Formação de Professores de Inglês com Novas Linguagens e Tecnologias



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Transcrição:

Formação de Professores de Inglês com Novas Linguagens e Tecnologias Nivana Ferreira da Silva; Rodrigo Camargo Aragão Universidade Estadual de Santa Cruz Resumo: Este artigo visa abordar o trabalho de Iniciação em Desenvolvimento Científico e Tecnológico voltado para o eixo de formação de professores de Língua Estrangeira (LE) na interface com as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), objetivando uma revisão da literatura sobre a temática. Assim, a pesquisa pretende desenvolver uma reflexão sobre a formação continuada de professores de inglês mediada por TICs, bem como travar contato com a literatura especializada que trata do ensino/ aprendizagem de língua estrangeira, já que pretende-se unir a formação inicial na universidade com a formação continuada dos professores de inglês em serviço na rede pública do ensino médio de Ilhéus e Itabuna. A proposta se integra às ações recentes do projeto em andamento intitulado Pesquisa e Geração de Tecnologia Educacional no Ensino de Inglês de Ilhéus e Itabuna e visa preencher uma lacuna existente nesse projeto e contribuir para o seu desenvolvimento técnico-científico. Palavras-chave: Língua Estrangeira; Formação de Professores; TICs; Ensino/Aprendizagem; Orientações Curriculares. 1. Introdução O projeto Pesquisa e Geração de Tecnologia Educacional no Ensino de Inglês de Ilhéus e Itabuna, com financiamento da FAPESB para sua execução, demonstrou através de resultados qualitativos parciais um cenário de ensino de Língua Inglesa caracterizado por carga horária superior a quarenta horas com muitos professores trabalhando em mais de uma escola e com inúmeras turmas. No início de 2009, os participantes do projeto realizaram oficinas de reflexão teórico/prática sobre a geração de tecnologia educacional para o ensino de inglês na região. Porém, no primeiro semestre de 2010, os professores se viram impossibilitados de freqüentarem tais oficinas devido à carga horária de trabalho excessiva e dificuldade de negociação com as diretorias das escolas. Uma vez que o trabalho com as oficinas presenciais não teve o resultado esperado, houve a necessidade de um redirecionamento da pesquisa para a construção de um portal virtual que abrigará o projeto, fomentará à distância a interação como os professores em serviço e vai viabilizar as atividades formativas, de aproximação e de contato como esses professores de inglês do ensino médio das escolas públicas de Ilhéus e de Itabuna. O portal, além de ser alimentado pelos participantes do projeto com material didático e levantamento de dados sobre o ensino de inglês no município, vai estabelecer um canal efetivo de comunicação com a escola básica, buscando atender as demandas apresentadas pelos docentes em serviço.

A pesquisa de formação de professores com novas linguagens e tecnologias tem como objetivo refletir teoricamente acerca do ensino de línguas mediado por computador, desenvolvendo as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) com os professores em serviço e com os alunos de graduação. Além disso, pretende-se articular estratégias para interação e contato à distância, acompanhando e avaliando as atividades em tempo real e buscando soluções para aquelas que não apresentarem resultados satisfatórios. 2. A realidade do professor de Língua Inglesa O desenvolvimento das competências necessárias para a boa atuação dos professores de Língua Inglesa, sobretudo, da competência linguístico-comunicativa - pois ela está ligada ao uso do principal instrumento de trabalho do professor: a língua - é de total relevância na formação inicial desse (Paiva, 2006). Entretanto, existe uma lacuna no que diz respeito a essa importante habilidade, devido a formações iniciais restritas nas universidades com cursos de licenciaturas duplas, em que os conteúdos de língua materna ocupam a maior parte da grade curricular e os conteúdos de língua estrangeira não são suficientes para a efetiva formação profissional. Além disso, grande parte desses graduandos não teve um bom ensino de inglês na educação básica, pois a língua foi ensinada de forma descontextualizada e os conteúdos transmitidos através da gramática pela gramática. Conforme Dutra e Mello (2004), nos cursos de licenciatura dupla, a formação do professor de língua estrangeira, praticamente, inexiste. As aulas, normalmente, são em português, o que inviabiliza a prática do idioma. Como resultado, o mercado de trabalho é ocupado por professores despreparados que não desenvolveram as competências necessárias para uma atuação profissional positiva e, consequentemente, eles não preenchem as expectativas que seus alunos têm sobre o aprendizado de uma língua estrangeira. Ainda de acordo com Dutra e Mello (2004), muitos desses professores voltam as universidades em busca de uma regraduação nos cursos de especialização, o que não encontram. Os professores reclamam que a escola regular era fraca, que as aulas eram ministradas em português; [...] que o conteúdo se restringia à gramática, ao vocabulário e verbo to be e que não havia conversação, listening ou preocupação com a pronúncia. [...] Mesmo quando se referem à universidade alguns reclamam que as aulas eram em português e que não havia aula de conversação [...]. (PAIVA, 2006, p. 48)

