O que o vento traz energia eólica e desenvolvimento local em meio rural em Portugal

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Transcrição:

RENERGY O que o vento traz energia eólica e desenvolvimento local em meio rural em Portugal Ana Delicado, ICS UL Elisabete Figueiredo U. Aveiro Luís Silva CRIA FCSH-UNL

Objetivos Debater a partir de três casos de estudo os Parques Eólicos de Alvaiázere, Serra da Freita e Terras Altas de Fafe - o potencial de desenvolvimento local associado à implementação de infraestruturas de energia eólica nos territórios (rurais). Para esse debate são mobilizadas as perceções e as narrativas de vários agentes e atores locais sobre a relação entre energia eólica e desenvolvimento rural, assim como as visões mais abrangentes das Organizações Não Governamentais, representantes dos partidos políticos com assento parlamentar e das empresas sobre a mesma relação.

O desenvolvimento de energias renováveis em contexto rural Uma boa parte da produção de energias renováveis (particularmente eólica) localiza-se em territórios rurais, áreas menos densamente povoadas, remotas e relativamente isoladas, que enfrentam desafios diversos em termos do seu desenvolvimento socioeconómico. Esta coincidência geográfica entre produção de energia eólica e ruralidade tem feito emergir argumentos políticos que apresentam aquelas energias como uma oportunidade para o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais frágeis. Existe algum potencial de desenvolvimento local sustentável decorrente da exploração de fontes renováveis de energia, já que a mesma assenta em recursos endógenos e pode ser desenvolvida em articulação com outras atividades económicas locais (ex. agricultura, turismo), de forma integrada

O desenvolvimento de energias renováveis em contexto rural O crescente papel na produção de energias renováveis que os territórios rurais parecem assumir rompe aparentemente com a tendência de orientação das áreas rurais para o consumo e parece poder contribuir igualmente para a diversificação da base económica a nível local. Por outro lado, em ambas as funções e mesmo no seu equilíbrio e articulação, o mesmo olhar exterior sobre o desenvolvimento local emerge, chamando a atenção para uma nova (ou renovada) subalternização dos territórios rurais a lógicas de desenvolvimento mais globais.

Energias renováveis e desenvolvimento local em meio rural (benefícios) Benefícios económicos convencionais Benefícios financeiros para as comunidades locais -utilização de mão-de-obra e empresas locais para a construção, operação e manutenção dos equipamentos; -rendimentos provenientes do arrendamento dos terrenos; -rendimentos gerados nos negócios locais. -patrocínios a eventos locais; -co-propriedade dos projetos por parte das populações rurais; -criação de fundos para utilização pela comunidade local ; -energia mais barata.

Energias renováveis e desenvolvimento local em meio rural (benefícios) Contrapartidas em espécie Fornecimento de serviços locais -apoio à construção de equipamentos sociais de interesse para as populações locais; -apoio ao desenvolvimento de infraestruturas e equipamentos turísticos. -apoio a projetos educativos Envolvimento no processo de desenvolvimento - promoção de diversas formas de ligação e de articulação entre os vários agentes e atores envolvidos no processo

Metodologia No total, nos três casos analisados, foram realizadas 117 entrevistas: 24 a autarcas e outros representantes do poder local; 12 a membros de associações locais e regionais; 5 a diretores de jornais 76 a habitantes

A descoincidência de discursos dos atores sobre a relação entre energias renováveis e desenvolvimento rural ONGAs Empresas promotoras -impactos ambientais e paisagísticos negativos Partidos políticos que nunca formaram governo as desvantagens económicas e ambientais, a subalternização dos territórios rurais aos interesses nacionais e, aos interesses privados das empresas promotoras - benefícios económicos, sobretudo os relacionados com a criação de emprego e geração de rendimentos adicionais nas comunidades Partidos políticos que formam ou formaram governo O interesse nacional dos projetos para a promoção do desenvolvimento sustentável, os benefícios e impactos económicos positivos quer para o país, quer para os territórios locais

As perceções dos stakeholders e atores locais sobre a relação entre energias renováveis e desenvolvimento rural Nos casos analisados sobre a energia eólica, a articulação entre a produção de energia renovável e outras atividades locais (económicas, educativas, turísticas) não é nítida, nem especialmente enfatizada a sua necessidade. Localmente, os benefícios mais frequentemente percecionados, ainda que considerados geralmente modestos estão associados à formação de rendimentos adicionais para as autarquias e os proprietários dos terrenos, à criação (moderada) de emprego, ao apoio à construção de infraestruturas e equipamentos, ao crescimento (em alguns casos) do turismo e (em menor grau), ao aumento da visibilidade e da promoção dos territórios locais, com a criação de marcas associadas à produção de energias renováveis (e.g. Trilhos do Vento, no Parque Eólico de Terras Altas de Fafe).

