Estudo retrospectivo ( ), dos casos de babesiose canina na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia.

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Transcrição:

Estudo retrospectivo (1991-2005), dos casos de babesiose canina na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia. Retrospective study (1991-2005), of canine babesiosis cases in Salvador city and Metropolitan Region, Bahia. UNGAR DE SÁ, M. F. M. 1, UNGAR DE SÁ, J. E. 2, BITTENCOURT, D. V. V. 3*, BISPO, A. C. 4, RÉGIS, A. M. M. 4, SOUZA FILHO, N. J. 4, GOMES NETO, C. M. B. 5, SOUZA, B. M. P. S. 5, BITTENCOURT, T. C. C. 6, FRANKE, C. R. 7 1. Farmacêutico. Bioquímico. CITVET 2. Medico Veterinário. CITVET 3. Estudante graduação de Medicina Veterinária UFBA 4. Medico. Veterinario. Autônomo 5. Medico. Veterinario. (Mestrando EMV / UFBA) 6. Professor Dr. / UFBA 7. Professor.PhD Escola de Medicina Veterinária / UFBA. *Endereço para correspondência: dianavelloso@hotmail.com RESUMO Esse estudo foi conduzido com o objetivo de analisar a freqüência de infecção por Babesia spp. em cães com suspeita clínica de hemoparasitose, identificados por médicos veterinários na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia, no período de setembro de 1991 a fevereiro de 2005. Dos 7.243 registros de casos suspeitos examinados pela técnica de Giemsa, 33,95% apresentavam resultado positivo para Babesia spp. As raças que apresentavam o maior número de cães infectados foram Akita Inu 48,61%, Pitbull 46,91%, Rottweiler 42,23%, Cocker Spaniel 41,93%, SRD 41,60% e Boxer 40,47%. A freqüência de infecção por faixa etária foi mais elevada nos cães com idade de até 12 meses incompletos (42,87%), seguida das faixas entre 12 e 48 meses (34,63%) e acima de 48 meses (34,38%). Os dados mostram que a babesiose é endêmica na região, sendo necessários mais estudos visando o esclarecimento de sua epidemiologia e otimização de estratégias de controle. Palavras-chave: babesia, cão, epidemiologia, Salvador. SUMMARY The aim of this study was to analyze the frequencies of dogs infected by Babesia spp, based on suspicious clinical cases of hemoparasitosis recorded by veterinary doctors in the city of Salvador and Metropolitan Region, Bahia, from September 1991 to February 2005. 7243 record files from suspicious cases were analyzed for hemoparasites on Giemsa-stained blood smears, 33.95% of that showed positive result for the presence of Babesia spp. Higher frequencies of infection were detected in Akita Inu 48.61%, Pitbull 46.91%, Rottweiler 42.23%, Cocker Spaniel 41.93%, not defined breed 41.60% and Boxer 40.47% breeds. The frequencies of Babesia spp. infected dogs by age groups were high for those under twelve months old (42.87%), followed by twelve to forty eight months old dogs (34,63%) and over forty eight month old dogs (34.38%). The result confirmed that Canine Babesiosis is endemic in this area and more studies are necessary to understand the epidemiology and furthermore to optimize control strategies. Key-word: babesiosis, dog, epidemiology, Salvador. 178

