O DESEMPENHO E A INFLUÊNCIA DO SALTO VERTICAL SOBRE PATINS NAS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO NA PATINAÇÃO Leandro Nogueira Dias 1,2, Felipe Lima Flores 1,2, Flávia Porto 1,2, Jonas Lírio Gurgel 1,2, Gustavo Sepúlveda 1,2, Fabiano Souza Gonçalves 1,2, Fernando Sant Anna 1,2 1 Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Atividade Física Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Porto Alegre. 2 Núcleo de Pesquisa em Biomecânica Aeroespacial Laboratório de Microgravidade Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Porto Alegre. Resumo: O objetivo deste estudo foi investigar as acelerações presentes no salto vertical Loop sobre patins, através da análise do desempenho e das influências sobre as articulações. A amostra foi composta por 7 patinadores experientes de ambos os sexos. Foram realizados três saltos verticais Loop. Cada sujeito foi instrumentado com eletrogoniômetro, para monitoramento da angulação do joelho e com acelerômetro, para monitoramento do impacto e vibração do salto. Para a análise dos dados, foram utilizadas as ferramentas estatísticas de correlações de Pearson e ANOVA com Sheffe Post Hoc test (p<0,05). Foram encontradas diferenças significativas entre os sujeitos nos valores de impacto e vibração. A utilização de uma técnica correta de salto pode ser um diferencial na prevenção de lesões nas articulações. Este estudo é preliminar e trata-se de um indicativo devido ao número reduzido dos participantes. Sugere-se mais estudos nesta temática para aprofundar os conhecimentos referentes à esta técnica de movimento. Palavras Chave: Impacto, Vibração, Tendinite Patelar, Altura de Salto. Abstract: The present study aimed to investigate the accelerations in the Loop s vertical jump over the skids. Through the analysis of performance and influences on the joints. The sample was compost by 7 experienced skiers of the both sex. During test were done three Loop s vertical jumps. Each one of the subjects was instrumented with an electrogoniometer for measurement of knee angulations and also an accelerometer for measurement of the jump s impact and vibrations. Results were analyzed using Pearson and ANOVA with Sheffé Post Hoc test (p<0.05). Significant differences were found between the subjects on the values of impact and vibration. The correct jump technique can prevent the joint s injury. This is a preliminary study and has used a small sample size. Other studies should be done to clarify these results. Keywords: Impact, Vibrations, Patellar Tendoniti, High Jump. INTRODUÇÃO A patinação é uma atividade sistemática praticada por inúmeras pessoas em todo o mundo, sendo com o uso de patins com rodas ou deslizando-se sobre o gelo. Esta atividade é praticada com fins de desempenho esportivo, condicionamento físico e terapêutico assim como atividade de lazer. A carência de estudos específicos e de materiais bibliográficos que possam dar mais embasamento, auxiliando profissionais nas avaliações das cargas mecânicas presentes no salto vertical sobre patins e sua influência potencial sobre as articulações, caracterizam esta modalidade esportiva. O salto Loop é executado tecnicamente com a impulsão sobre a borda exterior e posterior do patim e a aterrissagem sobre a mesma borda. Para um salto com rotação anti-horária, utiliza-se a borda exterior direita do patim. Na patinação, o salto é um dos principais elementos. Ao executar o gesto motor intensamente, há uma maior tendência para o surgimento de lesões variadas na articulação do joelho [1]. 1687
Um atleta pode realizar seis sessões por semana e uma programação de treinamento de 48 semanas por ano. Sendo assim, um patinador pode atingir, aproximadamente, 144 horas na prática dos saltos em seu treinamento [2]. Desconsiderando as lesões por entorse ou contusões, a articulação do joelho é muito suscetível a lesões por estresse, esforço repetitivo ou por impacto. Tais ocorrências podem apresentar danos para ligamentos e tendões [3]. Porém, pouco se sabe em relação às magnitudes de cargas aplicadas na articulação do joelho durante a execução de um salto vertical sobre patins. O objetivo deste estudo foi investigar as acelerações presentes no salto vertical Loop sobre patins com a sua influência e desempenho sobre as articulações. MATERIAIS E MÉTODOS Seleção da amostra Os participantes deste estudo foram selecionados por comodidade, sendo constituída de um grupo de sete patinadores de ambos sexos, sendo 2 homens e 5 mulheres (idades: 23±11 anos; massa corporal: 64±12kg; estatura: 116±7cm) todos com mais de 3 anos