Quase metade dos pagamentos são feitos depois do prazo



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ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 5893 DE 31 DE MARÇO DE 2014 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE PUB Gestão e Recuperação de Créditos + Factoring Infografia: Susana Lopes susana.lopes@economico.pt Quase metade dos pagamentos são feitos depois do prazo Estudo revela que 44% dos prazos não são cumpridos, com graves prejuízos para a tesouraria das empresas. RAQUEL CARVALHO raquel.carvalho@economico.pt O incumprimento dos prazos de pagamento é uma realidade em Portugal e uma das principais consequências são os graves danos na tesouraria das empresas. Segundo o estudo Compromisso de pagamento no prazo acordado: uma cultura de pagamentos atempados, encomendado pela Associação Cristã de Economistas e Gestores (ACEGE) à Augusto Mateus & associados, 39% das empresas tinha, em 2011, a sua tesouraria numa situação difícil e 14% numa situação muito difícil. O estudo concluiu que 44% dos pagamentos efectuados no país foram, naquele ano, feitos com atraso. Por tipo de empresa, 47% dos pagamentos às PME e 40% dos pagamentos às grandes empresas não foram cumpridos dentrodoprazo. Boas práticas que evitam atrasos O estudo apresenta algumas boas práticas para evitar os incumprimentos nos pagamentos: aplicar limites de créditos, oferecer condições de pagamento flexíveis, e, no caso do pagamento não ser recebido nos prazos acordados, proceder de imediato ao processo de cobrança, devendo considerar-se a possibilidade de transferir para os devedores, os custos incorridos na cobrança e os juros de mora. Apesar das consequências negativas, 82% das empresas admite não ter estratégias para fazer face às necessidades de gestão de tesouraria, havendo apenas 18% que têm em marcha medidas para contrariar a situação. António Pinto Leite, presidente da Associação Cristã de Gestores e Economistas (ACEGE), lembra que Portugal é dos países europeus com maior atraso no pagamento em relação ao prazo definido, quer entre empresas, quer ao nível do Estado. Mais do que um problema estrutural, este é um problema cultural, que tem que ser contornado, diz. O estudo, que reuniu o consenso da Conferação da Indústria Portuguesa (CIP), Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Inovação (IAPMEI) e da associação que representa as farmacêuticas portuguesas (APIFARMA), teve o apoio técnico da Intrum Justitia. Luís Salvaterra, CEO da empresa, não tem dúvidas de que a cultura do incumprimento, do pagar e morrer quanto mais tarde melhor, está muito enraizada na sociedade portuguesa, alimentada pelo facto de quem não cumpre não sofrer penalizações. A justiça, considera, tem sido um forte entrave para alterar esta cultura, pelos níveis de ineficiência que levam processos a arrastar-se durante anos pelos tribunais, acabando muitos por morrerem sem resolução. Luís Salvaterra considera que o Estado devia ser fundamental para acabar com a situação, sendo que nos últimos dois anos houve algumas mudanças neste sentido com a Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso.

