REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: CONHECIMENTOS DOS IDOSOS SOBRE O HIV/AIDS Gerardi AF, Almeida JB Universidade do Vale do Paraíba, Faculdade Ciências da Saúde, Av; Shishima Hifumi. 2911, Urbanova São José dos Campos São Paulo CEP: 12.244-000, ale_fgerardi@hotmail.com, jbenicio@univap.com Resumo A Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) se manifesta após infecção do organismo pelo Vírus Imunodeficiência Humana (HIV), observa-se uma tendência de mudança epidemiológica, sendo que a incidência em idosos vem aumentando provavelmente pela modificação comportamental observada neste grupo de indivíduos que acreditam estar protegido quanto à infecção ocasionada pela doença, possivelmente relacionada à falta de informações direcionada ao público da terceira idade. Este estudo tem como objetivo identificar o conhecimento dos idosos em relação ao vírus HIV/AIDS. A metodologia utilizada foi descritiva-exploratório de abordagem quantitativa. As fontes de pesquisa foram à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Conclui-se que as campanhas de prevenção e o preconceito em relação aos preservativos devem atingir todas as faixas etárias. Além de contribuir com a modificação do paradigma cuja premissa é a ideia de que os idosos não mantêm uma vida sexual ativa. Palavras-chave: AIDS, idosos. Área do Conhecimento: Enfermagem Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) se manifesta após infecção do organismo pelo Vírus Imunodeficiência Humana (HIV), ele pode ser transmitido através de relação sexual, sem o uso de preservativo, de mães para filhos durante a gestação, amamentação ou parto, do compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas durante o uso de drogas injetáveis, transfusões sanguíneas com sangue contaminado (ANDRADE et al., 2010). Quando a AIDS surgiu na década de 80, de início as informações foram transmitidas para população de formas trágicas e fatais, as pessoas formaram opiniões e teorias amparadas nos dados de que dispunham sobre os portadores (drogados, hemofílicos, homossexuais, recebedores de transfusão de sangue), isto fez com que a população acreditasse que caso não pertencesse a um dos grupos de risco não estariam expostos ao vírus, desta forma os idosos não se sentem ameaçados pelo vírus e na maioria das vezes apresentam uma resistência ao uso de preservativos, negando que são ou foram usuários de drogas injetáveis, levando a descoberta tardia da positividade do HIV (RESENDE et al., 2009). A incidência da doença entre os idosos, adultos maiores de 60 anos (BRASIL, 2003), tem aumentado, este aumento de casos de AIDS na terceira idade pode-se atribuir a mudança de comportamento da população idosa que possuem entre outros fatores melhores recursos financeiros, novos medicamentos que combatem a disfunção erétil permitindo uma vida sexual mais ativa. Alguns estudos sobre vulnerabilidade e comportamento preventivo indicam que os idosos justificam a não utilização de preservativos pelo fato de possuírem um relacionamento estável e o fator da idade, propiciando um estilo de vida sexual mais tranquilo, por serem de uma geração onde não havia incentivo e campanhas ao uso de preservativos, e as mulheres de terem a falsa ideia de não apresentar risco de gravidez e a percepção de que os idosos são monógamos. (CAMARGO, et al., 2009; BERTONCINI, et al., 2007). 1
A falta de conhecimento desta população na forma de transmissão e prevenção do HIV é grande, facilitando o contagio, o que configura um problema de saúde pública (BERTONCINI, et al, 2007). Motivada pela curiosidade sobre o HIV e minha afinidade com idosos surge a vontade de estudar a representação dos idosos sobreo o HIV.O objetivo desse estudo é identificar o conhecimento dos idosos em relação ao vírus HIV. Metodologia É um estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa, os critérios de inclusão foram artigos que abordassem AIDS e idosos, por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo utilizadas as bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), publicado em português nos períodos de 2007 a 2015. Foi realizada uma extração dos dados dos artigos incluídos na revisão, analisando os seguintes itens: identificação do artigo original, metodologia do estudo, características de resultados encontrados. Resultado Das 18 referencias selecionadas foram excluídos 10 artigos que não estavam relacionados com a pesquisa e foram utilizados 8 artigos. Na figura 1 é possível observar os artigos abordados com seus títulos, autores, anos e resumos baseados nos autores. Titulo Autor Ano Resumo Comportamento sexual em adultos maiores de 50 anos infectados pelo HIV Bertoncini, B.Z 2007 O número de casos de AIDS na faixa etária acima de 50 anos é crescente, sendo o risco de contaminação dos idosos pelo HIV ignorado por parte da população e dos profissionais de saúde. Doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS na opinião de idosos que participam do grupo de terceira idade. O conhecimento de HIV/aids na terceira idade: estudo epidemiológico no Vale do Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil Sexualidade na terceira idade: uma discussão da Aids, envelhecimento