA DE MELLO, 2010). Diferente de outros países, no caso do Brasil, por esse tipo de parceria é transferida para a iniciativa privada a execução do serviço, mantida, entretanto, a titularidade do Estado (GROTTI, 2011). 2
A primeira concessão de aeroportos ocorreu em agosto de 2011, com o leilão para a concessão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante no Rio Grande do Norte. Atualmente, outros cinco aeroportos pertencentes à Infraero foram concedidos à iniciativa privada. São eles: Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro (Guarulhos), Aeroporto Internacional de Viracopos (Campinas), Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek (Brasília), Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim- Galeão (Rio de Janeiro) e Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins) (ANAC, 2014). O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, também conhecido como Aeroporto de Confins, foi objeto de concessão no leilão mais recente, em 2013. Esse aeroporto está localizado nos municípios de Confins e Lagoa Santa, em Minas Gerais, a aproximadamente 40 km de distância do centro de Belo Horizonte- capital do estado. O Estudo de Viabilidade do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, apresentado pela ANAC (2013) apresenta algumas características desse aeródromo público tais como: possui localização geográfica central; é o principal aeroporto comercial na região de Belo Horizonte, maior cidade do estado de Minas Gerais e terceira maior região metropolitana do país; é um hub (ponto de conexão) emergente para as companhias aéreas domésticas; possui grande base de origem e destino (O&D) de passageiros com um forte mercado de partidas; e em 2012 foi o quinto aeroporto em termos de serviço comercial no Brasil e o décimo primeiro de maior tráfego na América Latina. A concessão do Aeroporto de Confins iniciou-se pela instituição do Decreto 7.896 em 1º fevereiro de 2013, que incluiu a concessão desse Aeroporto e do Aeroporto do Galeão no Programa Nacional de Desestatização- PND. O leilão ocorreu em 22 de novembro de 2013 na BM&FBovespa e o grupo vencedor foi o Consórcio Aerobrasil, constituído pelas empresas Companhia de Participações em Concessões CPC, ZurichAirport Internacional AG e MunichAirport Internacional Beteiligungs GMBH. (BM&FBOVESPA, 2013). O valor da oferta foi de R$ 1,82 bilhão, 66% a mais do que o valor proposto pelo governo que era de R$ 1,096 bilhão. O contrato, assinado em 07 de abril de 2014, foi firmado entre a ANAC, como Poder Concedente e a Concessionária do Aeroporto Internacional de Confins S.A. com interveniência da Sociedade de Participação no Aeroporto de Confins S.A. e da Infraero. A Infraero é acionista da Concessionária com 49% do capital social (INFRAERO, 2014). O prazo de vigência desse contrato é de 30 anos, podendo ser prorrogado por até cinco anos. 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme descrito anteriormente, um dos passos metodológicos da dissertação consiste em pesquisa bibliográfica. O primeiro capítulo formulado com base nessa técnica é sobre a infraestrutura aeroportuária brasileira, elucidando suas formas de gestão e suas limitações. O capítulo seguinte fará uma revisão bibliográfica sobre os modelos de participação da iniciativa privada na gestão de aeroportos internacionais, o modelo brasileiro de participação e a efetivação das concessões de aeroportos. O terceiro capítulo tratará sobre a concessão do Aeroporto de Confins, também por meio da técnica de análise documental. Os principais 3
documentos utilizados são legislações referentes à concessão, o edital do leilão e o contrato de concessão. Todo o processo de instituição da concessão do Aeroporto de Confins, principalmente o leilão e o contrato, já está sendo analisado na dissertação em elaboração. Os principais pontos estudados são: o formato do leilão, o valor da outorga, o modelo de concessão adotado em comparação com aquele já vigente em outros países, a remuneração da concessionária e a participação da Infraero como acionista da Concessionária com 49% do capital social. Essas são questões controversas, que serão examinadas detalhadamente no trabalho. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL- ANAC. Contrato para a Ampliação, Manutenção e Exploração do Aeroporto Internacional Tancredo NevesConfins. Brasília, DF. 2014. Disponível em: <http://www2.anac.gov.br/concessoes/concessoes_vigentes/cnf/arquivos/contrato_de_concessao_cnf.p df> Acesso em: 17 de maio de 2014.. Edital do Leilão Nº 01/2013 Concessão para Ampliação, Manutenção e Exploração dos Aeroportos Internacionais- Rio de Janeiro/Galeão Tancredo Neves/Confins. Brasília, DF, 2013. Disponível em: <http://www2.anac.gov.br/concessoes/galeao_confins/>. Acesso em: 15 dez. 2013.. Estudos de Viabilidade do Aeroporto Internacional Tancredo Neves- Confins: Relatórios. Brasília, DF. 2013. Disponível em: <http://www2.anac.gov.br/concessoes/galeao_confins/>. Acesso em: 5 dez. 2013. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27ª ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2010 BM&F BOVESPA. Sítio da internet. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt- br/noticias/2013/anac-realiza-leilao-de-concessao-dos-aeroportos-internacionais-galeao-e-confins- 2013-11-22.aspx?tipoNoticia=1&idioma=pt-br>. Acesso em: 08 jan. 2014. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.. Lei nº 7.565 de dezenove de dezembro de 1986. Dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica. Brasília, DF, 19 dez. 1986. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7565.htm> Acesso em: 19 maio 2014. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA IPEA. Comunicados do IPEA: Panorama e perspectivas para o transporte aéreo no Brasil e no mundo. Série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro, n. 54. Brasília, 2010. EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA- INFRAERO. Sítio da Internet. Disponível em: <http://www.infraero.gov.br>. Acesso em: nov. 2013. GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. A experiência brasileira nas concessões de serviços públicos. In: Carlos Ari Sundfeld (Org.). Parcerias público-privadas. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 180-251. MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MCKINSEY & COMPANY. Estudo do Setor de Transporte Aéreo do Brasil: Relatório Consolidado. Rio de Janeiro: McKinsey&Company, 2010. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/sitebndes/export/sites/default/bndes_pt/galerias/arquivos/empresa/pesquisa /chamada3/relatorio_consolidado.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2014. OLIVEIRA, Alessandro Vinícius Marques de. Regulação da oferta no transporte aéreo: do comportamento de operadoras em mercados liberalizados aos atritos que emergem da interface público-privado. Journal of Transport Literature, v. 1, n. 2, 2007.Disponível em: <http://www.pesquisaemtransportes.net.br/relit/index.php/relit/article/viewarticle/jv1n2p2> Acesso em: 03 maio 2014. SALGADO, Lúcia Helena. Caos Aéreo e Tragédia dos Comuns: Falhas de mercado e de Governo. Texto para discussão, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -IPEA. fev. 2009. Disponível em:<http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/1566>. Acesso em: 26 fev. 2014. 4