A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DOS CURSOS SUPERIORES DE TURISMO DE MACEIÓ/AL DISCUSSÃO SOBRE SUAS BASES CONCEITUAIS E METODÓLOGICAS



Documentos relacionados
Orientações para a elaboração dos projetos de pesquisa (Iniciação científica)

Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

universidade de Santa Cruz do Sul Faculdade de Serviço Social Pesquisa em Serviço Social I

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS NO ENSINO SUPERIOR: OUTRAS POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

Ateneo de investigadores (Espaço de intercâmbio entre pesquisadores)

5 Considerações finais

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

A influência das Representações Sociais na Docência no Ensino Superior

PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

PESQUISA QUANTITATIVA e QUALITATIVA

ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: TEMA, PROBLEMATIZAÇÃO, OBJETIVOS, JUSTIFICATIVA E REFERENCIAL TEÓRICO

PROJETO INTERDISCIPLINAR PEDAGOGIA

Empresa Júnior como espaço de aprendizagem: uma análise da integração teoria/prática. Comunicação Oral Relato de Experiência

A Interdisciplinaridade como Metodologia de Ensino INTRODUÇÃO

Palavras-chave: Historiografia; Paraná; Regime de Historicidade; História Regional

Métodos qualitativos: Pesquisa-Ação

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

PROJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA: a escolha do tema e a construção do problema

Metodologia e Prática de Ensino de Ciências Sociais

1 Um guia para este livro

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

Ajuda ao SciEn-Produção O Artigo Científico da Pesquisa Experimental

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA RESULTANTE DAS DISSERTAÇÕES E TESES EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

Centro de Estudos Avançados em Pós Graduação e Pesquisa

FLUXOGRAMA DA PESQUISA

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

Formação de Professores: um diálogo com Rousseau e Foucault

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE LETRAS

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

Caminhos para Análises de Políticas de Saúde

Processo de Pesquisa Científica

Universidade do Estado da Bahia UNEB Departamento de Ciências Humanas Campus IV. Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade.

1 Introdução A motivação e o problema da pesquisa

OBJETIVO Reestruturação de dois laboratórios interdisciplinares de formação de educadores

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO!

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

ANÁLISE DE VÍDEOS DOCUMENTAIS: PERSPECTIVAS PARA DISCUSSÕES ACERCA DO PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA NEVES

1 ROTEIRO PARA PROJETO DE PESQUISA

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

A PESQUISA NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: RELAÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA DOCENTE DE ENSINO

Psicopedagogia Institucional

AUTOR DO TRABALHO UNIVERSIDADE CUIABÁ - MT 20XX

RESENHA. Magali Aparecida Silvestre. Universidade Federal de São Paulo Campus Guarulhos

Sugestão de Roteiro para Elaboração de Monografia de TCC

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DE LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

II ELPED - ENCONTRO DE LICENCIATURAS E PESQUISA EM EDUCAÇÃO

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

METODOLOGIA E ELABORAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

1.3. Planejamento: concepções

A ARTE NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: EM BUSCA DE UMA PRAXE TRANSFORMADORA

PLANO DE ENSINO E ESTRATÉGIAS

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

CLUBE DE PROGRAMAÇÃO NAS ESCOLAS: NOVAS ERSPECTIVAS PARA O ENSINO DA COMPUTAÇÃO. IF Farroupilha Campus Santo Augusto; joaowinck@hotmail.

Oficina Cebes POLÍTICA, PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

UNIVERSIDADE IGUAÇU FACUDADE DAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

RESUMO RESENHA E RIO. LIP - Profa. KATIUSCIA

União do Ensino Superior de Nova Mutum - UNINOVA Nome dos acadêmicos em ordem alfabética. Orientações Sobre a Elaboração de Projetos de Pesquisa

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Estrutura do Trabalho: Fazer um resumo descrevendo o que será visto em cada capítulo do trabalho.

