Análise Físico-química e Microbiológica do Mel de Abelha. Physical and chemical analysis and microbiological Bee Honey

Documentos relacionados
Produção do mel 29/10/2010

Alimentos, Rod. Admar Gonzaga 1346, CEP: , Itacorubi, Florianópolis, SC.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO UFERSA DISCIPLINA: INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO MEL DE ABELHA Apis mellifera DO SERTÃO PARAIBANO

Portaria ADAB nº 207 DE 21/11/2014

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUIMICAS DE MÉIS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE SETE LAGOAS-MG

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE UBERABA

Profª Me. Tatiane da Silva Poló

VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE MÉIS PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS NO SERTÃO PARAIBANO.

AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DO MEL COMERCIALIZADO NA REGIÃO CELEIRO 1 QUALITY ASSESSMENT OF COMMERCIALIZED HONEY IN THE CELEIRO REGION

IDENTIFICAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MEL DE ABELHAS Apis mellifera DO SERTÃO PARAIBANO.

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIAIS DE ABELHAS AFRICANIZADAS

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DOS MÉIS PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS NO ESTADO DE SERGIPE

MEL, FONTE NATURAL E ALTERNATIVA SAUDÁVEL PARA SUBSTITUIÇÃO DO AÇÚCAR NO IOGURTE

Caracterização físico-química de méis de Apis mellifera L. da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS DE PÓLEN APÍCOLA DA MICRORREGIÃO DE RIBEIRA DO POMBAL, BAHIA, BRASIL

Características físico-químicas de meis produzidos por espécies de meliponíneos

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE MÉIS PRODUZIDOS POR Apis mellifera NO MUNICÍPIO DE BREJO MA RESUMO

ACTA APICOLA BRASILICA

Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel de Abelhas sem Ferrão Gênero Melipona

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE MÉIS COMERCIALIZADOS NA REGIÃO DE GUAXUPÉ - MG

BARRINHA DE CEREAL COM USO DE MEL EM SUBSTITUIÇÃO DO XAROPE DE AGLUTINAÇÃO

COMPARISON OF PHYSICAL AND CHEMICAL ANALYSIS OF HONEY (APIS MELLIFERA L.) WITH HONEY GLUCOSE CORN

ANÁLISE FISICO-QUIMICA E MICROBIOLOGICA DE AMOSTRASDIFERENTES DE MEL COMERCIALIZADAS EM MARINGÁ-PR

PRODUTIVIDADE DAS COLMEIAS DE

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE ARACATI-CE

DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS PRODUZIDOS EM PEQUENAS COMUNIDADES RURAIS DO INTERIOR DA PARAÍBA.

CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE

Fontes do Mel. Fontes naturais do mel. Néctar (Honeydew)(Cana de açúcar

Qualidade microbiológica do mel de abelhas Melipona scutellaris

REGULAMENTO TÉCNICO MERCOSUL IDENTIDADE E QUALIDADE DO MEL

AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DO MEL E PREPARO DO PÓLEN COMO AGENTE DE CRISTALIZAÇÃO

ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS E FÍSICO QUÍMICAS DE DIFERENTES MARCAS COMERCIAIS DE MEL

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DO MEL DE ABELHA SEM FERRÃO (Melipona subnitida) APÓS TRATAMENTO TERMICO

COMPARAÇÃO DAS QUALIDADES FÍSICO-QUIMICAS DA MAÇÃ ARGENTINA RED COM A MAÇÃ NACIONAL FUJI

Caracterização Físico-Química de Mel proveniente da Serra Gaúcha

Análise físico-química de mel com própolis comercializados no município de Caxias, Maranhão, Brasil

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO MEL DE DIFERENTES ESPÉCIES DE ABELHAS NATIVAS CRIADAS NA CETREVI-EPAGRI-VIDEIRA

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO E DE QUALIDADE DO MEL DE ABELHA COMERCIALIZADO NO MUNICÍPIO DE POMBAL PB