II Diário Económico Segunda-feira 31 Março 2014 GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS + FACTORING 1 Falta de cultura comercial abre espaço ao incumprimento João Pereira tem um negócio de gás de botija. Um dos clientes a quem entrega o gás tem pagamentos em atraso. Amanhã passo lá na loja, costuma afirmar. Perante o atraso repetido do cliente, o dono da loja contacta-o. O cliente diz que envia no dia seguinte o cheque, mas uma semana depois ainda não chegou. À terceira vez, o cliente diz estar a pôr o cheque no envelope. Dias depois este chega e o empresário constata que no envelope vem apenas uma carta dizendo junto envio cheque para pagamento..., sem cheque algum. ANÁLISE: a empresa não tem cultura comercial e trata os clientes e fornecedores como amigos, o que abre espaço ao incumprimenro. 6 Investimentos redireccionados Isabel Matos é dona de uma fábrica de vestuário na região Norte do país. Com cerca de dez anos, a empresa tem vindo a desenvolver contratos tanto dentro como fora do país. Nos últimos três anos a tendência é para negociar cada vez mais com o estrangeiro. Quanto mais a fábrica exporta, menos problemas de cobrança tem. Quanto mais se apercebe da diferença na cultura empresarial entre Portugal e o exterior, mais negócios quer concretizar no estrangeiro. ANÁLISE: o fascínio com os negócios lá fora, aliado a uma desilusão com o sistema português, que não oferece garantias de futuro, afasta o investimento em Portugal das empresas nacionais e põe em causa os laços de coesão nacional. 5 A diferença entre pequena e grande gestão José Ferreira é o dono de uma fábrica de facas na região Centro. A empresa tem vindo a encontrar crescentes casos de incumprimento dos prazos de pagamento por parte dos clientes, tendo por vezes a própria empresa de atrasar os seus pagamentos aos fornecedores. Uma das razões pela qual José não consegue regularizar as dívidas é a criação de estruturas dentro das empresas dos devedores departamentos para pagamentos, novos programas informáticos, notas de crédito e outros. Os grupos mais sofisticados ganham assim controlo da situação, resguardando- -se atrás de figuras financeiras. ANÁLISE: As diferentes abordagens à prática empresarial geram gaps entre a grande e a pequena gestão. Os gestores das PME são incapazes de lidar com os argumentos dos seus clientes. 2 Lá fora as coisas funcionam melhorpedro Santos tem Uma fábrica de calçado funciona na zona Oeste há 30 anos. As exportações representam 98% da facturação e o empresário considera que lá fora tudo está muito mais organizado. Está consciente do problema dos atrasos nos pagamentos e preocupa-se com isso. Conhece e acha importante a directiva europeia que aborda o tema da regularização dos pagamentos, mas questiona-se sobre como será aplicada em Portugal e por quem. Desconfia das associações empresariais e acha que os media são catastrofistas. ANÁLISE: as entidades e instituições externas são, para este empresário, capazes de concretizar o que entendem ser melhor para aos negócios. 3 Um empresário injustiçado António Silva tem um negocio sólido na área da luminotécnica. Tem clientes por todo o mundo, mas também em Portugal. Com a vontade de avançar, o empresário entra em negócios pouco previdentes. Vários clientes seus têm dívidas relacionadas com pagamentos em atraso. A empresa fez alterações estruturais e habitualmente faz avaliações de risco dosprincipaisclientesaprocessospara lidar com as dívidas. Mesmo assim, há muitos casos pendentes, alguns deles relacionados com a insolvência dos clientes. Sente-se injustiçado e o apoio que devia vir das instâncias jurídicas não acontece. ANÁLISE: António considera que Estado é fraco na aplicação de regras, mas também é devedor. Por outro lado, só o Estado tem poder para mudar a cultura dominante dos atrasos nos pagamentos. 