e medicamentos para disfunção erétil. Pratica sexuais, conhecimento sobre Leite, M.T 2007 A maioria dos idosos ouviu falar acerca do HIV, e as principais fontes de informação são: televisão e profissionais de saúde. Quanto ao HIV, os métodos preventivos conhecidos são: uso de preservativos e ter somente um parceiro sexual. Lazzarotto A.R 2008 Os recentes avanços da indústria farmacêutica e da medicina, que permitem o prolongamento da vida sexual ativa, em associação com a desmistificação do sexo, tornam as pessoas da terceira idade mais vulneráveis às infecções sexualmente transmissíveis, dentre elas, o HIV, a maioria dos idosos desconhecem a forma de transmissão e prevenção do HIV. Sousa, J.L 2008 Tendências recentes da epidemia da AIDS vêm colocando um novo grupo em destaque na discussão de vulnabilidade: os idosos.com o crescente envelhecimento populacional, muito investimentos tem sido feito para melhorar a qualidade de vida deste grupo etário. Camargo, V.B 2009 Verificou-se forte correlação entre conhecimento e atitude favorável à prevenção do HIV. Conclui- 2
HIV/AIDS e atitudes a respeito da relação amorosa e prevenção entre adultos com mais de 50 anos do Sul do Brasil AIDS na terceira idade: determinantes biopsicossociais AIDS em idosos: vivência dos docentes Conhecimento sobre HIV/AIDS de participantes de um grupo de idosos, em Anápolis-Goiás Resende, M.C.M Andrade, H.A.S Pereira G.S; Borges C.I se que o participante mantém relações sexuais sem prevenção, mas não acreditam que este seja um comportamento de risco. Para eles o casamento os protege. 2009 A longevidade é um fato característico do presente século, com isso grupo de convivência de idosos permitem sua inserção social e cultural, desta forma a AIDS vem crescendo entre os idosos com mais de 50 anos tornando necessário programas preventivos 2010. O estudo desenvolveu a complexidade de uma doença sem cura para o idoso, foram revelados sentimentos, isso traz implicações para saúde coletiva e para enfermagem na busca de estratégias para informação a transmissão, prevenção em relação ao HIV. 2010 Apesar de a maioria ter conhecimento sobre as formas de transmissão do HIV, ainda acredita que picada de mosquito, compartilhamento de sabonetes e toalhas, talheres, copos e pratos podem transmitir o vírus. Apesar do bom nível de conhecimento demonstrado pelos participantes, ainda persistem dúvidas quanto às formas de transmissão, demonstrando a necessidade de investimentos públicos na educação que resulta em aumento do conhecimento e redução dos riscos. Figura 1: Classificação dos artigos em ordem cronológica e temas abordados. São José dos Campos, 2016. Discussão Idosos não utilizam os preservativos pela falta de hábito de uma vida inteira sem uso do mesmo e pela cultura de que o preservativo atrapalha a relação sexual, que são monogâmicos e levam uma vida sexual estável e por conta dos medicamentos para disfunção erétil, estas assertivas vem de encontro ao trabalho de Camargo et al. (2009) que relatam ser o principal motivo dos homens idosos não usarem preservativos a justificativa de uma vida sexualmente estável, por conta da idade, falta de habito relacionado ao uso do preservativo e pouco influenciados pelas campanhas que nas décadas passadas eram voltadas para um público considerados de risco. Resultados estes que corroboram com Resende et al. (2009) os quais citam que os idosos não se sentem ameaçados pelo HIV negando que são ou foram usuários de drogas injetáveis, o que deixa a compreender que em seus entendimentos só os usuários de drogas estão vulneráveis ao HIV. Quanto às mulheres, o motivo de não usarem preservativos se dá pela associação de não poder mais engravidar e a monogamia, sem levar em conta que o HIV não está relacionado à gravidez e monogamia e sim a relação sexual com parceiros portadores do vírus ou doentes de AIDS. Os resultados encontrados estão de acordo com as pesquisas de Bertocini et al. (2007) cujo os textos afirmam que a falta de uso de preservativos entre os idosos contribuiu para o aumento de incidência da AIDS e a falta de conhecimento da população em relação ao crescimento da 3
patologia em pessoas mais velhas colaborou para um aumento de epidemia, tornando uma ameaça à saúde pública a exposição ao vírus é ainda maior pela vida social ativa dos idosos. As pesquisas de Lazzarotto et al. (2007) confirmam que os idosos deste grupo de estudo não relacionam a AIDS como um problema de saúde pública e não mostraram interesse na mudança comportamental no intuito de prevenção, este estudo possibilitou avaliar o grau de conhecimento dos idosos em relação ao vírus haja vista que muitos deles acreditam que a AIDS é uma doença de um grupo específico, como homossexuais, usuários de drogas e profissionais do sexo, acreditam ainda que a doença é um castigo divino para os que cometem pecados, acreditam também que pessoas infectadas sempre apresentarão sintomas de AIDS, grande parte deles creem na transmissão ocasionada por picada de insetos, este estudo indica ainda que os idosos sabem do risco das relações sexuais sem o uso adequado do preservativo, muito embora não o utilizem. As mulheres objetos de pesquisa deste trabalho