PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO:

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EDUARDO VIEGAS DALLE LUCCA PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO: estágio de desenvolvimento dos projetos mobilizadores e estruturantes estabelecidos no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE 2012 2021) Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Carlos Alberto Gonçalves de Araújo Cel Eng R1 Rio de Janeiro 2016

2016 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Lucca, Eduardo Viegas Dalle. Programa Espacial Brasileiro: estágio de desenvolvimento dos projetos mobilizadores e estruturantes estabelecidos no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE 2012 2021) / Cel Av Eduardo Viegas Dalle Lucca. - Rio de Janeiro: ESG, 2016. 57 f.: il. Orientador: Carlos Alberto Gonçalves de Araújo - Cel Eng R1 Trabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2016. 1. Programa Espacial Brasileiro 2. Tecnologia espacial. 3. Acesso ao espaço. 4.Veículo Lançador de satélites. I.Título.

Às minhas queridas esposa e filha Alyne e Renata pela compreensão e apoio em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS Ao Orientador Cel Eng R1 Carlos Alberto Gonçalves de Araújo, pela colaboração e solidariedade demonstradas ao longo de todo o processo de elaboração deste trabalho. Aos integrantes do Instituto de Aeronáutica e Espaço, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, da Agência Espacial Brasileira e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, pelas informações sobre os projetos apresentados neste trabalho. Ao Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra pelos ensinamentos e pelo trabalho diário que nos permitiram realizar o CAEPE 2016 nas melhores condições possíveis. Aos estagiários da Turma Espírito Olímpico pelo convívio fraterno e pelas demonstrações de respeito e amizade, ao longo de todo o Curso.

O homem terá que elevar-se sobre a Terra, ao topo da atmosfera e além, para somente então compreender o mundo em que vive. Sócrates, 450 a.c

RESUMO O assunto desta monografia aborda o Programa Espacial Brasileiro (PEB) na sua execução. O PEB representa o conjunto de iniciativas do País para a realização de atividades espaciais. O desenvolvimento do PEB tem como base a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), elaborada em 1994 pela Agência Espacial Brasileira (AEB). O principal instrumento de planejamento e programação do PNDAE é o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), o qual responde às orientações superiores definindo missões e estabelecendo ações destinadas à concretização dos objetivos do PNDAE. O PNAE norteia o desenvolvimento do PEB, servindo como diretor e indutor das atividades espaciais a serem desenvolvidas no país por meio dos Órgãos executores do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE). Desde 1994 foram aprovadas quatro edições do Programa. A quarta e atual compreende o período de 2012 a 2021. Nesta última versão foram definidos 8 (oito) projetos mobilizadores e estruturantes, por meio dos quais pretende-se alavancar, fortalecer e dinamizar as atividades espaciais no País. Buscando conhecer em que medida esses projetos estão produzindo os resultados e impactos desejados, este trabalho tem como objetivo final inferir sobre o progresso e a realidade do PEB. Conhecer a situação atual do desenvolvimento do PEB é fundamental para balizar decisões, atualizar o Programa, formular novas estratégias e orientar o atendimento das necessidades e das demandas nacionais na área espacial. A metodologia utilizada para atingir o objetivo proposto foi a pesquisa exploratória bibliográfica e documental. Os dados foram obtidos sobretudo em documentos atuais e disponíveis. Este trabalho abordou apenas a avaliação do estágio atual de desenvolvimento dos projetos definidos no PNAE 2012 2021. Os resultados indicaram que o PEB avançou pouco desde a edição do atual PNAE e que uma revisão do Programa é necessária. Palavras-chave: Programa Espacial Brasileiro. Tecnologia espacial. Atividades espaciais. Acesso ao espaço. Defesa Nacional.

