PROCESSO N 15.570/93



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Transcrição:

ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA 211 PROCESSO N 15.570/93 N/M "NOAH", de bandeira granadense. Avarias nas instalações da máquina. Arribada ao porto para reparos. Falta de manutenção adequada. Considerar a arribada forçada e injustificada. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. No dia 6 de maio de 1993, o N/M "NOAH, de bandeira granadense (inscrito no porto de St. Vincent), arribou ao porto do Recife, com a finalidade de receber um grupo gerador, tendo em vista que no dia 04 de maio o MCA n 1 apresentou problemas. Drago Gulin, comandante do navio frigorífico "NOAH, declarou que arribou ao porto do Recife, PE, porque o motor auxiliar não podia trabalhar a plena capacidade, prejudicando a refrigeração da carga (2.080 toneladas de sardinhas), que poderia estragar. Resolveu, então, arribar no Recife, após ter comunicado o fato à empresa. Informou que o motor apresentou problemas no dia 4 de maio, às 23:OOh. a noventa e nove (99) milhas do Recife, entre os portos de Natal e Cabedelo, e que o porto de destino era Itajaí, mas o último porto foi Natal, onde entrou no dia 3 de maio para reabastecimento. Declarou ainda que o proprietário do barco é Caspar Shipping Inc., da Monróvia, Libéria, e que o navio está sendo operado por Marimed Agências Ltd. O motor avariado sofreu sua última revisão geral em setembro e o seu reparo estava sendo executado pelo pessoal de bordo. Seferovic Nebojsa, chefe de máquinas desempenhando a função há quatro meses, declarou que o navio possuía dois geradores, um que apresentou o problema e outro cujo bloco que havia quebrado há mais ou menos dez dias, durante o trajeto Mauritânia - Recife. Segundo o depoente, a causa determinante da avaria do gerador foi a entrada de água no cilindro, através do bico injetor. Esta avaria poderia ser reparada pelo pessoal de bordo durante a viagem, mas, se isso fosse feito, a carga estragaria.

212 TRIBUNAL MARÍTIMO Bogie Bulatovic, na função de primeiro oficial de máquinas, declarou que o navio possuía dois geradores: um quebrou antes de Natal e o outro, entre Natal e Recife. O problema com este último foi notado pelo chefe de máquinas, que ouviu um barulho e chamou o depoente, verificando-se, em seguida, que o gerador estava superaquecido. Foram, então, desligadas bombas, compressores e aparelhos de ar condicionado; o gerador foi colocado para trabalhar com metade de sua capacidade. Existem dois geradores independentes e mais um que trabalha acoplado ao motor principal - que também deu problema por ocasião da saída do navio da Mauritânia. Segundo o depoente, a última revisão foi realizada na França, em setembro de 92, e estava programado o conserto do gerador que sofreu avarias primeiro em Itajaí, Santa Catarina. Finalizou informando que está na função há oito meses e não sabe explicar o porquê do gerador ter quebrado o bloco. Juntado relatório de vistoria (fls. 59), com fotos, preparado pelo Bureau Veritas. No laudo de exame pericial (fls. 62), consta: "Por ocasião da chegada dos peritos ao navio, foi notado que o mesmo estava recebendo energia da terra, tendo em vista que o "NOAH" dispunha apenas de um MCA (o de n 1), estando o mesmo inoperante. Posteriormente, ficaram os peritos sabendo da existência de um gerador de eixo que só funciona com o MCP na linha. O MCA em questão é MWM, tipo TBD 602VI2K, de 1800 RPM, e com potência geradora de 850 KW/h. Quando os peritos chegaram à praça de máquinas, encontraram o MCA em fase final de montagem, impossibilitando qualquer avaliação. Foram vistos pelos peritos dois êmbolos e duas camisas com ranhuras no sentido vertical, segundo o chefe de máquinas, dos cilindros