Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 1 DIAGNÓSTICO DA EROSÃO URBANA NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS-MA (*) MENDONÇA, J.K.S(1); GUERRA, A.J.T(2); MENDES, M.R.(3) - (1) Curso de Geografia UFMA raiogeo@bol.com.br ; (2) Departamento de Geografia - UFRJ - guerra@igeo.ufrj.br; (3) Curso de Geografia UFMA - marcgeo@bol.com.br RESUMO Este trabalho refere-se ao estudo da erosão urbana por voçorocas em São Luís (Maranhão), levando em conta vários fatores: características dos solos, uso da terra, crescimento urbano, geologia, distribuição das chuvas, declividade das encostas, etc. Até o momento, várias voçorocas já foram identificadas e algumas estão sendo monitoradas. Amostras de solos foram coletadas e suas propriedades físicas e químicas estão sendo determinadas no laboratório. Os principais objetivos desse projeto são: localizar as voçorocas, fazer um diagnóstico da erosão em voçorocas em São Luís, determinar as propriedades dos solos, relacionar o crescimento das voçorocas aos fatores urbanos e ambientais e, conseqüentemente, contribuir para um programa de recuperação das áreas atingidas pelas voçorocas, bem como criar um programa ambiental, que consiga evitar a ocorrência de novas voçorocas. Palavras-chave: Erosão Urbana, Voçoroca e São Luís. ABSTRACT This paper regards the study of urban gully erosion in São Luís City, Maranhão State, taking into account several factors: soil characteristics, land use, urban growth, geology, rainfall distribution, slope angle, etc. So far, several gullies have been recorded and some are being monitored. Soil samples have been collected and their physical and chemical properties are being determined in the laboratory. The main objectives of this research work are: to localize the gullies, to make a diagnosis of gully erosion in São Luís, to determine the soil properties, to relate the gully growth to the urban and physical factors and consequently to contribute towards a programme to restore those gullies and also to create an environmental programme to avoid the gully occurrence. 1. Introdução O presente trabalho aborda a erosão por voçorocas, na área urbana do município de São Luís, levando em conta as características relacionadas às propriedades físicas e químicas dos solos, bem como as características das encostas, distribuição pluviométrica, uso da terra, cobertura vegetal, relevo, geologia, características das feições erosivas, etc. De acordo com Oliveira (1999), a erosão por voçoroca é causada por vários mecanismos que atuam em diferentes escalas temporais e espaciais, podendo ser entendidas por: deslocamentos de partículas, transporte por escoamento superficial difuso, transporte por fluxos concentrados, erosão por quedas d' água, solapamentos, liquefação, movimentos de massa e arraste de partículas. As voçorocas existentes na área urbana foram localizadas e mapeadas (Figura 01), com o objetivo de se identificar a distribuição espacial dessas feições erosivas. É importante, nesse estágio da pesquisa, conhecer a localização dessas feições, para mais adiante, serem selecionadas algumas onde serão feitos trabalhos de detalhe, como o monitoramento das
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 2 mesmas e coleta de amostras, para que sejam feitas análises de suas propriedades físicas e químicas, bem como para que sejam feitos ensaios com o infiltrômetro, para determinar as taxas de infiltração. Algumas voçorocas já estão sendo monitoradas. Outras ainda serão selecionadas. O município de São Luís localiza-se na parte centro-ocidental da Ilha do Maranhão, com uma área de 831,7 km 2 tendo como limites: a leste - São José de Ribamar, ao norte oceano Atlântico, a oeste - Paço do Lumiar, ao sul Rosário, sob lei de criação do município nº 17 de 08/09/1612 (Maranhão, 1998), sendo que a população urbana vem crescendo a um ritmo bastante acelerado nas últimas décadas, como mostra a Tabela 1. Esse crescimento urbano acelerado não tem sido acompanhado por obras de infra-estrutura urbana, causando uma série de impactos ambientais, sendo um deles a formação de voçorocas, em várias partes do município. Dessa forma, esse trabalho procura compreender como, onde e porque as voçorocas urbanas têm surgido em São Luís, bem como têm evoluído, com a finalidade de fornecer subsídios à Prefeitura e às comunidades para que tais processos não continuem a ocorrer, além de procurar orientar as autoridades a conterem a evolução das voçorocas já existentes. Para tal, uma série de levantamentos de campo, de gabinete e de laboratório, estão em andamento. 