REVISÃO FINAL DEFENSOR PÚBLICO

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REVISÃO FINAL DEFENSOR PÚBLICO Edital nº 1 DPE/AL, de 3 de agosto de 2017 do III concurso público para provimento de vagas no cargo de Defensor Público de 1ª classe do Estado de Alagoas Revisão ponto a ponto DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE ALAGOAS COORDENAÇÃO Rogério Sanches Cunha Leandro Bortoleto Paulo Lépore AUTORES Adriana Menezes, Bruno Del Preti, Cleyson Brene, Daniel Messias da Trindade, Leandro Bortoleto, Luciano Alves Rossato, Marcus Paulo Queiroz Macêdo, Paulo Lépore, Ricardo Ferracini Neto, Ricardo Silvares, Rogério Sanches Cunha, Wagner Inácio Dias. 2017

Direito Civil 251 garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados. 38. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA Vide item 7.3 do Direito Empresarial nesta obra.

DIREITO CONSTITUCIONAL Paulo Lépore

Direito Constitucional Conteúdo Programático (Edital): 1. Constituição e constitucionalismo. 1.1. Teoria da constituição. 1.2. Supremacia da constituição. 1.3. Normas constitucionais, regras e princípios. 1.4. Hermenêutica constitucional. 1.5. Interpretação, aplicação e concretização do direito constitucional. 2. Poder constituinte. 3. Princípios fundamentais. 4. Direitos e garantias fundamentais. 4.1. Teoria geral dos direitos fundamentais. 4.2. Categorias e funções dos direitos fundamentais. 4.3. Dimensões subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais. 4.4. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais. 4.5. Direitos e deveres individuais e coletivos. 4.6. Habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção e habeas data. 4.7. Direitos sociais. 4.8. Nacionalidade. 4.9. Direitos políticos. 4.10. Partidos políticos. 5. Organização do Estado. 5.1. Organização político-administrativa. 5.2. Estado Federal Brasileiro. 5.3. A União. 5.4. Estados federados. 5.5. Municípios. 5.6. O Distrito Federal. 5.7. Intervenção federal. 5.8. Intervenção dos estados nos municípios. 6. Organização dos poderes no Estado. 6.1. Mecanismos de freios e contrapesos. 6.2. Poder Legislativo. 6.3. Poder Executivo. 6.4. Poder Judiciário. 7. Funções essenciais à Justiça. 7.1. Ministério Público. 7.2. Advocacia Pública. 7.3. Advocacia e Defensoria Pública. 8. Controle da constitucionalidade. 8.1. Controle incidental ou concreto. 8.2. Controle abstrato de constitucionalidade. 8.3. Controle concreto e abstrato de constitucionalidade do direito municipal. 9. Defesa do Estado e das instituições democráticas. 10. Sistema Tributário Nacional. 10.1. Princípios gerais. 10.2. Limitações do poder de tributar. 10.3. Normas constitucionais sobre impostos da União, dos Estados e dos municípios. 10.4. Repartição das receitas tributárias. 11. Finanças públicas. 11.1. Normas gerais. 11.2. Orçamentos. 12. Ordem econômica e financeira. 12.1. Princípios gerais da atividade econômica. 12.2. Política urbana, agrícola e fundiária e reforma agrária. 13. Ordem social. 14. Jurisprudência aplicada dos tribunais superiores 1. CONSTITUIÇÃO E CONSTITUCIONALISMO. 1.1. Teoria da constituição. 1.2. Supremacia da constituição. 1.3. Normas constitucionais, regras e princípios. 1.4. Hermenêutica constitucional. 1.5. Interpretação, aplicação e concretização do direito constitucional I. Conceito de Direito Constitucional Na lição de Pinto Ferreira, o direito constitucional na prática e na história surgiu intimamente ligado a regime constitucional que limitou o Poder do Estado em proveito das liberdades públicas. Em síntese, o direito constitucional também pode ser compreendido como a ciência positiva das Constituições (Curso de Direito Constitucional. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3-5). II. Objeto do Direito Constitucional De acordo com José Afonso da Silva, o objeto do direito constitucional é constituído pelas normas fundamentais da organização do Estado, isto é, pelas normas relativas à estrutura do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação, direitos fundamentai do homem e respectivas garantias e regras básicas da ordem econômica e social (Curso de Direito Constitucional Positivo. 6. ed. São Paulo: RT, 1989, p. 33-35).

