RETROSPECTIVA DAS AÇÕES DA REDE CLIMA DA CNI EM 2013 Cenário Nacional e Internacional De acordo com os termos do protocolo Kyoto, as nações industrializadas se comprometeriam a reduzir em 5,2% as emissões de gases de efeito estufa (GEE), em relação aos níveis de 1990, no período entre 2008 e 2012. Na verdade, ao invés das emissões de GEE caírem, elas aumentaram 50%, e hoje 60% das emissões já estão nos países emergentes, como China e Índia, e outros países não industrializados. A exceção é a União Europeia, onde as emissões caíram 18%. Em dezembro de 2008, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC foi elaborado como um instrumento voltado para o desenvolvimento e o aprimoramento de ações de mitigação da mudança do clima no Brasil, colaborando com o esforço mundial de redução das emissões de GEE no contexto das responsabilidades comuns, porém diferenciadas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, da qual o Brasil é signatário. O Brasil, como país em desenvolvimento, não possui metas de redução de emissões sob a Convenção, como é o caso dos países integrantes do Anexo I, mas tem uma série de outras obrigações, tais como elaborar inventários nacionais de emissões antrópicas de gases de efeito estufa, formular programas nacionais contendo medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima, promover cooperação tecnológica em matéria de mudança do clima, promover o manejo sustentável de sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa e comunicar à Conferência das Partes-COP informações apropriadas relativas à implementação da Convenção. Foram indicados vários Planos para cumprimento do compromisso nacional voluntário do Brasil, dentre os quais citam-se: - Plano Setorial de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Indústria de Transformação (Plano Indústria); - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm); - Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE); - Plano Setorial de Redução de Emissões da Siderurgia. Por esta razão que o Brasil, embora seja um caso especial, pois apenas 8,8% das emissões de GEE são oriundas das atividades industriais (os desmatamentos são responsáveis por 75% das emissões de GEE) possui também um plano para reduzir as emissões nas indústrias. Existem
vários pontos para melhora, tais como aumentar a eficiência energética dos equipamentos mais antigos, adotar combustíveis que emitem menos gases de feito estufa, dentre outros. Comparando-se as emissões em 2010 com as emissões em 2005, apresentadas no gráfico 1, pode-se observar que o país conseguiu reduzir 10% das emissões, o que representa mais do que o dobro das reduções dos países desenvolvidos juntos. Alinhado a isto, as negociações de compromissos pós-2012 devem levar em consideração as características particulares da matriz energética brasileira. Entendendo a importância da temática, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera, através da Rede Clima, ações de mobilização do setor empresarial brasileiro visando combater as mudanças climáticas que causam o problema do aquecimento global e que deve ser enfrentado por países desenvolvidos e em desenvolvimento. As Federações e algumas das empresas que fazem parte da Rede Clima são: Federações: FIESP; FIRJAN; FIEMG; FIEB; FIBRA (BSB); FIESC (Florianópolis/SC); FIEP (Curitiba/PR); FIEAM (Manaus/AM); FIEPE (Recife/PE). Empresas: Petrobras; CSA; Camargo Correa; BRASKEM; Ipiranga; Solvay; ERM; VALE; Representantes de sindicatos e associações: produtores de Vidro; Papel e Celulose; indústrias químicas; Cimento; Alumínio; produtos de limpeza, mineração; dentre outros. Eventos com foco em Mudanças climáticas que a Rede participou/realizou: 1. O principal evento internacional que a CNI participou este ano, através da Rede Clima, foi a Conferência das Partes ou COP 19, em Varsóvia (Polônia), em novembro. 2. Workshop "DIÁLOGOS CLIMÁTICOS", no dia 26 de novembro, em Brasília, sendo organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC). 3. Cursos sobre Inventários Corporativos de Gases de Efeito Estufa, organizados pela CNI e ministrados pela FGV. Estes cursos são sempre acompanhados por um técnico da CNI. Foi realizado um curso no Senai/Cetind, nos dias 6 e 7 de junho de 2013. 4. Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, realizada no dia 05 de junho de 2013, no Palácio do Planalto, com a presença da Presidente Dilma Rousseff, para o lançamento do Plano Indústria.
