Análise ergonômica da linha de produção de uma fábrica de colchões: uma Abordagem da Biomecânica Ocupacional

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Transcrição:

Análise ergonômica da linha de produção de uma fábrica de colchões: uma Abordagem da Biomecânica Ocupacional Laureilton José Almeida Borges (Estudante IFMG Campus Bambuí); laureiltonborges@yahoo.com.br Débora Cristina de Souza Rodrigues (Estudante IFMG Campus Bambuí); debora_c_s_r@yahoo.com.br Warley Alves Coutinho Chaves (Estudante IFMG Campus Bambuí); warleycoutinho@yahoo.com.br Caroline Passos de Oliveira (Estudante IFMG Campus Bambuí);carolinepassosdeoliveira@yahoo.com.br Wemerton Luis Evangelista (Professor Orientador IFMG Campus Bambuí); wemertonluis@yahoo.com.br Resumo: As empresas estão buscando aumentar sua competitividade e garantir melhores condições de trabalho aos seus colaboradores, frente a esse cenário, a Ergonomia é considerada extremamente importante. Este trabalho foi realizado numa fábrica de colchões com o objetivo de analisar as posturas assumidas pelos colaboradores durante a execução de suas atividades. A análise ergonômica focou na biomecânica ocupacional, em que buscou-se classificar as posturas quanto ao seu risco ergonômico e elaborar recomendações, caso fossem necessário. De acordo com os dados obtidos pela aplicação dos questinários eobservação direta, destacou-se quatro posturas assumidas dentre as várias existentes no processo produtivo como sendo mais necessitadas dum estudo ergonômico, essa necessidade é devido a sua monotonia e repetição. A avaliação dessas posturas foi realizada através do método OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), em que segundo a análise baseada na combinação das quatro variáveis (dorso, braços, pernas e carga), destacou-se a postura assumida na atividade 3 (Costurar as faixas laterais do colchão na máquina de costura reta), que deve ser verificada durante a próxima revisão. Acredita-se que com os resultados obtidos e as recomendações ergonômicas apresentadas neste trabalho, a empresa possa melhorar seu desempenho, maximizando o bem-estar e a satisfação dos seus colaboradores. Palavras chaves: Ergonomia; Método OWAS; Fábrica de colchões. 1.INTRODUÇÃO As empresas, para manter sua competitividade no mercado, têm procurado adotar cada vez mais estratégias, principalmente, relacionadas à saúde do trabalhador e a integridade ambiental. Portanto, muitas condições de trabalho, tais como, a jornada de trabalho, os posto de trabalho, a tarefa, o ambiente de trabalho, a remuneração, a organização, a alimentação, o bem-estar, entre outras condições, têm sido motivos de preocupação por parte das organizações e dos órgãos, previdenciário e fiscalizadores (EVANGELISTA, 2011). As condições prévias individuais e coletivas, tanto físicas como psicológicas, são importantes, pois favorecem a redução das dificuldades no ambiente de trabalho, 1