n s 8 e 11. Foi perguntado ao mesmo pelo óleo lubrificante do MCA, tendo respondido que estava no cárter do MCP, impedindo desta forma a análise do mesmo. Foi constatado também que o MCP estava com o cilindro n 4 sem cabeça, êmbolo e camisa, alegando o chefe de máquinas que estava fazendo uma manutenção normal. O chefe de máquinas afirmou que existe sobressalentes a bordo e que o pessoal de bordo é quem faz a manutenção, seja preventiva ou corretiva. Seguem em anexo fotografias. Na análise dos fatores contribuintes, verifica-se: a) Acidentes pessoais - não houve. b) Fator humano - não determinado. c) Fator material - impossível avaliar pelos fatos acima expostos. d) Fator operacional - não determinado." Concluíram os peritos pela impossibilidade de se determinar a causa da avaria no MCA n 1 do navio frigorífico "NOAH", tendo em vista que quando os peritos lá chegaram encontraram o referido motor cm fase final de montagem, impedindo qualquer avaliação. O encarregado do inquérito, no seu relatório, às lis. 64/64v considerou como «r e s p o n s a i pelo acidente da navegação Drago Gulin, comandante do NOAH por nao ter realizado em Natal o reparo no grupo gerador avariado na travessia Mauritania - Natal, optando em continuar viagem a Itajaí, contando apenas com um grupo gerador. A Douta Procuradoria ofereceu representação contra Dragon Gulin, comandante, e Seferovic Nebojsa. chefe de máquinas, por entendê-los responsáveis

ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA 213 pelo acidenie da navegação - avaria ou defeito no navio previsto no art. 14, letra "b", da Lei n 2.180/54, pelos seguintes fatos e fundamentos: ' Segundo prova a parte de entrada, datada de 03 de maio de 1993 (fls. 85), o N/M "NOAH arribou, primeiramente, ao porto de Natal (RN), sendo seu porto de destino Itajaí (SC), para abastecimento e pequeno reparo no motor, sem operação de carga ou descarga, conforme comunicação (fls. 84) de Epitácio Fernandes de Oliveira, corretor oficial de navios, ao Capitão dos Portos daquele Estado. Em seu depoimento (fls. 16), o comandante do mercante reconhece a arribada ao porto de Natal, ressalvando, entretanto, que era só para abastecimento, não informando se de combustível ou víveres. O primeiro oficial de máquinas do navio frigorífico, em seu depoimento de fls. 18, declara que havia a bordo dois geradores, tendo um deles quebrado antes da chegada a Natal e o outro entre a pernada Natal/Recife. Afirma, ainda, que o navio usa normalmente dois geradores e um terceiro, que trabalha acoplado ao motor principal, sendo que este gerador também havia apresentado problema por ocasião da saída da Mauritânia. Em face das declarações das testemunhas, tudo indica que este gerador acoplado ao MCP ficou inoperante devido à avaria apresentada após a saída do porto de origem do mercante, isto é, Mauritânia. Há nos autos, às fls. 28, passe de saída para o N/M "NOAH, com validade até as 11:15h do dia 06 de maio de 1993, expedido pela Capitania dos Portos do Estado do Rio Grande do Norte, para empreender viagem até o porto de Itajaí (SC), sem escalas. Resta, portanto, sobejamente provado que houve, em primeiro lugar, uma arribada do N/M "NOAH ao porto de Natal. QUANTO AOS FATOS EMERGENTES DO PRESENTE INQUÉRITO - ARRIBADA AO PORTO DO RECIFE - PE: Em 06 de maio de 1993, a agência marítima representante do armador do N/M "NOAH informou ao Capitão dos Portos do Estado de Pernambuco que o mercante, procedente do porto de Natal (RN), arribaria ao porto do Recife às 14:00 horas, a fim de receber um motor gerador sobressalente, prosseguindo sua viagem normalmente para o porto de destino em Itajaí, SC (fls. 04). Comunicou, ainda, que a "escala ao porto de Natal foi, unicamente, para abastecimento de