APELANTE(S): VRG LINHAS AÉREAS S. A. E OUTRO(s) APELADO(S): JUCENIR DAMIANI Número do Protocolo: 20709/2017 Data de Julgamento: 28-03-2017 E M E N T A APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS ATRASO/CANCELAMENTO DE VOO 10 HORAS DE TRANSTORNOS RESPONSABILIDADE OBJETIVA DANO MORAL CONFIGURADO SENTENÇA MANTIDA RECURSO DESPROVIDO. O contrato de transporte consiste em obrigação de resultado, configurando o atraso, manifesta prestação inadequada. O dano moral decorrente de atraso de voo opera-se in re ipsa, de forma que se torna desnecessária sua comprovação. Fl. 1 de 6
APELANTE(S): VRG LINHAS AÉREAS S. A. E OUTRO(s) APELADO(S): JUCENIR DAMIANI R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS Egrégia Câmara: Recurso de APELAÇÃO CÍVEL interposto por GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S/A, contra a r. sentença proferida pelo Juízo da 11ª Vara da Comarca de Cuiabá/MT, que nos autos da Ação de Reclamação c/c Indenização por Danos Morais (974673), ajuizada por JUCENIR DAMIANI, julgou-a procedente, condenou a requerida ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescidos de juros de mora de 1% (hum por cento) ao mês, a partir da citação e correção monetária a partir do presente decisum, bem como custas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 15% (quinze por cento) do valor atualizado da condenação, nos termos do art. 85, 2º, do CPC. A empresa apelante alega equívoco do juízo singular ao argumento de que desconsiderou a isenção da responsabilidade por causa de alteração da malha aérea em virtude de sua reestruturação. Aduz que não se comprovam nos autos os danos alegados. Entende que não praticou ilícitos ensejadores de valor exorbitante de indenização por danos morais. Requer a reforma da sentença singular para julgar improcedentes os pedidos da exordial. Fl. 2 de 6
O apelado apresentou contrarrazões (fls. 224/232). É o relatório. Peço dia. Cuiabá, 15 de março de 2017. Des. Sebastião Barbosa Farias Relator V O T O EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS (RELATOR) Egrégia Câmara: JUCENIR DAMIANI busca o pagamento de indenização por danos morais decorridos em virtude de atraso de voo. Os fatos que originaram a busca da tutela jurisdicional se prendem à viagem aérea ocorrida em 07/01/2015, da cidade de Cuiabá/MT para Navegantes/SC, com conexão em Brasília/DF e Guarulhos/SP. No entanto, a parte autora foi informada do cancelamento do voo sem nenhum motivo aparente, e sem Fl. 3 de 6
nenhuma explicação convincente. Apenas no dia seguinte, após 10 (dez) horas de atraso (fl. 07), disponibilizou-se outro voo. O juízo singular decidiu pela procedência parcial do pleito, conforme extrato (fl. 203): Posto isso, nos termos do art. 489, inciso I, do CPC, JULGO PROCEDENTE a Reclamação, proposta por Jucenir Damiani em face da Gol Linhas Aéreas Inteligentes S/A, para condenar a Ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação e correção monetária pelo INPC, a partir da data desta sentença. Condeno, ainda, a Ré ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios, que fixo em 15% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, 2º, do CPC. A empresa apelante não se conforma com o decisum, ao argumento de que o juízo singular desconsiderou a isenção da responsabilidade por causa de alteração da malha aérea em virtude de sua reestruturação. Saliente-se, no entanto, que embora a apelante responsabilize a reestruturação da malha aérea, inclusive para segurança dos passageiros, deixou de carrear aos autos qualquer comprovante nesse sentido, para que eventualmente fosse afastada sua responsabilização, ônus que lhe incumbia, nos termos do artigo 373, II, do CPC. Ressai dos autos que a notícia jornalística juntada pela apelante, com a pretensão de fundamentar suas alegações, na verdade informa que o mau tempo que provocou o fechamento do aeroporto de Guarulhos, se deu em horário diverso do voo do autor apelado, obstou pousos e decolagens por apenas 01 (uma hora), e voltou a funcionar regularmente a partir das 19h30min (fl. 208). Portanto, ao não demonstrar a Fl. 4 de 6
ocorrência de caso fortuito ou força maior, não há como excluir a responsabilidade civil da companhia aérea diante dos fatos comprovados nos autos. Registre-se que a responsabilidade civil das companhias aéreas em decorrência da má prestação de serviços não é mais regulada por convenções ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, mas subordina-se ao Código de Defesa do Consumidor (STJ REsp 1176366/RJ). Já assentou o c. STJ que a postergação da viagem superior a quatro horas constitui falha no serviço de transporte aéreo contratado e gera o direito à devida assistência material e informacional ao consumidor lesado, independentemente da causa originária do atraso (STJ AgRg no REsp 971113/SP). Por fim, embora a apelante assevere que não praticou atos ilícitos ensejadores de indenização por danos morais, a razão não a assiste, pois o contrato de transporte consiste em obrigação de resultado, configurando o atraso, manifesta prestação inadequada. Já sedimentou o c. STJ que o dano moral decorrente de atraso de voo opera-se in re ipsa, de forma que se torna desnecessária sua comprovação (STJ REsp 1280372/SP). Assim, cotejados os elementos e situações semelhantes, o montante indenizatório arbitrado pelo juízo singular, para a compensação pelos danos decorrentes dos atos de responsabilidade da empresa apelante, não destoa dos precedentes análogos deste e. Tribunal, não reclamando qualquer alteração. Diante do exposto, mantenho inalterado o decisum. Com estas considerações, DESPROVEJO o recurso. É como Voto. Fl. 5 de 6
A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS (Relator), DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS (1ª Vogal convocada) e DES. JOÃO FERREIRA FILHO (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. Cuiabá, 28 de março de 2017. ------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADOR SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS - RELATOR Fl. 6 de 6