ALIANÇA PORTUGUESA PARA A PRESERVAÇÃO DO ANTIBIÓTICO (APAPA)

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Transcrição:

ALIANÇA PORTUGUESA PARA A PRESERVAÇÃO DO ANTIBIÓTICO (APAPA) A descoberta, síntese e produção em larga escala de antibióticos permitiu reduzir marcadamente a mortalidade devida a doenças infecciosas e aumentar significativamente a esperança de vida média, na segunda metade do século XX. No entanto, nas últimas décadas, a resistência aos antibióticos cresceu de forma exponencial, de início no meio hospitalar e depois, também, na comunidade. Nesta altura, mais de 70% das bactérias causadoras de infecção hospitalar são resistentes a pelo menos um dos antibióticos habitualmente usados para as tratar. Existe um número crescente de bactérias extensivamente resistentes a antibióticos e um pequeno mas relevante número de bactérias resistentes a todos os antibióticos (pan-resistentes). Por outro lado, o número de novos antibióticos em fase de investigação e ensaio, particularmente com novos mecanismos de acção, é diminuto. Tudo indica que os antibióticos são pouco atractivos, nos planos financeiro e económico, para a Indústria Farmacêutica. A crescente resistência das bactérias e a redução do desenvolvimento de novos antibióticos começam a por em risco a capacidade de tratar eficazmente doenças infecciosas, até há bem pouco tempo facilmente tratáveis. Estamos, portanto, face a um enorme problema de saúde pública à escala mundial. Microrganismos resistentes causam mais de 25 000 mortes por ano na Europa e este número vai certamente aumentar nos próximos anos. Arriscamos, assim, passar da era pré-antibiótica para a era pós-antibiótica, em menos de 100 anos. Os antibióticos são medicamentos especiais porque, ao contrário dos outros fármacos, têm implicações não só no indivíduo tratado como também nos seus circunstantes e no meio ambiente. Isto é, o benefício é individual, mas o risco é individual e colectivo. A crescente incidência de bactérias multirresistentes como causa de infecção explica a crescente prescrição de antibióticos de muito largo espectro e fortemente indutores de resistência, criando-se assim um ciclo vicioso.

A resistência bacteriana aos antibióticos está fortemente associada à sua utilização e consumo. Na medicina humana, Portugal é um país com elevado consumo de antibióticos, muito superior ao que se verifica noutros países europeus como a Holanda e os países escandinavos, enquanto na medicina veterinária, só muito recentemente se implementou um sistema de recolha de dados que permitirá em breve aferir um grau comparativo desta natureza. É, portanto, absolutamente imperioso restringir o seu consumo às situações em que são realmente necessários e adequar a sua prescrição de forma a conseguirmos diminuir a taxa de bactérias multirresistentes. Só existe uma forma de responder a este grave problema de saúde pública: o antibiótico deve ser protegido, uma vez que a sua eficácia pode estar em vias de extinção. É tempo de reagir! E assim se está a fazer: há quatro anos a União Europeia designou o 18 de Novembro como dia Europeu do Antibiótico, a Organização Mundial da Saúde dedicou o 7 de Abril, Dia Mundial da Saúde, deste ano ao tema das resistências aos antibióticos, um artigo publicado na Lancet nesse mesmo dia apela a uma mobilização mundial sobre este tema e, com ponto de partida em França, mas englobando médicos, cientistas e cidadãos notáveis de todo o mundo, surgiu a Alliance Mondiale Contre le développement des Bactéries Multi-résistantes. Em Portugal, promoveu-se o Programa Nacional para Prevenção de Resistências Antimicrobianas, no âmbito da Direcção-Geral de Saúde e várias instituições têm promovido iniciativas de pedagogia e vigilância nesta área. Para ter sucesso, a resposta terá de ser sistémica e sinérgica, envolvendo o prescritor médico, o prescritor veterinário, o farmacêutico, o enfermeiro, o distribuidor grossista e de venda a retalho, o cidadão/utente, o especialista ambiental, o político. Só com a participação de todos, poderemos preservar a eficácia dos antibióticos, uma vez que o desígnio é social e ecológico e a responsabilidade é colectiva. É, portanto, necessária uma colaboração intersectorial estreita entre múltiplas entidades e instituições, representantes dos intervenientes citados, congregada numa carta de objectivos clara. Assim se constitui, desta forma e neste dia, a Aliança Portuguesa para a Preservação do Antibiótico.

As acções e objectivos da Aliança são: 1. Reconhecer que o antibiótico está em risco de extinção e sensibilizar o cidadão para a necessidade de proteger o antibiótico, considerando que se trata de um medicamento ímpar, em que o benefício é individual, mas o risco é individual e colectivo; 2. Anular a auto-medicação, fomentar o respeito estrito da prescrição médica e veterinária, realçar o papel do farmacêutico como pedagogo do uso correcto da terapêutica; 3. Consolidar a actividade de prevenção e controlo de infecção e de prevenção da transmissão cruzada de microrganismos resistentes tanto na comunidade como no hospital, nomeadamente privilegiando a biossegurança e a vacinação na medicina humana e na medicina veterinária; 4. Promover a investigação sobre epidemiologia infecciosa e resistências antimicrobianas, nos sectores humano e veterinário, e dotar os profissionais de fácil acesso a dados de consumo de antibióticos e de prevalência e perfil de susceptibilidade de microrganismos; 5. Emanar e cumprir normas e orientações de utilização na medicina humana e na medicina veterinária; 6. Criar e consolidar estruturas e metodologias de consultadoria em terapêutica antibiótica em todas as unidades de saúde, conforme orientação da DGS 028/2011 de 15/07/2011; 7. Desenvolver e promover o uso facilitado de testes de diagnóstico microbiológico rápido, que permitam evitar tratar quando não se justifica, tratar mais adequadamente e tratar durante menos tempo; 8. Premiar unidades de saúde e regiões que consigam resultados de impacte destas políticas e consigam redução significativa do consumo de antibióticos e da incidência de resistência microbiana; 9. Promover a investigação, desenvolvimento e comercialização, aceleradas e facilitadas, de novos antibióticos inovadores e úteis; 10. Erradicar a utilização de antibióticos para substituir más práticas de maneio nos animais, promovendo as boas práticas expressas na Plataforma Europeia para um Uso Responsável de Medicamentos em Animais (EPRUMA). Os representantes das instituições abaixo assinaladas comprometem-se a promover e desenvolver activamente estes princípios e a designar um elemento para integrar um Grupo Intersectorial de acompanhamento do Programa Nacional de Prevenção das Resistências Antimicrobianas e do Programa Nacional de Controlo de Infecção, que deverá aconselhar, facilitar e acompanhar a Coordenação do Programa. Direcção Geral da Saúde Grupo de Infecção e Sepsis

Administração Regional de Saúde do Algarve Administração Regional de Saúde do Alentejo Administração Regional de Saúde Centro Administração Regional de Saúde Lisboa e Vale do Tejo Administração Regional de Saúde Norte APIFARMA Associação Nacional de Farmácias - ANF Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral - APMCG Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor - DECO Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular - DGIDC

Direcção Geral de Veterinária - DGV Instituto Nacional de Saúde - Dr. Ricardo Jorge - INSA Ordem dos Enfermeiros Ordem dos Farmacêuticos Ordem dos Médicos Ordem dos Médicos Veterinários Secretaria Regional de Saúde Açores Secretaria Regional de Saúde Madeira