óleo diesel, lubrificantes e água potável. Entretanto, a mesma agência marítima, Windrose - Serviços Marítimos e Representações Ltda., ao apresentar a defesa prévia como representante do comandante do navio, contradiz sua declaração inicial, passando a alegar que a arribada inicial ao porto de Natal se fez necessária pelas condições precárias dos geradores de bordo, e que não havia disponibilidade de aquisição ou aluguel de um novo grupo gerador naquela praça, ou de envio de um grupo gerador de outra praça em caráter de urgência (fls. 71). Resta provado, portanto, que o mercante, ao arribar a Natal, fê-lo por avaria(s) na máquina(s), isto é, a avaria no gerador acoplado ao MCP, ocorrida logo apos saída do porto de Mauritânia, c mais a avaria num dos grupos geradores (MCA), e não devido aos problemas de abastecimento, como nos quis fazer crer preliminarmente. Os fatos ocorridos nos indicam e convencem de que as condições de conservação e funcionamento geral das máquinas do navio, pelo menos quanto aos

214 TRIBUNAL MARÍTIMO grupos geradores, eram precárias, o que nos leva a deduzir, também, que a presente arribada ao porto do Recife foi planejada ou seria, no mínimo, previsível. Estranhamos o procedimento da agência marítima representante da armadora em Natal, que, ao invés de solicitar que o navio fosse despachado para um porto próximo onde houvesse condições de se efetuar os reparos (isto é, o porto do Recite) e/ou alugar um grupo gerador sobressalente, solicitou despacho para o de Itajaí, SC. O N/M "NOAH", de bandeira granadense, inscrito no porto de Kingstown, sob o n 2487, classificado como A-2-c, de propriedade de Caspar Shipping Inc., Monrovia, Libéria, tendo como operador Marimed Agencies (UK) Ltd., 27, Fishers Lane, London, UK, e sendo representado em nosso país no porto do Recife por Windrose - Serviços Marítimos e Representações Ltda., arribou ao porto do Recife conduzindo 2.080.470 kg de peixe congelado, conforme prova o manifesto de carga às fls. 26, tendo a bordo, além de seu comandante, mais 15 (quinze) tripulantes. DOS FUNDAMENTOS: O comandante. Sr. Drago Gulin, declarou em seu depoimento que decidiu pela arribada ao Recife em decorrência do motor auxiliar que não podia trabalhar a plena capacidade, prejudicando a refrigeração da carga (fls. 16). Declarou, mais, que o motor auxiliar apresentou problemas no dia 04 de maio de 1993, às 23:00h, quando se encontrava a 99 milhas do Recife, entre os portos de Natal e Cabedelo e que este seria consertado, mas, também, seria adquirido mais um, por motivo de segurança. Já o chefe de máquinas, Seferovic Nebojsa, em seu depoimento (fls. 17), declarou que: - a ambada ao Recife foi em decorrência de problemas no gerador; dois pistões não funcionavam bem; - detectou a avaria na viagem de Natal para o Recife; - parou a máquina para verificar a avaria; retirou todos os bicos injetores, substituindo-os; reduziu a velocidade, desligando bombas e compressores; - a última revisão foi realizada em setembro de 1992, na França; - no Recife determinou revisão geral no gerador; - a bordo existiam mais outros dois geradores, um que apresentou problemas e outro que estava com o bloco do motor quebrado; - a causa da avaria no terceiro gerador foi a entrada d água no cilindro, através do bico injetor; - se efetuasse o serviço fora de um porto, a carga estragaria. Bogic Bulatovic, primeiro oficial de máquinas do navio, atesta em seu depoimento (fls. 18) que: - havia a bordo dois geradores, um que quebrou antes de Natal e o outro entre Natal e Recife; - havia mais um gerador, que trabalha acoplado ao motor principal, que deu problema por ocasião da saída da Mauritânia. oficina PreC1SaVam arribar P"'5 havia a necessidade de algumas peças e de uma

ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA 215 Do conjunto da prova testemunhai concluímos que, quando da arribada a Natal, o mercante já estava com o gerador, que é acoplado ao MCP, avariado bem como um dos grupos geradores também avariado, ambos inoperantes. Tão logo saíram do porto de Natal, onde não havia condições de serem efetuados os reparos, o último gerador em operação também apresentou sérias avarias, ante a sobrecarga que recebeu, fato este que determinou a arribada ao Recife. O laudo pericial (fls. 62) concluiu pela impossibilidade da determinação da causa da avaria no MCA n 1, tendo em vista que, quando os peritos lá chegaram, encontraram-no cm fase final de montagem, impedindo qualquer avaliação. Ressaltam, entretanto, que o N/M "NOAH" dispunha apenas do MCA n 1, estando o mesmo inoperante. Posteriormente souberam da existência de um gerador de eixo, que só funciona com o MCP na linha (também fora de operação). Na praça de máquinas viram dois êmbolos e duas camisas com ranhuras no sentido vertical, que, de acordo com informações do chefe de máquinas, eram dos cilindros n s 8 e 11. Constataram, mais, que também o MCP encontrava-se com o cilindro n 4 sem cabeça, êmbolo e camisa. Há nos autos, ainda, um relatório de vistoria efetuado por um vistoriador do Bureau Veritas, que informa sobre a existência de: - avaria nos cilindros 4 c 10 do motor principal (MCP), atingindo pistons, camisas, jaquetas, bielas, válvulas e cabeçotes; pistons e camisas 4 c 10 c jaqueta 4 foram encontrados totalmente destruídos; - o diesel gerador de boreste foi encontrado com avarias no eixo de manivela, assim como avarias nos pistons, camisas e bielas n s 7, 8, 9, 10, 11 e 12. Foi instalado um grupo dicsel gerador temporário, a ser utilizado em emergência, em substituição aos geradores do navio. Entretanto, não faz qualquer referência ao gerador de bombordo, que, de acordo com os tripulantes principais dc máquinas a bordo, também estava avariado e inoperante. O referido vistoriador, ao final de seu relatório, nos induz a crer que o gerador, que funcionava acoplado ao MCP, havia sido consertado no porto do Recife. Compiladas todas as provas dos autos, temos que o N/M NOAHM, ao ambar ao porto do Recife, encontrava-se com: - avaria no MCP (conforme relato do vistoriador da Bureau Veritas); - avaria no MCA de BE, ocorrida entre os portos de Natal e Recife; - avaria no MCA dc BB. ocorrida antes da arribada ao porto de Natal, que o deixou inoperante; - avaria no gerador que funcionava acoplado ao MCP, que se encontrava também inoperante. Resta claro que as condições de funcionamento e conservação das máquinas geradoras dc energia para o navio eram precaríssimas, caracterizando conduta culposa dos representados, por negligência, ante a omissão e inobservância dos deveres que lhes competiam, objetivado nas precauções que lhes eram ordenadas pela prudência e vistas como necessárias, a fim dc evitar o risco e o resultado dele advindo, e por

216 TRIBUNAL MARÍTIMO imprudência em face da imprevisão dos representados em relação às consequencias de seus atos, quando deveriam e podiam prevê-los. Ambos colocaram em risco a embarcação, as vidas e a carga de bordo em ra/ão de suas condutas culposas, das quais decorreram danos, que podiam e deviam ser atendidos ou mesmo previstos por ambos. São, portanto, responsáveis pelo acidente da navegação - avaria ou defeito no navio, nas suas instalações, que ponha em risco a embarcação, as vidas e fazendas de bordo. Quanto à arribada ao porto do Recife, entende a PEM que esta, em razão da segurança do navio, pode ser considerada como torçada e justificada. Ante as provas dos autos e o exposto, a Procuradoria espera que a presente representação seja aceita por essa