2. Metodologia Para atingir-se os objetivos propostos nesse trabalho, a metodologia está dividida em três etapas: trabalhos de campo, laboratório e gabinete. Os trabalhos de campo referem-se à localização e mapeamento das voçorocas, através de fotografias aéreas e controle de campo. Estão sendo coletadas amostras de solo, para determinação de propriedades físicas e químicas. Está sendo também utilizado o infiltrômetro de Hills (1970), para determinação das taxas de infiltração. As Fichas de Cadastramento das Voçorocas (anexo) estão sendo preenchidas, contendo informações como: as principais características físicas e de ocupação humana, para cada uma dessas feições erosivas identificadas no campo, uso do solo, geologia, relevo, etc. Está sendo realizado o monitoramento de algumas voçorocas em áreas com diferentes usos para que se possa compreender o avanço desses processos erosivos, segundo o método do Guerra (1996) No laboratório estão sendo determinadas as propriedades físicas e químicas dos solos, bem como as características morfológicas de acordo métodos da Embrapa (1979), no intuito de correlacionar esses resultados com as demais variáveis condicionantes dos processos erosivos. Em gabinete estão sendo executadas uma série de tarefas, desde a interpretação de fotografias aéreas, de duas épocas diferentes, imagens de satélites, mapeamentos, gráficos, tabelas, cruzamento das informações, dos dados e dos mapeamentos obtidos através dos trabalhos de campo e de laboratório. 3. Resultados e discussões A área de estudo apresenta como principais características do seu meio físico, quantos aos aspectos geológicos, a Formação Barreiras, de idade Terciária, como unidade litoestratigráfica de maior distribuição superficial predominante em toda área e constitui-se essencialmente de arenitos. Petrograficamente, as rochas da área são em essencial da classe sedimentar, com amplos predomínios de arenitos porosos, permeáveis e de um modo geral friáveis.(maranhão,1998)
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 3 A configuração geomorfológica da área expressa pequena amplitude altimétrica e baixa declividade em suas unidades morfológicas, decorrentes das atividades dos agentes morfogenéticos, dentre os quais se destacam: as ações antrópicas, sendo as mais intensas aquelas decorrentes da ocupação urbana e industrial, com intervenções não planejadas e com caráter especulativo; as climáticas, particularmente o vento e a chuva e os agentes oceanográficos, notadamente as ondas e correntes, ou da ação combinadas de diferentes agentes e processos. O relevo moderado na Formação Barreiras resultante da dissecação fluvial, esculpe vales com encostas côncavas e convexas, com declividades entre 3º e 20º, onde os processos erosivos ocorrem de forma acelerada. Quanto aos aspectos climáticos a área é marcada por dois períodos bem distintos: um chuvoso, que se caracteriza por apresentar moderados a grandes excedentes hídricos, enchentes dos rios, baixa evaporação, elevada umidade relativa do ar, solos úmidos e temperaturas moderadas que se estende de dezembro a junho; o outro caracteriza-se por déficit de precipitação, altas taxas de evaporação, baixa umidade relativa do ar, solos secos, temperaturas mais elevadas e vazantes dos rios, que vai de julho a novembro (Maranhão, 1998). Os valores médios de precipitação em São Luís estão em torno de 2180mm/anuais, segundo dados do Núcleo de Estudos Meteorológicos e Recursos Hídricos, cujos valores mensais de precipitação podem ser vistos na Figura 2. Em relação à vegetação destacam-se os mangues, matas de galeria, restingas, capoeiras, campos inundáveis, florestas secundárias mistas e florestas tropicais, grandemente devastadas pela expansão urbana, principalmente nos ambientes de manguezais. Embora sejam considerados APAs, a falta de fiscalização facilita a