Ureterocele. Projeto Diretrizes. Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia

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Transcrição:

Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia Elaboração Final: 26 de junho de 2006 Participantes: Calado AA, Macedo Jr A, Streit D O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. 1

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA: Revisão da literatura. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. OBJETIVO: Descrever as principais recomendações para o tratamento da ureterocele. CONFLITO DE INTERESSE: Nenhum conflito de interesse declarado. 2

INTRODUÇÃO A ureterocele é definida como uma dilatação cística do ureter submucoso intravesical, cuja etiologia ainda não está bem definida. É muito importante diagnosticá-la precocemente, pois pode acarretar infecção urinária de repetição e septicemia. Embora o tratamento da ureterocele seja eminentemente cirúrgico, o tipo de procedimento a ser empregado é motivo de muita controvérsia. A ureterocele pode ser classificada como intravesical, quando localizada inteiramente dentro da bexiga, e ectópica, quando situada no colo vesical ou na uretra. Outra classificação, desenvolvida por Stephens 1 (D) e também bastante utilizada, divide a ureterocele em quatro categorias : 1) estenótica inteiramente intravesical, com orifício estenótico; 2) esfinctérica o orifício localiza-se no esfíncter interno da uretra e o esvaziamento ocorre somente durante a micção; 3) esfincteroestenótica o orifício também desemboca no esfíncter interno da uretra mas, por seu caráter estenótico, não esvazia durante a micção; 4) cecoureterocele o orifício ureteral é intravesical, mas a ureterocele se estende até a uretra em fundo cego. Com relação à lateralidade, o lado esquerdo é mais afetado que o direito e, aproximadamente, 10% são bilaterais. Em crianças, os casos de ureterocele ectópica variam entre 60% a 85%, 80% a 90% dos quais estão relacionados à duplicidade pieloureteral ipsilateral. Entre as ureteroceles intravesicais, aquelas que apresentam sistema único são mais comuns do que as que apresentam duplicidade, em uma razão de aproximadamente 7:3. Geralmente, a ureterocele com sistema único é intravesical e ocorre mais em meninos. A infecção do trato urinário continua sendo a forma de apresentação clínica mais freqüente. Esse quadro às vezes se agrava em decorrência da infecção urinária ocorrer em um sistema obstruído, podendo levar à septicemia. Outras vezes, a sintomatologia é inespecífica, como alterações gastrointestinais, retardo no crescimento da criança, dor no flanco ou hematúria. Incontinência urinária, quando presente, é, em geral, causada por infecção urinária ou, mais raramente, está relacionada a uma ureterocele extensa que distorce o colo vesical, provocando perda 3

urinária. Retenção urinária por obstrução do colo vesical pela ureterocele também pode ocorrer. O prolapso da ureterocele, visível no intróito vaginal em 5% a 10% dos casos, é a causa mais freqüente de obstrução uretral em meninas. Mais recentemente, com a disseminação da ultra-sonografia, o diagnóstico da ureterocele tem sido realizado no período antenatal 2 (D). O diagnóstico neste período apresenta peculiaridades no manuseio destes pacientes no período pós-natal. Os estudos de imagem têm influenciado decisivamente no tratamento da ureterocele. O primeiro exame a ser realizado deve ser a ultrasonografia, que pode identificar um sistema coletor duplicado, um ureter dilatado decorrente de um pólo superior hidronefrótico, podendo ser hiperecogênico por displasia, e associado a um parênquima de espessura reduzida. Algumas vezes, principalmente nos casos de diagnóstico antenatal e recém-natos, o sistema renal duplo é visto na ultra-sonografia como uma imagem cística localizada na porção renal superior. O sistema pielocalicial inferior pode estar dilatado se houver refluxo para esta unidade ou obstrução do meato ureteral desta unidade pela ureterocele. A ureterocele apresenta-se como uma dilatação cística com paredes finas, associada à porção posterior da bexiga. Entretanto, algumas ureteroceles podem não ser visualizadas na ultra-sonografia, principalmente se a bexiga estiver muito distendida (ocorre colapso da ureterocele). É importante ressaltar que, em toda criança com duplicidade pieloureteral e pólo renal superior dilatado, devese inspecionar cuidadosamente a bexiga, pesquisando ureterocele. A urografia excretora tem sido pouco utilizada no diagnóstico da ureterocele e na avaliação da função renal, tendo em vista a eficiência dos outros métodos de imagem, como o ultrasom e a cintilografia renal radioisotópica. A uretrocistografia miccional (UCM) é um exame importante na avaliação diagnóstica da ureterocele porque pode demonstrar seu tamanho e localização, assim como a presença de refluxo vésico-ureteral (RVU). A presença e o grau do refluxo podem influenciar diretamente o tratamento. O RVU para a unidade inferior é detectado em 50% dos casos, enquanto que para o ureter contralateral é visto em 25%. O refluxo para a ureterocele ocorre em 10% dos pacientes e é mais comum quando há duplicidade ureteral associada e o ureter é ectópico do tipo esfinctérico ou cecoureterocele. As imagens da UCM devem ser obtidas desde o início do enchimento vesical, evitando-se o diagnóstico falso-negativo por uma bexiga muito distendida e ureterocele colapsada. A ureterocele, quando evertida, pode ser confundida com divertículo vesical. A diferenciação dáse pela obtenção de imagens em diferentes fases de enchimento e em diferentes posições. A cintilografia renal com DMSA é freqüentemente realizada e avalia a função do pólo superior obstruído. Por outro lado, a cintilografia dinâmica com DTPA ou MAG-3 pode avaliar o grau de obstrução. A avaliação da função é de fundamental importância porque define se a unidade superior merece ou não ser preservada. Nos casos onde a função do pólo superior está muito comprometida, a associação com displasia é a regra, e raramente ocorre melhora com o tratamento conservador. TRATAMENTO A ureterocele apresenta-se de forma variável. Isso dificulta a utilização de algoritmos e 4