Diante desse quadro, o qual Paiva (2006) caracteriza como sendo um sistema complexo do aprendizado de línguas, faz-se necessário pensar em alternativas e formas de lidar com a realidade do ensino-aprendizagem de Língua Estrangeira no país. O vínculo universidade-escola através de programas de especializações e formação continuada é de grande importância, pois proporciona a interação do professor em formação com o professor em serviço, levando a reflexão sobre suas atuações e sobre o cenário de ensino de LE na região onde vivem. Além disso, é importante que os materiais didáticos sejam produzidos levando em conta a contextualização da escrita e da leitura, ou seja, inserindo a aprendizagem da língua inglesa em um conjunto significativo e aplicando, efetivamente, o produto didático ao ensino de LE. 3. A educação pela Língua Estrangeira na interface com as novas tecnologias É pertinente pontuar sobre a importância atual do ensino de Língua Estrangeira na educação básica. Além do objetivo linguístico, priorizado, na maioria das vezes, pela escola regular, é necessário se pensar na educação pela LE. Sobre esse aspecto, Brasil (2008) coloca que a disciplina deve ser ensinada levando em consideração seus aprendizes, ou seja, visando os contextos em que eles encontram-se inseridos e as necessidades da sociedade atual. Educar pela Língua Estrangeira significa não significa deter-se apenas na formação instrumental (transmissão de conteúdos), mas também voltar-se para o acúmulo de esforços que contribuam para a formação de indivíduos, o que inclui o desenvolvimento da consciência social, criatividade, mente aberta para conhecimentos novos, enfim, uma reforma na maneira de pensar e ver o mundo. (BRASIL, 2008, p.90). A proposta atinente à formação de educandos na escola regular propõe o ensino do idioma estrangeiro vinculado aos seus valores culturais, sociais, ideológicos e políticos. Nesse âmbito, se insere o entendimento do que é cidadania, isto é, a compreensão e o desenvolvimento desse valor social durante as aulas de LE. Brasil (2008) também pontua que a visão homogênea e tradicionalista de cidadania, voltada apenas apara os deveres cívicos, se modificou. O que se propõe, atualmente, é a ênfase nesse valor considerando-o de forma mais abrangente, heterogênea e estando ligado, sobretudo, à noção do lugar/posição que o aluno ocupa no meio social em que vive, ou seja, de que lugar ele fala na sociedade? Por que essa é a sua posição? Como veio parar ali? Ele quer estar nela? Quer mudá-la? Quer sair dela? Essa posição o inclui ou o exclui de quê? (BRASIL, 2008, p. 91)