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A babesiose canina é uma hemoparasitose causada principalmente por protozoários das espécies Babesia canis e B. gibsoni (FARWELL et al., 1982) que infectam eritrócitos, levando os cães à anemia hemolítica severa, febre, letargia, esplenomegalia e, algumas vezes, à morte (EZEOKOLI et al., 1983; CONRAD et al., 1991; ABDULLAHI et al., 1990). A doença pode estar presente na forma aguda, hiperaguda, crônica e subclínica (ABDULLAHI et al., 1990). A forma aguda apresenta importante prevalência e atinge principalmente cães jovens entre um e seis meses de idade (ABDULLAHI et al., 1990). Entre os cães acometidos, a infecção parece não diferir quanto ao sexo (BOBADE et al., 1989). No Brasil, o agente etiológico da babesiose canina é a B. canis, transmitida pela picada do Rhipicephalus sanguineus (LABRUNA e PEREIRA, 2001), também chamado de carrapato marrom do cão. Casos de B. canis foram descritos nos estados do Rio Grande do Sul (BRACCINI et al., 1992), São Paulo (DELL`PORTO et al., 1993; PASSOS et al., 2005), Rio de Janeiro (O`DWYER et al., 2000) e Minas Gerais (BASTOS et al., 2004; PASSOS et al., 2005). Apesar dos estudos realizados, pouco se sabe sobre a epidemiologia da doença em cães residentes no país. Além disso, à alta morbidade, causada pela babesiose, vem trazendo grande preocupação aos criadores de cães, tanto pelo aspecto afetivo, quanto pelo impacto negativo na comercialização dos animais. O presente estudo foi realizado com o objetivo de determinar a freqüência de cães naturalmente infectados por Babesia spp., a partir de casos suspeitos para hemoparasitoses, registrando a distribuição quanto à raça, ao sexo e à idade dos animais examinados no período de 1991 a 2005, residentes na cidade de Salvador e sua Região Metropolitana, Bahia. O estudo retrospectivo foi baseado nos registros do Centro de Imunização Terapêutica Veterinária (CitVet) relativos a casos clínicos de caninos suspeitos para hemoparasitoses, no período de setembro de 1991 a fevereiro de 2005. No período abrangido pelo estudo, um total de 7.243 amostras de sangue de cães com suspeita para hematozoários foi enviada ao CitVet, determinando-se o diagnóstico por esfregaço sangüíneo corado pela técnica de Giemsa para visualização intra-eritrocitária do parasito. A partir de fichas de requisição de exame laboratorial, foi possível obter, na maioria dos casos suspeitos, informações sobre idade, sexo, raça e resultado do exame para detecção de Babesia spp. A análise dos registros dos casos suspeitos apresentou um total de 51 raças, além de cães sem raça definida (SRD), tendo em vista que o número desses registros era muito variado, optou-se por restringir a inclusão de raças, sendo que, apenas as que apresentavam pelo menos 50 casos suspeitos foram incluídas no estudo, tendo sido a categoria SRD também foi incluída com base nesse critério. Na avaliação da freqüência de casos quanto à idade, foram incluídos todos os animais com registro de idade nas respectivas fichas clínicas. Foram distribuídos em três faixas etárias arbitrárias, sendo a primeira até 12 meses incompletos, a segunda de 12 a 48 meses e a terceira acima de 48 meses. Todos os animais com registro de sexo em suas fichas foram incluídos no estudo. Os resultados foram compilados e analisados estatisticamente, utilizando-se o teste Chi-quadrado (X 2 ) com intervalo de confiança de 95%. 179

RESULTADOS Dos 7.243 registros analisados, 33,95% (2.459 / 7.243) dos cães apresentavam resultado positivo quanto à presença de Babesia spp. pela técnica de esfregaço. De acordo com os critérios adotados, as seguintes raças foram selecionadas: Akita Inu, Boxer, Cocker Spaniel, Dog Alemão, Fila Brasileiro, Retriver do Labrador, Pastor Alemão, Pitbull, Poodle, Rottweiller, Yorkshire Terrier e cães (SRD), perfazendo um total de 2.463 cães suspeitos, dos quais 37,27% (918 / 2.463) apresentavam resultado positivo para Babesia spp. A maior freqüência de resultado positivo foi observada nas raças: Poodle 21,67% (199/918); Rottweiler 14,81% (136/918); Pastor Alemão 10,13% (93/918); animais SRD 17,53% (161/918). Na Tabela 1 estão relacionadas às porcentagens de animais negativos e positivos em cada uma das raças incluídas no estudo. Tabela 1. Distribuição das principais raças caninas quanto à infecção por Babesia spp. na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia no período de 1991-2005. Raças Selecionadas Número e % de cães negativos em relação à própria raça. Número e % de cães positivos em relação à própria raça. Total de cães por raça. Akita Inu 37 (51,38) 35 (48,61) 72 Boxer 50 (59,52) 34 (40,47) 84 Cocker Spaniel 108 (58,06) 78 (41,93) 186 Dog Alemão 52 (71,23) 21 (28,76) 73 Fila Brasileiro 97 (34,89) 52 (34,89) 149 Retriver do Labrador 50 (64,10) 28 (35,89) 78 Pastor Alemão 174 (65,16) 93 (34,83) 267 Pitbull 43 (53,08) 38 (46,91) 81 Poodle 420 (67,85) 199 (32,14) 619 Rottweiler 186 (58,12) 136 (42,23) 322 SRD 226 (58,39) 161 (41,60) 387 Yorkshire Terrier 102 (70,34) 43 (29,65) 145 Total 1.545 918 2.463 p 0,002 Um total de 2.309 cães suspeitos foi incluído na análise quanto à idade, que variou de 1 a 264 meses. 37,15% (858 / 2.309) dos cães apresentavam resultado positivo para Babesia spp. A distribuição da freqüência de positivos por faixa etária em relação ao total de positivos apresenta uma maior concentração em animais com até 12 meses incompletos 36,48% (313 / 858), seguida pelas faixas etárias de 12 a 48 meses 32,98% (283 / 858) e acima de 48 meses 30,53% (262 / 858). Um cálculo adicional, incluindo apenas os cães até seis meses de idade (350 cães suspeitos), revelou uma freqüência de infecção de 52,57% (184 / 350). Na Tabela 2 é apresentada a freqüência de cães positivos e negativos de acordo com cada uma das três faixas etárias selecionadas. 180