A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NA EDUCAÇÃO BIOLÓGICA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Colégio Pedro II Departamento de Filosofia Programas Curriculares Ano Letivo: 2010 (Ensino Médio Regular, Ensino Médio Integrado, PROEJA)

SOBRE UM PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA COM MODELAGEM MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

PROJETO DE PESQUISA: passo a passo

Modelo de Planejamento de Projeto orientado pelo Escopo

PARANÁ GOVERNO DO ESTADO

Disciplina: Alfabetização

EMENTAS DAS DISCIPLINAS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO e DOUTORADO

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

A PRÁTICA DE FORMAÇÃO DE DOCENTES: DIFERENTE DE ESTÁGIO Maria de Fátima Targino Cruz Pedagoga e professora da Rede Estadual do Paraná.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIUNIDADES EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA DA UNICAMP

A PRÁTICA DE MONITORIA PARA PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL DE LÍNGUA INGLESA DO PIBID

METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE. Número de aulas semanais 4ª 2. Apresentação da Disciplina

MAPAS CONCEITUAIS NAS PESQUISAS DO NÚCLEO DE ETNOGRAFIA EM EDUCAÇÃO

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA AD NOS PROGRAMAS DE PÓS- GRADUAÇÃO DA PUC/RS E DA UFRGS

Trabalho de Conclusão de Curso

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PATOS, PARAÍBA: A PROFICIÊNCIA DOS ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE PATOS

O PERFIL DOS PROFESSORES DE SOCIOLOGIA NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE FORTALEZA-CE

SOCIEDADE E TEORIA DA AÇÃO SOCIAL

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

A FORMAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ATRAVÉS DA INSERÇÃO DOS ESTUDANTES EM PROGRAMAS INSTITUCIONAIS: UM ESTUDO DE CASO NA UFRPE

INVESTIGANDO O OLHAR DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AS PESQUISAS EM CIÊNCIAS

FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

Transcrição:

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DOS CURSOS SUPERIORES DE TURISMO DE MACEIÓ/AL DISCUSSÃO SOBRE SUAS BASES CONCEITUAIS E METODÓLOGICAS Andressa Tallyne Barros Nicacio 1 Alessandra Maria da Silva Sousa 2 Davily Verçosa de Brito 3 Marcela Ferreira Marinho 4 RESUMO O presente artigo, referente ao projeto de iniciação científica, que esta em andamento, intitulada A produção do conhecimento científico dos cursos superiores de turismo de Maceió/AL, busca refletir sobre o percurso teórico no que diz respeito às bases conceituais e metodológicas de tal estudo. Baseado na compreensão do que é epistemologia e a epistemologia do turismo, traça percurso discursivo ressaltando determinadas considerações de alguns poucos autores que estudam a temática, assim como discute as bases metodológicas baseadas no artigo The indiscipline of tourism de John Tribe que debate uma perspectiva interdisciplinar por meio de campos de estudos, para a construção de quadro panorâmico (epistemológico) do conhecimento produzido nos cursos de turismo da cidade de Maceió/AL. O artigo permite depreender a importância da difusão do conhecimento científico produzido, na graduação, por meio de artigos científicos, como um instrumento para tornar disponível conhecimento e caminhos de pesquisas entre os pares. Palavras-chave: Turismo, Projeto de iniciação científica, Epistemologia, Epistemologia do turismo, campos de estudo. 1 Graduanda em Turismo pelo Centro Universitário Cesmac. Email: andressatallyne@hotmail.com 2 Graduanda em Turismo pelo Centro Universitário Cesmac. Email: mss_alessandra@hotmail.com 3 Graduanda em Turismo pelo Centro Universitário Cesmac. Email: davily22_pink@hotmail.com 4 Bacharelado em Turismo, Especialista em Psicologia Jurídica e em Fundamentos Científicos e Metodológicos da Pesquisa e da Docência (Faculdade de Alagoas); Mestre em Turismo (Universidade de Caxias do Sul. E-mail: marcelaferreiramarinho@gmail.com