faz com que o tratamento seja individualizado. Há várias formas de tratamento preconizadas. Em linhas gerais, o tratamento depende do tipo de ureterocele (intravesical ou ectópica), da função que apresenta o pólo renal superior (nos casos de duplicidade) e do quadro clínico de apresentação. Nos casos em que há duplicidade, o pólo superior renal pode ser preservado ou extirpado cirurgicamente. Já o tratamento da ureterocele, propriamente dita, vai variar de acordo com a sua localização, se intravesical ou ectópica. Outras variáveis, como a presença de RVU associado ou a eversão da ureterocele, também influenciam na propedêutica. PÓLO SUPERIOR RENAL FUNCIONANTE No caso de pólo superior renal funcionante, esforços devem ser feitos para preservá-lo. Isto pode ser alcançado por meio de punção endoscópica na base da ureterocele ou por meio de cirurgias reconstrutivas do trato urinário superior, em que estão incluídas a ureteropielostomia, a ureteroureterostomia (proximal ou terminal) e a ureteroneocistostomia. A incisão endoscópica é o procedimento de escolha nos casos de ureterocele intravesical. É um método minimamente invasivo e pode ser definitivo em até 90% dos casos com taxa de reoperação de apenas 18% 3 (C). Entretanto, seus resultados no tratamento da ureterocele ectópica não são muito satisfatórios. Neste caso, a incisão endoscópica falha em descomprimir a ureterocele em 10% a 25% dos casos 4 (C). Em 30% a 47%, ocorre RVU persistente e a taxa de reoperação é elevada, podendo chegar a 100% 5 (C). Estes resultados, sem dúvida, são inferiores aos alcançados pela reconstrução do trato superior, em que quase todas as ureteroceles são descomprimidas satisfatoriamente e a taxa de reoperação é em torno de 25% 6 (C). PÓLO SUPERIOR NÃO-FUNCIONANTE Há duas condutas comumente utilizadas quando o pólo superior não é funcionante: a conservação ou a exérese cirúrgica do mesmo. Alguns preconizam a incisão endoscópica da ureterocele, preservando-se o pólo superior. As vantagens teóricas deste procedimento minimamente invasivo são melhorar a função da unidade renal afetada e reduzir o risco de infecção urinária e sepse. Contudo, essas vantagens são pouco observadas na prática. Além disso, apesar de ser um método minimamente invasivo, o índice de reoperações no caso de ureteroceles ectópicas é extremamente elevado. Apesar de alguns estudos sugerirem que pode haver melhora da função renal da unidade superior depois da descompressão, utilizaram a urografia excretora como método de avaliação, não havendo, portanto, um parâmetro objetivo da função renal pré e pós-procedimento. Estudos histológicos de 50 unidades renais, depois da excisão do pólo superior, demonstraram que apenas um paciente apresentou histologia normal, sendo que os demais apresentaram alterações importantes e irreversíveis, sendo a displasia encontrada em 70% dos casos 7 (C). Não demonstraram diferença histológica significativa quando o diagnóstico era ante ou pós-natal. Ainda não se conhecem os riscos a longo prazo da preservação de sistemas dilatados e displásicos. Sendo assim, nos casos de unidade renal superior não-funcionante, devido ao caráter irreversível das lesões, um tratamento con- 5