QUALIDADE DE MÉIS DE APIS MELLIFERA

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE AMOSTRAS DE MÉIS ORGÂNICOS DESTINADOS À EXPORTAÇÃO

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE IOGURTES COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA (MG) 1. Introdução

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE MÉIS PRODUZIDOS EM CHAPADÃO DO SUL, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, BRASIL

Seminário STAB Regional Sul A vinhaça na Agroindistria da Cana de Açúcar Nadir Almeida da Gloria

AVALIAÇÃO DO MEL COMERCIALIZADO NO SUL DO BRASIL E NO URUGUAI 1. INTRODUÇÃO

Introdução. Graduando do Curso de Nutrição FACISA/UNIVIÇOSA. 3

Zootecnista. Pós-Graduando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, Areia (PB), 2

MANEJO RACIONAL DE ABELHAS AFRICANIZADAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS SAÚDE E TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS JAM DA SILVA BARBOSA

INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL ENERGÉTICA NA MANUTENÇÃO DE ENXAMES DE

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Avaliação Microbiológica e Físico-química de Méis Comercializados no Município de Toledo, Pr

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ANIMAIS INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO MEL COMERCIALIZADO NOS MUNICÍPIOS DE FRAIBURGO E VIDEIRA, SC

ACEITAÇÃO E PREFERÊNCIA DE DERIVADOS LÁCTEOS POR ESTUDANTES DA UNIVIÇOSA/ESUV (MG) 1. Introdução

ALTERNATIVA PARA CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda)

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DE AMOSTRAS DE MÉIS DE Apis NOTA CIENTÍFICA

ELABORAÇÃO DE GELEIA TRADICIONAL E LIGHT DE GUABIROBA BRUNA NAPOLI¹; DAYANNE REGINA MENDES ANDRADE²; CRISTIANE VIEIRA HELM³

MICROBIOLOGIA DO MEL DE ÁPIS E MELIPONAS LOCALIZADOS NA REGIÃO DE SALVADOR - BA E DE ENTRE RIOS BA

FICHA TÉCNICA DE PRODUTO

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO DE HIDROXIMETILFURFURAL EM MEL DE URUÇU CINZENTA PASTEURIZADO E ARMAZENADO A TEMPERATURA AMBIENTE

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE APÍCOLA NOS ASSENTAMENTOS RURAIS DO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB.

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DO MEL PRODUZIDO NA REGIÃO NOROESTE DO RS

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA EM POLPAS DE FRUTA CONGELADA

Avaliação da qualidade físico-química do mel comercializado na cidade de Crato, CE

QUANTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS EM AMOSTRAS DE QUEIJOS COLONIAIS PRODUZIDOS PELA AGOINDUSTRIA FAMILIAR DA REGIÃO DE TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

Avaliação da qualidade de méis produzidos no estado de Sergipe

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO MEL COMERCIALIZADO EM SANTO AUGUSTO- RS

Cuidados a serem tomados para que produtos apícolas tenham qualidade

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO MELADO DO SORGO GRANÍFERO SACARINO (Sorghum bicolor L. moench)

Centro de Tecnologia de Alimentos e Bebidas Tecnologia Cervejeira Módulo: Adjuntos cervejeiros

Características físico-químicas e microbiológicas de méis de Apis mellifera L. provenientes de diferentes entrepostos

Anais do 1º Seminário sobre Criação de Abelhas & 1 Economia Solidária, Estado do Rio de Janeiro 2008 UFRRJ Seropédica, RJ, Brasil

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE IOGURTE NATURAL COM POLPA DE ABACAXI BASE MEL

Análise bromatológica da cana-de-açúcar armazenada e hidrolisada com óxido de cálcio

DETERIORANTES E INDICADORES DE HIGIENE AROMAS

INTRODUÇÃO. Leites Fermentados LEITES FERMENTADOS. Leites Fermentados. Leites Fermentados 30/07/2014

COMPOSIÇÃO DO MEL DE APIS MELLIFERA: REQUISITOS DE QUALIDADE

PRINCÍPIOS BÁSICOS E MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO

MEL DE ABELHAS Apis mellifera: CONDICÕES-HIGIÊNICO-SANITÁRIAS.