extração intensiva de madeira desses sistemas. Quanto aos recursos hídricos, o município de São Luís dispõe de importantes bacias hidrográficas, tais como, as bacias do rio Anil, Bacanga, Paciência, Tibiri e Cachorros, com uma área de drenagem de 25.000 ha. Grande parte desses rios está em acelerado processo de degradação ambiental, que além de comprometer o equilíbrio dos ecossistemas locais, compromete também o abastecimento de água da cidade. A erosão dos solos é um dos responsáveis por esse estágio de degradação em que se encontram as bacias hidrográficas do município, que além de bastante poluídas, encontram-se também assoreadas, devido ao grande volume de sedimentos oriundos dessas feições erosivas. O aqüífero Barreiras, que é o aqüífero subterrâneo predominante na ilha, possui cerca de 1500 poços tubulares profundos, sendo que grande parte deles apresenta contaminação por infiltração de esgotos (Maranhão, 1998). Isso demonstra bem, o estado de degradação ambiental em que se encontram os recursos hídricos do município. Em relação ao solo o principal impacto configurado se refere à vulnerabilidade à erosão, sendo as áreas mais afetadas, aquelas de relevo ondulado, com declives acima de 3º, vegetação de capoeiras, sobre solos rasos a mediamente profundos derivados de materiais de rochas sedimentares, pouco consolidados, da Formação Barreiras. O uso da terra também é uma variável que deve ser considerada nessa explicação. Na ilha do Maranhão, os processos erosivos, destacando a erosão por voçorocas, de origem pluvial são mais evidentes em virtude da reduzida cobertura vegetal dos solos, nas áreas de processo de ocupação desordenada e retirada de material para a construção (Figuras 3, 4 e 5). Baseado nos trabalhos de campo, laboratório e gabinete executados até o momento, podemos constatar que as voçorocas urbanas do município de São Luís localizam-se predominantemente em áreas desmatadas, da Formação Barreiras com espesso manto de intemperismo, de extração de saibro e argila, de construção de ruas e avenidas, loteamentos irregulares, urbanização acelerada e desordenada. A mineralogia das argilas, realizada em
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 4 laboratório na UFRJ, aponta para o predomínio das caolinitas. Mais resultados estarão disponíveis assim que outras amostras forem analisadas, bem como outros mapeamentos estiverem concluídos. Os dados serão aplicados em geoprocessamento, com o objetivo de se gerar um mapa que procure determinar quais as áreas de alto, médio, baixo e nulo risco de susceptibilidade à erosão por voçorocas. Além disso, está prevista a utilização de softwares de Mudanças Climáticas, com o objetivo de se estimar em que medida a maior ou menor concentração das chuvas, em um futuro, mais ou menos próximo (2010, 2020, 2030, 2040 e 2050), poderá vir a acelerar, ou não, os processos de formação de voçorocas no município de São Luis. 4. Conclusões Através de controle de campo foi possível identificar uma série de voçorocas na área urbana de São Luís. Estas encontram-se espalhadas pelo município situadas em encostas com declividades que variam entre 3º e 20º, nos solos oriundos da Formação Barreiras. Apesar de nesse estágio do projeto de pesquisa não terem sido determinadas as propriedades físicas e químicas dos solos, os ensaios feitos com infiltrômetro apontam para baixos índices de infiltração, apontando para altos índices de escoamento superficial, especialmente no período das chuvas concentradas, entre dezembro e julho. Algumas voçorocas estão monitoradas através da instalação de estacas nas suas cabeceiras e laterais, portanto, dados do recuo dessas feições erosivas estarão disponíveis mais adiante, mas mesmo assim já é possível inferir que as encostas situadas na Formação Barreiras, onde é feito desmatamento para ocupação urbana, sem medidas de controle de erosão, além da ocorrência de extração mineral, que também acentua os processos erosivos, voçorocas têm grande probabilidade de ocorrer e isso tem se verificado em várias partes da área urbana de São Luís. As autoridades municipais deveriam levar em conta as características físicas do meio, bem como as necessidades da população, para que tais processos de