servador não estaria indicado, mesmo naquelas ureteroceles descobertas no período antenatal. A ureterocele ectópica com unidade superior não-funcionante deve ser tratada por nefrectomia parcial, com aspiração do coto ureteral, promovendo-se o colabamento da ureterocele. A nefrectomia parcial pode ser realizada facilmente em crianças, com baixa morbidade e rápida recuperação pós-operatória. Em estudo de 87 pacientes com ureterocele submetidos à nefroureterectomia parcial, evidenciou-se taxa de reoperação nula, quando não havia refluxo associado; de 40%, quando havia refluxo de baixo grau (menor que grau III) para apenas uma unidade; e de 96%, quando o refluxo foi de alto grau ou envolvendo mais de uma unidade 8 (C). Este estudo demonstra que pacientes com ureterocele associada a RVU de alto grau ou que envolve mais de uma unidade se beneficiam da reconstrução cirúrgica completa, ou seja, além da nefroureterectomia parcial, excisa-se a ureterocele e a porção terminal do ureter, reconstrói-se a base vesical e reimplanta-se a unidade inferior. Pacientes com eversão da ureterocele também devem ser tratados com reconstrução completa 9 (C). A cirurgia combinada pode ser efetuada em dois estágios: primeiro procede-se a nefrectomia parcial, prorrogando-se a reconstrução ureterovesical para quando a criança estiver com idade mais avançada. As figuras 1 a 4 demonstram algoritmo de conduta para ureterocele em caso de pólo superior funcionante ou não-funcionante. Figura 1 Algoritmo de Conduta para com Pólo Superior Funcionante SEM RVU para pólo inferior Punção endoscópica Drenagem Efetiva Drenagem Ineficaz Acompanhamento Ureteropielostomia 6

Figura 2 Algoritmo de Conduta para com Pólo Superior Funcionante COM RVU para pólo inferior Punção endoscópica colaba Resolução do RVU Drenagem efetiva Pólo superior Não resolve RVU inferior e/ou Aparece RVU superior Após punção Acompanhamento Cirurgia aberta Reimplante ureteral Figura 3 Algoritmo para com Pólo Superior Não-Funcionante SEM RVU para pólo inferior Nefrectomia polar + aspiração do ureter colaba não-colaba (obstrução ou ITU) Acompanhamento Ressecção da ureterocele Reimplante ureteral 7

Figura 4 Algoritmo para com Pólo Superior Não-Funcionante COM RVU para pólo inferior Nefrectomia polar + aspiração do ureter colaba Resolução do RVU Persiste RVU não-colaba Acompanhamento Ressecção ureterocele + Reimplante ureteral 8

REFERÊNCIAS 1. Stephens FD. Aetiology of ureteroceles and effects of ureteroceles on the urethra. Br J Urol 1968;40:483. 2. Schlussel RN, Retik AB. Ectopic ureter, ureterocele and other anomalies of the ureter. In: Walsh PC, Vaughn ED, Wein AJ, eds. Campbell s urology. 8 th ed. Philadelphia: WB Saunders;2002. p.2022-34. 3. Blyth B, Passerini-Glazel G, Camuffo C, Snyder HM 3rd, Duckett JW. Endoscopic incision of ureteroceles: intravesical versus ectopic. J Urol 1993;149:556-60. 4. Smith C, Gosalbez R, Parrott TS, Woodard JR, Broecker B, Massad C. Transurethral puncture of ectopic ureteroceles in neonates and infants. J Urol 1994;152(6 Pt 1):2110-2. 5. Shekarriz B, Upadhyay J, Fleming P, Gonzalez R, Barthold JS. Long-term outcome based on the initial surgical approach to ureterocele. J Urol 1999;162(3 Pt 2):1072-6. 6. Vates TS, Bukowski T, Triest J, Freedman A, Smith C, Perlmutter A, et al. Is there a best alternative to treating the obstructed upper pole? J Urol 1996;156(2 Pt 2):744-6. 7. Abel C, Lendon M, Gough DC. Histology of the upper pole in complete urinary duplication: does it affect surgical management? Br J Urol 1997;80:663-5. 8. Husmann DA, Ewalt DH, Glenski WJ, Bernier PA. associated with ureteral duplication and a nonfunctioning upper pole segment: management by partial nephroureterectomy alone. J Urol 1995;154(2 Pt 2):723-6. 9. Scherz HC, Kaplan GW, Packer MG, Brock WA. Ectopic ureteroceles: surgical management with preservation of continence: review of 60 cases. J Urol 1989;142(2 Pt 2):538-43. 9