As principais deliberações da Rede Clima da CNI em 2013 foram: 1. Plano Nacional Sobre Mudança Do Clima - PNMC Participação no processo de revisão do PNMC, que servirá de base para construir os planos de longo prazo para o período de 2030 a 2050, e será elaborado também um plano de adaptação às mudanças climáticas. 2. Plano Indústria O Plano Indústria foi lançado pela Presidente Dilma Rousseff, em reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, realizada no dia 05/06/2013 no Palácio do Planalto. A Fundação Getúlio Vargas - FGV foi contratada pelo Governo Federal para elaborar este Plano que visa consolidar a economia de baixo carbono, priorizando inicialmente o trabalho com 07 (sete) setores industriais: Alumínio, Cal, Cimento, Indústria Química, Papel & Celulose, Vidro, Ferro Gusa e Aço. Vale ressaltar que não se trata apenas de um Plano de mitigação, pois este busca a sinergia entre a economia de baixo carbono e o desenvolvimento industrial, além de criar infraestrutura para impor barreiras; aumentar a produção com a redução das emissões de GEE; difundir equipamentos e práticas que promovam a eficiência da energia e materiais. Os três pilares do Plano Indústria são: MRV- Mensuração, Relato e Verificação das emissões de GEE; Planos de ação e criação das CTPin - Comissões Técnicas do Plano Indústria, compostas por representantes do governo, indústria, sociedade civil e academia, responsáveis pelo detalhamento das ações do Plano, monitoramento e revisão periódica. O Plano Indústria incorporou os comentários mais relevantes apresentados pela Rede Clima durante o processo de Consulta Pública e atendeu às expectativas do setor quanto à manutenção das premissas e dos compromissos dispostos no referido documento. 3. Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil Estas estimativas (em milhões de toneladas de CO2 equivalente) têm o objetivo de acompanhar o cumprimento do compromisso nacional voluntário para a redução das emissões, conforme art. 12 da Política Nacional sobre Mudanças Climáticas (Lei nº 12.187/2009). Sendo assim, foram elaboradas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, estimativas referentes ao período de 1990 a 2010, para os 05 (cinco) setores que apresentam as maiores emissões, que são apresentadas no gráfico 1.
Gráfico 1 Emissões de Gases de Efeito Estufa (Período de 1990-2010) Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2013. Vale ressaltar que as estimativas foram submetidas à análise de especialistas de setores ligados à Rede Clima, como parte do processo de controle e garantia de qualidade. Os comentários recebidos foram analisados pela equipe e incorporados, quando pertinentes, ao escopo do exercício. 4. Treinamento para elaboração dos Inventários de Gases de Efeito Estufa nos Escritórios Regionais da FIEB A CNI, através da FGV - Fundação Getúlio Vargas, forneceu este treinamento em vários Departamentos Regionais da FIEB, inclusive no Senai/CETIND, em 2013. O inventário de emissões de GEE é uma ferramenta importante para a gestão destas emissões. 5. Mercado de Carbono A FGV apresentou, em reunião da Rede Clima, as principais conclusões do estudo encomendado pelo Ministério da Fazenda, que consiste em: aprimorar os dados sobre as emissões de GEE no Brasil, por meio de um Programa de Relato de Emissões no nível de plantas/instalações industriais, e aprofundar a análise sobre os instrumentos de precificação de carbono e seus impactos econômicos.
6. Negociações Internacionais Em relação à preparação para a COP 19 (Conferência das Partes), realizada em Varsóvia, no ano de 2013, a Rede Clima discutiu a proposta brasileira, visando quantificar a responsabilidade histórica dos países referente às mudanças de clima, que ocorre ao longo dos séculos. Esta discussão teve a participação do Ministro das Relações Exteriores, Everton Lucero, e de Dr. Gylvan Meira Filho, um dos artífices do Protocolo de Kyoto. 7. Análise e Acompanhamento do Impacto para as Empresas Brasileiras das modificações propostas pelo Decreto nº 59.113/2013 O Decreto Estadual nº 59.113, de 23/04/2013, que estabelece novos limites para a qualidade do ar no estado de São Paulo, e que poderá ser adotado em todo território nacional, traz muitas modificações quando comparado à Resolução CONAMA nº 03/1990, que regulamenta a qualidade do ar, e que está atualmente em vigor no Brasil. O Decreto é bem mais restritivo do que a CONAMA nº 03/90, e requer ações de controle e de gerenciamento das emissões, tais como: elaboração de inventários, modelagem matemática, estabelecimento de metas para a melhoria da qualidade do ar em regiões que já apresentam altas concentrações de poluentes, instalação de equipamentos de controle, e mais monitoramento, o que implicará sem dúvidas, na necessidade