Mudanças Florístico estruturais em florestas localizadas nas margens de um reservatório artificial.

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Transcrição:

Mudanças Florístico estruturais em florestas localizadas nas margens de um reservatório artificial. Lilian C. S. Santos 1 (PG)*; Jovan M. Rios 1 (PG); Jamir A. Prado-Junior 2 (PQ); Diego R. Nascimento 3 (PG); Vagner S. Vale 1 (PQ). liliancristina_2011@hotmail.com. 1 Universidade Estadual de Goiás - Câmpus Ipameri; 2 Universidade Federal de Uberlândia; 3 Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo: O objetivo deste trabalho é avaliar o quão grandes são as mudanças estruturais nas florestas deciduais após 10 anos sob influência de represa. O estudo foi realizado em um fragmento de Floresta Estacional Decidual localizado no Vale do Rio Araguari. A caracterização fitossociológica foi realizada em 2016 com levantamentos da comunidade arbórea em 60 parcelas permanentes 10 x 20m. Todos os indivíduos arbóreos com circunferência à altura do peito (1,30 m) superior ou igual a 15 cm foram amostrados seguindo os parâmetros da fitossociologia pré-estabelecidos no T0 (2009). Foram avaliadas as modificações ocorridas ao longo de 10 anos (T0 x T10) quanto ao número de indivíduos inicial, riqueza, índice de diversidade de Shannon e área basal total. Foram realizados testes pareados entre os tempos amostrados para número de indivíduos, riqueza e área basal. Para comparação da diversidade foi utilizado o teste t de Hutcheson. Houve redução de 179 árvores, porém a área basal total, riqueza de espécies e diversidade de Shannon teve seus valores aumentados dez anos após a inundação. Espécies comuns em florestas deciduais como Guazuma ulmifolia e Myracrodruon urundeuva tiveram redução de indivíduos, enquanto que espécies comuns de mata ciliar como Inga sessilis teve sua população aumentada. Palavras-chave: Monitoramento. Represa. Floresta Decídua. Introdução O Brasil está entre os três países com maior potencial de produção e consumo de energia advinda de UHEs no mundo (ANEEL, 2008) com 220 UHEs em operação e 07 em construção (ANEEL, 2016). Mesmo ocupando um dos primeiros lugares no ranking de produção de energia, o aproveitamento do potencial hidráulico do país é de apenas 30% (ANEEL, 2008). Desta forma, está programada a construção de novas UHEs a fim de aumentar a matriz energética em pelo menos 50% até 2030 para propiciar o crescimento econômico brasileiro (ANEEL, 2008). Apesar de ser considerada por parte do governo e da mídia uma energia limpa (FEARNISIDE, 2012), a construção de novas usinas no Brasil tem esbarrado em entraves ambientais (ANEEL, 2008), sobretudo devido ao aumento de pesquisas que demonstram os diversos impactos negativos causados por estes empreendimentos (WANG et al., 2011). Dentre os principais impactos estão as

modificações na flora após o barramento. Quando o alagamento atinge a cota de inundação, o volume de água aumenta e chega às margens de áreas terrestres onde espécies vegetais pré-existentes podem não ser adaptadas a solos encharcados, e cessar o crescimento com a chegada da água (NILSSON; BERGGREN, 2000) ou mesmo ocasionar mortalidade de diversos indivíduos o que pode levar a extinção local de determinadas espécies não adaptadas á nova situação (HUGHES, 2003). Além dos impactos conhecidos, os estudos que monitoram as conseqüências destes empreendimentos a médio e longo prazo são escassos, sobretudo para organismos de vida longa como árvores. No mundo, grande parte dos trabalhos está concentrado em regiões frias/temperadas, onde há predominância de espécies de pequeno porte ou herbáceas (NILSSON et al., 2005), mas poucos são os estudos que monitoram os impactos causados para ambientes florestais (VALE et al., 2013). As UHEs preferencialmente são construídas em terrenos inclinados/montanhosos para o aumento da eficiência na geração de energia, todavia o alagamento causado pelas barragens aproxima a linha d água de florestas antes situadas distantes de recursos hídricos (TRUFFER et al., 2003). O objetivo deste trabalho é avaliar o quão grandes são as mudanças estruturais nas florestas deciduais 10 anos sob influência de represa. Material e Métodos Área de estudo - O estudo foi realizado em um fragmento de floresta estacional decidual (FD) no vale do rio Araguari, na região do Triângulo Mineiro, que faz parte da área de influência da Usina Hidroelétrica Amador Aguiar II. A floresta situava-se distantes da margem do rio Araguari a pelo menos 200 m antes do enchimento ocorrido em 2006, no entanto, com o represamento, estes fragmentos agora se encontram na beira do lago artificial criado pela barragem. Coleta de dados - As áreas florestais possuem estudos anteriores à construção das barragens, realizados por Siqueira; Araújo e Schiavini (2009) antes do alagamento (T0) e este estudos foi, portanto, um modelo comparativo para aferir sobre mudanças nas florestas. A caracterização fitossociológica foi realizada com levantamentos da comunidade arbórea em 60 parcelas permanentes 10 x 20m

