OS SABERES E PRÁTICAS AGRÍCOLAS DE ONTEM E DE HOJE NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SÃO ROQUE/PRAIA GRANDE-SC Ramon Generoso MARTINS, Bruno Leffa BORGES, Igor Antônio Gonçalves de ABREU, Diana Loch DUESSMANN, Giovana Cadorin VOTRE, Sara da Silva SANTOS, Talita Daniel SALVARO. Bolsistas e voluntários de extensão. Talita Daniel Salvaro, orientadora e professora de História do IFC/Santa Rosa do Sul. Edital interno 38/2014 do IFC/Campus Santa Rosa do Sul. Introdução Um quilombo é símbolo da resistência dos escravos, local que mantém a cultura e aspectos da tradição desse povo. Os locais de estabelecimento dessas comunidades eram na sua maioria lugares formados por densas matas, presença de rios, onde fosse possível plantar, criar animais e viver livre. O desenvolver dessas comunidades esteve e está ligado ao meio em que vivem, segundo Adelmir Fiabani (2005, p. 311) os quilombolas empregaram sua capacidade produtiva utilizando os recursos naturais disponíveis como meios de sobrevivência, por isso a terra está tão ligada a esse povo, pois dela advêm a subsistência desde o passado. O quilombo São Roque, localizado nos atuais municípios de Praia Grande (litoral sul do estado de Santa Catarina) e Mampituba (litoral norte do Rio grande do Sul), foi reconhecido como tradicional quilombola em 2004 pela Fundação Cultural Palmares e, encontra-se incluso dentro do Parque Nacional Aparados da Serra, o que limita a agricultura no local, umas das principais atividades quilombola. A região que abriga São Roque compreende as características citadas acima e é considerado por seus moradores um local bom de se viver, principalmente levando-se em consideração que para as comunidades tradicionais a terra é primordial para a vivência do povo, tão importante que o senhor Gabriel de Oliveira (2014), morador da comunidade, disse em entrevista que: a terra pra nós, mas do que nunca eu deixaria de dizer, que é vida [...], ou seja, a relação com a terra e consecutivamente com os produtos que são obtidos por meio dela é que contribuiu no viver dessa comunidade e na perpetuação das tradições e cultura. Este trabalho faz parte de um projeto de extensão, intitulado Os saberes e práticas agrícolas de ontem e de hoje na comunidade Quilombola de São Roque/Praia Grande - SC. O estudo é a continuação de um projeto anterior denominado No viés da memória: identidade e cultura dos remanescentes quilombolas de São Roque - Praia Grande/SC. Ambos se justificam por contemplar aspectos da Lei n o. 11.645 de 10 de março de 2008, que no seu artigo 26-A diz
que nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, tornase obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Com o intuito de proporcionar mais conhecimento e visibilidade das comunidades quilombolas, principalmente por meio das instituições escolares é que se elaborou e oportunizou-se esse projeto. O mesmo tem como objetivo relacionar o conhecimento agrícola da comunidade quilombola no passado e nos dias atuais no intuito de identificar em ambas temporalidades: as práticas agrícolas utilizadas, alimentos produzidos, a comercialização e destino dos produtos, a preparação da terra, coleta de alimentos, instrumentos e demais aspectos que englobam a agricultura, além de estabelecer o vínculo de conhecimentos entre a agricultura quilombola e os alunos do curso técnico em agropecuária do IFC, campus Santa Rosa do Sul. Para conhecimento das práticas agrícolas, utilizamos uma bibliografia sobre a temática, são realizadas saídas à campo, entrevistas por meio da Metodologia da História Oral, fotografias como registro e a observação sistemática das práticas agrícolas realizadas nas plantações da comunidade. O resultado final do projeto consta na elaboração de um livro que evidencie as práticas agrícolas quilombolas no passado e nos dias de hoje, como forma de revitalizar a memória da comunidade, de proporcionar