impacto não venham a ocorrer em novas áreas que venham a ser ocupadas, bem como aquelas que já vêm sofrendo com esse processo de degradação possam ser recuperadas, através da utilização de técnicas relativamente baratas e simples. Esse é o próximo estágio desse projeto de pesquisa. O emprego dos modelos de mudanças climáticas, que serão utilizados, logo a seguir, poderão demonstrar o aumento de risco dos processos erosivos, caso haja uma tendência de aumento da pluviosidade, bem como da sua concentração nos períodos onde as chuvas já ocorrem com maior intensidade. Esse trabalho visa dar uma contribuição para as autoridades municipais, bem como às comunidades atingidas, no sentido de evitar que novas áreas venham sofrer com o problema das voçorocas, bem como aquelas já atingidas possam vir a ser recuperadas, ou que pelo menos, o processo possa ser estancado, para que a população não corra risco de vida, nem de perder suas casas e que ruas não sejam destruídas. Os resultados obtidos através desse projeto de pesquisa deverão também ser utilizados em projetos de educação ambiental e na elaboração de cartilhas ecológicas que orientem a população como lidar com o problema das voçorocas e que não dependam apenas das autoridades. * * Autores agradecem o apoio financeiro a FAPERJ e ao CNPQ
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 5 5. Referências Bibliográficas EMBRAPA. Manual de Métodos de Análise de Solo. Rio de Janeiro, EMPBRAPA/SNLCS. (1979). FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico:dados básicos de população (1950-2000). FIBGE, 2001. GUERRA, A. J. T.. Processos Erosivos nas Encostas. In: Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. Orgs. Cunha, S. B. & Guerra, A. J. T. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996. 139-155. GUERRA, A. T. & GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1997.648p. HILLS, R.C. The determination of the infiltration capacity of field soils using the cylinder infiltrometer. British Geomorphological Research Group, Technical Bulletin, 1970, nº 3, 25p. MARANHÃO, Governo do Estado.Secretaria de Estado Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMA. Macro zoneamento do Golfão Maranhense: Diagnóstico Ambiental da Microregião Urbana de São Luís e dos Municípios de Alcântara, Bacabeira e Rosário. Estudo de hidrologia GERCO/CPE/SEMA. São Luís, 1998. MARANHÃO, Universidade estadual. Núcleo de Estudos Meteorológico e Recursos Hídricos-NEMRH. Dados Estatísticos de Precipitação (1990-2000). UEMA, 2001. OLIVEIRA, M. A. T. Processos Erosivos e Preservação de Áreas de Risco de Erosão por Voçoroca. In: Erosão e Conservação dos Solos: conceitos, temas e aplicações. Orgs. Guerra, A. J. T., Silva, A. S.& Botelho, R. G. M. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,1999, 57-100.
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 6 ANEXOS TABELA 1: POPULAÇÃO DE SÃO LUÍS ENTRE 1950 e 1996 POPULAÇÃO DE SÃO LUÍS Ano Urbana Rural Total Taxa de Crescimento Anual(%) 1950 93764 26021 119785 3,41 1960 137820 20472 158292 2,82 1970 205248 60347 265595 5,30 1980 247288 202144 449432 5,40 1991 246244 450127 696371 4,06 1996 762172 18661 780833 2,31 2000 834968 32722 867690 2,67 Fonte: IBGE (2001) Figura 2 Distribuição Pluviométrica nos anos de 1998,1999 e média dos dez últimos anos mm 600 500 1998 1999 média de 10 anos 400 300 200 100 0 Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Fonte: Núcleo de Estudos Meteorlógico e Recursos Hídricos-UEMA
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS NEPA Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais Ficha de Cadastramento das Feições Erosivas 1.Local: 2. Tipo de Feição: 3.Coordenadas Geográficas ou UTM: 4.Croqui da voçoroca 5.Características Geo-ambientais observadas: 5.1- Relevo- 5.2- Vegetação- 5.3- Hidrologia 5.4- Solo- 5.5- Geologia 5.6- Uso do solo 6.Características da feição erosiva
Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 8 Figura 3 Voçoroca no bairro da Vila Palmeira Foto Jane K.S. Mendonça Figura 4 Processos erosivos próximo a área de ocupação Foto Jane K.S. Mendonça Figura 5 Processos erosivos no bairro Sacavém Foto Jane K.S. Mendonça
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