4 Resolver o problema dos atrasos afasta empresa da sua área Maria Dias tem uma agência de publicidade e de comunicação em Lisboa com menos de 10 anos. Tem clientes no estrangeiro, mas a maioria são portugueses. Nos útimos anos, tem sentido mais dificuldade em cobrar. A política da empresa é não hostilizar os clientes. Por isso optou por criar procedimentos faseados e um mini-gabinete de risco dentro do departamento comercial. O pessoal que lida com estes assuntos está, assim, mais profissionalizado. ANÁLISE: gasta-se muito tempo e dinheiro a tentar resolver os atrasos nos pagamentos. A empresa afasta-se assim do seu verdadeiro enfoque. CASOS Seis empresas que sofrem com os atrasos É provável que se reconheça em muitos destes casos. O estudo de Augusto Mateus teatraliza seis situações de empresários portugueses a braços com problemas de incumprimentos. Portugal é, juntamente com Espanha e Itália (a campeã nos atrasos), um dos países que mais sofre com os incumprimentos dos consumidores, pagam a 64 dias em média; das empresas clientes, que pagam a 92 dias em média; e do Estado, que chega a pagar depois de 139 dias (valor médio). IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt

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IV Diário Económico Segunda-feira 31 Março 2014 GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS + FACTORING Jason Alden/Bloomberg O número de processos resolvidos com sucesso e os montantes e processos sob gestão têm vindo anualmente a aumentar, afirma António Gaspar, da APERC. Apesar de ser cada vez mais difícil fazer a recuperação dos montantes em incumprimento. Dificuldades financeiras são a causa do atrasos A crise económica tem levado as empresas a perder liquidez e a não conseguir cumprir com os seus pagamentos atempadamente. RAQUEL CARVALHO raquel.carvalho@economico.pt Grande parte das empresas nacionais estão endividadas, com níveis de liquidez insuficiente e sem rentabilidade que lhes permita cumprir com as obrigações assumidas atempadamente. A afirmação é de Luís Sousa, CEO da Logicomer, que acredita serem as dificuldades financeiras o principal motivo para o incumprimento nos prazos de pagamento, a que se juntam os atrasos inerentes à gestão de tesouraria, extravio e/ou perda de documentação, bem como falta de entendimento entre devedores e credores quanto às condições de pagamento. O European Payment Index, estudo realizado anualmente pela Intrum Justitia, confirma como principal causa do incumprimento as dificuldades financeiras dos clientes, diz Luís Salvaterra, CEO da empresa, que acrescenta à lista as disputas comerciais, a ineficiência administrativaeoatrasointencional. Já António Monteiro, CEO da IGNIOS, empresa que presta serviços na área da gestão de cobranças, entre outros, diz estar convicto de que na génese do incumprimento observado em Portugal está o dilatar de prazos de pagamento por parte do Estado e as consequências que essa dilatação tem na tesouraria da generalidade das empresas, diz, lamentando que este incumprimento se tenha alargado a todo o tipo de transacções, tornando-se uma regra, quase justificável. Para o responsável, estes incumprimentos já estarão, aliás, a afectar as Cobrança duvidosa a subir >> Em 2013, a taxa de créditos em cobrança duvidosa das empresas fixou-se em 12,6% (10% em 2012) e das famílias em 4,5% (4,1% em 2012). O ano passado, 30% das empresas tinha créditos de cobrança duvidosa, de acordo o Banco de Portugal. >> Os valores em dívida geridos pela IGNIOS em 2013 superaram os 70 milhões de euros, tendo o número de clientes crescido 10%. >> Na Whitestar, em 2013, assistiu-se a uma distribuição equitativa entre o crédito com e sem garantia real, tendo atingido 2,2 mil milhões de euros sob gestão. >> A Intrum Justitia aumentou em 2013 o valor total de casos em gestão em 50%, fechando o ano com um volume de negócios de 528 milhões de euros, mais 13% que em 2012. empresas de maior dimensão ou com estruturas mais organizadas. Já João Ferreira Marques, director-geral da Whitestar, empresa especialista em recuperação de crédito, acredita que o incumprimento se deve ao clima de crise que vivemos e que leva muitas empresas viáveis a terem problemas, precisando de ser reestruturadas para não entrarem em falência. Luís Salvaterra tem uma justificação para o recorrente atraso nos pagamentos em Portugal: Quando a liquidez é reduzida as empresas definem o pagamento das suas facturas de acordo com a importância estratégica dos seus fornecedores de bens e/ou serviços. O responsável