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Transcrição:

Entretantos, 2014 Grupo: SAÚDE MENTAL, SUAS INSTITUIÇÕES E INTEFACES Integrantes: Cristina Maria Elena Herrera, Denise Maria Cardoso Cardellini, Eliane Berger, Maria Antonieta Whately, Maria Aparecida Kfouri Aidar, Maria Auxiliadora Arantes (Dodora), Mira Wanjtal, Miriam Rejani, Rita Cardeal, Silvia Inglese Ribes e Vilma Florêncio. Coordenadoras: Maria Auxiliadora Arantes (Dodora) e Rita Cardeal Articuladora da Área de Clínica e Instituições: Rita Cardeal CONVERSANDO SOBRE PSICANÁLISE, SAÚDE MENTAL E INSTITUIÇÕES Apresentadoras: MIRA WANJTAL E DENISE MARIA CARDOSO CARDELLINI Este grupo surgiu do interesse de alguns membros de nosso Departamento em trabalhar questões contemporâneas do campo da Saúde Mental e suas instituições. Constituímos, para iniciar este projeto, um grupo de trabalho ligado à Área Clínica e Instituições do Departamento de Psicanálise. É um grupo aberto e horizontal, com reuniões mensais, que começaram em 06 de junho de 2013. Nosso objetivo inicial foi constituir um espaço que possibilite a troca de experiências entre seus integrantes e que fortaleça posições, proposições e organize uma interlocução entre a psicanálise e outros campos de saber - como os direitos humanos, a política, a medicina e a educação. Queremos um grupo de trabalho e pesquisa que congregue os membros do nosso Departamento e retomar sua participação histórica, no campo da Saúde Mental, cuja marca de fundação foi garantir um espaço alternativo de produção de psicanálise, face aos movimentos políticos e sociais da época. Essa proposta de trabalho também pode ser situada no terreno de uma série de movimentos coletivos que defendem a Saúde Pública e que, na atualidade, especialmente no campo da Saúde Mental, nos convocam como psicanalistas a participarmos - a partir dos lugares institucionais de inserção - nos movimentos da sociedade, da cultura e da política.

Ações da psicanálise nas instituições Hoje, a busca por soluções imediatas, às vezes revestidas de caráter "milagroso", para o alívio do sofrimento é uma constante. Não nos surpreendemos ao ouvir frases como: "a psicanálise é um tratamento longo, está ultrapassada e fora de moda" ou "esse tipo de terapia restringe- se a consultórios particulares e não se destina às classes menos favorecidas social e economicamente." Nossa experiência como psicanalistas que trabalhamos em instituições não nos permite compactuar com esses discursos que buscam descontextualizar a psicanálise do seu âmbito social. Entendemos que a psicanálise pode se inscrever onde relações humanas se fazem presentes, o que nos permite considerar que sua prática pode sim deixar os limites do privado, adentrar o espaço público, ampliar suas fronteiras, oferecendo- se, como uma das possibilidades de leitura e intervenção que ampliam o campo de saber e oficio, frente aos problemas e conflitos humanos, próprios da nossa época. Vale aqui lembrar um fragmento de conversa com uma enfermeira, que faz parte da equipe de um CAPS infantil (Centro de Atenção Psicossocial), a propósito de seu trabalho com uma criança diagnosticada como autista, ela diz: "Me sinto como babá quando estou com ele".... "Não me importo em ser babá, mas acho que não estou fazendo nada"...."no outro serviço, foi relatado que ele respondia às atividades, lá havia uma programação e ele se acalmava"... "Tentei fazer isso aqui e ele só respondeu por dez segundos". O incômodo dessa profissional convocou a equipe daquele CAPS a discutir questões relativas à eficiência profissional e terapêutica. O psicanalista apontou para a peculiaridade e a singularidade do encontro nesta relação paciente- terapeuta- instituição, salientando que esta não era pré- determinada. Assim, a intervenção possibilitou à enfermeira refletir que, como "babá", prestou um cuidado valioso a criança. Neste caso, o aporte psicanalítico ajudou a equipe na compreensão do que se passara.