Tabela 2. Distribuição da freqüência de cães negativos e positivos para Babesia spp. de acordo com a faixa etária na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia no período de 1991-2005. Faixas Etárias Número e % de cães negativos Número e % de cães positivos Total de cães por em relação à faixa etária. em relação à faixa etária. faixa etária. Até 12 meses 417 (57,12) 313 (42,87) 730 Entre 12 e 48 meses 534 (65,36) 283 (34,63) 817 Acima de 48 meses 500 (65,61) 262 (34,38) 762 Total 1.451 858 2.309 p 0,001 O número de fichas com registro do sexo dos cães suspeitos foi o mais elevado dentre as variáveis estudadas, perfazendo um total de 7.234, sendo que 33,93 % dos cães (2.455 / 7.234) apresentaram resultado positivo para Babesia spp. e, desses, 51,36% (1.261 /2.455) eram machos e 48,63% (1.194 / 2.455 ) eram fêmeas. A Tabela 3 apresenta a freqüência de cães positivos e negativos de acordo com o sexo. Tabela 3. Número e porcentagem de cães negativos e positivos para Babesia spp. de acordo com o sexo na cidade de Salvador e Região Metropolitana, Bahia no período de 1991-2005. Sexo Número e % de cães negativos em relação ao sexo. Número e % de cães positivos em relação ao sexo. Total de cães por sexo. Macho 2.589 (67,24) 1.261 (32,75) 3.850 Fêmea 2.190 (64,71) 1.194 (35,28) 3.384 Total 4.779 2.455 7.234 p 0,023 DISCUSSÃO Este estudo analisou a freqüência de infecção por Babesia spp. em cães suspeitos para hemoparasitoses identificados por clínicas veterinárias de Salvador e Região Metropolitana, Bahia, no período de 1991 a 2005. Foram analisadas 7.243 fichas clínicas e constatou-se que 33,95% (2.459 / 7.243) dos cães suspeitos apresentavam resultado positivo quanto à presença de Babesia spp. Essa elevada freqüência também foi observada em Minas Gerais, por Bastos et al. (2004), em que se encontraram 31,44% (61 / 194) de cães infectados por B. canis dentre os cães suspeitos de infecção por hematozoários examinados no período de 1998 a 2001. De acordo com Passos et al. (2005), as elevadas taxas de infecção por Babesia spp. nas áreas urbanas de regiões tropicais se deve às condições ambientais presentes no desenvolvimento e manutenção de populações do vetor R. sanguineos. O autor ressalta ainda que o número de casos de infecção canina por Babesia spp. deve ser maior, tendo em vista que a técnica de esfregaço sangüíneo é mais adequada apenas ao diagnóstico na fase aguda da infecção, apresentando falsos negativos em fases de baixa parasitemia. Um estudo realizado por Dell`Porto et al. (1993) demonstra a limitação da técnica de esfregaço, uma vez que os autores, na cidade de São Paulo, analisando 106 cães do Centro de Controle de Zoonoses, encontraram 10,3% de cães infectados por B. canis através do esfregaço sanguíneo, no entanto, o resultado do exame por imunofluorescência indireta indicou que 42,4% dos cães eram soropositivos. Em cães jovens, no entanto, devido à imaturidade do sistema imunológico a 181