lembra que, de acordo com o estudo de 2013 do European Payment Index, para colmatar as necessidades de financiamento, uma percentagem significativa de empresas decide atrasar os pagamentos dos seus fornecedores e negociar com os eles prazos de pagamento mais dilatados, estrangulando a economia e criando o efeito bola de neve - não posso pagar porque não me pagam, situação que ameaça a sobrevivência das empresas e as leva à falência/insolvência. A crise já terá obrigado os gestores a repensarem as políticas de concessão de crédito, tornando-as mais restritivas e conservadoras e a interiorizar que a cobrança é vital para a sobrevivência das organizações, conclui. Boa gestão de carteira evita problemas Para minimizar ou mesmo acabar com os atrasos nos pagamentos, existem as empresas especializadas em recuperação e gestão de créditos. A sua acção pode ajudar como ferramenta de gestão das empresas, no que respeita à actividade não core, actuando directamente na recuperação de créditos com maior celeridade e também na gestão da carteira de clientes, explica António Monteiro, CEO da IGNIOS. Este é um canal que privilegia a recuperação comercial, tentando evitar a todo o custo a ruptura da relação fornecedor- -cliente, diz, destacando ainda a vantagem de poderem auxiliar na identificação e no encaminhamento de reclamações ou diferendos contratuais. António Gaspar, director executivo da Associação Portuguesa de Gestão e Recuperação de Créditos (APERC), garante que a abordagem feita ao devedor é, numa primeira fase, feita de forma amigável. Tentam alertar e sensibilizar o devedor, para a existência de incumprimento, e referenciar que é imperativo o As empresas de gestão e recuperação de crédito tentam evitar a ruptura da relação entre fornecedor eclienteearranjarsoluções para cumprir pagamentos. devedor ressarcir o credor do montante em causa. João Ferreira Marques, director-geral da Whitestar, diz que no caso particular da sua empresa o principal foco da actividade é a negociação e resolução do problema e não a litigância. O que se pretende é encurtar os prazos de gestão dos processos e encontrar as melhores soluções, sublinha. Por outro lado, Luís Salvaterra diz que a Intrum Justitia ajuda as empresas incumpridoras a criar hábitos e disciplina de pagamento, utilizando rotinas e metodologias de concessão de crédito e cobranças apropriadas aos diferentes grupos e incentivando a aplicação de penalizações legalmente previstas aos incumpridores. Já a Logicomer assegura uma cobrança preventiva, uma vez que actua antes do incumprimento se verificar, explica Luís Sousa, CEO, que garante que a empresa contribui para a mitigação do risco de incumprimento, o que aporta benefícios para cliente e consumidor ou empresa, diz, garantindo que antecipar e agir rapidamente aumenta significativamente a probabilidade de recebimento. R.C.

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VI Diário Económico Segunda-feira 31 Março 2014 GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS + FACTORING ENTREVISTA ANTÓNIO GASPAR, DIRECTOR EXECUTIVO DA APERC A recuperação amigável tem sido uma preciosa ajuda para as empresas A abordagem que as empresas fazem aos devedores é amigável e extrajudicial. IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt A abordagem feita pelas empresas que fazem parte da APERC junto dos devedores é respeitadora da cidadania, urbanidade e civismo, defende António Gaspar. Os atrasos nos pagamentos são um problema que atingem muitas empresas e as prejudicam. Como pode uma empresa de gestão e recuperação de créditos ajudar este problema a ser menorizado? A recuperação extrajudicial e amigável de créditos sempre tem sido uma preciosa ajuda para todas as empresas. Toda a situação de incumprimento contratual, relativamente a créditos contraídos ou facturas não pagas na data acordada, representa sempre um problema para a gestão financeira correcta de qualquer empresa. O prazo médio de recebimentos terá que ser sempre inferior ao prazo médio de pagamentos, se o empresário quiser ter uma empresa equilibrada sob o ponto de visto financeiro. Portanto, todas as ajudas que possam vir no sentido de encurtar o prazo médio