ANÁLISE AMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO POJUCA MATA DE SÃO JOÃO / CAMAÇARI BAHIA Carlos Alves de Freitas Júnior¹ Fabrine dos Santos Lima² Pedro Brizack Nogueira³ 1 Geógrafo, Técnico em Geoprocessamento - Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - CONDER Caixa Postal - 41192-005 - Salvador - BA, Brasil cadfjr@gmail.com 2 Estudante de Geografia - Universidade Federal da Bahia - UFBA Caixa Postal 41245-000 - Salvador - BA, Brasil fabrinelima@ymail.com ³ Estudante de Geografia - Universidade Católica do Salvador UCSal Caixa Postal - 40231-902 - Salvador - BA, Brasil peunogueira@gmail.com Resumo. As atividades humanas interferem e modificam as paisagens. No estuário do rio Pojuca existe hoje diferentes tipos de atividades e características que precisam ser melhor compreendidas. Através de uma abordagem de observação histórica desta área, a paisagem pode ser compreendida, como também as relações homem e meio. A recuperação da vegetação nas margens do rio possibilitou a reconstrução do estuário, fazendo com que ele fosse um local de práticas de lazer e interação entre as pessoas e o rio. A partir da análise temporal, foi possível compreender como o estuário do rio Pojuca se modificou e a partir do contato com pessoas que convivem na área, compreender a participação do homem nesse processo. Palavras-chave: estuário, vegetação, ocupação. Introdução O ecossistema Estuário é entendido como um sistema aberto integrado por todos os organismos vivos, compreendido o homem (biocenose) e os elementos não-viventes (biótopo) de um setor ambiental definido no tempo e no espaço, cujas propriedades globais de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem de matéria) e auto-regulação (controle), derivam 1
das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto os criados ou modificados pelo homem (ODUM, 1988). O estuário do rio Pojuca está localizado entre os municípios de Mata de São João e Camaçari, no Litoral Norte do estado da Bahia. A área, de vegetação densa, predominantemente Mata Atlântica, está em processo de recuperação, mas ainda vem sofrendo muita pressão antrópica por conta da alta taxa de turismo na região, que por sua vez tem um potencial muito grande para a prática do ecoturismo, que sem a orientação adequada pode gerar muitos danos ao ambiente. Ainda existe na região registros de caça e de pesca predatória, inclusive com explosivos, o que é uma prática proibida por Lei. A constante observação e compreensão da dinâmica da área podem vir a auxiliar na manutenção de espécies e melhor utilização dos recursos naturais existentes. O objetivo deste trabalho é mostrar a atual situação do estuário do rio Pojuca, indicando aspectos como ocupação e uso do solo nesta área, além de associar em diferentes períodos históricos a paisagem em questão, uma vez que as relações entre natureza e homem têm influente participação na alteração, cuidado e manutenção deste ambiente. Materiais e Métodos Para realizar a análise ambiental do estuário do rio Pojuca, foram utilizadas imagens de satélite e ortofotos, de períodos diferentes, manipuladas no software Arcgis. Foram adquiridas imagens aéreas (ortofotos) antigas, do ano de 1953, no Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Utilizamos também as imagens disponibilizadas pelo Google Earth, com data de 2010, o que tornou possível estabelecer uma comparação entre diferentes períodos da área estudada. Após a observação e análise da imagens, a equipe se direcionou ao trabalho de campo, para associar e constatar informações da área estudada, afim de estabelecer uma ligação entre o visto nas imagens e o ambiente. Para tanto foram utilizados equipamentos como um aparelho receptor GPS para que fosse demarcada toda a área de influência marinha dentro do Rio, e uma câmera fotográfica especial, para que suportasse as situações extremas de campo. 2
Foram realizadas três idas ao campo nas datas: 08/07/12, 14/10/12 e 10/02/13, onde foram obtidas imagens da área estudada e onde pode haver contato com a população local para informações sobre as atividades e história da região. Resultados e Discussão O estuário do rio Pojuca está, na margem direita do rio, dentro da APA Lagoas de Guarajuba, criada a partir da Resolução nº 387 de 27 de Fevereiro de 1991 e na margem esquerda, na APA do Litoral Norte do Estado da Bahia, criada a partir do Decreto nº 1.046 de 17 de Março de 1992. Sendo assim, a ocupação nesta área passa a ser mais controlada, sujeita ao zoneamento ecológico-econômico destas duas APAs. Figura 1. Bacia do rio Pojuca. Fonte: Base de dados INEMA, elaboração própria. A partir da observação das ortofotos adquiridas, foi possível identificar a presença de extensas áreas de coqueirais, indicando a antiga ocupação do litoral norte da Bahia, que em diversas localidades houve substituição da vegetação original por plantações de coqueiro. A área de estudo, já no período do Brasil colonial, foi excessivamente impactada por conta das fazendas com plantação de coqueiros que, historicamente, serviram para demarcar as terras sob domínio da Família Garcia D Ávila e culturalmente foram implantados na região, onde se adaptaram bem ao solo e ao clima A figura 1 mostra a área do estuário do rio Pojuca em 1953, onde pode ser observado, nos tons mais claros, a ausência da vegetação. 3
