CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO VEADO

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Transcrição:

Nayara Rodrigues da Silva Orientadora: Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia; Instituição: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus Presidente Prudente (UNESP/FCT). E-mail: nayara.rodriguees@gmail.com. Bolsista de Iniciação Cientifica: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO VEADO INTRODUÇÃO O processo de urbanização das cidades brasileiras, orientado pela lógica da especulação imobiliária, tem alterado de forma quase irreversível as paisagens originais e como consequências têm-se a supressão de cobertura vegetal nativa, aterramento de nascentes, retificações e tamponamentos de cursos fluviais e impermeabilização do solo, dentre outras modificações. Tais intervenções antrópicas causam mudanças de taxas, frequências e magnitude dos processos hidrogeomorfológicos 1. Desta forma, em ambientes urbanizados, fica evidente que as intervenções antrópicas atreladas à falta de planejamento urbano adequado resultam no aumento de ocorrência de inundações, alagamentos e enxurradas nas cidades brasileiras e no comprometimento da dinâmica natural dos rios e córregos. Por tanto, a ação antrópica deve ser entendida como um conjunto de modalidades de intervenções que promovem mudanças geomorfológicas (Moroz Caccia Gouveia, 2010). A Geomorfologia Antropogênica considera o homem como um agente modificador do relevo, assim como os processos naturais (tais como os processos eólicos, pluviais, fluviais e etc). Faz-se necessário compreender como atua a ação antrópica na modelagem do relevo ao longo do tempo. De acordo com Rodrigues 1 Segundo Rodrigues (2010), são considerados como sistemas hidrogeomorfológicos: canais fluviais, planícies de inundação, vertentes, bacias hidrográficas e sistemas lacustres.

(2005), para os estudos ambientais no meio urbano, é necessária a superação de abordagens com ênfase nos elementos exclusivamente definidos pela natureza e aponta a importância do tratamento simultâneo e sistemático das interferências antrópicas. As bacias hidrográficas possuem grande importância para os estudos voltados às análises dos problemas decorrentes da relação sociedade-natureza, pois nelas se evidenciam as dinâmicas naturais dos meios físico e biótico e as mudanças nas taxas, frequências e magnitude de processos decorrentes das intervenções antrópicas. O município de Presidente Prudente está localizado no extremo oeste paulista e pertence à unidade morfoestrutural Bacia Sedimentar do Paraná, sendo o Planalto Ocidental Paulista a sua morfoescultura (Ross & Moroz, 1996). A área de estudo em questão, a Bacia Hidrográfica do Córrego do Veado (BHCV), pertencente à sub-bacia do Rio Santo Anastácio e localiza-se integralmente no perímetro urbano de Presidente Prudente/SP. Segundo Nunes (2006), Presidente Prudente tem como características geomorfológicas predominantes colinas médias e baixas, com altitudes que variam entre 300 a 600 metros e declividades entre 10% a 20%. As drenagens apresentam um padrão dendrítico, com densidades entre baixa a média (MOROZ CACCIA GOUVEIA & GOUVEIA, 2015). Figura 1: Localização da Bacia Hidrográfica Córrego do Veado.

Fonte: Moroz Caccia Gouveia & Gouveia (2015). OBJETIVOS Este trabalho visa identificar mudanças hidrogeomorfológicas na Bacia Hidrográfica do Córrego do Veado (nos canais fluviais e vertentes), no perímetro urbano do município de Presidente Prudente e sua correlação com a ocorrência de eventos de inundações. METODOLOGIAS Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos a proposta de metodologia de Rodrigues (2005, 2008, 2014) complementada por Moroz Caccia Gouveia (2010) Dentre os princípios e procedimentos mais gerais dessa metodologia norteada pela Geomorfologia Antropogênica são destacados: a pesquisa dos sistemas físicos em seus estágios sem intervenção e com intervenções antrópicas diretas; a utilização da cartografia geomorfológica para reconstituição dos cenários pré e pós-intervenções; a utilização de documentos históricos, e indicadores de mudanças em sistemas fluviais como referência (Rodrigues et al., 2014). No presente trabalho iremos abordar a a evolução territorial urbana e as modificações impostas a BHCV, do município de Presidente Prudente. RESULTADOS PRELIMINARES Em 1917 foram instalados os primeiros núcleos urbanos que deram origem ao município, porém em 28 de novembro de 1921 foi criado o município de Presidente Prudente (LEITE, 1972). A ocupação urbana, inicialmente restrita ao topo aplainado do espigão, foi-se expandindo pelas áreas de nascentes, exigindo a canalização de alguns