de recebimentos serão excepcionalmente bem-vindas e, aqui, a recuperação extrajudicial posiciona-se como o principal parceiro que, com a sua experiência e know- -how, poderá ajudar a atingir esse objectivo. Que tipo de abordagem pode uma empresa de gestão e recuperação de créditos ter junto de uma empresa que não paga atempadamente? A abordagem que as empresas de recuperação extrajudicial e amigável de créditos fazem associadas da APERC é sempre uma abordagem seguindo o crivo muito exigente do respeito pela cidadania, urbanidade e civismo. Mandatados pela empresa credora, tentam alertar e sensibilizar o devedor para a existência do incumprimento e, ao mesmo tempo, referenciar que é imperativo o devedor ressarcir o credor do montante em causa. O contacto começa por ser telefónico, mas caso seja necessário um abordagem pessoal, ela é combinada com o devedor e efectivada. As empresas portuguesas procuram este tipo de serviços junto das prestadoras de serviços de gestão e recuperação de créditos? Toda a área financeira há muito percebeu que as empresas de recuperação extrajudicial e amigável de créditos, com particular sublinhado para as empresas associadas na APERC, representam uma grande mais-valia e um acrescento de valor muito importante. Sabem que Paulo AlexandreCoelho António Gaspar, director executivo da Associação Portuguesa de EmpresasdeGestão e Recuperação de Créditos, associação que conta com 24 associados em Portugal. Congresso nacional e mundial O 5º Congresso Nacional de Crédito e Recuperações acontecer a 22 de Maio no Centro Cultural de Belém. Na mesma data e no mesmo local decorrerá também o Fórum Mundial de Recuperações. É um evento em que não deixarão de estar presentes, além da nossa indústria, todas as empresas que, de uma forma ou de outra, têm problemas de incumprimentos contractuais, e que terão aqui um espaço de excelência, no sentido de encontrarem soluções para as suas dificuldades, considera António Gaspar. um associado APERC é sinónimo de cumprimento de um exigente código de ética e que a procura incessante da excelência no serviço prestado por parte dos nossos associados faz destas empresas um referencial de escolha como parceiro na sua actividade. No que concerne às empresas que actuam na esfera real da economia PME, a procura não é tão grande, o que se ficará a dever ao desconhecimento que estes empresários têm sobre a recuperação extrajudicial e amigável de créditos. Como caracteriza o actual momento das empresas de gestão e recuperação de créditos? As empresas de recuperação extrajudicial e amigável de créditos associadas na APERC não fogem ao panorama da economia nacional. Cada vez têm mais solicitações de ajuda para recuperarem montantes vencidos e em incumprimento, mas também cada vez é mais difícil a sua recuperação, situação ditada pelos contornos macroeconómicos que o país vem vivendo. No entanto, têm sido feitos investimentos crescentes pelos nossos associados no âmbito da qualificação e formação e em meios informáticos, no sentido de prestarem cada vez mais um melhor serviço aos seus clientes. Aliás, situação reconhecida e espelhada nas relações cada vez mais fortes nas parcerias estabelecidas. Que momentos marcaram o último ano? As iniciativas PARI e PERSI, cujo objectivo traçado pelo legislador não obteve qualquer sucesso. Além de servirem para atrasar mais a recuperação dos montantes em incumprimento. Pelo que sei, a adesão dos cidadãos em incumprimento contratual tem sido muito, muito débil, o que atesta a inoportunidade da iniciativa. Nos últimos anos, tem também marcado a falta de uma regulamentação para o sector da recuperação extrajudicial e amigável de créditos, por parte, quer dos governos anteriores, quer do actual. Não obstante as nossas iniciativas feitas junto de deputados da actual e anterior maioria parlamentar, não conseguimos ainda que alguém tenha a sensibilidade para esta nossa preocupação e, de uma vez por todas, legisle no sentido da definição dum enquadramento legal para a nossa actividade, que seja clarificadora e defina parâmetros e balizas, para se estar no sector com boas práticas, respeitando a ética, a cidadania,aurbanidade,ocivismoeadignidade.