Esse exemplo ilustra a possibilidade de um trabalho do psicanalista voltado para uma clínica do coletivo, na qual diversos saberes buscam se articular. Sob essa ótica, a clínica ampliada que transcende o encontro terapeuta- paciente, o diagnóstico ou a prescrição de condutas, é uma clínica que prioriza o trabalho em rede e que permite o respeito ao sujeito em sua singularidade, bem como a construção de conversas e parcerias com quem fazemos interface. Interfaces da Psicanálise com outras áreas de saber Os psicanalistas têm como um dos seus desafios, nas instituições, dialogar, transversalmente, com as demais áreas de conhecimento, como medicina, poder judiciário, educação e pesquisas embasadas em distintos paradigmas. Para ilustrar tal intenção, vamos nos lembrar, quando falamos de sofrimento, que a psiquiatria, parceira antiga, sempre esteve muito próxima da psicanálise até a publicação do DSM- III, em 1980. Os manuais diagnósticos anteriores foram profundamente influenciados pela psicanálise, assim como a prática psiquiátrica. Os psicanalistas, por sua vez, interessaram- se muito pelo desenvolvimento da psicofarmacologia, e se entusiasmaram com o lançamento dos primeiros medicamentos. Entre os anos de 50 e 70 surgiram vários artigos que discutiam a metapsicologia psicanalítica a partir dos efeitos da medicação. A partir da década de 80, fatores de ordem econômicos e políticos concorreram para o distanciamento entre essas duas áreas do saber. Mas, apesar de uma falta de diálogo entre os discursos "oficiais", observamos, na história de muitas instituições da saúde mental, uma grande colaboração entre profissionais de formações distintas, elaborando um projeto terapêutico comum para seus pacientes. É interessante, e merece nossa atenção, que um diálogo impossível na literatura científica possa acontecer na prática clínica das instituições.

Psicanálise de portas abertas: acesso da psicanálise como serviço Sempre que recebemos pessoas em sofrimento nos dispositivos públicos de saúde, buscamos ações e articulações que nos permitam elaborar, criativamente, distintos enquadres para atender demandas tão diversificadas. Na UBS Lauzane Paulista, um serviço de atenção básica, há uma porta aberta de escuta para crianças, adolescentes e seus familiares que se chama "Plantão Técnico". Neste dispositivo é possível realizar uma "conversa terapêutica", como denominou Winnicott, que em muitos casos tem o alcance de evitar fobias escolares, suicídios e negligências dos adultos responsáveis. Embora as condições de trabalho não sejam muito boas, a psicanalista possui uma sala equipada para trabalhar com autonomia e liberdade para criar - uma conquista adquirida por seu trabalho, dentro e fora da UBS em uma articulação com escolas. Um dos desdobramentos deste fazer psicanalítico, que se amplia e se renova, culminou com a criação de um Fórum chamado "O Posto de Saúde e as Escolas". Trata- se de uma reunião mensal itinerante, onde participam, além da psicanalista, a pediatra, dentistas e representantes de Creches, Escolas, Centros de Convivência e outros equipamentos ligados à área de assistência social e jurídica. Esta rede inter setorial fomenta a discussão e intervenção sobre saúde, educação e direitos humanos, com intuito de que esteja ao alcance de todos um olhar sobre a constituição da subjetividade na infância. Psicanálise, Cidadania e Direitos Humanos Alguns integrantes desse grupo participam de movimentos coletivos e de discussões, que conseguiram reverter alguns retrocessos nas políticas públicas de Saúde Mental. Dentre eles citamos: "Vamos Falar de Saúde Mental?", "Observatório de Saúde Mental, Drogas e Direitos Humanos", ambos parceiros do Instituto Sedes, e o "MPASP" (Movimento Psicanálise Autismo e Saúde Pública). Todos estes fóruns que defendem as diretrizes do SUS e as conquistas da Reforma Psiquiátrica privilegiam a qualidade dos serviços e a promoção dos direitos das

pessoas. Desse modo, cada vez mais se avança na temática dos direitos humanos e na defesa da dignidade da pessoa, lançando uma discussão sobre os aspectos jurídicos da inclusão civil e social de pessoas com necessidades especiais, visando o aumento de sua autonomia. Estamos progressivamente nos inserindo, politicamente, no campo da cidadania, através de um processo de construção conjunta, incluindo a participação dos usuários, familiares, gestores e profissionais da saúde para a melhoria nos serviços de saúde mental. Para tanto, faz- se necessário que as políticas públicas estejam cada vez mais articuladas em uma rede intersetorial de cuidados e que as equipes mostrem que seus trabalhos podem ser inovadores e transformadores nas relações entre os sujeitos e seus entornos. A Psicanálise tem demonstrado ser um importante instrumento de contribuição e intervenção nas instituições para revigorar esse debate.