os saberes agrícolas para as cidades do entorno, tendo como veículo de comunicação, as escolas da região, para onde serão distribuídas parte do material, sendo que a outra parte ficará com a comunidade quilombola, para a finalidade que acharem necessário. Material e Métodos Nosso trabalho é desenvolvido no IFC/ campus Santa Rosa do Sul, com leituras e discussões de bibliografia voltada a temática quilombola. Entretanto, nosso diferencial é a vivência com a comunidade nas saídas a campo, oportunizando o conhecimento de uma comunidade quilombola e do seu dia a dia. Nestas saídas à campo, conhecemos moradores e realizamos por meio da Metodologia da História Oral, entrevistas que depois de gravadas, são transcritas e autorizadas. A Metodologia da História Oral, é segundo Meihy (2002, p.13) um recurso moderno usado para a elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de pessoas e de grupos. Sendo assim, e respeitando a metodologia citada acima, esses registros passam a ser uma fonte histórica que nos auxiliam nos resultados do projeto. Além do mais ao ser
entrevistado, a pessoa passa a ser um agente da sua própria história e contribuindo no divulgar da sua comunidade. Os alunos bolsistas e voluntários também acompanham os moradores em suas plantações e criações, observando as cultivares, os modos de irrigação, a agroecologia entre outros aspectos ligados a agricultura. Essa troca de conhecimentos é muito válida, pois os alunos cursam o Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio e percebem na prática aquilo que estudam na teoria. Resultados e discussão Nosso projeto está em andamento, portanto, não temos resultados finais. Porém já identificamos alguns pontos importantes. No que se refere ao conhecimento agrícola compartilhado entre os moradores e os alunos, identificou-se maneiras de irrigação que o seu Afonsinho, 76 anos de idade, utiliza nas plantações de morango, as quais ele utiliza como uma fonte de renda. Os alunos estudam sobre formas de irrigação e perceberam a irrigação por gotejamento na plantação de morango e indagaram o seu Afonsinho (2015) sobre como teria aprendido a manejar essa irrigação, ele respondeu que molhava de chuveirinho e daí eu vou dizer pra vocês, esse ano é que eu to fazendo isso ai, [...], aí alguém me disse assim, não, o morango e o tomate tem que ser irrigado por baixo tem que ser por gotejamento e eu descobri que é, tem que molhar por chão, as outras plantas tu pode molhar por cima né, com o chuveiro mas, com o tomate e o morango é irrigação por baixo. Os alunos observaram muitas cultivares conhecidas e puderam ter contato com a agroecologia, conhecimento adquirido por seu Afonsinho em cursos.
Figura 1 Bolsista e voluntários com o Senhor Afonso em uma de suas roças. Figura 2 Plantação de morango por irrigação de gotejamento. Também conversamos na oportunidade com a senhora Santa Cecília e com o senhor Gaspar, que no momento estava saindo para cuidar de suas plantações. Conclusão Por meio dos relatos obtidos, nos foi possível perceber juntamente com as observações, que, no vai e vem das memórias, a forma de trabalhar com a agricultura está muito presente no dia a dia da comunidade, assim como a importante ligação com a terra. Viver na sua terra
tradicional é algo que as pessoas mais velhas não abrem mão, pois segundo os mesmos, lá é calmo, a água é boa, enfim é bom de se viver. Referências FIABANI, Adelmir. Mato, Palhoça e Pilão: O quilombo, da escravidão às comunidades remanescentes. (1532-2004). SP: Expressão Popular, 2005. FILHO, Afonso Pereira dos Santos. Entrevista concedida a Giovana Cadorin Votre, Talita Daniel Salvaro, Bruno Leffa Borges, Ramon Generoso Martins, Igor Antônio Gonçalves de Abreu, Diana Loch Duessmann, Sara da Silva Santos, em 31/08/2015 Quilombo São Roque. MEIHY, J. C. S. B. Manual de História Oral. 4 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 13.