trechos de córregos ou interferindo danosamente sobre vale e canais (GODOY, 1989). Assim, as características geomorfológicas e hidrológicas originais foram modificadas, pois se constituíam em empecilhos à expansão urbana e consequentemente, à especulação imobiliária. No Brasil, na década de 70, a canalização e retificação dos cursos fluviais era associada à abertura de novas avenidas em fundo de vale, pois tais áreas apresentavamse planas devido às planícies de inundação. Neste período, se destacam as grandes obras e, como consequência, a expansão da mancha urbana e da ocupação do solo transformaram as características da geomorfologia original. Figura 2: Mapa de Expansão Territorial do município de Presidente Prudente (1917 Após 2000).

Na figura 2 é apresentada a evolução da malha urbana do município de Presidente Prudente, inserida na BHCV. Vale notar que os primeiros loteamentos foram inicialmente instalados nas cabeceiras de nascentes, e em seguida a malha urbana se ampliou para as vertentes e fundos de vale ao longo dos períodos de expansão. De acordo com Moroz - Caccia Gouveia (2010), as canalizações de cursos d água no Brasil, a exemplo da cidade de São Paulo, foram realizadas sob o pretexto de afastamento de dejetos, a fim de esconder e afastar as imundices, além de eliminar odores e afastar ratos e mosquitos. Entretanto, muitas áreas de várzeas foram aterradas e incorporadas pelo mercado imobiliário. As mudanças impostas pela ação antrópica, quer sejam através das modificações das formas ou da substituição de materiais superficiais, modifica de maneira radical e irreversível o ciclo hidrológico e como consequência os processos hidromorfodinâmicos no sistema físico, sobretudo numa bacia hidrográfica em meio tropical úmido, onde a dinâmica de circulação da água (na superfície, subsuperfície e atmosfera) desempenha papel fundamental (MOROZ CACCIA GOUVEIA 2010). Na figura 3 é apresentado o Mapa com Córregos Tamponados na BHCV. Vale ressaltar que utilizamos o termo tamponado para demonstrar as modificações impostas aos canais fluviais no decorrer do processo de expansão do município, ou seja, todos os cursos d água que foram alvo de canalizações fechadas. Figura 3: Mapa de Córregos Tamponados

Ao longo do processo de urbanização de Presidente Prudente foram tamponados cerca de 42,91% de cursos d água. No gráfico 1 são apresentadas as modificações dos cursos d água ao longo dos períodos analisados. Gráfico 1 - Modificações impostas aos cursos fluviais da BHCV ao longo da expansão urbana. Segundo Luz (2014), o processo de urbanização também é responsável pelo aumento de sedimentos no sistema, seja pela exposição dos solos durante as fases construtivas da cidade ou pela geração de resíduos sólidos (lixo), e também pela deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea. De acordo com Sudo (1988) apud Godoy (1989), as possibilidades de inundações no município de Presidente Prudente são evidenciadas por eventos decorrentes de precipitações convectivas e períodos de chuva contínua. No processo de urbanização do município de Presidente Prudente foram criados parques lineares a fim de trazer lazer à população prudentina, porém tais construções causaram o tamporamento dos cursos d água como é o caso do Parque do Povo (principal parque linear do município) que está inserido na BHCV.

