POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: CAMINHOS PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM



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Transcrição:

POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: CAMINHOS PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Mikael Lima Brasil 1 ; Laís Vasconcelos Santos 2 ; Maria Viviane da Silva Guedes 3 ; Thalys Maynnard Costa Ferreira 4 ; Alan Dionízio Carneiro 5 1 Graduando em Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: mikael_cpc@hotmail.com 2 Graduanda em Enfermagem pela UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: laís_lvs@hotmail.com 3 Graduanda em Enfermagem pela UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: vivianeeguedes@gmail.com 4 Graduando em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, João Pessoa (PB), E-mail: thalys_maynnard@hotmail.com 5 Enfermeiro, Doutorando em Filosofia pelo PPDIFIL/ UFPB, UFRN e UFPE. Professor assistente I da UFCG,Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: dionizioccs@hotmail.com. RESUMO INTRODUÇÃO: Educação e Saúde são dois campos de atuação que se comportam como um componente sinérgico para o desenvolvimento das atividades de Enfermagem, uma vez que a partir da fundamentação do cuidado em suas diversas nuances, compreende-se a pluralidade que a implementação de ações educativas proporcionam para o alcance da saúde em seus diversos aspectos. É nesta perspectiva que a Educação Popular em Saúde se apresenta em um contexto de reflexão das práticas a partir de um norte condicionado pela Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS), como também pela herança bibliográfica deixada por Paulo Freire. OBJETIVO: Refletir implicações da PNEPS para a formação de profissionais de Enfermagem a partir da perspectiva pedagógica de Paulo Freire. METODOLOGIA: Trabalho de cunho bibliográfico e reflexivo produzido a partir da PNEPS, de obras freireanas e do Caderno de Educação Popular em Saúde. Esta produção foi organizada em dois eixos reflexivos para uma melhor compreensão da problemática: Organização da PNEPS e Implicações no processo de formação dos profissionais de Enfermagem. RESULTADOS: Observou-se que a estruturação da PNEPS aponta em seus princípios, diretrizes e dimensões possibilidades que podem contribuir para uma formação consolidada na ótica do cuidado sistematizado e do acolhimento. Parece a Extensão Universitária ser um dos pilares afins e mais transparentes a PNEPS que sustentam a formação, e congrega a necessidade de romper as barreiras da academia para uma melhor inclusão do papel social de uma instituição de ensino superior e da própria Enfermagem como ciência e Práxis. CONCLUSÃO: compreendendo o mundo em suas diversidades e subjetividades, que carregam uma significativa e importante riqueza de conhecimentos, virtudes e dúvidas, que a formação profissional em Enfermagem entende a essência do cuidado e da Educação Popular em Saúde como ferramenta capaz de construir caminhos que falem duas línguas: a da ciência e a do povo. DESCRITORES: Educação. Saúde. Enfermagem. INTRODUÇÃO Educação e saúde demonstram a construção de um conjunto saudável em que a primeira, utilizada como ferramenta para a segunda se fazer mais próxima da população, levanta a necessidade de um processo contínuo e participativo. Dessa maneira, encontra-se nas palavras de Paulo Freire, em Entrevista a Adriano Nogueira, a necessidade em a educação se fazer presente no cotidiano dos seres humanos como parte de seu processo emancipatório, uma vez que haveria