Egrégia Corte, após o que, sejam citados os representados na forma da lei, isto é, na pessoa da agência marítima representante dos interesses do N/M NOAH" - Windrose - Serviços Marítimos e Representações Ltda., com sede à Av. Marquês de Olinda, n 126, Io andar, bairro do Recife, Recife, Pernambuco." Recebida a representação, citados, os representados mantiveram-se revéis, sendo defendidos por advogado de ofício, que alega serem improcedentes as acusações da representação de fls. 88/% contra os representados: "Já faz muito tempo que o comandante não é mais o senhor absoluto do navio nas empreitadas marítimas. O desenvolvimento das comunicações instantâneas, atualmente até com telefonia via satélite, transformou o comandante em mais um técnico a serviço do armador. Um técnico graduado em navegação e gerenciamento do navio que, entretanto, deve cumprir o planejamento financeiro e comercial do armador, não podendo mais determinar autonomamente reparos e despesas a cobrar do armador. E verdade que desde a saída da Mauritânia já havia problemas com um dos geradores. Entretanto, cabia ao armador determinar a volta da embarcação ao porto de saída para realizar reparos ou, se fosse o caso, adquirir novos motores. Contudo, isto não foi teito. Ao comandante, em permanente comunicação com os armadores, foi determinado que continuasse a viagem até Itajaí, para lá efetuar os reparos que tossem necessários. Talvez até contando com o produto da venda do pescado que o navio trazia. O comandante desempenhou bem o seu papel e, em um caso extremo, arribou aos portos de Natal e do Recife, sempre sob determinação dos armadores (fls. 71). A própria descrição das avarias nos motores auxiliares, contida na representação, demonstra que os problemas ocorreram por falta de manutenção e não por erro, quer do comandante, quer do chefe de máquinas. Assim sendo, não há como se falar em culpa dos representados, mas sim dos armadores, a quem competia fazer manutenção preventiva na embarcação em periodicidade compatível com a idade do mesmo e sua utilização. Por estes motivos, requer a defesa a absolvição dos representados, como medida de justiça."

ANUÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA 217 Consta do laudo de exame pericial que, ao chegarem ao navio "NOAH", os peritos ficaram na impossibilidade de determinar a causa da avaria no MCA n 1, tendo em vista que o referido motor já estava em final de montagem. O que se depreende dos autos, principalmente da carta-ofício da Windrose - Serviços Marítimos e Representações Ltda. (fls. 71), é que "a arribada inicial ao porto de Natal fez-se necessária pelas condições precárias dos geradores de bordo", não devendo o N/M "NOAH prosseguir viagem naquelas condições. Por essas razões, é de se deferir o requerido pela PEM (fls. 96), responsabilizando os representados, Drago Gulin, comandante, e Seferovic Nebojsa, chefe de máquinas, por continuar a viagem nas condições precárias em que se encontravam as instalações de máquina do N/M "NOAH". Assim, ACORDAM os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: avarias nas instalações da máquina. Arribada ao porto para reparos; b) quanto à causa determinante: falta de manutenção adequada; c) decisão: considerar a arribada forçada e injustificada. Considerar responsáveis os representados Drago Gulin (comandante) e Seferovic Nebojsa (chefe de máquinas), incursos no art. 14, letra "b", e art. 15, letra "e", da Lei n 2.180/54, aplicando a cada um a pena de multa de RS 200,00 (duzentos reais). Custas na forma da Lei. Advogado de ofício no mínimo legal. PC.R. Rio de Janeiro, RJ, em 06 de abril de 1995. - RENATO DE MIRANDA MONTEIRO, Almirante-de-Esquadra (RRm), Juiz- Presidente - JOSÉ DO NASCIMENTO GONÇALVES. Juiz-Relator.