INTRODUÇÃO O estudo acadêmico do turismo nasceu na Europa e apenas chegou ao Brasil na década de 1970 (REJOWISKI, 1996). Vários cursos de graduação surgiram no mundo, no Brasil e em Alagoas. Com eles foram produzidas monografias que possibilitaram o início das discussões e do estudo do turismo em uma perspectiva científica. A epistemologia é um tema presente em muitos campos novos na produção do conhecimento no campo do turismo na atualidade. Inclusive alguns estudiosos sob diversas correntes filosóficas, preocupados em discutir a complexidade do fenômeno 5 turismo, destacam-se, como: Beni (2006), Barreto (2003), Panosso Netto (2005), Moesch (2000), entre outros. Esta pesquisa é parte integrante do projeto de iniciação científica, intitulado: A produção do conhecimento científico dos cursos superiores de Turismo de Maceió/AL aprovado pelo Centro Universitário Cesmac - CESMAC em parceria com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas FAPEAL e o Núcleo de pesquisa Turismo: Desenvolvimento Humano e Social, Linguagem e Processos Educacionais SOCIOEDUC do Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul/RS. Desse modo, O interesse em 5 Neste trabalho, o turismo será abordado como fenômeno, conceito definido pelas considerações de abbagnano, não é só o que aparece ou se manifesta ao homem em condições particulares, mas aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo, como é em si, na sua essência (PANOSSO NETTO, 2005, p.102) 1 desenvolver o projeto de iniciação cientifica referente ao objeto de estudo epistemologia do turismo surgiu a partir de discussões em sala de aula e a inquietação sobre o entendimento das suas bases entre as pesquisas nos cursos de turismo da cidade de Maceió/AL. A preocupação central das pesquisadoras nesse artigo é o de divulgar e discutir as bases epistemológicas e metodológicas escolhidas para o desenvolvimento do projeto. Assim, para justificar e nortear o presente estudo serão destacados, com vistas a situar o leitor acerca da escolha do tema e da definição do problema a ser investigado no projeto de iniciação científica, alguns pontos que serviram de referentes. Eles dizem respeito ao entendimento sobre o que é epistemologia, o que é epistemologia do turismo e a criação do conhecimento por John Tribe. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. Epistemologia A epistemologia é conhecida, por meio da explicação de Abbagnano, como teoria do conhecimento ou gnosiologia (do grego, gnosis = conhecimento, ciência e logia = estudo, discurso ordenado). Nasce na corrente filosófica Idealismo e estuda a realidade das coisas, do que é externo aos seres humanos (TRIGO & PANOSSO NETTO, 2003). Trigo &Panosso Netto (2003 p.53) chamam atenção para o fato de que a epistemologia parte de dois

pressupostos: [...] que o conhecimento é uma categoria do espírito (intelecto) [...] e [...] que o objetivo imediato do conhecimento é a idéia ou a representação, que está na consciência do sujeito pensante (2003, p. 58). Assim, nas palavras de Japiassu, epistemologia é [...] o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais (PANOSSO, 2005, p.33) Em Paviani (2009, p.11), que discute a epistemologia prática: [...] o termo epistemologia compõe-se de episteme e logos em grego, ou scientia e ratio, em latim, que dão origem aos termos ciência ou conhecimento e razão ou teoria, teoria do conhecimento ou da ciência. [...]. O autor ainda esclarece que a epistemologia prática busca integrar questões epistemológicas presentes nas escolhas metodológicas e desse modo, mostrar que os processos metodológicos sempre pressupõem escolhas epistemológicas, ou seja, um saber teórico-prático. Assim, O epistemológico consiste nos pressupostos do conhecimento científico, no exame das justificações do conhecimento, critérios da demarcação científica do conhecimento. [...] O metodológico refere-se, em primeiro lugar, à orientação dos meios em vista de um fim, isto é, ao caminho escolhido, em segundo lugar, às regras, aos instrumentos, às técnicas, aos procedimentos adotados para obter dados informações, evidências e, em terceiro lugar, aos processos de descrição e análise, de síntese, de explicação, de compreensão e de interpretação, sejam esses processos lógicos, dialéticos e/ou hermenêutico. (PAVIANI, 2009, p. 11-12) [Grifo nosso]. A partir desse ponto de vista é possível depreender que tanto a Epistemologia quanto a Metodologia investigam o processo interno do conhecimento científico, mas também estudam os aspectos externos da ciência e são elementos importantes no processo de investigação científica. Portanto, para efeito desse trabalho, que busca a discussão sobre os caminhos epistemológicos e metodológicos do projeto de iniciação científica, seria pertinente reconhecer o que promove a investigação científica. De tal modo, Köche et.al. (2008 p.6) explicam que a investigação científica requer [...] amplo e diversificado domínio de conhecimentos para referenciar teoricamente, desde a leitura da realidade, a formulação do problema, a identificação de sua natureza, suas especificidades e sua abrangência, até a definição do método de pesquisa e dos correspondentes procedimentos metodológicos, assim como a definição dos critérios de análise dos resultados obtidos. Requer ainda conhecimentos técnicos inerentes aos procedimentos metodológicos adotados. Essas reflexões conduzem ao entendimento da importância de estudos que possibilitem reflexões sobre as dimensões epistemológicas