um tipo de educação não apenas para transformar pessoas... mas haveria educação que refletisse com as pessoas a transformação de um país inteiro. 1:31 É importante notar que, na saúde, os movimentos sociais trazem reflexões que partem de uma lógica da construção de conhecimento caracterizada pela dialogicidade unindo ações populares, serviços de saúde e espaço acadêmico visando a edificação de uma sociedade e saúde mais justas. 2 Este fato vai ao encontro, em 2012, da finalização da construção da Política Nacional de Educação Popular em Saúde PNEPS aprovada pela Portaria n. 2.761 de 19 de Novembro de 2013. 3 A partir da supracitada Portaria, é interessante colocar a necessidade apontada pela mesma em propor Educação Popular em Saúde como uma prática político-pedagógica que perpassa as ações voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes no SUS 3:1. Neste sentido, a organização da Política reafirma os princípios doutrinários de Integralidade, Equidade e Universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) impulsionando ações de Educação Popular em Saúde que contribuam para o desenvolvimento e a consolidação de um projeto de sociedade emponderada, funcionando como um elo norteador para uma ação profissional mais coerente e participativa que considere problemas contemporâneos e locais. Logo, em meio à atual constituição do SUS e sua diretriz da participação da comunidade, conforme disposto na lei 8080/90 4 observa-se a necessidade de uma formação em Enfermagem consciente da integração entre serviços de saúde e sociedade, uma vez que o cuidado permeia as diversas nuances do processo saúde-doença e necessita de uma sistematização da educação como forma de empoderamento popular e até mesmo da própria Enfermagem, visto o seu forte papel educador. OBJETIVO Refletir implicações da PNEPS para a formação de profissionais de saúde a partir da perspectiva pedagógica de Paulo Freire. METODOLOGIA Estudo de caráter bibliográfico e reflexivo realizado a partir da apreciação crítica da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. O mesmo foi estruturado em dois eixos para uma melhor compreensão do trabalho: 1. Organização da PNEPS-SUS ; e 2. Implicações no processo de formação profissional em saúde. Vale ressaltar que a reflexão produzida será norteada pelo referencial pedagógico de Paulo Freire, com fulcro nas seguintes obras: Pedagogia do Oprimido Pedagogia da Esperança Pedagogia da Autonomia e Extensão ou Comunicação?. Ademais, levantaram-se também considerações e orientações da segunda edição do Caderno de Educação Popular em Saúde.

RESULTADOS 1. ORGANIZAÇÃO DA PNEPS A PNEPS está estruturada em seis capítulos: 1. Caminhos de formulação da PNEPS; 2. Fundamentação Legal; 3. Princípios teóricos metodológicos da PNEPS; 4. Eixos estratégicos e perspectivas para o SUS; 5. Objetivos; 6. Responsabilidades e atribuições das esferas de Gestão do SUS. Inicialmente, torna-se fundamental para a compreensão da PNEPS diferenciar conceitualmente Educação em saúde e Educação Popular em Saúde. Para tanto, salienta-se que a primeira é compreendida como inerente ao trabalho em saúde, mas muitas vezes relegada a um segundo plano no planejamento e organização dos serviços, na execução das ações de cuidado e na própria gestão, 5:848 sendo algumas formas caracterizadas por ações verticais de caráter informativo com o intuito de transformar hábitos de vida, colocando o indivíduo como o responsável pela sua saúde. 5:848 Já a segunda organiza a partir da aproximação com outros sujeitos no espaço comunitário, privilegiando os movimentos sociais locais [...]. Baseia-se no diálogo com os saberes prévios dos usuários [...] e na análise crítica da realidade. 5:848 A Organização da PNEPS apresenta pouca clareza em seu direcionamento pragmático, isto é, não destaca medidas claras e objetivas de intervenção, seja no âmbito educacional ou de saúde, sendo os primeiros capítulos uma justificação para elaboração da própria política e, a partir do terceiro capítulo, destacam-se diretrizes político-ideológicas subjetivas, mas sem um programa de ações específicas concretas. Então, conforme o mencionado, a importância da PNEPS está em sua proposta: fundamentar as políticas públicas de saúde, com ênfase nas ações educativas, nas práticas sociais e na realidade local dos indivíduos, família e comunidades. Logo, esta se mostra como um referencial pedagógico e político para que as ações de Educação Popular em Saúde promovam a construção compartilhada e identificada a cada realidade, compreendendo assim a organização da sociedade. 6 No primeiro capitulo da PNEPS, no que concerne à contextualização histórica, a política assume algumas dimensões da Educação Popular em Saúde como: espiritualidade, sentido de pertencimento, fortalecimento das identidades e do espírito de coletividade, movimentos e articulações sociais sempre atentando para a horizontalidade entre os saberes. 2 Sob este alicerce histórico, social e político, a PNEPS se traça por eixos estratégicos: a) Participação, controle social e gestão participativa; b) Formação, comunicação e produção de conhecimento; Cuidado em saúde; c) Intersetorialidade e diálogos multiculturais. Redireciona-se, assim, a expressão saúde é um dever do Estado, posto que este dever, sob a ótica da Educação Popular, precisa ser assumido através da cooperação, vigília e preocupação com a saúde pública por cada um dos cidadãos. Logo, as responsabilidades dos Gestores Públicos Federais, Estaduais e Municipais no contexto restrito da saúde pública podem ser sintetizados, ora norteados pelo seguinte objetivo geral: Implementar a Educação Popular em Saúde no âmbito do SUS, contribuindo com a

