Ref.: Inquérito Civil Público n.º 1.26.006.000008/2009-09 PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO EGRÉGIA 3ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Trata-se de Inquérito Civil Público instaurado com vistas a coletar elementos a respeito do aperfeiçoamento do controle sobre o uso de recursos hídricos no Rio São Francisco, em razão da notícia de que carros-pipa estariam se deslocando entre os Municípios de Juazeiro/BA e Petrolina/PE para captar água nas margens do Rio São Francisco. Considerando que a última manifestação da ANA havia ocorrido em 2011, oficiou-se à Agência Reguladora, requisitando que informasse se teria havido fiscalização in loco recente (2012 e 2013), nos Municípios de Juazeiro e Petrolina, a fim de apurar a extração irregular de recursos hídricos, principalmente através do uso de carros-pipa. Em resposta, a ANA esclareceu que, em 2013, equipes de fiscalização já estiveram nos Municípios em três ocasiões, sendo que em nenhuma delas o objetivo das campanhas teria sido verificar o uso irregular de recursos hídricos por meio de carrospipas, em que pese afirmar que não recebeu, nestas ocasiões, nenhuma denúncia sobre tal prática (ff. 90/91). Av. Presidente Tancredo Neves, 101, Centro, Petrolina/PE, CEP: 56.304-190 Telefone: (87) 2101-8400 FAX: (87) 2101-8421 - E-mail: prmpetrolina@prpe.mpf.gov.br
Entretanto, tendo em vista a verificação da ausência de fiscalizações efetivas empreendidas pela Agência Nacional de Águas ANA na fiscalização da extração irregular de água às margens do Rio São Francisco, bem como a constatação do acesso desimpedido de carros-pipa nas orlas dos Municípios de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, foram adotadas as seguintes diligências por este Parquet: (i) requisitou-se à ANA que: (a) procedesse à fiscalização in loco nas margens do Rio São Francisco, orlas de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, a fim de verificar ocorrências de extração irregular de recursos hídricos por carros-pipa; (b) informasse se pretende adotar mecanismos de fiscalização periódica da extração irregular de recursos hídricos por carros-pipa nas margens do citado Rio federal, diretamente ou mediante parcerias com órgãos estaduais e municipais; (c) informasse quais outras medidas fiscalizatórias/preventivas pretende adotar no intuito de efetivamente desempenhar sua atribuição legal. (ii) requisitou-se aos Municípios de Juazeiro/BA e Petrolina/PE que informasse sobre as medidas, administrativas e ambientais, adotadas com o objetivo de controlar o acesso de carros-pipa às margens do São Francisco em suas respectivas orlas. A Agência Nacional de Águas ANA respondeu ressaltando que os usuários prioritários para as ações de fiscalização na Bacia do São Francisco são aqueles com vazões de captação elevadas, como acontece nos perímetros irrigados da CHESF e da CODEVASF, cuja vazão máxima de captação excede a 2.000 m³/h, muito além da vazão de captação de um carro-pipa, que chega apenas a 0,09L/s, ou seja, 0,3m³/h, valor esse considerado insignificante quando comparado às vazões dos perímetros de irrigação (ff. 2 de 5
107/108). Apontou, ainda, para a Deliberação nº 5, de 2/10/2003, exarada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, na qual restou determinado que as vazões de água de até 4L/s são consideradas de pouca expressão e não dependem de outorga. Ademais, informou que não há previsão legal para que as atribuições de fiscalização que lhes são próprias sejam delegadas a órgãos estaduais e municipais. Por fim, ressaltou que, em virtude da escassez de recursos humanos em seu quadro, faz-se necessário estabelecer critérios de prioridade para a seleção de usuários que serão vistoriados, razão pela qual as campanhas de 2013 concentraram-se nos perímetros irrigados da CHESF e CODEVASF. De outro giro, o Município de Juazeiro/BA, por meio do Serviço Autônomo de Água e Esgoto SAAE, informou que o carregamento de carros-pipa é feito a partir de equipamento específico, havendo apenas um ponto de captação de água, bem como que todas as vezes em que são realizados abastecimentos a equipe do SAAE é acionada para que proceda à colocação das mangueiras e acione as bombas, concluindo, portanto, que a água captada passa pelos registros normais. Ao final, informou que não há notícias da ocorrência de abastecimento sem o conhecimento de sua equipe (101/104). Por sua vez, o Município de Petrolina/PE, por meio da Agência Municipal do Meio Ambiente AMMA, informou que não foi concedida qualquer licença ambiental para captação de água das margens do Rio São Francisco, haja vista tal mister ser de competência da ANA. Entretanto, informou que em fiscalização realizada no citado Rio não fora observada extração de água em suas margens (ff. 111/112). 3 de 5
Por fim, instado a se manifestar pela Procuradoria do Município de Petrolina, a Empresa Petrolinense de Trânsito e Transporte Coletivo EPTTC, informou que não possui competência para atuar na esfera ambiental no tocante à coleta e transporte de água por carros-pipa, bem como que o Código de Trânsito Brasileiro não prevê punições para o acesso a esse tipo de veículo às margens dos rios (ff. 118/120). Considerando que o Rio São Francisco é considerado bem da União, na forma do art. 20, III, CF/88, o presente procedimento teve como objetivo apurar possível extração irregular de recursos hídricos por carros-pipa nas orlas de Petrolina/PE e Juazeiro/BA. Entretanto, segundo informação da Agência Nacional de Águas, ente responsável pela gestão e fiscalização de tais recursos, os valores das vazões de água extraídas por carros-pipa são considerados de pouca expressão e não dependem de outorga para sua efetivação, conforme a deliberação nº 5 do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Diante deste cenário, vislumbra-se que, quanto às atribuições do Ministério Público Federal, não foram constatadas irregularidades, tendo em vista o posicionamento da ANA no que diz respeito à inexigibilidade de outorga para que os carros-pipa extraiam recursos hídricos do Rio São Francisco, diante da sua vazão insignificante. Porém, é de se registrar a possibilidade dos recursos hídricos captados às margens do Rio São Francisco causarem danos à saúde da população local, vez que não se sabe se a qualidade da água extraída nem a destinação que a ela está sendo dada especificamente o consumo humano. No entanto, tais questões revestem-se de caráter local, dizendo respeito à saúde pública, de modo que estão submetidas à atuação do 4 de 5
Ministério Público Estadual. Por tais razões, DETERMINO que a Secretaria do Gabinete extraia cópia das ff. 03, 30/33, 101/104, 107/108, 111/112, 118 e deste Despacho de Arquivamento, encaminhando-as ao Ministério Público do Estado de Pernambuco, em Petrolina, e ao Ministério Público do Estado da Bahia, em Juazeiro, a fim de que adotem as providências que entendam cabíveis no tocante à destinação desses recursos hídricos, notadamente o uso para consumo humano e os riscos à saúde daí advindos. Ante o exposto, com fulcro no art. 9º, 1º e 3º, da Lei n. 7.347/85, c/c art. 62, inc. IV, da Lei Complementar n. 75/93, regulamentado pelo art. 6º, inc. IV e 1º, da Resolução n. 20/96 do Conselho Superior do Ministério Público Federal, submeto a presente promoção de Arquivamento para exame, deliberação e, se for o caso, homologação por parte dessa Egrégia Câmara de Coordenação e Revisão. Baixa na distribuição e no controle processual. Petrolina-PE, 05 de novembro de 2013. BRUNO BARROS DE ASSUNÇÃO Procurador da República 5 de 5