e metodológicas das investigações científicas. Entendendo as contribuições de estudos referentes ao aspecto epistemológico e metodológico do conhecimento produzido, trazemos Trigo e Panosso Netto (2009, p. 153) que refletem sobre as novas pesquisas e os novos cursos de turismo que geram interrogações na academia do turismo, e questionam: [...] qual a validade desse conhecimento produzido? Em outras palavras: qual é a garantia que existe para dizer que esse conhecimento em turismo pode ser utilizado na pratica e qual é a garantia de que ele não é um conhecimento falho? Desse modo, o que é valido no conhecimento produzido? Que caminhos seguiram? Que caminhos podem sinalizar a partir do que foi produzido? Estudos epistemológicos podem auxiliar na compreensão do conhecimento produzido em abordagens mais profundas que atinja a essência das discussões dos estudos. 1.2. Epistemologia do Turismo A utilização da epistemologia nos estudos turísticos é uma questão preocupante entre os pesquisadores do turismo de acordo com muitos estudiosos, entretanto apenas no século XX essa temática se tornou presente entre as discussões acadêmicas. Panosso Netto (2009 p. 150) destaca que a Filosofia sempre esteve intimamente ligada ao método cientifico e ao avanço da ciência, porém hoje a filosofia passou para segundo plano, ou seja, as reflexões e análises sobre a sociedade e seus valores passaram, também, para segundo plano. Associado a essa constatação ocorre à rejeição por parte da filosofia, de acordo com o percebido por Comic e pontuado por Panosso Netto (2009), pois ela é entendida como o que se preocupa com questões mais profundas e que o turismo poderia representar algo insignificante que não merece reflexão filosófica. Porém, tendo em vista a necessidade de explicar as bases do conhecimento turístico, por meio das reflexões sobre os fundamentos do turismo, a validade do conhecimento produzido, como produzir conhecimento, estudos sob bases epistemológicas se fazem pertinentes e importantes. Trigo & Panosso Netto (2003 p.28) destacam que ainda não existe uma epistemologia do turismo, pois ela ainda está em fase de elaboração, mas entender as bases da epistemologia e aplicar esse modo de interpretação no conhecimento produzido no turismo é necessário. Tribe (1997) esclarece que a importância da epistemologia para o turismo é duplo: [...] Em primeiro lugar, promove uma revisão sistemática daquilo que é o conhecimento do que é legitimo no conhecimento do turismo. É assim, no ramo de conhecimento em negócios de controle de qualidade uma que é particularmente importante para áreas que são relativamente imaturas tais como estudos de turismo. Em segundo 5