distribuídas a partir da cota de inundação na forma de transectos perpendiculares ao nível de água. Todos os indivíduos arbóreos com circunferência à altura do peito (1,30 m) superior ou igual a 15 cm foram amostrados. Neste trabalho, foi realizada a remedida da área em 2016 (ou seja, 10 anos após o alagamento) para todos os parâmetros da fitossociologia, por acreditar que 10 anos possam ser suficientes para causar, mudanças na comunidade arbórea. Todas as coletas seguiram os parâmetros pré-estabelecidos no T0. Análise de dados - Para o estudo da comunidade na área, foram avaliadas as modificações ocorridas ao longo de 10 anos (T0 x T10) quanto ao número de indivíduos inicial, riqueza, índice de diversidade de Shannon e área basal total. Foram realizados, testes pareados entre os tempos amostrados para número de indivíduos, riqueza e área basal. Para comparação da diversidade foi utilizado o teste t de Hutcheson. Resultados e Discussão Na primeira amostragem realizada em 2006 havia 1626 indivíduos arbóreos na área de floresta decidual (FD), após dez anos de interferência das águas da represa houve diminuição para 1447 árvores (gl = 59, t = 4.54, p < 0.001). O inverso ocorreu para área basal total, cujo valor subiu de 18,02 para 19,71 (gl = 59, t = -2.10, p = 0.04). A riqueza de espécies também aumentou de 58 para 81 (gl = 59, t = -3,39, p = 0,001), assim como a diversidade de Shannon (de 2.67 para 3.15) e Shannon confirmado pelo teste de Hutcheson (gl > 1000, t = -8.71, p < 0.001). As espécies com maior redução no número de indivíduos foram Aloysia virgata, Guazuma ulmifolia e Myracrodruon urundeuva, todas as espécies consideradas especialistas/comuns de florestas estacionais deciduais. No entanto espécies também consideradas comuns de florestas estacionais deciduais como Anadenanthera colubrina, espécies comumente encontradas em ambientes mésicos como Copaifera langsdorffii e espécies adaptadas a ambientes com alta umidade do solo, como Inga sessilis apresentaram muitos indivíduos com grande aumento em suas áreas basais, sendo as principais responsáveis pelo incremento encontrado. Diversas espécies comuns em florestas de galeria/ciliar foram amostradas apenas dez anos depois do represamento, tais como Trichilia elegans, Tapirira guianensis,

Myrsine umbellata, Genipa americana, Piper aduncum, demonstrado que aumento da umidade favoreceu o estabelecimento de espécies típicas de ambientes associados à água. O aparecimento de novas espécies contribuiu para o aumento da diversidade encontrada. Considerações Finais Com a chegada da represa nas margens de uma floresta antes situada distante de recursos hídricos, houve considerável morte de indivíduos de algumas espécies típicas de florestas secas (principalmente algumas muito densas) e aumento da área basal de diversas espécies mais comuns em ambientes mésicos ou típicas de ambientes com alta saturação hídrica. Muitas novas espécies foram amostradas, o que aumentou a riqueza e diversidade local. Provavelmente as mudanças florísticoestruturais causem uma mudança fitofisionomica a longo prazo. Agradecimentos Os autores deste trabalho agradecem a FAPEG pela bolsa concedida ao primeiro autor. Referências Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Atlas de Energia Elétrica do Brasil.1 ed. Brasília, 2002. 153 p. Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Atlas de Energia Elétrica do Brasil. 3 ed. Brasília, 2008. 236 p. ANEEL. Banco de Informação de Geração. 2016. Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em 09 de Agosto de 2016. FEARNSIDE, P. M. Desafios para midiatização da ciência na Amazônia: O exemplo da hidrelétrica de Belo Monte como fonte de gases de efeito estufa. In: A. Fausto-Neto (ed.) A Midiatização da Ciência: Cenários, Desafios, Possibilidades, Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), Campina Grande, 2012, p. 107-123. HUGHES, F. 2003. The Flooded Forest: Guidance for policy makers and river managers in Europe on the restoration of floodplain forests. FLOBAR 2, Department of Geography, University of Cambridge. 96 p.

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