256 Revisão Final Defensoria Pública do Estado de Alagoas III. Formação do Direito Constitucional Pinto Ferreira ensina que a expressão direito constitucional surgiu na Itália, no fim do século XVIII, firmando-se como disciplina jurídica no início do século XIX, na Faculdade de Direito de Paris (Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3-5). Para além da formação da identificação da expressão direito constitucional, é importante o estudo da criação e evolução dessa disciplina jurídica, o que se faz por meio do estudo do constitucionalismo. IV. Constitucionalismo 1. Constitucionalismo: movimento evolutivo de criação das Constituições. 2. Etapas do constitucionalismo ou ciclos constitucionais: a) Constitucionalismo Primitivo (aproximadamente de 30.000 a. C. até 1.000 a. C): na antiguidade clássica, os lideres das famílias ditavam e resguardavam as regras supremas para o convívio social. Segundo Karl Loewestein, o povo hebreu, teve grande destaque no movimento constitucionalista desse período, notadamente por reconhecer que os valores garantidos pelos primeiros textos bíblicos não podiam ser violados por ninguém (Teoria de La Constitución. Barcelona: Ariel, 1986, p. 154-157). b) Constitucionalismo Antigo (aproximadamente de 1.000 a. C. ao Séc. V d. C.): os Parlamentos e Monarcas formulavam as normas de convívio social, e já existia uma exortação aos direitos fundamentais dos indivíduos. Entretanto, o constitucionalismo tinha pouca efetividade, pois os Monarcas não cumpriam as garantias dispostas nos direitos fundamentais. c) Constitucionalismo Medieval (Séc. V a XVIII): surgimento de documentos que limitavam os poderes dos Monarcas e garantiam liberdades públicas aos cidadãos, a exemplo da Magna Charta de 1215, no Reino Unido. Também é desta época o que se denomina constitucionalismo whig ou termidoriano, que caracteriza a evolução lenta e gradual do movimento constitucionalista, e que se materializou com a ascensão de Guilherme de Oranges e do partido whig no Reino Unido, no final do século XVII, também marcado pela edição da Bill of Rights (1689). e) Constitucionalismo Moderno (Séc. XVIII a Séc. XX): materialização e afirmação das Constituições Formais Liberais, que representavam garantias sérias de limitação dos Poderes Soberanos, e eram dotadas de legitimidade democrática popular. Desenvolveu-se à partir das revoluções liberais (Revolução Francesa e Revolução das 13 Colônias Estadunidenses). Representou o início do garantismo e o surgimento das primeiras Constituições dirigentes. f) Constitucionalismo Contemporâneo (Séc. XX a Séc. XXI): caracteriza-se pela consolidação da existência de Constituições garantistas, calcadas na defesa dos direitos fundamentais igualitários, sociais e solidários. As disposições constantes nas Constituições têm reafirmada sua força normativa destacada em relação às prescrições de outras fontes jurídicas (leis e atos estatais). Esse período é marcado pelas