BIOPROSPECÇÃO MICROBIANA

Disciplina: Controle de Qualidade Série: 2ª Turmas: L/N/M/O. Curso: Técnico em Agroindústria. Professora: Roberta M. D.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE CUIABÁ-MT

DIFERENTES CORTES PARA MELÃO MINIMAMENTE PROCESSADO

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE BEBIDAS LÁCTEAS ADQUIRIDAS NO COMÉRCIO VAREJISTA DO SUL DE MINAS GERAIS 1

PRÓPOLIS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ATIVIDADE BIOLÓGICA Apresentação: Pôster

CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA VITAMINA C DURANTE A PRODUÇÃO DE SUCO CONCENTRADO DE ABACAXI COM HORTELÃ

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE AGROINDÚSTRIAS, ALIMENTOS E NUTRIÇÃO Tecnologia de bebidas

PARÂMETROS DE QUALIDADE DA POLPA DE LARANJA

Ecologia Microbiana. Microbiologia do Ar

Nedio Jair Wurlitzer Eng. Alimentos / DSc. 10 de dezembro de 2013.

APLICAÇÃO DE RECOBRIMENTOS À BASE DE CARBOIDRATOS CONTENDO DIFERENTES FONTES LIPÍDICAS EM MANGA TOMMY ATKINS

DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS EM MÉIS DE DIFERENTES REGIÕES BRASILEIRAS

Estabilidade físico-química e sensorial de méis desumidificado de Tetragonisca angustula

Mel. Prof Dra Édira Castello Branco de Andrade Gonçalves.

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MEL PRODUZIDO EM SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ

1. INTRODUÇÃO. A.A.P. Almeida 1, P.C.R. Ribeiro 2, V.C.Z. Costa³, T.M.G. Almeida 4

Transcrição:

Revista Brasileira de Agrotecnologia http://www.gvaa.com.br/revista/index.php/rebagro REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Análise Físico-química e Microbiológica do Mel de Abelha Physical and chemical analysis and microbiological Bee Honey Ana Paula Morais Neves 1*, Alany Moisa Bezerra de Almeida 2, Antônio Vitor Machado 3, Rubenia de Oliveira Costa 4. RESUMO O mel de abelha é um produto alimentício de grande valor nutritivo e de alta aceitabilidade por parte do consumidor, principalmente por ser considerado um produto terapêutico e benéfico à saúde. Esse produto é elaborado pelas abelhas a partir do néctar das flores, ou de exsudações sacarínicas de outras partes vivas das plantas. A legislação brasileira define os padrões para o mel de abelhas melíferas, estabelecendo os requisitos mínimos de qualidade que o mel destinado ao consumo humano deve possuir, no entanto, o mel pode ser facilmente adulterado com a adição de açúcares e xaropes. A microbiota varia, tendo além de microrganismos introduzidos pelas próprias abelhas, outros introduzidos de forma indesejada por falta de higiene na manipulação ou durante a extração e beneficiamento do mel. Diante disso, a fiscalização da qualidade do mel através de análises físico-químicas e microbiológicas é de fundamental importância, uma vez que busca contribuir na identificação de fraudes e mudanças indesejáveis. O presente trabalho tem como objetivo conhecer e analisar as qualidades físico-químicas e microbiológicas do mel de abelha. Palavras-chave: qualidade, Apis melífera, microrganismo. ABSTRACT - The honey of bees is a alimentary product of great nutritional value and high acceptability by consumers, mainly because it is considered a therapeutic and beneficial health product. This product is produced by bees from the nectar of flowers, or sacarínicas seeps other living parts of plants. Brazilian law sets the standards for honey honeybees, establishing the minimum quality requirements that honey intended for human consumption must have, however, the honey can be easily tampered with the addition of sugars and syrups. The microbiota varies, with addition of micro-organisms introduced by the bees themselves, others introduced unwanted way by poor hygiene in handling or during the extraction and processing of honey. Therefore, the supervision of the quality of honey through physical-chemical and microbiological analysis is of fundamental importance as it seeks to contribute in identifying fraud and undesirable changes. This study aims to evaluate and analyze the physicochemical and microbiological qualities of honey. Key words: quality, Apis melífera, microorganism. *Autor para correspondência Recebido em 14/05/2015 e aceito em 07/07/2015. 1* Mestranda em Sistemas Agroindustriais UFCG Universidade Federal de Campina Grande Campus Pombal. E-mail: anapaula_mn@hotmail.com 2 Mestranda em Sistemas Agroindustriais UFCG Universidade Federal de Campina Grande Campus Pombal. E-mail: alanymoisa1@hotmail.com ³ Dr. Sc., Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Semi-Árido UFERSA, Mossoró-RN. E-mail: machadoav@ufersa.edu.br 4 Mestranda em Sistemas Agroindustriais UFCG Universidade Federal de Campina Grande Campus Pombal. E-mail: rubeniaadm@gmail.com