proporcionando adaptações melhores e resultando em critérios positivos de escolha, garantindo que os colaboradores estejam protegidos de possíveis danos que cometerão na execução das suas atividades, devido ao conjunto dos problemas ergonômicos (BARBOSA FILHO, 2001). Este estudo consiste em identificar situações de determinada atividade que expõem o colaborador a riscos ergonômicos, podendo esses gerar prejuízos temporários ou definitivos aos mesmos. A identificação destas situações é um ponto de partida para intervenção ergonômica nos postos de trabalho, fundamentais para proporcionar um trabalho com maior conforto para o colaborador, melhorando a produtividade. Proporcionar adaptações viáveis para aprimorar o bom desempenho das práticas das tarefas, com eficiência, segurança e qualidade, auxiliará os gestores e colaboradores na redução dos problemas organizacionais, tais como, o alto índice de acidentes e doenças associados ao trabalho, às altas taxas de absenteísmo, erros cometidos em tarefas rotineiras e a desmotivação (CAVALCANTI, 2009). Este trabalho objetivou a realização de uma analise ergonômica da linha de produção de uma fábrica de colchões, focalizando a biomecânica ocupacional. Além disso, buscou-se classificar as posturas mais críticas assumidas pelos colaboradores no exercício de suas atividades diárias, quanto ao risco ergonômico e a elaboraçãode recomendações para a melhoria das condições de trabalho, caso fossem necessárias. Dentre as várias posturas assumidas pelos colaboradores, analisaram-se as quatro que apresentaram maior necessidade ergonômica, de acordo com os dados apresentados pelos questionários aplicados e pela observação direta. Dessa forma, selecionaram-se as posturas assumidas nas seguintes atividades: no processo de operação da bordadeira, na retirada do rolo de metalassê da bordadeira e transporte até o estoque, na costura das faixas laterais do colchão realizada na máquina de costura reta e na costura final do colchão. 2.REFERENCIAL TEÓRICO Numa discussão internacional, a Associação Internacional de Ergonomia - IEA (InternationalErgonomicsAssociation), criou uma definição para a ergonomia, abordou as áreas de especialização da ergonomia e mencionou as atividades dos ergonomistas(gemma, 2008). Segundo Abergo, Apergo e Falzon (2007), citado por Evangelista (2011, p. 13): A ergonomia(ou HumanFactors) é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e os outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas, contribuem para a planificação, concepção e avaliação das tarefas, empregos, produtos, organizações, meios ambientes e sistemas, tendo em vista torná-los compatíveis com as necessidades, capacidades e limites das pessoas. De acordo com a Abergo (2000), a ergonomia pode ser considerada como uma disciplina científica que visa realizar alterações no ambiente de trabalho, adequando as 2

atividades ali existentes às características, habilidades e limitações das pessoas, a fim de proporcionar um desempenho mais eficiente. A ergonomia possui um vasto campo de atuação e envolve profissionais de várias áreas, tais como: médicos, engenheiros, fisioterapeutas, educador físico, psicólogos, entre outros que se completam e contribuem para aplicação das ciências. A ergonomia tem como objetivo adequar o trabalho ao ser humano, através de diversos métodos, um deles é a Biomecânica.As leis da física e os conceitos de engenharia são utilizados para descrever movimentos realizados por determinados segmentos corpóreos e forças envolvidas nas partes do corpo durante a execução das atividades da vida diária (FRANKEL; NORDIN, 1980). A biomecânica ocupacional é uma das partes da biomecânica geral, que se ocupa dos movimentos corporais e forças relacionadas ao trabalho. Assim, preocupa-se com as interações físicas do trabalhador, com o seu posto de trabalho, máquinas, ferramentas e matérias, visando reduzir os riscos de distúrbios músculos-esqueléticos. Basicamente analisa a questão das posturas corporais no trabalho, a aplicação de forças, bem como as suas conseqüências(iida, 2005, p. 159). A biomecânica ocupacional analisa uma determinada postura através de diversos métodos, destacando-se o Sistema OWAS. O sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) é um dos vários métodos para a avaliação postural, em que cada postura é representada por um código de quatro dígitos que apresentam posições dos braços, pernas, dorso e carga. De acordo com Iida (2005), o método OWAS baseia-se na observação, no registro, na classificação e na análise da carga postural do trabalho. Esse método apresenta diferentes combinações das posições do dorso (quatro posições típicas), braços (três posições típicas) e pernas (sete posições típicas). Essas posições estão relacionadas na figura 1. 3

Figura1: Sistema OWAS para o registro da postura. Fonte: IIDA, 2005. p. 170. De acordo com IIDA (2005), a classe de uma determinada postura pode ser identificada de duas formas: Pela classificação da postura de acordo com a duração da mesma em relação à jornada de trabalho Figura 2: Quadro de Classificação das posturas de acordo com a duração das posturas. Fonte: IIDA (2005). 4