participação popular, com a gestão participativa, o controle social, o cuidado, a formação e as práticas educativas em saúde. 2. IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL A PNEPS não se destina diretamente aos estabelecimentos educacionais, ainda que estejam voltados para a formação de profissionais de saúde. Contudo, não é possível deixar de reconhecer que se a PNEPS reivindica uma nova mentalidade deste trabalhador em saúde, esta deve estar coadunada ao seu processo de formação. Para tanto, são os princípios teórico-metodológicos da PNEPS que melhor delineiam suas implicações e possibilidades de inserção na formação dos profissionais de saúde, quais sejam: Diálogo, Amorosidade, Problematização, Construção compartilhada de conhecimento, Emancipação e Compromisso com a construção do projeto democrático e popular. A presença do processo educativo na formação e atuação profissional em saúde, seja como trabalho individual ou coletivo, traz a necessidade em considerar os princípios supracitados como forma de ampliação da visão de mundo e da consideração de um julgamento necessário para uma ação contínua de libertação, capaz de valorizar o outro em sua autonomia e responsabilização pelo processo de saúde-doença. Logo, é nessa compreensão que existe a necessidade de um aprendizado que passe pela construção, reconstrução e constatação para a mudança realizada a partir da abertura a novos significados. 7. Então, é imprescindível o entendimento de um mundo cuja realidade é apresentada por significados infinitos e traz a presença do saber social que produz cultura passada, dentre outras maneiras, através do diálogo e se concretiza como um conhecimento próprio do local de inserção do profissional de Enfermagem. A este compete não só atentar para o conhecimento científico trazido pela academia, mas também apreender como a população identifica e vivencia seu processo de saúde-doença. Para tanto, a cultura popular é valorizada pelo respeito às iniciativas, idéias, sentimentos e interesses de todas as pessoas, bem como na inclusão de tais elementos como fios condutores do processo de construção do trabalho e da formação. 2:5 A necessidade do levantamento de questões relativas ao processo de Educação popular em Saúde articula-se pela atual lógica de redes de atenção a saúde (com a atenção básica representada pela Estratégia de Saúde da Família como ordenadora desta), envolvendo diversos atores sociais e de saúde, tais como o trabalho acadêmico e profissional interdisciplinar conforme as necessidades apontadas pela PNEPS, almejando uma atuação com características críticas para situações cotidianas que instiguem reflexão por mudança. É nessa ótica que se entende o trabalho em saúde como uma peça fundamental para a criação de uma sociedade que é gerida de maneira mais democrática, uma vez que o processo de trabalho em saúde também tem um significado pedagógico o qual profissionais buscam reorientar falas e ações 8. Neste sentido, parece a Extensão Universitária ser um dos pilares afins e mais transparentes a PNEPS que sustentam a formação, e congrega a necessidade de romper as barreiras da academia para uma melhor compreensão do papel social de uma Instituição de