Assim, o senso de cidadania pode ser desenvolvido nas aulas de Língua Estrangeira a partir da ampliação do horizonte comunicativo do aluno, pois o aprendizado de uma LE está ligado ao conhecimento e a compreensão dos valores históricos e sócio-culturais que envolvem o outro. Esse valor educativo permite que o aprendiz perceba as diferenças entre um idioma diferente e sua língua materna e entre as variedades linguísticas existentes, compreendendo que os usos da linguagem variam conforme as situações. Além disso, essa prática educacional leva o aluno a refletir e a construir sentidos, não somente a partir das superfícies dos conteúdos estudados, mas associando alguns questionamentos à noção de cidadania. De acordo com Brasil (2008, p.93), a partir da reflexão sobre a posição/lugar que ocupa na sociedade, o aluno identifica se está incluído ou excluído do processo social e cultural que analisa [...]. Desse modo, pode se falar em exclusão e inclusão, aspectos que envolvem não só o meio educacional, mas também se encontram ligados à questão social. Na escola, observa-se os reflexos da exclusão nos alunos evadidos, nos que apresentam dificuldade de aprendizado e de acesso e nos portadores de deficiência. A exclusão que repercute na sociedade, mais abrangente que a anterior, se refere, por exemplo, a violência de crianças e adolescentes e aos meninos de rua. As políticas de inclusão social têm se intensificado nos últimos tempos juntamente com programas pedagógicos em que são fomentadas as propostas de interdisciplinaridade, transdiciplinaridade e transversalidade. Brasil (2008) também salienta a diferença entre inclusão e inserção, destacando que não basta expor os alunos às propostas educativas e sociais. Essa exposição resultaria em inserir (colocar, introduzir, aderir) os excluídos, mas não em incluí-los (fazer parte, figurar entre outros, pertencer, envolver) socialmente [...]. Também é importante destacar a questão da exclusão/inclusão digital, termos que passaram a ser bastante utilizados com os avanços tecnológicos e com o advento da Internet. As propostas atuais que dizem respeito à inclusão e a inserção na era digital daqueles que ainda se encontram distantes dela, representa a participação na sociedade globalizada, oportunidades de acesso ao conhecimento, a informação e ascensão social. Salientamos, porém, que um projeto de inclusão poderá aumentar o sentimento de exclusão se considerar o usuário apenas como um consumidor dessa linguagem em vez de lhe abrir oportunidade de compreensão do seu papel também de produtor dessa linguagem. (BRASIL, 2008, p. 95)

É importante reforçar que o ensino de Língua Estrangeira pode contribuir favoravelmente para a inclusão, já que pode atuar na educação básica de duas formas. A primeira delas leva em consideração a necessidade e a importância de se dominar a língua inglesa, visando o mercado de trabalho em uma sociedade globalizada e tecnológica. A segunda, além de considerar a realidade econômica e cultural da atualidade, permite a interação como o modo de viver do outro, ou, segundo Maturana (1999, apud Brasil 2008 p. 96) [...] um projeto de inclusão seria criar possibilidades de o cidadão dialogar com outras culturas, sem que haja a necessidade de abrir mão de seus valores [...]. Nesse sentido, Brasil (2008, p. 96) diz que essa educação pelo ensino de LE também proporciona a reflexão sobre o que é global (universal, exterior, de um grupo de países) e o que é local (regional, interior, de uma comunidade ou de grupos com características próprias), valores esses que permitem ao aprendiz de LE conhecer culturas diferentes, sejam de outros países, sejam próximas do próprio meio em que vivem. Brasil (2008) discorre acerca do conceito de multiletramentos, atinente aos diferentes usos da linguagem para fins sociais específicos. Essa concepção traz de novo para o cenário da formação de professores de inglês a compreensão da linguagem como algo heterogêneo, pois ela manifesta-se de diferentes formas e cada uma delas é norteada por um conjunto de valores, crenças e ideologias, encontrando-se inserida em um contexto sócio-cultural específico. Assim, conceitos tradicionalistas como o de cultura homogênea e conhecimento estanque são inviabilizados, além do isolamento das quatro habilidades linguísticas, o que sugere uma reflexão crítica sobre esses juízos arraigados e uma proposta de leitura, comunicação oral e escrita voltada para o letramento. [...] a nova concepção de heterogeneidade da linguagem e da cultura, que promove os conceitos de letramento e de comunidades de prática, também prevê a heterogeneidade de saberes e conhecimentos diferentes existentes em cada comunidade de prática [...] abrir a sala de aula para essas heterogeneidades pode significar transformar o caráter excludente da escola. (Brasil, 2006, p. 108) O multiletramentos também traz de novo, sobretudo como um desafio, a questão do aprendizado acerca das novas linguagens, isto é, a necessidade de alfabetização (BRASIL, 2006, p. 97) de uma comunicação que se modifica a cada dia, frente às variadas modalidades em que pode ser encontrada (visual/verbal; imagem/texto). Além disso, é pertinente ressaltar a importância da introdução das novas tecnologias e da internet nas escolas públicas, de modo a viabilizar oportunidades de acesso e participação de todos, contribuindo, desse modo, para a inclusão digital.