de prática de patinação. Os voluntários participam do grupo de patinação Passo a Passo, localizado na cidade de Porto Alegre-RS. Todos os participantes ou seus responsáveis, no caso de menores, foram informados sobre o protocolo do teste a ser aplicado, podendo a qualquer momento desistirem sem nenhum tipo de ônus, implicação ou responsabilidade. Os responsáveis assinaram um termo de consentimento autorizando a utilização de seus dados para a pesquisa. O critério de exclusão foi possuir qualquer tipo de lesão osteomioarticular que comprometesse o teste e o participante. Procedimentos As variáveis mensuradas neste estudo foram: a variação angular e a velocidade angular do joelho durante o salto e as magnitudes de impacto e vibração geradas na altura da tuberosidade tibial do sujeito. Previamente ao início do teste, o voluntário foi instrumentado com um eletrogoniômetro baseado em potenciômetro rotacional com sistema de four-linkage bar proposto por Gurgel e col. [4] colocado lateralmente à articulação do joelho com o centro de rotação do equipamento coincidindo com o centro de rotação do joelho. E, também, com um acelerômetro triaxial, de sensibilidade de 50g, proposto por Porto e col., devidamente calibrado [5]. O eletrogoniômetro foi calibrado no joelho, tendo como 0 a posição de extensão máxima e 90 como a posição de flexão do joelho em 90. Foi utilizado um goniômetro manual (Marca Carci) para auxiliar a calibração. Protocolo Foi realizado um pré-teste com cada indivíduo com finalidade de treinamento e familiarização com o teste no mesmo local (laboratório de pesquisas). O protocolo de treinamento e de teste consistiu na realização de três saltos verticais Loop sobre patins, no sentido anti-horário. O intervalo entre os saltos era estipulado pelo próprio voluntário. Ressalta-se que o piso no qual foram realizados o teste e o treinamento apresenta rigidez similar aos pisos onde são realizadas competições. 1688
Aquisição e processamento dos sinais Os dados de acelerometria e eletrogoniometria foram processados utilizando-se o software SAD2, no qual foram avaliados os valores de impacto, vibração e crest factor, além do deslocamento angular e velocidade angular do joelho. O valor de Crest Factor [8] foi utilizado para determinar a relação entre impacto e vibração na articulação, sendo uma grandeza adimensional. O cálculo do crest factor é mostrado na Equação 1. Equação 1 Cálculo do Crest Factor. O valor de impacto foi determinado através do cálculo do valor pico-a-pico da aceleração. Já o valor de vibração foi calculado com base no valor RMS (Root Mean Square) da aceleração. A unidade utilizada para os valores de aceleração foi baseada na aceleração gravitacional (1g=9,80665m/s²). Os dados coletados foram tratados estatisticamente utilizando a correlação de Pearson, através do software estatístico SPSS 11.5 for Windows. Realizou-se, também, procedimento de ANOVA com Sheffé Post Hoc test para p<0,05. Figura 1 Boxplot de impacto, mostrando diferenças significativas entre: (*) Sujeito 1, Sujeito 2 e Sujeito 3; (**) Sujeito 2, Sujeito 6 e Sujeito 7; (***) Sujeito 3, Sujeito 6 e Sujeito 7. A Figura 2 ilustra os valores médios de RMS de geração de vibração, com suas respectivas diferenças estatisticamente significativas. RESULTADOS Foram observados valores estatisticamente significativos entre os sujeitos no que se refere à propagação de impacto no eixo Z (valores médios) (Figura 1). Figura 2 Boxplot dos valores médios de RMS, mostrando diferenças significativas entre: (*) Sujeito 1 e Sujeito 2; (**) Sujeito 2 e Sujeito 6; (***) Sujeito 3, Sujeito 6 e Sujeito 7. 1689
Não se verificou diferenças significativas para os valores médios de crest-factor, conforme o Gráfico 3. Figura 4 Boxplot da angulação do joelho - no instante do impacto, mostrando que não ocorreram diferenças significativas entre os sujeitos. Figura 3 Boxplot de crest factor, mostrando que não ocorreram diferenças significativas entre os sujeitos. A Figura 4 ilustra os valores médios da angulação do joelho no momento da aterrissagem do salto, mostrando que não ocorreram diferenças estatisticamente significativas entre os sujeitos. Não se verificou diferenças significativas para os valores médios de velocidade angular no momento da aterrissagem, conforme mostra a Figura 5. Figura 5 Boxplot de velocidade angular, mostrando que não ocorreram diferenças significativas entre os sujeitos. 1690