de adequação das empresas, como já ocorre nos países desenvolvidos, onde para se implantar uma nova empresa, ou para continuar em operação é preciso comprovar por todos os meios que a empresa não emite poluentes em níveis que possam impactar a saúde da população, de acordo com o Decreto: priorização para a renovação da Licença de Operação dos empreendimentos integrantes condicionando-os às exigências técnicas especiais, conforme a seguinte ordem de prioridade para atingir as metas das fontes fixas: a) quando se tratar de empreendimento com fontes sem controle de emissões; b) a instalação de sistemas de controle de poluição do ar baseados na melhor tecnologia prática disponível c) quando se tratar de empreendimento com fontes com controle de emissões sem representar a melhor tecnologia prática disponível; d) a instalação de sistemas de controle de poluição do ar deve ser baseada na melhor tecnologia prática disponível. O ponto positivo desta modificação é que a Resolução CONAMA nº 03/90 já está bastante defasada, quando comparada à legislação internacional, necessitando ser atualizada, visando o maior controle da qualidade do ar, especialmente em áreas que já apresentam problemas. Alinhado a isto, verifica-se que trata-se de algo exequível, mas poderá requerer grandes
investimentos por parte das empresas, para se adequar às exigências apresentadas anteriormente. Além disso, ainda poderão ser estabelecidos por decreto, padrões especiais de qualidade do ar para os municípios considerados estâncias balneárias, hidrominerais ou climáticas, incluindo exigências específicas para evitar a deterioração de sua qualidade do ar. As implicações da temática para o setor empresarial O setor industrial brasileiro está consciente dos riscos do aquecimento global e do papel que lhe cabe na busca pela redução das emissões e nos esforços de adaptação às mudanças climáticas. Apesar disso, esse tema ainda não está enraizado nas estratégias das empresas, persistindo um baixo entendimento dos impactos, riscos e oportunidades. Com base nos resultados de pesquisa da Mckinsey com grandes empresas globais, observa-se que este não é apenas um problema das empresas brasileiras: 44% dos CEOs entrevistados informaram que a mudança climática ainda não é um item significativo das suas agendas. Nesse contexto, serão requeridos esforços enormes, por parte da indústria e da sociedade civil visando a adaptação ao clima. Para o setor empresarial, faz-se necessário um auxílio em várias etapas, principalmente na elaboração dos inventários de emissões e na implantação de medidas mitigatórias para as emissões de gases de efeito estufa, além da adoção de novas tecnologias de baixo carbono e da substituição de combustíveis que emitem grandes quantidades de CO 2. As necessidades de adaptação ao clima variam de país para país, de acordo com os impactos que a mudança climática poderá ter sobre aspectos de distribuição espacial, produção, fontes de energia, desigualdade de renda, entre outros. A incorporação da preocupação com adaptação ao clima ainda é reduzida, nas decisões de investimento das empresas brasileiras. O setor industrial tem grande contribuição a oferecer no desenvolvimento de tecnologias e de soluções para adaptação ao clima, e a transferência de tecnologias deve ser estimulada. Existe amplo espaço para cooperação em iniciativas de adaptação, tais como: Desenvolver um modelo de cooperação para intercâmbio de experiências e técnicas já existentes para facilitar a adaptação. Estimular a diversificação das fontes de energia. Estimular a cooperação regional, com vistas ao aprofundamento da integração energética entre países de uma mesma região. A busca de complementaridade e de eficiência deve orientar as iniciativas de integração energética regional.
Transferência de tecnologia e financiamento são mecanismos fundamentais para acelerar os resultados de políticas de mitigação nos países em desenvolvimento. REFERÊNCIAS 1. Plano Setorial de Mitigação da Mudança Climática para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Indústria de Transformação. MDIC. Brasília DF, Abril de 2012. 2. CNI. Memória da Reunião da Rede Clima da Indústria Brasileira. São Paulo, 24 de setembro de 2012. 3. CNI. Memória da Reunião da Rede Clima, 13 de maio de 2013. 4. Atualização do PNMC Plano nacional de Mudanças Climáticas. Brasília, Setembro/2013. 5. Atualização do Plano Nacional Sobre Mudança do Clima PNMC. Grupo Executivo do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (Gex/CIM) Brasília, dezembro de 2013. 6. Anotações realizadas durante as reuniões da rede Clima. 7. Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI. Brasília, 2013. 8. CNI. Mudança do clima: uma contribuição da indústria brasileira. Brasília, junho de 2009.