Pela classificação da postura através da combinação das variáveis. Figura 3: Quadro de Classificação das posturas pela combinação das variáveis. Fonte: IIDA (2005) A partir dessa análise da postura, pode-se classificar a mesma como pertencente a um dos quatro possíveis tipos de classes apresentados abaixo, segundo IIDA (2005): a) Classe 1 postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais; b) Classe 2 postura que deve ser verificada durante a próxima revisão; c) Classe 3 postura que deve merecer atenção no curto prazo; d) Classe 4 postura que deve merecer atenção imediata. 3.MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho se baseou na realização de um estudo de caso. Yin (2005) define como uma averiguação empírica o estudo de caso, onde se analisa os acontecimentos da vida real, principalmente aqueles que são evidentes perante o contexto a que estão inseridos. A observação pessoal foi utilizada no processo de coleta dos primeiros dados, que auxiliou na construção do questionário e da entrevista. Esses últimos dois instrumentos são de extrema importância para a realização do estudo, e permitiu o acompanhamento de todas as etapas do processo produtivo para a análise ergonômica das atividades (Araújo, 2007). Inicialmente, na realização deste trabalho foi elaborado e aplicado um questionário, a fim de conhecer as condições de trabalho e o perfil dos trabalhadores dessa empresa. Através dos dados coletados foi possível determinar quais atividades do processo produtivo merecem uma maior atenção ergonômica. As informações que mais influenciaram no risco ergonômico das atividades foram: a percepção do trabalho por parte do funcionário (repetitivo, pesado, 5

leve, moderado), treinamento do funcionário, dores do corpo, rotatividade das tarefas, tempo de serviço do funcionário na empresa e a existência de programas motivacionais. Com as informações coletadas pela aplicação dos questionários e pela observação direta, identificaram-se as situações que mais necessitavam de uma análise ergonômica, devido a sua monotonia e repetição. Essas situações foram registradas através de uma câmera digital e analisadas pela aplicação do método OWAS. As posturas das atividades selecionadas foram classificadas de acordo com o tempo que o funcionário é submetido a tal postura em relação a sua jornada de trabalho e pela combinação das quatro variáveis (posicionamento do dorso, dos braços e das pernas, e valor da carga transportada). O trabalho foi realizado em uma fábrica de colchões fundada em 2007 na cidade de Bambuí, no centro-oeste de Minas Gerais. A produção de colchões segue padrões especificados de produção, com o emprego de matérias-primas de alta qualidade, visto que os seus produtos afetam diretamente a saúde dos consumidores, o que aumenta a responsabilidade da empresa. A fábrica possui 13 funcionários e 15 máquinas (uma balança de precisão, um liquidificador industrial, um batedor, uma laminadora vertical, uma laminadora horizontal, uma laminadora de torno, duas máquina de costura reta, 4 mesas mecanizadas para fechamento de colchão com cabeçote de máquinas de costura, uma bordadeira, uma máquina de corte e uma máquina de selar plásticos). A quantidade de colchões produzida varia de acordo com o tipo e a densidade do colchão a ser produzida. Por exemplo, a fábrica consegue produzir 80 colchões de espuma flexível de poliuretano com densidade 33 (kg/m 3 ) por dia. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O processo produtivo da fábrica envolve uma grande quantidade de atividades que são agrupadas em seis setores.esses setores estão apresentados na figura abaixo: 6

Figura 4: Setores do processo produtivo da fábrica de colchões. Fonte: Elaborado pelos autores Dentre as atividades analisadas, destacaram-se quatro atividades sendo merecedoras de uma maior atenção ergonômica, sendo suas imagens apresentadas no Quadro 1 e sua descrição logo em seguida: 7

Figura 5: Operador trabalhando na bordadeira. Fonte: Elaborado pelos autores. Figura 6: Funcionário carregando um rolo de metalassê Fonte: Elaborado pelos autores Figura 7: Costureira no posto de trabalho Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 1: Imagens das atividades selecionadas. Fonte: Elaborado pelos autores Figura 8: Costureiro no posto de trabalho da costura final. Fonte: Elaborado pelos autores. 5.1 Descrição das atividades selecionadas e análise ergonômica das mesmas: Atividade 1: Processo de operação da bordadeira Primeiramente o operador recebe a ordem de produção do encarregado de produção. O operador analisa quais elementos serão necessários para produzir o metalassê característico daquele tipo de colchão pedido. Dessa forma, o funcionário coloca o rolo de espuma laminado, de tecido Hidrofóbico Natural e de TNT na bordadeira e liga-se a bordadeira iniciando o processo de bordagem dos três elementos juntos, formando o metalassê. Durante a operação dessa atividade, o funcionário monitora constantemente a bordagem, ajustando as agulhas e as linhas conforme a necessidade. Essa atividade ocupa aproximadamente 80% da sua jornada de trabalho e ela é mostrada na Figura 5 do Quadro 1. De acordo com os dados apresentados pelos questionários, o funcionário apresentou que sente dor nas costas e pernas, utiliza ambas as mãos no desenvolvimento da sua atividade, considera seu trabalho repetitivo e monótono e está satisfeito com o trabalho que desenvolve. 8