As Tabelas 1 e 2 ilustram os resultados de correlação entre as variáveis analisadas neste estudo. Tabela 1 Correlação das variáveis do estudo. RMS Impacto Crest factor médio RMS médio 1,984(**),319 Impacto,984(**) 1,464(*) Crest factor,319,464(*) 1 Ângulo de -,243 -,306 -,228 impacto Velocidade angular média,344,357,000 ** correlação significativa p 0,01 (bicaudal). * correlação significativa p 0,05 (bicaudal). Tabela 2 Correlação das variáveis do estudo. Ângulo de impacto Velocidade angular média RMS médio -,243,344 Impacto -,306,357 Crest factor -,228,000 Ângulo de 1 -,800(**) impacto Velocidade angular média -,800(**) 1 ** correlação significativa p 0,01 (bicaudal). * correlação significativa p 0,05 (bicaudal). DISCUSSÃO Ao tocarem o chão, corredores exercem uma força de 3 a 4 vezes o peso do seu corpo, na patinação essa força pode atingir níveis de 10 a 12 vezes o peso corporal. Devido ao uso das botas rígidas dos patins tal impacto percorre o corpo se propagando pelas articulações [6]. Porém, a incidência de lesões é maior nos membros inferiores. A repetição constante de tal movimento pode causar lesões nos tornozelos, joelhos e quadris [7]. Como quadros de síndromes, tendinites e fraturas por estresse [2]. Foram encontradas diferenças significativas entre os sujeitos nos valores de impacto e vibração (eixo Z), o que denota uma melhor técnica de aterrissagem aos sujeitos que apresentam valores mais baixos. Portanto, minimizando os riscos às articulações. Não foram encontradas diferenças significativas entre os sujeitos para os valores de crest-factor conforme a Figura 3. No que se refere à angulação e à velocidade angulares, não se observou diferenças significativas entre os sujeitos. Porém, ficou evidenciada uma grande variância intra-sujeitos no decorrer dos 3 saltos, o que denota uma melhor técnica aos sujeitos com pequena variância. Analisando-se os dados ficou evidenciado que os sujeitos em sua maioria realizaram flexões de joelho no momento de contato com o solo na aterrissagem. Tal premissa explica a inexistência de correlação estatística significativa entre o deslocamento angular e a posição da articulação no instante do impacto. Porém, observou-se uma correlação significativa entre o deslocamento angular e a velocidade angular média, principalmente devido ao fato de que tais variáveis foram diretamente proporcionais. Embora os resultados apresentem dados relevantes a respeito da análise cinemática do salto Loop sobre patins. Deve-se atenuar que o presente estudo teve caráter descritivo exploratório, devido ao reduzido número amostral, portanto é necessário que mais estudos sejam realizados nessa modalidade esportiva. Inclusive, em levantamento bibliográfico efetuado nos principais portais de informação científica da área, não foram encontrados estudos similares à presente pesquisa que pudessem 1691
proporcionar embasamento para comparação entre os resultados apresentados. CONCLUSÃO Este estudo preliminar demonstra resultados indicativos. Sugere-se que mais estudos sobre essa temática sejam realizados para a corroboração ou refutação dos resultados. Este estudo apresenta-se como uma importante ferramenta de retroalimentação para atletas e treinadores dessa modalidade esportiva como determinante de parâmetros para a técnica correta de execução do movimento. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto (FEFID) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e aos patinadores que participaram voluntariamente na pesquisa. REFERÊNCIAS [1] Schenck R. Medicina Esportiva e Treinamento Atlético. São Paulo: Roca, 2003. [2] Smith AD, Micheli LJ. Injuries in competitive figure skaters. Phys Sportsmed. 1982; 10(1): 36-47. [3] Kapandji A. Fisiologia Articular Esquemas Comentados de Mecânica Humana. São Paulo: Panamericana, 2000. [4] Porto F, Gurgel J, Ferreira R, Castro L, Falcão F, Schroeder I, et al. Construção e calibração de um eletrogoniômetro de joelho de baixo custo com sistema de four-bar linkage. XXVIII Simpósio Internacional De Ciências Do Esporte - Atividade Física E Esporte No Ciclo Da Vida; 2005. p. 92. [5] Porto F, Gurgel J, Falcão F, Castro L, Russomano T, Hertz H. construção e calibração de um acelerômetro triaxial de baixo custo para análise biomecânica do movimento humano. XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte; 2004. p. 250. [6]SFGATE, Internet site address: http://www.sfgate.com/cgibin/article.cgi?f=/ch ronicle/archive/2001/01/22/sp134188.dtl [7] Smith AD, Ludington R. Injuries in elite pair skaters and ice dancers. Am J Sports Med. 1989; l7(4): 482-488. [8] GRIFFIN M. Handbook of human vibration. London: Academic Press; 1990. e-mail: jonasgurgel@terra.com.br flavia_porto@msn.com microg.nuba@pucrs.br 1692