HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE Experiências educativas no gerenciamento de resíduos gerados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre Tainá Flôres da Rosa contato: tfrosa@hcpa.ufrgs.br telefone:(51)81414438 a. Introdução A geração de resíduos é um desafio para a sustentabilidade do planeta. A discussão sobre o assunto e o desafio do o quê fazer está presente no nosso dia a dia, e se refletem em um conjunto de ações internacionalmente debatidas para a busca de melhores práticas. No do contexto atual, onde os resíduos gerados devem ser segregados de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, seu estado físico e os riscos envolvidos, podendo ter contaminação biológica, química, radioativa, perfurocortante ou mais de uma opção ao mesmo tempo, a problemática do descarte adequado dos resíduos dos serviços de saúde tem se mostrado cada vez mais complexa e relevante. Em um hospital de grande porte e complexidade, é enorme a variedade de itens que são consumidos e geram resíduos. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) são consumidos mais de 41.000 tipos de materiais ou produtos, e estes devem ser classificados no momento de seu descarte de acordo com as características e o risco associado ao seu uso. Ou seja, um mesmo material pode ser classificado de forma diferente de acordo com a sua utilização. Neste aspecto encontra-se o maior desafio do processo educacional, sendo necessárias diversas e diferentes estratégias para comprometer, esclarecer as dúvidas dos funcionários e mantê-los motivados e envolvidos com o manejo dos resíduos. Este trabalho objetiva apresentar estas estratégias educativas utilizadas na capacitação e conscientização dos trabalhadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre sobre o manejo adequado dos resíduos. b. Objetivo O trabalho tem como objetivo apresentar as estratégias utilizadas para capacitação efetiva e comprometimento dos colaboradores para o manejo adequado dos resíduos através da utilização de distintos métodos de ensino e sensibilização em diferentes momentos da trajetória profissional do colaborador dentro da Instituição. Tendo em vista as particularidades relacionadas aos resíduos gerados por cada serviço e a diversidade do público-alvo que abrange diferentes formações profissionais existentes na instituição, que vão desde profissionais com nível fundamental até aos profissionais com pós doutorado, a matriz de capacitação de gestão de resíduos apresenta um mix de possibilidades, que incluem desde cursos genéricos até as abordagens específicas através de capacitações focadas em diferentes públicos, a fim de complementar a educação e proporcionar a redução no número de descartes inadequados e número de acidentes. c. Desenvolvimento As ações educativas no HCPA se iniciam quando o trabalhador, estagiário ou jovem aprendiz ingressa na instituição e se repetem em diversos momentos. O primeiro momento se dá através da integração institucional, onde todos os profissionais de todas as categorias passam um dia em sala de aula aprendendo sobre temas de relevância institucional, entre eles o gerenciamento de resíduos.
Neste primeiro momento de ambientação do colaborador, são discutidos em 45 minutos, assuntos como 5Rs, impacto ambiental associado as atividades desenvolvidas nos serviços de saúde, segregação e tratamento dado aos resíduos, indicadores de geração e custos associados ao tratamento e disposição final dos resíduos. Cientes de que o período introdutório não é o suficiente para um assunto tão amplo quanto o gerenciamento de resíduos, e da necessidade de orientar os funcionários a cada melhoria feita no Plano de Gerenciamento de Resíduos do Serviço de Saúde (PGRSS) foi desenvolvido um curso de capacitação sobre este tema em um ambiente virtual que reproduz os diferentes locais de trabalho dos funcionário. Pensando em tornar o curso mais interativo e interessante, ele foi todo desenvolvido com animações e possui uma instrutora virtual que explica o gerenciamento de resíduos de forma com que o funcionário se sinta em seu ambiente de trabalho, conforme mostra a Figura 1. O curso é constituído por três módulos, e tem duração de 3 horas, e é obrigatório para todos os públicos da instituição (funcionários, estagiários, pesquisadores, alunos, professores, aprendizes, etc). Ao final dos módulos obrigatórios que compreendem o porquê e como fazer o manejo dos resíduos, o aluno para validar sua capacitação realiza obrigatoriamente um teste com questões pertinentes a sua atividade. Com isso, colaboradores que têm atividades assistenciais respondem a questões relacionadas ao manejo de resíduos assistenciais, e funcionários administrativos ao manejo de resíduos comuns. Figura 1 Telas do curso de manejo de resíduos em EAD. Os colaboradores da enfermagem representam o maior percentual de funcionários da instituição e geram grande parte dos resíduos com risco biológico, químico e perfurocortante. Por este motivo são desenvolvidas diversas estratégias educativas, com o objetivo de consolidar seus conhecimentos, conscientizá-los sobre sua responsabilidade e melhorar suas habilidades enquanto geradores e segregadores do resíduo, bem como os aspectos relacionados a sua segurança e dos demais trabalhadores que atuam na logística do resíduo. Nas capacitações presenciais desta equipe é utilizada a pedagogia da problematização, ou seja, dinâmicas de grupos que proporcionam a reflexão e discussão do processo de trabalho entre os participantes, no sentido de pensar e agir conscientemente, são os chamados Grupos Focados. Todo novo funcionário ou estagiário da área de enfermagem, logo após a integração institucional, a partir do segundo dia de atividade na instituição, passa por um processo educativo