Atividade 2: Retirada do rolo de metalassê da bordadeira e transporte até o estoque. Essa atividade necessita da participação de dois funcionários, o operador da bordadeira e um ajudante, para retirar o rolo da bordadeira, mas somente o operador carrega o mesmo até o estoque ao qual é destinado. Esse carregamento do rolo é feito com os membros superiores suspensos, sendo esse apoiado na cabeça. O maior rolo de metalassê mede 32 metros e pesa aproximadamente 20 kg. Esse transporte é realizado por uma distância de aproximadamente 15 metros. A Figura 6 presente no Quadro1 apresenta essa atividade, sendo que ela ocupa cerca de 10 % da jornada de trabalho do funcionário. O operador relatou que sente dor nas costas e pernas, utiliza ambas as mãos no desenvolvimento da sua atividade, considera seu trabalho repetitivo e monótono e está satisfeito com o trabalho que desenvolve. Atividade 3: Costurar as faixas laterais do colchão na máquina de costura reta. As faixas de metalassê, que foram cortadas anteriormente na mesa de corte, são costuradas por uma funcionária utilizando uma máquina de costura reta. O trabalho desenvolvido por essa funcionária é considerado leve, mas exige um alto grau de repetição e gera um desconforto em sua postura. A Figura 7 presente no Quadro 1 apresenta essa atividade, sendo que ela ocupa aproximadamente 90% da jornada de trabalho do indivíduo. Os dados apresentados pelos questionários demonstraram que a funcionária sente dores nos braços, nas mãos e nas vistas. A funcionária considera seu trabalho moderado e repetitivo, ela se sente satisfeita com o horário de trabalho, mas tem o desejo de mudar de setor. Também, considera o uso de EPI s importante, embora tenha argumentado que os óculos e o protetor de ouvido lhe incomodam. Atividade 4: Costura final do colchão Nessa atividade o funcionário coloca o colchão montado sobre uma mesa mecanizada para fechamento de colchões com cabeçote de máquina de costura e, posteriormente, realiza a costura das laterais com os tampos do colchão através do fitilho. O funcionário gasta cerca de 90% da sua jornada de trabalho executando essa atividade e a postura assumida nessa atividade é apresentada na Figura 8 do Quadro 1. Através dos dados coletados pelos questionários, constatou-se que o funcionário considera seu trabalho repetitivo e monótono, utiliza ambas as mãos durante a execução da sua tarefa, possui dor nas pernas e considera o uso de EPI s importante, sendo o óculos de proteção considerado o que mais lhe incomoda. Realizou-se uma classificação das posturasde todas as atividadescom a utilização do método de OWAS, de acordo com a duração das mesmasem relação a jornada de trabalho e a combinação das quatro variáveis (dorso, braços, pernas e carga), elaborando-se o Quadro 2. 9