técnica de esfregaço sangüíneo permanece como a técnica mais adequada para o diagnóstico da doença (FARWELL et al., 1982; BOBADE et al., 1989). Dentre as raças selecionadas neste estudo, de acordo com os critérios expostos na metodologia, a maior freqüência de infecção foi observada na raça Poodle 21,67% (199/918), seguida pelos cães SRD 17,53% (161/918), Rottweiler 14,81% (136/918) e Pastor Alemão 10,13% (93/918). Bastos et al (2004), em Minas Gerais, encontram uma concentração de casos de infecção nas mesmas raças aqui analisadas, com exceção dos cães SRD, no entanto, o Pastor Alemão (16,6%) figura como a raça mais atingida, seguida pela raça Poodle (13,3%) e Rottweiller (11,6%). Provavelmente, estes resultados refletem particularidades relacionadas à própria composição da população canina em cada uma das localidades estudadas. No entanto, informações sobre a freqüência de infecção relacionada à variável raça auxiliam o clínico veterinário a orientar suas suspeitas etiológicas e a solicitar os diagnósticos pertinentes. A análise dos cães de uma mesma raça, suspeitos para hemoparasitoses, que apresentaram resultado positivo para Babesia spp. (Tabela 1) mostrou que as raças Akita Inu, Pitbull, Rottweiler, Cocker Spaniel, SRD e Boxer, em ordem decrescente, tiveram o maior número de casos confirmados. Em nosso estudo não foi possível analisar a freqüência de infecção, em cada raça, em relação à idade e ao ambiente de residência dos cães, contudo, observa-se que, na região abrangida por este estudo, as raças de médio e grande porte normalmente são criadas em quintais de casas, semelhante ao observado por Bastos et al. (2004), em Minas Gerais, onde 78,8% dos cães infectados por B. canis moravam em casas. Segundo Labruna e Pereira (2001), cães criados em casas estariam mais expostos à infecção, não só pelo constante contato com o vetor, proporcionado pela proximidade com outros quintais e com a rua, mas também pela dificuldade de executar um controle eficiente do vetor num ambiente onde a aplicação dos produtos carrapaticidas geralmente não pode ser feita de forma ampla e homogênea. Em nosso estudo, a faixa etária dos cães com até 12 meses incompletos, apesar de ser comparativamente a menos numerosa (730 cães suspeitos), foi a que apresentou a maior freqüência de infecção por Babesia spp. (42,87%). Esse resultado pode estar relacionado com a alta freqüência de cães positivos para Babesia spp. com idade de até seis meses (52,57%) compreendidos na faixa etária de cães com até 12 meses incompletos. Outros autores relatam sobre a maior ocorrência de cães infetados por B. canis na faixa etária de até seis meses de idade (EZEOKOLI et al., 1983; BOBADE et al., 1989; ABDULLAHI et al., 1990). A ocorrência de infecção por Babesia spp. é descrita em cães de ambos os sexos (BASTOS et al., 2004). Em nosso estudo, a freqüência de infecção nas fêmeas 35,28% foi discretamente superior à observada nos machos 32,75%, apesar de os machos estarem em maior número em nossa amostra. Bobade et al.(1989) não encontraram diferença significativa entre soropositividade para B. canis em cães machos e fêmeas. De acordo com nossos resultados, podemos afirmar que a babesiose canina é endêmica no município de Salvador e Região Metropolitana e, pelo montante da casuística observada ao longo de mais de 13 anos no CitVet, considera-se um aspecto importante a sanidade da população canina da região. Os dados referentes à raça e idade apresentados neste estudo descritivo apontam para a necessidade de análises mais detalhadas que poderão, juntamente aos estudos sobre fatores ambientais de risco, proporcionar um maior esclarecimento da epidemiologia da babesiose canina, bem como otimizar as ações de controle e erradicação atualmente praticadas. 182

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