PA nº 1.26.000.002268/2007-07 DECISÃO DE ARQUIVAMENTO À DTCC O procedimento administrativo em epígrafe foi instaurado no âmbito desta Procuradoria da República, para apurar notícia de irregularidades no âmbito do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira IMIP, no tratamento oferecido à criança Jaciana Ferreira Custódio, falecida em 15/8/2007 na UTI do nosocômio enquanto fazia sessões de hemodiálise. Conforme os fatos trazidos ao conhecimento deste órgão, por meio do termo de declaração prestado em 22.08.2007, na Procuradoria da República do Rio Grande do Norte, que deu azo à instauração do procedimento administrativo em epígrafe, o representante, Sr. Francisco Canindé Custódio, genitor da criança, alega que sua filha havia sofrido choque séptico na hemodiálise quando estava na UTI do IMIP. O noticiante teria visto um procedimento de extubação de sua filha no dia anterior ao óbito. Alegou, ainda, a criança teria morrido durante nova tentativa de hemodiálise e que teria passado um dia inteiro com a fralda cheia de fezes. Ao indagar acerca do risco de infecção pela proximidade do cateter de hemodiálise, uma das enfermeiras o havia informado que não havia fraldas para substituir, assim como percebeu que sua filha teria ficado com a região abdominal e pélvica extremamente inchadas. Relata, ainda, que uma médica ou enfermeira chefe da UTI teria afirmado que a criança apresentava sinais de abusos sexuais e que a sua filha teria falecido no outro dia com aspecto horrendo, deformada e
inchada. Além disso, havia esperado o dia todo para que o corpo de sua filha fosse encaminhado ao IML, sendo este encaminhado sem qualquer identificação. Após análise feita por Dra. Catarina Magalhães Porto, analista de saúde desta Procuradoria, com base nos dados do prontuário da paciente, do relato da chefe da UTI do IMIP e do laudo da perícia tanatoscópica, foi possível aferir que a criança Jaciana Ferreira Custódio, de 4 (quatro) anos de idade, foi admitida no Hospital Universitário Osvaldo Cruz em 6/8/2007, com febre há cinco dias, otite supurada, melena, epistaxe e tumoração em flanco esquerdo e insuficiência renal aguda. Ela havia sido submetida a transplante hepático há 1 ano e 4 meses, por hepatite fulminante, fazendo uso de drogas imunossupressoras. O estado geral da criança era grave. Como não havia serviço de hemodiálise no Hospital Universitário Osvaldo Cruz para pacientes pediátricos, a criança foi transferida para o IMIP em 8/9/2007 com hipóteses diagnósticas de sepse, tumoração em flanco esquerdo e insuficiência renal e congestão pulmonar. Fazia uso de antibióticos há 3 dias, assim como omeprazol, vitamina K e dobutamina (inotrópico cardíaco, utilizado em casos de disfunção miocárdica e sepse). Na ficha de admissão no IMIP, há relato de menor sonolenta, hipocorado, com hepatoesplenomegalia, com hipóteses diagnósticas de insuficiência renal aguda, sepse, doença linfoproliferativa pós-transplante. No IMIP, foi iniciada sessão de hemodiálise (duas horas) e colhidas hemoculturas. Em 9/8/2007 o quadro evolui com instabilidade hemodinâmica durante a hemodiálise, com hipotensão arterial, necessitando de acréscimo de droga vasoconstrictora. Em 11/8/2007, a paciente apresentou piora clínica, com crise convulsiva, sangramento gengival, digestivo, sendo entubada e colocada em assistência
ventilatória mecânica. Foi suspensa a hemodiálise, pela gravidade do quadro e hipotensão arterial. Houve avaliação, na mesma data, por parte da hepatologista, a qual prescreveu hemoderivados e crioprecipitado, por conta dos sangramentos e da queda das plaquetas, hemácias, fatores de coagulação, devido ao choque séptico e coagulopatia associada. Em 13/8/2007, foi descrita pela Dra. Anna Thereza Lima (CRM 15400), na evolução médica, presença de laceração em óstio anal e fissura, sugestivos de abuso sexual, que foi notificado como orienta o Estatuto da Criança e do Adolescernte. A criança, que teve seu estado clínico deteriorado rapidamente, desde a admissão, já se encontrava, em 13/8/2007, não responsiva aos estímulos dolorosos com sinais sugestivos de morte encefálica, que foi comprovada após eletroencefalograma realizado em 14/8/2007, por Dra. Maria Lúcia Ferreira (CRM 4141). Em 15/8/2007, foi constatado o óbito da paciente às 9 horas, pela Dra. Ana Thereza Lima. O corpo foi encaminhado ao IML, identificado conforme laudo de f. 28. Houve instalação de sindicância n 000195/2007, protocolada no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco para apurar os fatos ocorridos nos hospitais HUOC e IMIP. Após leituras dos prontuários e de ouvir a chefe da UTI pedriática do IMIP, Dra. Mônica Menezes, concluiu que não foi possível identificar infrações ao código de Ética Médica por parte dos médicos que assistiram a menor Jaciana Ferreira e que diante da suspeita de abuso sexual, pelo exame clínico, cabia ao médico notificar ao serviço competente para o estabelecimento do nexo causal, conduta esta que foi adotada, tendo sido arquivada a referida sindicância. A perícia tanatoscópica n 4125/07 de 15/8/2007 revela que a causa morte foi o choque séptico no curso de tratamento de insuficiência
renal aguda e que a morte foi natural. No que diz respeito ao exame sexológico, os médicos legistas não tiveram elementos para afirmar que as lesões observadas na fúrcula vaginal e ânus correspondam a violência sexual, tendo em vista serem inespecíficas. Além disso, a criança apresentava doença de base com sério comprometimento da crase sanguínea. A pesquisa de espermatozóides foi negativa, em secreção vaginal (três lâminas) conforme Reg. Lab. n 1307/2007 de 20/08/2007. É o que importa relatar. Como já mencionado anteriormente, após análise feita pela Dra. Catarina Magalhães Porto, analista de saúde desta Procuradoria, com base nos dados do prontuário da menor, do relato da chefe da UTI do IMIP e do laudo da perícia tanatoscópica, foi possível concluir que a criança Jaciana Ferreira Custódio foi, de modo geral, bem assistida do ponto de vista médico e de enfermagem no IMIP. No que diz respeito ao prognóstico da paciente, este já era bastante reservado desde a admissão no IMIP, pois a menor chegou naquele nosocômio em estado extremamente grave em choque séptico, associado ao fato de estar com suas defesas praticamente abolidas pela imunossupressão que o transplante acarreta, evoluindo com coagulopatia pela sepse, pneumonia, insuficiência renal aguda. Apesar das medidas corretamente instituídas, como hemodiálise, antibioticoterapia plena, assistência hemodinâmica e respiratória, a criança veio a falecer pela gravidade das lesões. Conforme se observa do exame dos autos, não há necessidade de dar prosseguimento ao presente procedimento administrativo, uma vez que não é possível falar em negligência médica no atendimento prestado a menor pelo IMIP. Por outro lado, também não se pode falar em omissão por parte do CREMEPE Conselho Regional de Medicina de Pernambuco
que apurou devidamente os fatos e arquivou corretamente a sindicância instaurada. Por essas razões, determino o arquivamento do presente procedimento administrativo. Comunicações na forma da Resolução CSMPF nº 87/2006. À revisão necessária. Recife, 18 de dezembro de 2009. RAFAEL RIBEIRO NOGUEIRA FILHO PROCURADOR DA REPÚBLICA Rafael3/arquivamento_IMIP