Ana Paula Morais Neves, et al INTRODUÇÃO A apicultura é uma prática capaz de causar impactos positivos, tanto sociais quanto econômicos, que contribui para a manutenção e preservação dos ecossistemas existentes. Essa atividade adapta-se a diversos sistemas de produção integrada, interferindo pouco na ocupação de área das outras atividades. Os maiores problemas encontrados na apicultura brasileira foram sendo superadas à medida que o manejo das abelhas africanizadas se aperfeiçoava. A produção de mel e a oferta no mercado interno expandiram-se de tal forma que possibilitaram ao Brasil tornar-se um grande produtor de mel e dos demais produtos apícolas que interessam ao mercado mundial (GOIS et al., 2013). O mel é um produto biológico complexo, na qual vem sendo utilizada pelo homem como alimento, este é elaborado pelas abelhas a partir do néctar das flores, ou de exsudações sacarínicas de outras partes vivas das plantas, que são coletadas e transformadas através da evaporação da água e da adição de enzimas. (LENGLER, 2007). Diante disso, é considerado um produto alimentício de grande valor nutritivo e de alta aceitabilidade por parte do consumidor principalmente por ser considerado um produto terapêutico, benéfico à saúde (RACOWSKI, 2009). O mel de abelha é um produto rico em carboidrato, semi-líquido, apresenta de 15-20% de umidade. É considerada uma solução supersaturada de glicose e pode cristalizar durante o armazenamento. Após sua colheita o mel continua sofrendo modificações físicas, químicas e organolépticas, gerando a necessidade de produzi-lo dentro de níveis elevados de qualidade, controlando todas as etapas do seu processamento, afim de que se possa garantir um produto de qualidade (FREITAS et al., 2010). O consumo do mel tem aumentado de forma significativa no mundo todo, em virtude da busca pelo consumo de produtos naturais (BERTOLDI, 2008). Este fator tem impulsionado uma melhoria na qualidade do mel produzido, visando à segurança alimentar através de um produto natural, livre de contaminantes e microrganismos e, assim, a aceitação do mesmo nos mercados internacionais (SCHLABITZ; SILVA; SOUZA, 2010). As variações na composição física e química do mel são constantes, pois alguns fatores interferem na sua qualidade: condições climáticas, florada, estágio de maturação, espécie de abelha, processamento e armazenamento. A microbiota também varia, tendo além de microrganismos introduzidos pelas próprias abelhas, outros introduzidos de forma indesejada por falta de higiene na manipulação ou durante a extração e beneficiamento do mel (LOPES, 2008). Ao longo dos anos, vários estudos sobre as composições físico-químicas de méis e diversos países tem contribuído para a caracterização dos méis estudados quanto a sua origem botânica e regional (SILVA et al., 2009). Neste contexto, o presente trabalho objetiva conhecer e analisar as qualidades físico-químicas e microbiológicas do mel de abelha. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho está baseado em uma pesquisa bibliográfica realizada em livros e artigos sobre a qualidade físico-química e microbiológica do mel de abelhas. ANÁLISES FISICO-QUÍMICA DO MEL O mel é produzido a partir do néctar das plantas, o que caracteriza a presença de diferentes propriedades físicas e químicas, e por isso a sua produção depende da abundância e da qualidade das flores existentes no raio de ação das abelhas. Conforme a flor de que o néctar foi obtido pelas abelhas, assim como sua localização geográfica, o mel resultante terá características diferentes, principalmente quanto à cor, sabor e perfume. Diante disso, a caracterização regional e o estabelecimento de padrões são de grande importância, considerando a diversidade botânica e a variação climática de cada região (ALVES, 2008; PEREIRA et al., 2003). Conforme a descrição do CODEX STANDARD FOR HONEY (2001), o mel é constituído de diferentes açúcares, predominando os monossacarídeos glicose e frutose. Apresenta também teores de proteínas, aminoácidos, enzimas, ácidos orgânicos, substâncias minerais, pólen e outras substâncias, sacarose, maltose, malesitose e outros oligossacarídeos (incluindo dextrinas). Além de pequenas concentrações de fungos, algas, leveduras e outras partículas sólidas resultantes do processo de obtenção do mel. A coloração do mel varia de quase transparente a castanho escuro. A consistência pode ser fluída, viscosa ou cristalizada (BERTOLDI; GONZAGA; REIS, 2004). A legislação brasileira define os padrões para o mel de abelhas melíferas, estabelecendo os requisitos mínimos de qualidade que o mel destinado ao consumo humano deve possuir: açúcares redutores (calculados como açúcar invertido), mínimo de 65g.100g-1, para o mel floral, e mínimo de 60g.100g-1, para o melato ou mel de melato e sua mistura com mel floral; umidade máxima de 20 g.100g- 1; sacarose aparente para o mel floral máxima de 6 g.100g- 1; minerais (cinzas) máximo de 0,6 g.100g-1 (SILVA et al., 2006). Umidade O segundo componente em quantidade do mel é a água, seu teor de umidade é o principal fator determinante de parâmetros como viscosidade, peso específico, cristalização e sabor, além de ser um indicativo importante da tendência à fermentação influenciando principalmente na conservação do produto (SEEMANN; NEIRA, 1988; MORAES; TEIXEIRA, 1998). Os microrganismos tolerantes ao açúcar, presentes nos corpos das abelhas, no néctar, no solo, nas áreas de extração e armazenamento podem provocar fermentação no mel quando o teor de água for muito elevado (MARCHINI et al., 2004).