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VIII Diário Económico Segunda-feira 31 Março 2014 GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS + FACTORING Exportações fazem crescer factoring internacional O factoring doméstico também é procurado, mas crescimento é menos significativo. RAQUEL CARVALHO raquel.carvalho@economico.pt A média de crescimento do volume de operações de factoring a nível mundial nos últimos 25 anos foi de 12% ao ano, de acordo com o Annual Review 2013 do Factors Chain International (FCI), citado pelo BPI. O mesmo relatório dá conta ainda de um forte crescimento do factoring internacional que, embora em menor volume, registou um crescimento mundial de 2012 para 2013 de 36%. Portugal não fugiu à regra e uma das áreas do factoring em maior expansão no país é o de exportação. A tendência é sentida pela generalidade dos bancos contactados pelo Diário Económico e justifica-se com o aumento da actividade de exportação e internacionalização das empresas nacionais. E se o Santander confirma o crescimento, o Millenniumbcp também o faz, bem como a CGD, onde a vertente internacional deste produto registou um crescimento de actividade superior ao sector, reflexo da estratégia do grupo no apoio às empresas exportadoras, apesar do ambiente de crise, diz fonte do banco estatal que, em contrapartida, viu o factoring doméstico a cair. Também no BPI e no BES há cada vez maior procura pelo factoring internacional. Outra instituição muito activa na oferta deste produto é o BNP Paribas Factor, tendo o volume de operações financeiras de factoring da entidade financeira a nível nacional atingido 23 mil milhões de euros em 2013. Portugal é, aliás, e de acordo com Artur Pereira, director comercial e de marketing do BNP Paribas, o segundo país com maior nível de operações de factoring em percentagem do PIB. Inglaterra estará em primeiro lugar com 14,8% e Portugal com 14,3%. As operacões de factoring de exportação do banco subiram 11% e as de confirming 8%. Já o factoring doméstico não tem tido, em geral, uma performance tão positiva. Devido à recessão económica e à contracção do investimento e do consumo, desde 2011 que o factoring tem vindo a registar uma evolução negativa da actividade para a totalidade do sector, que, segundo fonte do Millen- Equipas especializadas As equipas que comercializam factoring centram-se nas redes comerciais dos bancos, sendo, porém, suportadas e reforçadas por equipas de especialistas na área. No Santander existe um área especificamente dedicada ao factoring e confirming que assegura a montagem, negociação e execução destes produtos, destaca fonte do banco. O mesmo acontece no BPI, que reestruturou a equipa que gere e dinamiza estes produtos. A equipa, composta por 20 pessoas, é especializada e acompanha os clientes por todo o país, estruturando soluções à medida das suas necessidades, diz o banco. Também o BNP Paribas factor tem equipas profissionais, tendo para este ano a intenção de reforçar a sua oferta internacional, promovendo a oferta de soluções de financiamento integradas a todas as empresas que exportem, explica Artur Pereira, director comercial e de marketing. O factoring permite antecipar receitas. Por exemplo, uma empresa que vende a 90 dias, se tiver necessidade de se financiar para continuar a produzir, entrega as facturas ao banco ou a uma factoring que, de acordo com o risco do cliente, lhe adianta parte do valor facturado. Já o confirming é uma forma de financiamento a curto prazo, antecipando recursos referentes à venda de bens e prestação de serviços. niumbcp, caiu 19% nos últimos dois anos. A mesma fonte salienta, porém, que este produto tem vindo a assumir uma importância cada vez maior para as empresas, enquanto instrumento que permite associar um serviço de gestão e cobrança de créditos a uma eventual cobertura de risco. A tendência é também destacada por fonte oficial do Santanter Totta, que afirma que este é um produto bem percepcionado pelo mercado com elevado grau de aceitabilidade junto do tecido empresarial. Fonte do BES confirma a informação, acrescentando que as empresas têm vindo crescentemente a percepcionar a qualidade deste instrumento de tesouraria, tanto pela vertente disciplinadora do devedor como pela vertente previsional que permite sobre os planos de pagamentos a realizar face aos recebimentos. A mesma ideia é partilhada pela CGD. De acordo com fonte do banco, o factoring é, face às suas características, um instrumento que garante o recebimento atempado das facturas. O banco destaca ainda o confirming, garantia de pagamentos a fornecedores, que constitui um importante argumento para melhorar a actividade das empresas nacionais. A estratégia dos bancos passa, por isso, por mais oferta na área do factoring. O Millenniumbcp, por exemplo, que elegeu o produto como o preferencial para apoio à tesouraria das empresas em 2013, reconhece que este contribuiu para um crescimento de 22% na facturação tomada em Portugal face a 2012. O banco serve mais de 25 mil empresas, com o factoring nacional a representar cerca de 60% do negócio, o internacional 10% e o confirming 30%. No Santander Totta a procura cresceu 3,8% face a 2012, tendo actualmente em permanência cerca de 1.250 contratos activos, sendo que em 2013 entraram 240 novas operações, um acréscimo de 19% relativamente ao ano anterior, diz fonte do banco.nobpi,aindaéosegmentodoméstico o que tem maior peso no negócio. Dimas Ardian/Bloomberg