Na figura 4, nota-se também que a canalização não comporta a quantidade de água que atinge rapidamente o canal. Devido à retificação do curso d água e como consequência, tem-se o extravasamento e o aumento a velocidade das águas. Figura 4: Córrego do Veado, Parque do Povo. Fonte: Band Interior, (http://tvuol.uol.com.br/video/parque-do-povo-de-presidente-prudentefica-alagado-apos-forte-chuva-04024c1b3264e0995326). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados preliminares indicam que a bacia hidrográfica teve seus processos hidrodinâmicos alterados devido ao processo de urbanização do município. Os problemas relacionados ao escoamento das águas pluviais e fluviais são decorrentes da impermeabilização do solo e consequentemente geram desastres naturais como alagamentos e inundações. Através da Geomorfologia Antropogênica fica claro a necessidade de estudos voltados às intervenções antrópicas em sistemas hidrogeomorfológicos, pois proporciona elementos (físicos e temporais) para compreender as modificações

ocorridas nos sistemas e cria possibilidade de novos modelos de planejamento ambiental e urbano, a fim de buscar o equilíbrio entre sociedade e natureza. BIBLIOGRAFIA ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira Paulista: Presidente Prudente. Presidente Prudente/SP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente (FFCLPP), Presidente Prudente,1972. GODOY, M. C. T. F. Mapeamento geotécnico preliminar da região urbana de Presidente Prudente/SP. Dissertação de Mestrado, Volume I: EESC/USP, São Carlos, 1989. LEITE, J. F. A Alta Sorocabana e o espaço polarizado de Presidente Prudente. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente. Presidente Prudente, 1972. LUZ, R. A. Mudanças geomorfológicas na planície fluvial do Rio Pinheiros, São Paulo (SP), ao longo do processo de urbanização. Tese de Doutorado (Departamento de Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014, 246 p. MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. & GOUVEIA, J. M. C. Estimativa de mudanças nas taxas de processos hidrodinâmicos em bacias hidrográficas urbanas: Contribuições da cartografia geomorfológica. In: Anais do XI Encontro Nacional da ANPEGE, Presidente Prudente, 2015, p. 10648-10659. MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. Da originalidade do sítio urbano de São Paulo às formas antrópicas: aplicação da abordagem da Geomorfologia Antropogênica na Bacia Hidrográfica do Rio Tamanduateí, na Região Metropolitana de São

Paulo. Tese de Doutorado (Departamento de Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010, 363 p.. NUNES, J. O. R.; FREIRE, R; PEREZ, I. U. Mapeamento Geomorfológico do Perímetro Urbano do Município de Presidente Prudente-SP. Goiânia. Anais do VI Simpósio Nacional de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology, SINAGEO, Goiânia, 2006. PEDRO, L. C. Ambiente e apropriação dos compartimentos geomorfológicos do conjunto habitacional Jardim Humberto Salvador e do Condomínio fechado Damha Presidente Prudente-SP. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista, UNESP/FCT, Presidente Prudente, 2008. RODRGUES, C.; MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C.; BERGES, B. & LUZ, R. A. Geomorfologia urbana histórica e a avaliação da influência de fatores naturais e antrópicos na geração de eventos fluviais extremos em São Paulo Brasil. In: Environnement et géomatique: approches comparées France-Brésil. Rennes, 2014, p. 332-339. RODRIGUES, C. Morfologia original e morfologia antropogênica na definição de unidades espaciais de planejamento urbano: exemplo na metrópole paulista. FFCHL/USP, Revista do Departamento de Geografia, nº 17, São Paulo, 2005. p. 101-111. ROSS, J. L. S & MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, nº 10, São Paulo, 1996. SUDO, H. Considerações em torno de algumas correlações fisiográficas do sistema urbano-industrial de Presidente Prudente. IN: SPOSITO, E. S; SANT ANNA NETO, J. L (org). Geografia em movimento. Editora: Expressão Popular, São Paulo, 2010.