Análise Físico-química e Microbiológica do Mel de Abelha Açúcares O mel é uma solução concentrada de dois açúcares redutores: frutose e glicose, variando de 85% a 95% da sua composição, que apresentam a capacidade de reduzir íons de cobre em solução alcalina (MARCHINI et al., 2004). A glicose é um açúcar relativamente insolúvel, sendo responsável pela granulação do mel. A frutose existe em grande quantidade no mel e, por ter alta higroscopicidade, possibilita a doçura do mel (SOUZA, 2003). Méis que apresentam altas taxas de frutose podem permanecer líquidos por longos períodos (DANTAS, 2003). O teor de açúcares individuais como glicose, frutose e sacarose são importantes quando se objetiva avaliar o grau de doçura de produtos, pois o poder adoçante desses produtos é variado e aumenta na sequência glicose: sacarose: frutose (CHITARRA & CHITARRA, 2005). Acidez e ph A acidez do mel deve-se à variação dos ácidos orgânicos causada pelas diferentes fontes de néctar, pela ação da enzima glicose-oxidase que origina o ácido glucônico, pela ação das bactérias durante a maturação do mel e ainda a quantidade de minerais presentes no mel, podendo ser ainda explicada pela presença de ácidos orgânicos em equilíbrio com suas lactonas correspondentes ou ésteres internos e alguns íons inorgânicos, como fosfato (WHITE JUNIOR, 1989; FINOLA et al., 2007). A acidez contribui dessa forma para estabilidade do mel frente ao desenvolvimento de microrganismos. No mel podemos encontrar os ácidos: acético, benzóico, butírico, cítrico, fenilacético, glucônico, isovalérico, láctico, maléico, oxálico, propiônico, piroglutânico, succínico e valérico, que permitem indicar as condições de armazenamento e o processo de fermentação (MARCHINI et al., 2004). O valor de ph pode estar diretamente relacionado com a composição florística nas áreas de coleta, uma vez que o ph do mel pode ser influenciado pelo ph do néctar, além das diferenças na composição do solo ou a associação de espécies vegetais para a composição final do mel (CRANE, 1983). Embora o ph não seja indicado, atualmente, como análise obrigatória no controle de qualidade dos méis brasileiros, mostra-se útil como variável auxiliar para avaliação da sua qualidade (ALMEIDA FILHO, 2011). Cinzas O teor de cinzas expressa os minerais presentes no mel, sendo utilizado também, como um critério de sua qualidade e está relacionado com a sua origem botânica e geográfica (MARCHINI et al., 2004). Hidroximetilfurfural O hidroximetilfurfural (HMF) é formado pela reação de certos açúcares com ácidos. O seu conteúdo pode aumentar com a elevação da temperatura, armazenamento, adição de açúcar invertido, podendo também ser afetado pela acidez, ph, água e minerais no mel (VERÍSSIMO, 1988). É um indicador de qualidade