lugar, o mapa ou as fronteiras do estudo do turismo não estão acordadas. Epistemologia pode ajudar a desenvolver este debate. (p.639) Desse modo, o projeto de iniciação a pesquisa proposto é um estudo interessante porquanto pode auxiliar na compreensão e explicação do fenômeno turístico na cidade de Maceió, no entendimento dos percursos já vencidos e nos novos caminhos que possam surgir em decorrência dos estudos, como também pode fornecer bases científicas para as pesquisas sobre o turismo. Ainda é possível destacar, por meio das considerações de Moesch (2002, p. 25), que: Uma epistemologia do turismo envolve cuidados teóricos, advindos, de um entendimento complexo sobre uma prática social que se dissemina de forma diferenciada, a partir de subjetividades infinitamente diversas e de vivências múltiplas dos sujeitos que as praticam, em um mundo que se globaliza. Ancorando o turismo na compreensão de sua complexidade, pondo de um lado o fenômeno multissetorial (se pensado por meio de sua produção), do outro a questão interdisciplinar de sua teoria, a autora marca a emergência de novas reflexões e teorias explicativas para uma melhor atuação do bacharel em turismo, práxis essa que deve está baseada no saber-fazer, na constituição de um todo orgânico, que busca dar conta da complexa multiplicidade do fenômeno. Panosso Netto (2005, p. 45), em seu livro Filosofia do turismo: Teoria e epistemologia, explica que no turismo há varias teorias, a exemplo de outras áreas, e que seus pesquisadores não precisam necessariamente aceitá-las, e desse modo seguem independentes em suas pesquisas, formulando seus próprios fundamentos. Nesse momento, o autor situa que um grupo de estudiosos segue a linha da disciplina e outros seguem a linha do campo de estudo. Assim, Panosso Netto (2009) explica: [...] A disciplina é algo que pode ser ensinado e aprendido. Ela tem seu objeto de estudo específico, e seu método de pesquisa leva à obtenção de resultados satisfatórios quanto a testes lógicos e de validade. A disciplina estuda uma parte da realidade, e tem todas as ferramentas para tal processo. (p. 161) Na continuação, ele explica o campo de estudo: O campo de estudo, por sua vez, não possui método próprio de pesquisa, e seu(s) não apresenta(m) ainda com os limites definidos, como é o caso do turismo. Além do mais, quando há um problema a ser resolvido no campo, o mesmo passa a ser abordado por diversas disciplinas, que aplicam seus métodos próprios para sanar o problema. [...] (p.161)

O autor ainda explica que para avançar nas discussões e deixar evidente a importância dos estudos teóricos do turismo se faz necessário recorrer a Thomas S. Kuhn 6 e sua idéia de paradigma, ou seja, recorrer a modelos estabelecidos a partir das aproximações teóricas dos autores. Assim, o primeiro grupo é identificado por ele como pré-paradigmático, porque foram eles quem iniciaram as primeiras incursões do turismo na perspectiva de análise teórica. O segundo se destaca por estabelecer o modelo de estudo do turismo, modelo baseado na Teoria dos sistemas e que apresentou bastante difusão. E o terceiro, é explicado como: [...] A terceira fase teórica é intitulada Novas abordagens. Diferencia-se das duas primeiras porque propõe análises diversificadas inovadoras do turismo. Alguns autores dessa fase propõem esquemas e interpretações que visam o Paradigma Sistema de turismo, seja por meio da reformulação da Teoria Geral dos Sistemas aplicada ao turismo, seja por meio da tentativa de recolocar o homem no centro da discussão do turismo. [...] (PANOSSO NETTO, 2005, p. 47) Sendo assim, destacamos o pesquisado inglês John Tribe, entre muitos estudiosos da fase novas abordagens mencionado por Panosso Netto, com seu modelo de 6 Físico que se dedicou ao estudo da História da ciência e da Filosofia da ciência. Panosso Netto destaca a obra A estrutura das revoluções científicas para identificar três grandes grupos paradigmáticos no turismo. estudar o conhecimento produzido no turismo. Sua metodologia será utilizada como modelo interdisciplinar para o estudo do conhecimento produzido nas faculdades de turismo da cidade de Maceió/AL. Portanto, um estudo epistemológico ganha espaço quando se percebe a ausência de interpretações das pesquisas desenvolvidas e a necessidade de abordagens mais profundas no turismo fundamentadas na filosofia e especificamente na filosofia da ciência. 1.3. O conhecimento produzido pelo modelo de John Tribe John Tribe, professor e pesquisador inglês, alicerça suas pesquisas em turismo sob bases filosóficas de ciência, pontua a importância de estudos interdisciplinares em turismo, explica que as pesquisas para o turismo como uma disciplina devem ser abandonadas e propõe um novo modelo que expõe características epistemológicas dos estudos em turismo. Ele fundamenta a conceituação do turismo em dois campos e quatro principais métodos de investigação. Quanto as Métodos, são eles: a Multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade, a interdisciplinaridade dos negócios e a extradisciplinaridade. Quanto aos campos: o primeiro seria o estudo dos negócios turísticos, tais como marketing turístico, leis turísticas e gestão do turismo; o segundo, chamado de estudo dos nãonegócios turísticos é destacado pela necessidade de outra base (banda k) que faça a ligação com o turismo, por