relacionam o preservativo ao método contraceptivo justificado com a menopausa a não utilização do método de barreira que evita a gravidez indesejada e também o contágio de DST. Já o trabalho de Leite et al. (2007), cita que a falta de conhecimento dos idosos em relação ao vírus HIV está relacionado à ausência de instrução ou ao pouco estudo, que podem causar dificuldade no entendimento nas campanhas relacionadas a AIDS, ressalta também que as campanhas referente á área de saúde em geral são ainda direcionadas a população jovem e de meia idade e que os estudos mostram que elas devem abranger todas as faixas etárias, com uma linguagem simples de fácil entendimento para a população idosa. No entanto Pereira e Borges (2010) relatam em suas pesquisas que foi observado um bom nível de conhecimento quando se trata de transmissão por meio de agulhas e seringas contaminadas, sexo desprotegido, contato com sangue, colocação de pirceng e tatuagem, entretanto ainda há dúvidas importantes, pois acreditam na contaminação através de contato com talheres, copos e pratos, pelo compartilhamento de sabonetes toalhas e assentos sanitários e por picada de mosquito, e até por aproximação de indivíduos infectados pelo HIV. Enquanto Sousa (2008) considera que a incidência do HIV em idosos tem aumentado por conta dos medicamentos para disfunção erétil, pela falta de habito de uso de preservativos e pela falta de campanha destinada ao público da terceira idade. Esses estudos confirmam a falta de conhecimento dos idosos em relação ao vírus HIV. Conclusão Conclui-se que torna-se necessário o desenvolvimento de um número maior de estudos epidemiológicos para a avaliação do conhecimento dos idosos sobre a AIDS, uma vez que estão cada dia mais atuantes na vida social, frequentando bailes e com a utilização de medicamentos para melhorar o desempenho sexual. Aliado a isto, é visível a falta de habito e a resistência do uso de preservativos que contribui para o aumento da incidência do HIV nessa faixa etária. O baixo nível de informações dos idosos podem ser fatores que explicam o diagnóstico tardio da doença, pois as pessoas e até alguns profissionais da saúde não consideram os idosos um grupo de vulnerabilidade significante em relação à AIDS por terem idade avançada para manter uma vida sexual ativa, por esse motivo não solicitam exames para diagnosticar o HIV para esses pacientes. Desta forma, é relevante o desenvolvimento de programas de saúde pública específicos para a população idosa, para à elucidação das principais dúvidas relacionadas ao HIV/AIDS. É notória a necessidade de interação dos profissionais de saúde, na compreensão do processo de expansão da AIDS nessa faixa etária, compreendendo o idoso como ser sexualmente ativo, exposto a riscos, a fim de executar ações para o desenvolvimento de condutas preventivas. A partir de estratégias educativas, realizadas por esses profissionais, pode-se promover uma mudança no comportamento dos idosos, principalmente quanto às formas de transmissão e prevenção da infecção pelo HIV. Referências 4
ANDRADE H.A.S. et al. Aids em idosos: vivências dos docentes. Escola Anna Nery RJ, 2010;14(4), 712-719. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n4/v14n4a09.pdf. Acessado em: 2015 ago.19. BERTONCINI, B. Z, et al. Comportamento sexual em adultos maiores de 50 anos infectados pelo HIV. DST Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 75-79, 2007. Disponível em: http://www.dst.uff.br/revista19-2-2007/3.pdf. Acessado em: 2015 ago. 21. BRASIL, Estatuto do Idoso. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.7411.htm Acessado em: 2016 set 29. CAMARGO V.B et al. LIMA (Peru), Práticas sexuais, Conhecimento sobre HIV/AIDS e atitudes a respeito da relação amorosa e prevenção entre adultos com mais de 50 anos do Sul do Brasil, 2009. Disponível em http://www.scielo.org.pe/pdf/liber/v15n2/a11v15n2.pdf. Acessado em: 2016 jan. 20. LAZZAROTTO A.R et al, O conhecimento de HIV/AIDS na terceira idade: estudo epidemiológico no Vale dos sinos, Rio Grande do Sul, Brasil, Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v 13, n.6, p. 1833-1840, 2008. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/csc/v13n6/a18v13n6.pdf. Acessado em: 2015 ago.19. LEITE, M.T, et al. Doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS na opinião de idosos que participam de grupos de terceira idade, Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v 10, n.3, p.339-354, 2007. Disponível em http//redalyc.org/articulo.ao? id=403838775007. Acessado em 2015 ago. 21. PEREIRA G.S; BORGES C.I, Conhecimento sobre HIV/AIDS de participantes de um grupo de idosos, em Anápolis-Goiás, Escola Anna Nery, 2010; 14(4): 720-725. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n4/v14n4a10.pdf. Acessado em: 2016 jan. 21. RESENDE M.C.M et al. AIDS na terceira idade: determinantes biopsicossociais. Goiânia, v.36, n. 1, p 235-253. jan/fev 2009. SOUSA, J.L. Sexualidade na terceira idade: uma discussão da Aids, envelhecimento e medicamentos para disfunção erétil. DST Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 59-64, 2008. Disponível em: http:// www.dst.uff.br/revista20-1-2008/9.pdf. Acessado em: 2016 mai. 14. 5