no mel, visto que, quando elevado representa uma queda no seu valor nutritivo, pela destruição, por meio de aquecimento de algumas vitaminas e enzimas que são termolábeis (BARBOSA et al, 2014). Este indicador tem origem na degradação de enzimas presentes nos méis e apenas uma pequena quantidade de enzima é encontrada em méis maduros. Ao longo de processos de armazenagem, os méis com maior taxa de frutose darão origem a maiores taxas de HMF. Pequenas quantidades de HMF são encontradas em méis recém colhidos, mas valores mais significativos podem indicar alterações importantes provocadas por armazenamento prolongado em temperatura ambiente alta e/ou superaquecimento (VENTURINI, 2010) ou adulterações provocadas por adição de açúcar invertido. Embora alguns autores reportem aumentos no teor de HMF com o tempo de estocagem (SILVA, 2009) tais acréscimos seriam em pequena proporção, como observado por Melo (2002) que relata aumento de HMF em méis armazenados durante 450 d, com valor máximo de 3,5 mg kg -1. Análises microbiológicas O mel produzido por Apis mellifera apresenta uma menor quantidade e variedade de microrganismos, quando comparado com outros produtos de origem animal, no entanto não é um alimento estéril, estando susceptível a contaminações. Esta contaminação pode estar relacionada à veiculação de microrganismos pelas próprias abelhas melíferas, ao seu beneficiamento ou manipulação inadequada, e de más condições de armazenamento e acondicionamento (SILVA et al., 2004). A qualidade microbiológica está associada muitas vezes com as condições higiênicas de produção e manipulação de alimentos. O maior problema com a presença de fungos e leveduras é a fermentação, que resulta do consumo dos açúcares pelas leveduras, com produção de numerosos subprodutos que podem alterar o paladar e o aroma natural do mel (HOOPER, 1976). Os microrganismos de importância são leveduras, fungos filamentosos e bactérias formadoras de esporos. Estes microrganismos podem estar envolvidos em atividades de deterioração do produto, produção de enzimas, toxinas, conversão metabólica do alimento, produção de fatores de crescimento (vitaminas e aminoácidos) e fatores de inibição de microrganismos competidores (GOMES, 2006). Os microrganismos de grupo coliformes podem ser utilizados para refletir a qualidade microbiológica dos alimentos em relação à vida de prateleira ou à segurança, devido à presença de patógenos alimentares. Este grupo é utilizado para avaliar a sanidade dos alimentos. Contudo, para avaliar os aspectos gerais de qualidade pode ser utilizados os indicadores, consistindo em microrganismos indicadores frequentemente empregados para avaliar a qualidade do produto final e a higiene empregado em seu processamento (SANT ANA, 2003).