exemplo, impactos ambientais, percepção turística, capacidade de carga. (TRIBE, 1997) Tribe, nesse diapasão, cria o campo do turismo (TF), que é concebido pela soma do campo de estudo dos negócios turísticos (TF1) e do campo de estudo dos não-negócios turísticos (TF2), representado da seguinte forma: (TF) = TF1 + TF2. O autor não entende o turismo como um campo, mas dois campos que representam figurativamente círculos compostos de outros círculos. O circulo interno representa os campos do turismo (objetos de estudo), os externos as disciplinas e as subdisciplinas (métodos) e entre os dois fica o espaço chamado por Tribe de Banda K, no qual seria um espaço em que o conhecimento em turismo é criado, ou seja, é uma área em que as teorias e conceitos do turismo se revelam. (TRIBE, 1997) Segue figura representativa: Figura 1: Criação do conhecimento em turismo por John Tribe e representado por Trigo & Panosso Netto (2003). Fonte: Trigo & Panosso Netto (2003). Esse modo de ver o turismo propicia uma forma de compreender como o campo de estudo do turismo pode ser estudado. Há múltiplas abordagens que atestam a complexidade do Turismo, que para Tribe nunca será

uma disciplina, mas sim um campo interdisciplinar chamando assim de indisciplina do turismo. Assim, o objetivo geral do artigo Contribuir com reflexões sobre a construção panorâmica e evolutiva da pesquisa em turismo (epistemologia) nos cursos de Turismo em Maceió/AL parece poder ser amplamente discutido e construído mediante o modelo metodológico de Tribe. Desse modo, após as reflexões sobre epistemologia, epistemologia do turismo e o modelo de conhecimento proposto por Tribe, chegamos ao problema de pesquisa, com a seguinte indagação: O modelo de criação do conhecimento em turismo de John Tribe (1997), explicado por ele e representado por Trigo & Panosso Netto (2003), poderia auxiliar para identificar o dimensionamento do fenômeno, teórica e empiricamente, nas monografias da área de turismo na cidade de Maceió/ AL, com vistas a sinalizar um quadro panorâmico (epistemológico) do conhecimento produzido nos cursos de turismo? 2. METODOLOGIA Conforme acima explicitado, o problema formulado questiona se o modelo de criação do conhecimento em turismo de John Tribe (1997), explicado por ele e representado por Trigo & Panosso Netto (2003), poderia auxiliar para identificar o dimensionamento do fenômeno, teórica e empiricamente, nas monografias da área de turismo na cidade de Maceió/ AL, com vistas a sinalizar um quadro panorâmico (epistemológico) do conhecimento produzido nos cursos de turismo? É possível perceber que o estudo está ancorado em uma abordagem metodológica qualitativa, por se tratar de um problema que remete a uma reflexão filosófica. Metodologicamente, adotou-se uma abordagem hermenêutica. Nesse contexto, sem apresentar de forma mais aprofundada os supostos teóricos da Hermenêutica não pertinente a essa finalidade parece importante aqui retomar, com Ricoeur (1978, p. 8), que [...] o trabalho da interpretação revela um desígnio profundo: o de superar uma distância, um afastamento cultural, o de equiparar o leitor a um texto que se tornou estranho e, assim, incorporar seu sentido à compreensão presente que um homem pode obter dele mesmo. Tal entendimento sobre a hermenêutica conduz à reflexão a metodologia da interpretação. No presente trabalho, o estudo partirá das monografias dos cursos de turismo da cidade de Maceió/AL, cujo tema se relaciona ao turismo. Serão utilizados trabalhos produzidos no período de vida dos cursos de turismo e serão captados das bibliotecas das instituições de ensino. Dos estudos encontrados serão utilizados os resumos respectivos. A amostra será baseada em 10% do total das monografias produzidas, por ano, entre as instituições que tiveram ou têm o curso de turismo, ou seja, a cada nove monografias a décima será escolhida considerando a