Direito Constitucional 257 constituições dirigentes, que prescrevem programas a serem implementados pelos Estados, normalmente por meio de normas programáticas. Vale destacar que esse período acabou manchado por algumas constituições criadas apenas para justificar o exercício de um Poder não democrático, a exemplo da Carta Polaca de 1937, que sustentou a Era Vargas no Brasil, e que faz parte do que se denomina constitucionalismo semântico, uma vez que se busca extrair da Constituição apenas os significados que possam reconhecer a tomada e manutenção de Poder por regimes autoritários. g) Neoconstitucionalismo (Séc. XX e Séc. XXI): como um aprimoramento do Constitucionalismo Contemporâneo, prega a importância destacada da moral e dos valores sociais, garantidos predominantemente por meio de princípios. Não se conforma com as normas programáticas e as constituições dirigentes, afirmando que as Constituições devem ser dotadas de força normativa. Para conferir normatividade à Constituição, destaca o Poder Judiciário como garantidor, colocando a atividade legislativa em segundo plano. Em resumo: trabalha com a ideia de extração da máxima efetividade do Texto Constitucional, pois a Constituição deve ocupar o centro do sistema jurídico. 3. Constitucionalismo Brasileiro/História das Constituições do Brasil a) Carta de 1824: fortemente influenciada pela Constituição Francesa de 1814, foi o Texto Supremo de maior duração na história das constituições brasileiras: vigeu por 65 anos. Mantinha a escravatura da época colonial e trazia a forma unitária de Estado regida por um Governo Monárquico caracterizado por uma forte centralização político-administrativa. Havia a previsão do Poder Moderador, atribuído exclusivamente ao Monarca, funcionando como um Quarto Poder que permitia toda ordem de interferências nos demais Poderes. O voto era censitário. O Estado era confessional: a religião oficial do Império era a Católica Apostólica Romana. b) Constituição de 1891: a nação passou a se chamar Estados Unidos do Brasil, tendo sido adotada a forma federativa de Estado. Instituiu-se um regime constitucional republicano sem o Quarto Poder. Fim do Estado confessional. c) Constituição de 1934: abarcou diversos direitos progressistas, com destaque para os de natureza social. Implantaram-se a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e o voto secreto e possível às mulheres. Foram criados o Mandado de Segurança e a Ação Popular e o STF foi cristalizado como Corte Suprema. d) Carta de 1937: seu texto foi inspirado na Carta ditatorial polonesa, o que a levou a ser apelidada de Polaca. Houve uma descaracterização da autonomia das entendidas federadas, criando uma espécie de federalismo nominal ou formal. O Legislativo Federal era bicameral, mas seus membros eram eleitos indiretamente. O Poder Executivo acabava se sobrepondo aos demais Poderes por meio de prerrogativas e competências desarrazoadas. e) Constituição de 1946: responsável pela restauração das garantias individuais e do equilíbrio entre os Poderes. Expandiram-se os poderes da União.

258 Revisão Final Defensoria Pública do Estado de Alagoas Determinou-se a representatividade dos Estados-Membros e da população no Senado e na Câmara dos Deputados. f) Constituição de 1967: forjada sob a preocupação com a segurança nacional. Teve o demérito de consagrar ações de suspensão de direitos individuais e políticos. g) Constituição de 1988: constituição democrática e plural, enuncia que a República Federativa do Brasil se constitui em um Estado de Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo jurídico. Conta com um detalhado catálogo de direitos fundamentais, além de versar sobre inúmeros temas de relevo como os direitos sociais, de nacionalidade, políticos e econômicos. IV. Fontes e conteúdo do Direito Constitucional A fonte e o conteúdo do direito constitucional são as Constituições, produtos da evolução do Constitucionalismo. Para uma adequada compreensão da essência do direito constitucional se faz necessário o estudo dos diversos conceitos e das mais variadas concepções de Constituição. V. Conceito e Concepção de Constituição a) Constituição Sociológica (Ferdinand Lassalle 1862): é aquela que deve traduzir a soma dos fatores reais de poder que rege determinada nação, sob pena de se tornar mera folha de papel escrita, que não corresponda à Constituição real. b) Constituição Política (Carl Schmitt 1928): é aquela que decorre de uma decisão política fundamental, e se traduz na estrutura do Estado e dos Poderes, e na presença de um rol de direitos fundamentais. As normas que não traduzirem a decisão política fundamental não serão constituição propriamente dita, mas meras leis constitucionais. c) Constituição Material:é o arcabouço de normas que tratam da organização do poder, da forma de governo, da distribuição da competência, dos direitos da pessoa humana, considerados os sociais e individuais, do exercício da autoridade, ou seja, trata da composição e do funcionamento da ordem política. Tem relação umbilical com a Constituição Política de Carl Schimitt. d) Constituição Jurídica (Hans Kelsen 1934): é aquela que se constitui em norma hipotética fundamental pura, que traz fundamento transcendental para sua própria existência (sentido lógico-jurídico), e que, por se constituir no conjunto de normas com mais alto grau de validade, deve servir de pressuposto para a criação das demais normas que compõem o ordenamento jurídico (sentido jurídico-positivo). e) Constituição Culturalista (Michele Ainis 1986): é aquele que representa o fato cultural, ou seja, que disciplina as relações e direitos fundamentais pertinentes à cultura, tais como a educação, o desporto, e a cultura em sentido estrito. f) Constituição Aberta (Peter Haberle 1975): é aquela interpretada por todo o povo em qualquer espaço, e não apenas pelos juristas, no bojo dos processos.