Ana Paula Morais Neves, et al CONCLUSÃO As análises fisico-qúimica e microbiológica de méis de abelhas devem estar de acordo com a legislação em vigor, para assegurar a qualidade do produto comercializado sugerindo-se a implantação de Boas Práticas de Fabricação. Essas análises são variáveis, tonando-se importante à caracterização de méis produzidos nos mais diversos locais, biomas e condições ambientais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA FILHO, J.P. de.; MACHADO, A.V.; ALVES, F.M.S.; QUEIROGA, K.H de; CÂNDIDO, A.F de M. Estudo físico-químico e de qualidade do mel de abelha comercializado no município de Pombal PB. Revista Verde (Mossoró RN Brasil) v.6, n.3, p.83-90 julho/setembro de 2011. ALVES, E.M. 2008. Identificação da flora e caracterização do mel orgânico de abelhas africanizadas das Ilhas Floresta e Laranjeira, do Alto Rio Paraná. 63 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PA. BARBOSA, L. S.; MACEDO, J. L.; SILVA, M. R. F.; MACHADO, A. V. Estudo bioquímico de qualidade do mel de abelha comercializado no município de Caraúbas-RN. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, Mossoró - RN, v.9, n 2, p. 45-51, 2014. BERTOLDI, F.C.; GONZAGA, L.; Reis, V.D.A. 2004. Características físico-químicas do mel de abelhas africanizadas (Apis mellifera scutellata), com florada predominante de hortelã-do-campo (Hyptis crenata), produzido no Pantanal. In: Simpósio sobre recursos naturais e sócio-economicos do pantanal, 4., 2004, Anais..., Corumbá - MS. p. 1-4. CRANE, E. O livro do mel. São Paulo: Noel, 1983. CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. 2005. Póscolheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA. CODEX STANDARD FOR HONEY. 2001. Revised Codex Standard for Honey 12-1981, Rev.1 (1987), Rev.2 (2001). Disponível em: <http://www.ipfsaph.org/id/codexcodexstan12>. Acesso em: 05 maio 2009. DANTAS, H.K.M. 2003. Análises físico-químicas e sensorial de mel de abelhas A. mellifera L. 50 f. Monografia (Graduação em Zootecnia) Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB. De Maria, C.A.B.; Moreira, R.F.A. Compostos voláteis em méis florais. Química Nova, v. 26, 90-96. 2003. FREITAS, W. E. de S.; AROUCHA, E. M. M.; SOARES, K. M. de P.; MENDES, F. I. de B.; OLIVEIRA, V. R. de; LUCAS, C. R.; SANTOS, M. C. A. dos. Parâmetros físico-químicos do mel de abelha sem ferrão (Melipona subnitida) após tratamento térmico. Acta Veterinaria Brasilica, v.4, n.3, p.153-157, 2010. FINOLA, M. S. et al. Microbiological and chemical characterization of honeys from central Argentina. Food hemistry, n. 100, p. 1649 1653, 2007. GÓIS, G. C; LIMA, C. A. B. de; SILVA, L. T. da; EVANGELISTA-RODRIGUES, A. Acta Veterinaria Brasilica, v.7, n.2, p.137-147, 2013. GOMES, L. P. Contaminação bacteriana em amostras de méis de Apis mellifera L. comercializados no Estado do Rio de Janeiro. 2006. 