Ao falar sobre os conceitos de multimodalidade e hipertexto, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio destacam que [...] não há necessidade de ler tudo na página, ou de ler a página num único sentido (de cima para baixo ou da esquerda para a direita). Muitas vezes, numa página multimodal (isto é, contendo vários meio de comunicação: visual, escrito ou sonoro), o leitor pode escolher entre apenas ouvir um texto sonoro ou assistir a um clipe de vídeo inserido na página, tornando complexa e multifacetada a experiência de ler. (BRASIL, 2006, p. 105) Também é necessário salientar novamente a respeito dos conceitos de linguagem, cultura e conhecimento, não como totalidades estanques e distantes de uma prática sócio-cultural, mas sim como elementos heterogêneos que devem ser analisados de forma contextualizada. Assim, Brasil (2008, p. 109) coloca que o conhecimento é plural, se transforma em um processo crítico e eficaz, se inter-relacionando com conhecimentos já existentes. Nessa inter-relação entre o novo e o velho, ambos se transformam, gerando conhecimentos novos. Para que ele se torne um processo crítico e eficaz, é importante evitar, nessa inter-relação, a mera importação do novo, sem promover a devida interação com o velho, tanto o recém-importado quanto o previamente existente se transformarão em algo novo. Por serem instrumentos de apoio no processo de ensino-aprendizagem de Língua Estrangeira, as novas tecnologias são de grande valor, e seu uso, ligado ao conceito de multiletramentos, visa formar um professor que leve o seu aluno a recriar e recontextualizar o conhecimento, de modo que esse não seja transmitido de uma forma fragmentada. Assim, as tecnologias da informação e comunicação (TICs) podem ser utilizadas no ensino de inglês para colocar a língua em uso através, por exemplo, das comunidades de prática, como salas de bate-papo, Orkut e blogs. Essa aplicação incentiva a interação e o conhecimento da cultura que envolve o outro, ou seja, oportuniza a aprendizagem da Língua Inglesa de maneira contextualiza e abastecida de sentido, e concilia a educação com o ensino de uma LE. 4. Desafios na formação de professores de inglês com as TICs Conforme colocado anteriormente, muitos são os desafios enfrentados pelos professores de Língua Estrangeira das escolas públicas, como por exemplo, a formação inicial restrita nas

universidades, os cursos de licenciatura dupla, que dão maior ênfase aos estudos de língua materna, e o não desenvolvimento da competência linguístico-comunicativa durante o período da graduação, o que tem como conseqüência um desempenho limitado na língua que esses professores ensinam. Outro desafio gira em torno da precariedade das condições de trabalho (ver teóricos) e carência de materiais didáticos que estejam relacionados com a realidade dos alunos e com os contextos escolares. Com relação às novas tecnologias da informação e comunicação, estudos apontam que existe um despreparo dos professores no tocante a utilização das ferramentas digitais em sala de aula. (Aragão, 2009; Mateus, 2004). Além desse despreparo, observa-se certa resistência, por parte de muitos professores, frente às mudanças e as novas tecnologias, as quais requerem uma alfabetização para o seu uso e infraestrutura adequada. Sobre esse aspecto, percebe-se o grande desafio enfrentado pelos professores, alunos e a própria escola com relação ao ensino de uma segunda língua aliado ao uso das TICs. Sendo assim, é de suma importância que haja uma reflexão sobre os conceitos atinentes às TICs e também que sejam pensadas alternativas para a inserção e o uso dessas novas tecnologias amplamente difundidas na sociedade contemporânea. 5. Formação continuada à distância de professores de inglês A etapa em questão do projeto Pesquisa e Geração de Tecnologia Educacional no Ensino de Inglês em Ilhéus e Itabuna, além de ter como meta geral a pesquisa, o desenvolvimento e o uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) com professores em serviço e alunos de graduação, tem como objetivo específico o estudo e a divulgação dessa proposta de formação continuada à distância. Nesse sentido, pretende-se levar o portal, que está sendo construído para abrigar o projeto, ao conhecimento do maior número de professores de inglês das escolas públicas estaduais do eixo Ilhéus-Itabuna e, desse modo, interagir com esses docentes em serviço através da plataforma virtual do site. De acordo com Paiva (2006), a formação mediada pelas TICs oferece oportunidades de interação comunicativa, reflexão sobre o uso da Língua Inglesa no mundo contemporâneo, reflexão sobre a formação continuada em serviço e permite a construção do conhecimento de maneira conjunta, com o outro, através das ferramentas da comunicação e interação. A pesquisa voltada para o ensino-aprendizagem de LE através das novas tecnologias vem trabalhando com experiências de produção conjunta de processos aplicáveis ao ensino para as necessidades locais dos professores devido à ausência de projetos dessa natureza e de materiais didáticos para o ensino de Língua Estrangeira nas escolas públicas (Aragão, 200?).