Figura 2. Ortofoto da área do estuário do rio Pojuca no ano de 1953. Fonte: CPRM Relacionando as figuas 2, 3 e 4, pode-se observar maior presença da vegetação com o passar dos anos. Figura 3. Imagem de satélite da área do estuário do rio Pojuca do ano 2003. Fonte: INEMA 4
Figura 4. Imagem de satélite da área do estuário do rio Pojuca do ano 2010. Fonte: Google Earth A evolução do local de estudo foi analisada com a comparação entre as imagens de diferentes períodos, podendo ser identificado que, após políticas de recuperação de áreas degradadas e recomposição da vegetação nativa, houve uma melhora significativa na paisagem. Muito se deve à presença das duas Unidades de Conservação, que possibilitam a melhor gestão desse ambiente único e sensível. Ao longo do estuário existem algumas atividades essencialmente de lazer, como esportes de aventura e barracas, além das trilhas dentro de uma ONG, possibilitando a interação dos visitantes com a vegetação e o rio. Figura 5. Prática de esporte de aventura na margem direita do rio Pojuca, área de estuário. 5
A recomposição da vegetação na margem esquerda do rio na área de manguezal é feita pela Fundação Garcia D'ávila, através do projeto Floresta Sustentável, que trabalha com introdução de mudas de espécies nativas locais, envolvendo comunidades residentes dentro da Reserva Sapiranga, esta também é uma das áreas com atividades para turistas que frequentam a área. Figura 6. Parte da área de vegetação recomposta, dentro da Reserva Sapiranga. A influência das atividades humanas é muito presente na área estudada, através destas, a paisagem foi alterada de diferentes formas. Hoje, muitos que frequentam o estuário acreditam ser a natureza primária dele, e não imaginam que aquela paisagem é fruto de uma ação do homem para reconstruir o que havia sido perdido. No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto dos complexos naturais. À medida que a história vai se fazendo, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades etc.; verdadeiras próteses. Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada (Santos, 1996: 51 apud Bernardes e Ferreira, 2005) 6
Conclusão 1. A partir da observação das imagens de satélite, associadas às ortofotos, pode ser verificado que houve uma recomposição da vegetação nas margens do estuário, ou seja, o processo antrópico nesta região ocorreu de uma forma muito peculiar, onde a vegetação foi reestabelecida. Com isso, cabe a compreensão de que o homem está diretamente ligado ao meio natural, que neste caso foi muito influenciado por ele. É importante também salientar a importância do primeiro Código Florestal ( Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965), que definia as matas ciliares como áreas de proteção permanente, o que obrigou os proprietários de terra a cuidar melhor desses ambientes que não eram respeitados anteriormente. 2. A dinâmica espacial na área de estudo foi alterada desde o início de sua ocupação até hoje. As políticas de preservação ambiental tem extrema importância e influência no que ocorre neste estuário. As APAs que estão presentes ali apresentam zoneamento, que vai estabelecer as normas de ocupação. Estas são de uso sustentável, o que indica que tem que haver uma relação harmoniosa entre o homem e o meio. 3. Hoje, o litoral norte da Bahia está dentro de uma área de muito interesse imobiliário, o que faz com que a preocupação com o natural seja ainda mais evidente, e deve ser de suma importância, pois essas áreas assim como outras, precisam ser protegidas, até mesmo para que ainda seja paisagístico para quem os conhece e para as gerações futuras. 7
Referências BAHIA, Resolução N 387, de 27 de fevereiro de 1991, Considera como Área de Proteção Ambiental (APA) a localidade denominada "Lagoas de Guarajuba", no Município de Camaçari BA. Bahia, Brasil. Disponível em http://www.meioambiente.ba.gov.br/legislacao/resolucao_cepram/resolucao_387_27 _fevereiro_1991.pdf. Acessado em: 19 de março de 2013. BAHIA, Decreto Nº 1.046 de 17 de março de 1992, Cria a Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte do Estado da Bahia e dá outras providências. Bahia, Brasil. Disponível em: http://www.meioambiente.ba.gov.br/decretosunidadesdeconservacao/decreto%20n%c2 %BA%201.046%20DE%2017%20DE%20MAR%C3%87O%20DE%201992%20%20Litoral %20Norte%20do%20Estado%20da%20Bahia.pdf. Acessado em: 19 de março de 2013. BAHIA, Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos INEMA, Relatório de monitoramento de águas do estuário do rio Pojuca. Bahia, Brasil. Disponível em: http://monitora.inema.ba.gov.br/index.php/pontos/index?ponto=-1&rpga=15&campanha=-1. Acessado em 19 de março de 2013. BRASIL, Lei N 4.771 de 15 de setembro de 1965, Institui o Novo Código Florestal. Brasília, Brasil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm. Acessado em 19 de março de 2013. CUNHA, Sandra Baptista da ;Guerra, Antônio Teixeira. A Questão ambiental : diferentes abordagens. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2005. 8