catalogação nas respectivas bibliotecas. O exame dos resumos das monografias será baseado a partir dos objetos e os métodos, baseado no entendimento de que esses elementos propiciarão um entendimento do campo do turismo pontuado por Tribe. É interessante chamar atenção para o fato de que, em função de possíveis problemas redacionais nos textos, pode ser necessário recorrer ao restante do texto com o escopo de preencher lacunas discursivas. Quadros serão criados para auxiliar as análises conjunturais. Sua formulação terá a seguinte estrutura: o primeiro quadro terá o número de ordem da monografia, objeto (transcrito na íntegra) e redução discursiva; o segundo, número de ordem da monografia e metodologia; o terceiro, número de ordem da monografia e resultados; e o quarto quadro terá o número de ordem da monografia e a conclusão. Ainda será construída, ao final, uma figura representativa instituída por Trigo & Panosso Netto (2003), baseada em Tribe, referente ao conhecimento em turismo no estado de Alagoas, ou seja, quadro panorâmico (epistemológico). conhecimento científico, como um instrumento para tornar disponível conhecimento e caminhos de pesquisas entre os pares, o presente estudo pode representar significativamente o desenvolvimento de novas discussões nas graduações em turismo. Na perspectiva da epistemologia do turismo, há que se retomar a preocupação central das pesquisadoras nesse artigo que é a divulgação e a discussão sobre as bases epistemológicas e metodológicas escolhidas para o desenvolvimento do projeto. Desse modo, ressaltamos a importância de discussões sobre o percurso escolhido na busca pela consonância entre a literatura contemporânea e os princípios de interdisciplinaridade da pesquisa, encontrada nos discursos do modelo de Tribe. Ressaltamos também a necessidade de mais reflexões sobre o referencial teórico e os caminhos metodológicos escolhidos visando uma análise critica e sinalizando algumas possíveis modificações necessárias na busca por discussões mais amplas ou mais estritas sobre o problema estabelecido. Assim, esse espaço de discussão permite questionar o modelo de Tribe. REFLEXÕES FINAIS Embora estejamos diante de um estudo parcial, por se tratar de uma divulgação científica no âmbito conceitual e metodológico assumida para o projeto de iniciação científica, ao falar, pois, de difusão do

REFERÊNCIAS BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 15.ed. Campinas: Papirus, 2003. (Coleção turismo) BENI, Mario Carlos. Análise estrutural do Turismo. 11.ed. [Rev. e atualiz.] São Paulo: Senac, 2006. KÖCHE, José Carlos. et.al., O turismólogo pesquisador: agente de desenvolvimento do turismo na América Latina. Trabalho apresentado ao V Seminário de pesquisa em turismo do Mercosul, Caxias do Sul, 2008. MOESCH, Marutschka. A produção do saber turístico. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2002. PANOSSO NETTO, Alexandre. Filosofia do Turismo: Teoria e epistemologia. São Paulo: ALEPH, 2005. REJOWSKI, Miriam. Turismo e Pesquisa Científica. Campinas SP: Papirus, 1996. RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações: ensaior de hermenêutica. Traduzido por Hilton Japiassu. Rio de Janeiro: Imago, 1978. TRIBE, John. The indiscipline of tourism. Annals of tourism research, Amsterdam, v.24, n.3, p. 638-657, 1997. TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi; PANOSSO NETTO, Alexandre. Reflexões sobre um novo turismo: política, ciência e sociedade. São Paulo: Aleph, 2003. 109 p. (Turismo). PAVIANI, Jaime. Epistemologia prática: ensino e conhecimento científico. Caxias do Sul: Educs, 2009.