É pertinente pontuar que, a Resolução CNE/CP (19/02/2002), que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior (apud Aragão, 2008, p.?) traz em seu Art.2º, inciso VI que os currículos devem preparar o docente para o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores e ainda a mesma resolução em seu Art. 7º, parágrafo IV argumenta que as instituições de formação trabalharão em interação sistemática com as escolas de educação básica, desenvolvendo projetos de formação compartilhados. Assim, a pesquisa de formação de professores com novas linguagens e tecnologias visa divulgar amplamente o conhecimento gerado para o portal virtual, o que pode gerar impacto social e educacional. Outra expectativa gira em torno do desenvolvimento e o do uso das tecnologias de ensino, fruto do trabalho conjunto entre os docentes de Língua Inglesa da rede pública, professores da Universidade Estadual de Santa Cruz e alunos de graduação da instituição. Além disso, espera-se que ocorram transformações na relação que o professor tem com sua prática de sala de aula, estimulando a um possível desenvolvimento dessa prática em termos tecnológicos. 6. Considerações finais A pesquisa de Iniciação em Desenvolvimento Científico e Tecnológico, cujo foco é o de formar professores a partir das novas linguagens e tecnologias, pretende contribuir para a formação continuada de professores de inglês do Ensino Médio das escolas públicas da região de abrangência da Universidade Estadual de Santa Cruz, entre as cidades de Ilhéus e Itabuna. A proposta em tela surge para preencher uma lacuna existente em um projeto em pleno andamento, a qual é consequência de contextos desfavoráveis em que se encontram inseridos muitos dos professores de Língua Estrangeira, não só da região em questão, mas também do cenário nacional como um todo. Nesse momento, devido às dificuldades de deslocamento para oficinas presenciais oferecidas pelos participantes do projeto na instituição formadora e por conta de outros fatores que perpassam a realidade do professor de inglês da região, se faz necessário articular estratégias de interação à distância, de modo a avaliá-las em tempo real, propor a reflexão teórico/prática sobre o ensino de línguas mediado por TICs e, assim, contribuir para manter viva e ativa a parceria universidadeescola e o livre acesso de conhecimento pela Internet.

Referências bibliográficas ABRAHÃO, M. H. V. (Org.) Prática de ensino de língua estrangeira: experiências e reflexões. Campinas: Pontes Editores, 2004. ARAGÃO, R. C. Desafios na Formação de Professores de Línguas com Novas Tecnologias. In: ARAÚJO, J. C.: RODRIGUES, M. (Orgs). II ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO ANAIS ELETRÔNICOS. Fortaleza: UFC <http://www.abehte.org/anais/anais/art09_aragao.swf> Acesso em 30/08/2010.. PROJETO FORTE: Formação, Reflexão e Tecnologias no Ensino na Bahia In: Letramentos na Web: gêneros, interação e ensino. Fortaleza: Edições UFC, 2009, p. 58-82. BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2008. DUTRA, D. P. & MELLO, H. A prática reflexiva na formação inicial e continuada de professores de língua inglesa. In:ABRAHÃO, M. H. (Org.) Prática de ensino de língua estrangeira: experiências e reflexões. Campinas: Pontes Editores, 2004. p. 31-43. MATEUS, E. F. Os professores na era digital e os (des)usos do computador na fase de formação inicial. The Especialist, São Paulo, SP, v. 25, n. 2, p. 199-220, 2004. PAIVA, V. L. M. O. Memórias de Aprendizagem de Professores de Língua Inglesa. Contexturas, n. 9, p.63-78, 2006. Disponível em: <http://www.veramenezes.com/narprofessores.htm.> Acesso em: 23 ago. 2010.. A tecnologia na docência em Línguas Estrangeiras: convergências e tensões. Disponível em: < http://www.veramenezes.com/endipe.pdf> Acesso em: 2 set. 2010.