46f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Veterinária) Departamento de Microbiologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006. HOOPER, T. Guia do apicultor. [S.l.]: Publicações Europa-América, 1976. p. 223-266. LENGLER, S. Inspeção e Controle de Qualidade do Mel. 2007. Disponível em: http://www.sebraern.com.br/apicultura/pesquisas/inspe cao_mel01>. Acessado em 03/12/2007. LOPES, M. T. R. As boas práticas na colheita e qualidade do mel. Embrapa. Janeiro de 2008. Disponível em <http://www.embrapa.br/embrapa/imprensa/artigos/20 08/as-boas-praticas-na-colheita-e-qualidade-do-mel>, acesso em 13/08/2009. MARCHINI, L.C.; SODRÉ, G.S.; MORETI, A.C.C.C. 2004. Mel brasileiro: composição e normas. Ribeirão Preto: A. S. Pinto, 111 p. MELO, Z. F. N. Características físico-química de méis de abelha (Apis mellifera L.) em diferentes condições de armazenamento. 2002. 71 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande. MORAES, R. M.; TEIXEIRA, E. W. Análises de mel (manual técnico). Pindamonhangaba: SAA/AMA, 1998. PEREIRA, F.M.; LOPES, M.T.R.; CAMARGO, R.C.R.; VILELA, S.L.O. 2003. Produção de mel. Embrapa Meio Norte, sistemas de produção, 3, Versão eletrônica, jul 2003. Disponível em: <http:// sistemasdeprodução.cnptia.embrapa.br/fontes/mel/índ ex.htm.20 02>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Análise Físico-química e Microbiológica do Mel de Abelha RACOWSKI, i. et al. Ação Antimicrobiana do Mel em Leite Fermentado. Revista Analytica. Nº 30. 106-114 p. Agosto/Setembro 2009. SANT ANA, A. S. et al. Qualidade microbiológica de águas minerais. Ciênc. Tecnol. Alim., v. 23, supl., p.190-194, 2003. SCHLABITZ, C.; SILVA, S. A. F. da; SOUZA, C. F. V. de. Avaliação de parâmetros físico-químicos e microbiológicos em mel. Revista brasileira de tecnologia agroindustrial. v. SEEMANN, P.; NEIRA, M. Tecnología de la producción apícola. Valdivia: Universidad Austral de Chile/ Facultad de Ciencias Agrarias Empaste, 1988. SILVA, C. L. et al. Caracterização físico-química de méis produzidos no estado do Piauí para diferentes floradas. Rev. Bras. Eng. Agric. Ambient., v.8, n.2, p260-265, 2004. SILVA. R. A.; MAIA, G. A.; SOUSA, P. H. M. de; COSTA, J. M. C. da. Composição de propriedades terapêuticas do mel de abelha. Alimentos e nutrição. Araraquara. v.17, n.1, p.113-120, 2006. SILVA, R. A. da; AQUINO, I. de S.; RODRIGUES, A. E.; SOUZA, D. L. de; Análise físico-química de amostras de mel de abelhas Zamboque (Frieseomelitta varia) da região do seridó do Rio Grande do Norte. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, Mossoró - RN, v.4, n 4, p. 70-75, 2009. SOUZA, C.C. 2003. Caracterização físico-química, química e análise de sabor de méis poliflorais. 135 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos) Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. WHITE JÚNIOR, J.W. Methods for determining carbohydrates, hydroxymethylfurfural and proline in honey; Collaborative study. Journal of the Association of the Official Analytical Chemistry, v.62, n.3, p.515-526, 1989. VERÍSSIMO, M.T.L. Saiba o que é o HMF. Apicultura no Brasil, v.4, n.24, p.31, 1988. VENTURINI, K. S. SARCINELLI, M. F. SILVA, L. C. Características do Mel; Universidade Federal do Espírito Santo. Disponível em: http://www.vidaperpetua.com.br>. Acessado em 18/08/2010