específico para as suas atividades, onde a equipe trata de diversos assuntos relacionados à assistência a saúde, entre eles o gerenciamento de resíduos. Além destas atividades de capacitação, existe uma necessidade constante de que sejam reforçadas as práticas adequadas e também introduzidas novas práticas decorrentes de mudanças implantadas no PGRSS. Sendo assim, diferentes metodologias e um grande número de capacitações são demandadas em razão da complexidade do processo de segregação de resíduos, tendo em vista o consumo e a introdução de novos materiais. O consumo de uma grande variedade de itens diferentes que quando transformados em resíduos precisam ser classificados, tornam a habilidade de segregação uma etapa crítica e que sempre necessita de reforço educativo. Um exemplo dessa complexidade é o descarte de uma simples luva de procedimento que pode ser resíduo com risco biológico, mas também pode ser descartada como resíduo comum quando não apresenta nenhum tipo de contaminação, ou ainda ser descartada como resíduo químico, quando utilizada na administração de um quimioterápico. Este é o desafio do processo educativo ambiental hospitalar: fazer uma população heterogênea (enfermeiros, técnicos, médicos, alunos e usuários) compreender estas sutis diferenças no momento de realizar o descarte de resíduos, cientes dos desdobramentos posteriores desta opção (armazenamento, tratamento e disposição final), e dos riscos que uma opção inadequada pode acarretar (ocupacionais, ambientais e de saúde pública). Atualmente há sete diferentes tipos de coletores de resíduos em uma unidade de internação para armazenamento dos diferentes resíduos gerados nestes ambientes. As Campanhas institucionais são outra forma de abordagem educativa. No ano de 2012, utilizou-se um display móvel com a figura do instrutor virtual do curso em EAD e folders com material informativo para a divulgação e sensibilização dos funcionários sobre segregação dos resíduos. Mais focado no público de enfermagem, foram feitas visitas as unidades assistenciais do hospital, para esclarecimento de dúvidas relatadas pelos trabalhadores dessas unidades e correção de situações não-conformes constatadas nos processos de auditoria. As fotos e folders desta campanha são mostradas na Figura 2. Figura 2 Semana de meio Ambiente 2012 Cabe lembrar que outros grupos dentro da instituição são também relevantes com relação à geração ou manejo dos resíduos, sendo necessárias ações específicas de capacitação destes grupos porque geram resíduos com características distintas. Anualmente são feitas capacitações com conteúdo específico para as equipes do Serviço de Nutrição e Dietética, Serviço de Higienização,
Radiologia, Laboratório, Pesquisa, Centro Cirúrgico e serviços terceirizados (cantina, obras e transporte). A equipe de produção e distribuição de alimentos gera basicamente resíduos comuns, mas diferente de outras áreas onde o resíduo orgânico é considerado não reciclável, nesta área a sobra de alimento do refeitório é considerada matéria prima para alimentos de suínos. Na Higienização a capacitação reforça as noções da coleta dos resíduos e forma o funcionário para que possa identificar não conformidades no descarte e apontá-las a seu supervisor e ao responsável pela área. Além disso, é necessário para a segurança do próprio funcionário que as técnicas e os equipamentos utilizados para o manejo do resíduo sejam realizados conforme Procedimento Operacional Padrão. As empresas terceirizadas, como as empreiteiras de serviços e construção, necessitam de orientações específicas para descarte de resíduos de obras, e ao serviço de cantina que gera grande quantidade de resíduos comuns que precisam estar de acordo com o padrão institucional. Mais algumas informações podem ser vistas na Matriz de Capacitação sobre Manejo de Resíduo mostrada na figura 3. FIGURA 3 Matriz de capacitação sobre Manejo de Resíduos d. Resultados obtidos Com a utilização de distintos métodos de ensino e sensibilização em diferentes momentos da trajetória profissional do colaborador dentro da Instituição, percebe-se a complementação destas estratégias. A integração institucional, proporciona uma sensibilização quanto ao tema, abordando de forma generalista o manejo de resíduos, impactos ambientais e responsabilidades individuais. No ano de 2012 foram capacitados em integrações institucionais 1200 colaboradores, sendo 58% de funcionários, 38% estagiários e 4% de jovens aprendizes. Através do curso em EAD é possível que o conhecimento seja mais aprofundado sobre manejo de resíduos, legislação e gestão ambiental. É uma opção abrangente para atingir o grande público, em diferentes horários sem a necessidade de sala de aula e instrutor presente tornando
possível capacitar 81% de todos os funcionários no período de 1 ano, o que equivale a 3.855 colaboradores. No período de março e abril de 2012, antes da disponibilização do curso em EAD, foram detectadas 388 não conformidades no descarte de resíduos, após 1 ano do início das capacitações, foi detectada uma redução de 70% no total de não conformidades. A realização de grupos focados no serviço assistencial permite que o conhecimento adquirido ao longo do tempo seja consolidado através da problematização das dúvidas recorrentes no descarte de resíduos. e. composição da equipe Equipe: Ana Lucia Kern Thomas; Tainá Flôres da Rosa e Serviço de Educação de Enfermagem (SEDE)