ensino superior e da própria Enfermagem como ciência e Práxis. Todavia, a extensão ainda é apontada por Paulo Freire como questionável, uma vez que parte da ideia de mostrar, revelar e desvelar conteúdos que são estendidos e transmitidos, não sendo os homens e mulheres sujeitos desse processo, parte de uma sistemática de ação e reflexão. 9 É vista a necessidade em se permitir escutar o que o corpo fala e compreender suas dimensões física, psíquica, espiritual, afetiva, dentre outras, sempre atentando para a integralidade e compreendendo a vivência do outro como autor de sua história sendo os espaços terapêuticos ampliados, acolhedores e trabalhando de uma maneira consensual 10. Considerar a PENEPS a partir de seus princípios, diretrizes e dimensões pode contribuir para uma formação consolidada na ótica do acolhimento às demandas e de uma sensibilização ao caráter resolutivo do SUS, já que aproxima o povo colocando-o como peça fundamental no processo saúde-doença. CONCLUSÃO Pensar, refletir, criar, sensibilizar, empoderar e transformar são palavras que podem resumir um leque infinito de possibilidades ou virtudes desempenhadas pela agregação de um valor simbólico aos movimentos sociais, ou a própria comunidade oprimida em si, construídas por meio de um processo chamado Educação Popular em Saúde. É na perspectiva libertadora que as diferenças encontram vez e voz que se dá a possibilidade de falar, e acima de tudo, ouvir. Neste ouvir que se aprende e apreende, por meio de um conjunto de ideias e ideais verbalizados através do diálogo, histórias de vida que constroem um campo de conhecimento único e mútuo. Um saber que se declara como em estado de constante mudança com vistas à transformação social entre sujeitos participantes da ação e líderes revolucionários que encontram em um inédito viável a crença nos sonhos possíveis que se configuram como a própria libertação. Na atividade extensiva, assim como no exercício profissional da Enfermagem, a comunicação é utilizada como ferramenta dialógica que considera o espaço de inserção profissional como um meio passível de transformação pela ótica de um caminho emancipatório, processo este que se dá através do reconhecimento das potencialidades locais após uma minuciosa investigação. Por outro lado, se a PNEPS possui um viés ainda incipiente, ideológico, sem aplicabilidade ou responsabilização concreta dos agentes estatais, no âmbito dos serviços de saúde ou de educação, nem por este motivo ainda é considerada de menor importância, pois, como enfatizou Paulo Freire, no processo educativo se releva o sentido do sonhar afirmando este ser não apenas um ato político necessário, mas também uma conotação da forma histórico-social de estar sendo de mulheres e homens. [...]. Se acha em permanente processo de tornar-se. 11:126 Apenas compreendendo o mundo em sua diversidade e subjetividade que carregam uma significativa e importante riqueza de conhecimentos, virtudes e dúvidas, que a formação em Enfermagem pode ser capaz de compreender a essência do cuidado e capaz de construir caminhos que falem duas línguas: a da ciência e a do povo.

Assim sendo, utiliza-se, mais uma vez, as palavras do tão citado educador Paulo Freire para encerrar este ensaio: Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar. 12:253 REFERÊNCIAS 1. Freire P, Nogueira A. Que Fazer Teoria e Prática em Educação Popular. 11. ed. Petrópolis: Vozes; 2011a. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Popular em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 2.761, de 19 de novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2761_19_11_2013.html> 4. Brasil. Lei Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990.Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: Avaliablefrom:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. 5. Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2014 Mar [citado em 2015 Jan 25] ; 19( 3 ): 847-852. Avaliablefrom: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-81232014000300847&lng=en.http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014193.01572013. 6. Brasil. Ministério da Saúde. Caderno de Educação Popular em Saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. 7. Freire P.Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2013b. 8. Vasconcelos EM. Educação Popular nos serviços de saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec; 1997. 9. Freire P. Extensão ou Comunicação? 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2013c. 10. Pedrosa JIS. A Educação Popular em Saúde como Prática Emancipatória nas Equipes de Saúde da Família. In: Sousa MF. Saúde da Família nos municípios brasileiros: os reflexos dos 20 anos do espelho do futuro. Campinas: Saberes Editora; 2014. p. 720-754. 11. Freire P. Pedagogia da Esperança:um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011b. 12. Freire P. Pedagogia do Oprimido. 54. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2013a.