As perceções dos stakeholders e atores locais sobre a relação entre energias renováveis e desenvolvimento rural Em todos os casos analisados, é visível a perceção das desigualdades na distribuição dos benefícios e impactos positivos. As empresas que exploram a produção de energia são inequivocamente consideradas como as principais beneficiárias, em conjunto com a globalidade do país, as Câmaras Municipais e os proprietários dos terrenos nos quais estão instalados os aerogeradores. Observa-se a existência de um sentimento de relativa subalternização dos territórios rurais aos interesses nacionais e económicos, que parece poder reforçar a tendência de marginalização dos mesmos, observada nos processos de transformação das últimas décadas, e comprometer o desenvolvimento sustentável daqueles territórios.

Quem beneficiou, em primeiro lugar a empresa, a SEALVE, Sociedade Elétrica de Alvaiázere, que é uma sociedade anónima, que não se sabe quem é que são os gerentes, esses gerentes nunca debateram com a população a questão do parque eólico, ninguém sabe quem é que faz parte dessa, dessa, dessa empresa, por isso, o único beneficiário terá sido essa empresa. (entrevista PEA cidadão que participou na consulta pública). Neste momento, acho que quem beneficia mais são as empresas instaladoras, porque, de facto, do conhecimento que tenho e procuro estar minimamente informado, o princípio é bom, depois, a forma e como os negócios foram feitos, tudo isso está errado, todos nós sabemos, enfim, uns mais outros menos, porque, de facto, produzir energia eólica é um bem necessário e acho que é de aproveitar. (entrevista PESF Associação 2).

Olhe, se calhar, trouxe para os proprietários. Quer dizer, para os proprietários dos terrenos. Para a freguesia em si acho que não trouxe nada. Arranjaram a estrada, tudo bem, o troço que faz, ou seja, nesse ponto, com certeza fizeram uns bons acessos. Tirando essa parte, não. Não trouxe mais nada. Antes pelo contrário, se calhar. Puseram-nos ali umas coisas na serra, não é? Digo eu. Que eu achava, indo nesse sentido, achava que da produção feita, ou seja, nos contratos... se calhar, pronto, eu não sei muito bem. Eu, por acaso, também tenho um pequeno contrato numa sorte, mas só porque passam com os cabos [recebe cerca de 400 euros por ano], mas o que eu quero dizer é: o que eles pagam, no fundo, segundo dizem, por um aerogerador é muito dinheiro. E eu acho que, se calhar, mais valeria, no meu entender, pagar menos nesse ponto e beneficiar, ou seja, intervencionar na freguesia. Ou seja, parte dessa verba, se calhar, ser conduzida, por exemplo, para as benfeitorias das freguesias que estão envolvidas estamos a falar da minha. Haver, por exemplo, um acréscimo, uma percentagem que desse para a freguesia - mas para o global, não é!? (entrevista PETAF Presidente da Junta de Freguesia 1).

As perceções dos stakeholders e atores locais sobre a relação entre energias renováveis e desenvolvimento rural Em todos os casos analisados é possível observar igualmente uma descoincidência, por um lado entre o discurso global sobre a produção de energia eólica e a apreciação do seu contributo socioeconómico e ambiental positivo às diversas escalas e, por outro lado, as narrativas e perceções locais que, essencialmente, sublinham o não cumprimento das expetativas geradas, quer pela não concretização dos impactos esperados, quer pela sua desigual distribuição no seio das comunidades. Estas narrativas e perceções são sobretudo veiculadas pelos residentes e pelos agentes locais (à escala da freguesia).

Notas conclusivas Observamos nos três casos em análise, diversos tipos de ambivalência no que se refere ao discurso e perceção a nível municipal Os impactos positivos das receitas adicionais geradas pela produção de energias renováveis parecem sobrepor-se aos escassos benefícios sentidos pelas populações locais; A distribuição dos benefícios é vista como desigual, tendendo as populações locais a apontar as Câmaras Municipais, as empresas e os proprietários dos terrenos como os principais beneficiários e não toda a comunidade; A criação (modesta) de emprego é sobretudo valorizada pelas Câmaras Municipais e desvalorizada pelos presidentes das Juntas de Freguesia e pelos habitantes locais. É importante encontrar formas mais eficazes e diretas de beneficiar as comunidades locais, procurando aproximar os benefícios reais das expetativas (geralmente positivas) geradas em torno da exploração de energias renováveis a nível local e contribuir de forma mais eficaz para aumentar o seu contributo para o desenvolvimento sustentável das comunidades.

RENERGY Muito Obrigada Ana Delicado, ICS UL Elisabete Figueiredo U. Aveiro Luís Silva CRIA FCSH-UNL