Classificação pelo método de OWAS: Atividade 1: Processo de operação da bordadeira Dorso: Classe 1. Braços: Classe 2. Pernas: Classe 1. Sem Carga Combinação das quatro variáveis: Classe 1. Classificação pelo método de OWAS: Atividade 2: Retirada do rolo de matalassê e transporte até o estoque. Dorso: Classe 1 Braços: Classe 1. Pernas: Classe 1. Carga: Entre 10kg a 20kg. Combinação das quatro variáveis: Classe 1. Classificação pelo método de OWAS: Atividade 3: Costurar as faixas laterais do colchão na máquina de costura reta. Dorso: Classe 3. Braços: Classe 1. Pernas: Classe 3. Sem Carga Combinação das quatro variáveis: Classe 2. Classificação pelo método de OWAS: Atividade 4: Costura final do colchão. Dorso: Classe 1. Braços: Classe 1. Pernas: Classe 1. Sem Carga Combinação das quatro variáveis: Classe 1. Quadro 2: Classificação das posturas de todas as atividades analisadas. Fonte: Elaborado pelos autores. Observando-se os resultados do método OWAS obtidos pela combinação das quatro variáveis, constatou-se que a postura assumida na atividade 3 deve ser verificada durante a próxima revisão. 4.2 Sugestões ergonômicas Sendo as atividades 1 e 2 desenvolvidas pelo mesmo funcionário, foi possível analisar a classificação das posturas e perceber que a atividade 1 está sendo desenvolvida de acordo com as limitações do funcionário. A atividade 2 também está adequada ao colaborador, exceto no que diz respeito a posição dos braços durante a operação da bordadeira. As dores 10

argumentadas pelo operador podem ter sido causadas devido ao longo tempo que o funcionário exerce as mesmas atividades. Analisando as classes assumidas pelas posturas da atividade 3, constatou-se que a mais crítica apresentou classe 3, em que é necessário uma atenção ergonômica a curto prazo. Através de uma observação direta, verificou-se que as medidas da mesa de costura e do acento da costureira estão desproporcionais. Como a mesa não possui flexibilidade nas suas medidas, recomenda-se que a cadeira seja trocada por uma regulável, com apoio para os braços e pés. Essa nova cadeira proporcionaria um acento com dimensões antropométricas adequadas, permitindo variações de postura e relaxamento da musculatura. A atividade 4 apresentou uma postura normal em todos os aspectos, embora o costureiro tenha argumentado que sente dores nas pernas. Essas dores podem ter sido causadas devido ao tempo que o funcionário fica de pé durante a execução dessa atividade. De acordo com a análise ergonômica, recomenda-se que seja implantado uma rotatividade entre os funcionários das atividades 3 e 4, nos horários de 9, 13 e 15 horas. Esses horários foram sugeridos por serem as metades de cada turno, ou seja, 9 horas é a metade do primeiro turno (7 horas às 11:30 horas), 13 horas é o horário de retorno do almoço e 15 horas é a metade do segundo turno (13 horas às 17:30 horas). Para que a rotatividade seja implantada, é necessário que ambos os funcionários sejam treinados nas duas atividades. Com essa rotatividade, acredita-se que sejam amenizadas as reclamações de dores e que o trabalho do funcionário seja considerado menos repetitivo. Além disso, sugere-se que seja realizada uma ginástica laboral no início da jornada de trabalho e/ou durante algum momento de descansodas atividades, a fim de compensar as estruturas do corpo mais utilizadas durante o trabalho e ativar as que não são requeridas, relaxando e tonificando-as. Assim, com a aplicação desse procedimento, os problemas ergonômicos das atividades 1, 3 e 4, principalmente, poderão ser amenizados. 5. CONCLUSÃO Identificaram-se métodos de trabalho que podem, caso sejam aplicados, diminuir a possibilidade de lesões crônicas ou agudas, de origem osteomuscular, através de um estudo que comparou o desempenho da realização adequada da tarefa, quanto aos aspectos biomecânicos, com a forma que é realizada. As recomendações feitas para a melhoria das condições de trabalho em atividades de movimentação, caso sejam aceitas pela fábrica,podem colaborar para a melhora do desempenho da empresa através de mudanças ergonômicas que maximizam o bem-estar e a satisfação dos seus trabalhadores. REFERÊNCIAS ABERGO (2000). Sistema Brasileiro de Certificação em Ergonomia. Disponível em <www.abergo.org.br>. Acesso em 18 de setembro de 2013. ARAUJO, Luis César G. de. Organização, sistemas e métodos e as tecnologias de gestão organizacional: arquitetura organizacional, benchmarking, empowerment, gestão da qualidade total. Reengenharia: volume 1. 3º ed. São Paulo: Atlas 2007. 11

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