Direito Constitucional 259 g) Constituição Pluralista (Gustavo Zagrebelsky 1987): não é nem um mandato nem um contrato. É aquela dotada de princípios universais, segundo as pretensões acordadas pelas partes. Caracteriza-se pela capacidade de oferecer respostas adequadas ao nosso tempo ou, mais precisamente, da capacidade da ciência constitucional de buscar e encontrar essas respostas na constituição. h) Constituição Simbólica (Marcelo Neves 1994): é aquela que traz uma grande enunciação de direitos e valores sociais que não passam de álibis ou argumentos dilatórios frente à falta de efetividade prática do que se preceitua. VI. Classificação das Constituições 1. Quanto à Origem A. Democrática, Promulgada ou Popular: elaborada por legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de uma Assembleia Constituinte. B. Outorgada: é aquela elaborada sem a presença de legítimos representantes do povo, imposta pela vontade de um poder absolutista ou totalitário, não democrático. C. Constituição Cesarista, Bonapartista, Plebiscitária ou Referendária: é aquela criada por um ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprovação popular por plebiscito ou referendo. D. Pactuada/Dualista: originada de um compromisso instável de duas forças políticas rivais, de modo que o equilíbrio fornecido por tal espécie de Constituição é precário. Esse modelo foi muito utilizado na monarquia da Idade Média. A Magna Carta de 1215, que os barões obrigaram João Sem Terra a jurar, é um exemplo. E. Heteroconstituição (ou Constituição Dada ): é aquela criada fora do Estado em que irá vigorar. Ex: Constituição do Chipre (procedente dos acordos de Zurique, de 1960, entre a Grã-Bretanha, a Grécia e a Turquia). 2. Quanto ao Conteúdo: A. Formal: compõe-se do que consta em documento solene que tem posição hierárquica de destaque no ordenamento jurídico. B. Material: composta por regras que exteriorizam a forma de Estado, organizações dos Poderes e direitos fundamentais. Portanto, suas normas são aquelas essencialmente constitucionais, mas que podem ser escritas ou costumeiras, pois a forma tem importância secundária. 3. Quanto à Forma: A. Escrita/Instrumental: formada por um texto. A.1. Escrita Legal (Paulo Bonavides): formada por texto oriundo de documentos esparsos ou fragmentados. A.2. Escrita Codificada (Paulo Bonavides): formada por texto inscrito em documento único.

260 Revisão Final Defensoria Pública do Estado de Alagoas B. Não Escrita: identificada a partir dos costumes, da jurisprudência predominante e até mesmo por documentos escritos (por mais contraditório que possa parecer). Como esclarece Dirley da Cunha Júnior, não existe Constituição inteiramente não-escrita ou costumeira, pois sempre haverá normas escritas compondo o seu conteúdo. A Constituição inglesa, por exemplo, compreende importantes textos escritos, mas esparsos no tempo e no espaço, como a Magna Carta (1251), o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689), entre outros (Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 120). 4. Quanto à Estabilidade: A. Imutável: não prevê qualquer processo para sua alteração. B. Fixa: só pode ser alteração pelo Poder Constituinte Originário, circunstância que implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova ordem constitucional (CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 122-123) C. Rígida: aquela em que o processo para a alteração de qualquer de suas normas é mais difícil do que o utilizado para criar leis. * Vale ressaltar que alguns autores falam em Constituição super-rígida, como aquela em que além de o seu processo de alteração ser mais difícil do que o utilizado para criar leis, dispõe ainda de uma parte imutável (cláusulas pétreas). D. Flexível: aquela em que o processo para sua alteração é igual ao utilizado para criar leis. E. Semirrígida ou semiflexível: é aquela dotada de parte rígida (em que somente pode ser alterada por processo mais difícil do que o utilizado para criar leis), e parte flexível (em que pode ser alterada pelo mesmo processo utilizado para criar leis). 5. Quanto à Extensão: A. Sintética: é a Constituição que regulamenta apenas os princípios básicos de um Estado. B. Analítica ou prolixa: é a Constituição que vai além dos princípios básicos, detalhando também outros assuntos. 6. Quanto à Finalidade: A. Garantia: contém proteção especial às liberdades públicas. B. Dirigente: confere atenção especial à implementação de programas pelo Estado. 7. Quanto ao Modo de Elaboração: A. Dogmática: sistematizada a partir de ideias fundamentais. B. Histórica: de elaboração lenta, pois se materializa a partir dos costumes, que se modificam ao longo do tempo.