fls. 6 Registro: 2013.0000527790 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9000005-19.2007.8.26.0196, da Comarca de Franca, em que são apelantes CARLOS ROBERTO DA COSTA e ALEXANDRA GODOFREDO DE CASTRO COSTA, são apelados MARIA EUNICE PELICIARI e JOSÉ ROBERTO PELICIARI DE PAULA. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E EGIDIO GIACOIA., 3 de setembro de 2013 DONEGÁ MORANDINI RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 7 3ª Câmara de Direito Privado Apelação Cível n. 9000005-19.2007.8.26.0196 Comarca: Franca Apelantes: Carlos Roberto da Costa e outra Apelados : Onofre Jesus de Castro e outra Juiz Sentenciante: Fábio Marques Dias Voto n. 24.256 NEGÓCIO JURÍDICO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE C.C. INDENIZAÇÃO. 1.- Agravo retido. Cerceamento de defesa. Não configuração. Colheita da prova testemunhal, na espécie, dispensável. Suficiência da prova técnica, com aclaramento da matéria em discussão. 2.- Nulidade do contrato de compra e venda firmado pelos réus na condição de adquirentes do bem. Negociação entabulada mediante apresentação de procuração pública com assinaturas falsas. Manutenção do negócio jurídico mediante invocação da boa-fé dos compradores. Impossibilidade. Ausência de consentimento válido que torna inexistente o pactuado, descabendo a possibilidade de sua convalidação. 3.- Litigância de má-fé. Inocorrência das hipóteses do art. 17 do CPC. Penalidade indevida. SENTENÇA PRESERVADA. RECURSO DE AGRAVO E DE APELAÇÃO IMPROVIDOS. 1.- Ação declaratória de nulidade de ato jurídico cumulada com indenização julgada PROCEDENTE pela r. sentença de fls. 708/712, cujo relatório é adotado, proferida após o v. acórdão de fls. 596/599, por meio do qual restou anulada a r. sentença de fls. 516/522 para a colheita da prova técnicopericial. Apelam os réus. Reiteram, preliminarmente, o agravo retido de fls. 346/350, com pleito para colheita da prova testemunhal. Insistem, no mais, na invalidação da prova pericial e na manutenção do negócio de compra e venda ajustado (fls. 716/725). Contrarrazões às fls. 734/740. É o RELATÓRIO. Apelação nº 9000005-19.2007.8.26.0196 - Franca - VOTO Nº 2/5
fls. 8 2.- Não era mesmo o caso de designação de audiência instrutória para a colheita da prova testemunhal. O laudo pericial de fls. 675/682 esclareceu de forma suficiente a matéria submetida ao crivo do Perito, tornando prescindível a produção de outros elementos de convicção. Repele-se a arguição, ficando improvido o agravo retido intentado às fls. 346/350. Descabem, no mais, as críticas apresentadas em relação ao laudo de fls. 675/682. O trabalho técnico cuidou de elucidar a falsidade das assinaturas lançadas no instrumento de procuração de fls. 45, desmerecendo maior questionamento a alegação de que não foi considerado o padrão de assinatura lançamento no documento de fls. 45, quando a perícia é clara ao destacar a existência de impropriedades entre a assinatura atribuída ao coautor José Roberto e aquela de fato pertencente ao requerente, dentre elas as divergências de calibres, espaçamentos, proporcionalidade, valores angulares e curvilíneos, inclinação axial, da pressão, progressão, ataques, desenvolvimentos, remates, velocidade gráfica (fls. 680), fato igualmente considerado em relação à coautora Maria Eunice (fls. 681), cuja perícia considerou o mesmo padrão da assinatura constante na procuração de fls. 45. Como se sabe, o resultado desfavorável da perícia não enseja a renovação da prova, notadamente quando o resultado exibido não foi contrastado por trabalho técnico de igual quilate. Vencidas estas questões, preserva-se, no mais, a r. sentença recorrida, que emprestou correto desate à ação. Com efeito. Dúvida não se tem que a alienação que culminou na aquisição do imóvel pelos recorrentes é inexistente, tendo em vista os vícios em sua origem, porquanto oriunda de falsa procuração pretensamente outorgada por Maria Eunice Pelicari e José Roberto Pelicari de Paula a Onofre Jesus de Castro. Apurada em regular perícia grafotécnica que os proprietários do bem não autorizam a alienação do imóvel, não há como ter por existente a transação entabulada com os réus, ante a ausência de manifestação de vontade dos proprietários do bem, requisito essencial à própria existência do pactuado. Apelação nº 9000005-19.2007.8.26.0196 - Franca - VOTO Nº 3/5
fls. 9 Irrelevante, ainda, qualquer consideração acerca da boa-fé dos adquirentes do imóvel. Como se sabe, os negócios inexistentes não são passíveis de convalidação nem tampouco se encontram sujeitos à decadência ou prescrição, de modo que nada autorizaria a confirmação da avença na qual os recorrentes figuraram como compradores, na medida em que a vontade não exteriorizada nenhum efeito poderá produzir no plano concreto (CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, Parte Geral e LINDB, 11ª edição, 2013, Editora JusPodivm, p. 615). Nesse sentido, aliás, são as lições de ANTONIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO: A nosso ver, a vontade não é elemento do negócio jurídico; o negócio é somente a declaração de vontade. Cronologicamente, ele surge, nasce, por ocasião da declaração; sua existência começa nesse momento; todo o processo volitivo anterior não faz parte dele; o negócio todo consiste na declaração. Certamente, a declaração é o resultado do processo volitivo interno, mas, ao ser proferida, ela o incorpora, absorve-o, de forma que se pode afirmar que esse processo volitivo não é elemento do negócio (Negócio Jurídico Existência, Validade e Eficácia. Saraiva, 4ª edição, 2010, p. 82). Ausente, portanto, a manifestação de vontade atribuída aos supostos vendedores, ora recorridos, inadmissível, por qualquer fundamento, a preservação do contrato firmado com os recorrentes, posto que dele não se extrai nenhum efeito jurídico, ainda que se tratasse de negócio jurídico nulo, e não inexistente, consoante entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça: Tratando-se de uso de procuração falsa, de pessoa falecida, vício insanável que gera a nulidade absoluta do contrato de compra e venda firmado com o primeiro réu, as demais venda sucessivas também são nulas, pois o vício se transmite a todos os negócios subsequentes, independente da arguição de boafé dos terceiros (REsp 1.166.343/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão). Bem decretada, portanto, a parcial procedência da ação, esclareça-se que eventual direito à indenização por perdas e danos, ao contrário do afirmado pelos apelantes, não deve ser buscado pelos autores, mas, ao contrário, pelos próprios adquirentes do imóvel, em razão do desfecho ora emprestado à demanda, deduzindo a ação cabível contra os responsáveis pela Apelação nº 9000005-19.2007.8.26.0196 - Franca - VOTO Nº 4/5
fls. 10 ilicitude patenteada. Não é a hipótese, finalmente, de reconhecer os réus como litigantes de má-fé. Não restou evidenciada nenhuma das situações descritas no art. 17 do CPC, nem tampouco é possível se extrair qualquer deslealdade processual decorrente do simples manejo do recurso de apelação. ao recurso de apelação. Isto posto, NEGA-SE provimento ao agravo retido e Donegá Morandini Relator Apelação nº 9000005-19.2007.8.26.0196 - Franca - VOTO Nº 5/5