ABSTRACT The subject of this monograph is the execution of the Brazilian Space Program (BSP). The BSP represents the sum of national initiatives in order to enable space activities. The development of the BSP is based on the National Policy for the Development of Space Activities (NPDSA), drawn up in 1994 by the Brazilian Space Agency (BSA). The main tool for the planning and implementation of the NPDSA is the National Space Activities Program (NSAP), which is the high level guidelines defining missions and establishing actions to achieve the objectives of the NPDSA. The NSAP guides the development of the BSP, serving as director and inducer of national space activities to be developed through the executive organizations of the National Development of Space Activities System (NDSAS). Since 1994, four different editions of the program have been approved. The fourth and current version, covers the period from 2012 to 2021. In this latest version, eight (8) mobilizing and structuring projects were defined, aiming to leverage, strengthen and energize the space activities in the country. Seeking to find out to what extent these projects are producing the desired results and impact, this work has the ultimate objective to draw conclusions regarding the progress and the status of the BSP. It is fundamental to understand the current state of development of the BSP in order to be able to encircle decisions, update the program, formulate new strategies and guide the management of the national needs and demands in the space domain. The methodology used to achieve the proposed objective was an exploratory bibliographical and documentary research. The data were obtained primarily from existing and current documents. This study only addressed the assessment of the current status of development of the projects defined in the NSAP 2012 2021. The results indicated that the BSP has advanced little since the current edition of PNAE was decided and that a review of the program is necessary. Keywords: Brazilian Space Program. Space technology. Space activities. Access to space. National defense.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Projetos mobilizadores e estruturantes... 25 FIGURA 2 Programação das missões espaciais... 26 FIGURA 3 Programação dos projetos de acesso ao espaço... 27

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEB Agência Espacial Brasileira AIAB Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil BID Base Industrial de Defesa CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação DCTA Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial EMiD Estratégia Militar de Defesa IAE Instituto de Aeronáutica e Espaço INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais END Estratégia Nacional de Defesa ESG Escola Superior de Guerra LBDN Livro Branco de Defesa Nacional MCT&I Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação MD Ministério da Defesa PD&I Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação PNAE Programa Nacional de Atividades Espaciais PNDAE Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais PND Política Nacional de Defesa SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos SCT&I Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação SINDAE Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais SISDABRA Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro SISGAAz Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul SIPAM Sistema de Proteção da Amazônia SisCTID Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 11 2 O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO... 16 2.1... ANTECEDENTES... 16 2.2 DOCUMENTOS E ORIENTAÇÕES NORMATIVAS... 18 2.3 ESTRUTURAÇÃO... 20 3... O PNAE (2012 2021)... 22 3.1 DIRETRIZES ESTRATÉGICAS... 23 3.2 AÇÕES PRIORITÁRIAS... 24 3.3 PROJETOS MOBILIZADORES E ESTRUTURANTES... 24 4 ANÁLISE DOS PROJETOS MOBILIZADORES E ESTRUTURANTES.. 29 4.1 MISSÕES ESPACIAIS... 29 4.1.1 Os satélites CBERS 3 e 4... 29 4.1.2 O satélite geoestacionário de comunicações e defesa (SGDC)... 32 4.1.3 Os satélites Amazônia-1, Amazônia-1B e Amazônia-2... 34 4.1.4 O satélite LATTES... 36 4.1.5 O satélite GEOMET-1... 37 4.1.6 O satélite SABIA-Mar... 37 4.1.7 O satélite SAR... 38 4.2 ACESSO AO ESPAÇO... 39 4.2.1 Veículos lançadores... 39 4.2.1.1 O VLS-1... 39 4.2.1.2 O VLS-ALFA... 44 4.2.1.3 O VLS-BETA... 45 4.2.1.4 O VLM... 46 4.2.1.5 O CYCLONE-4... 46 4.2.2 Foguetes suborbitais e plataformas de reentrada... 48 4.2.2.1 O VSB-30... 48 4.2.2.2 O satélite de reentrada atmosférica (SARA)... 50 5 CONCLUSÃO.. 52 REFERÊNCIAS... 56

11 1 INTRODUÇÃO O lançamento do satélite Sputnik pela Rússia, em 1957, revelou ao mundo a possibilidade e o potencial do acesso, do uso e da exploração do espaço. Sob o ponto de vista do setor de defesa, o desenvolvimento de tecnologias espaciais e de suas aplicações ampliou o conceito de poder aéreo para poder aeroespacial, o que deu início à chamada corrida espacial, com profundos impactos militares, científicos, econômicos e sociais. As atividades espaciais e o uso de suas tecnologias permeiam todas as expressões do Poder Nacional, estando fortemente correlacionadas com a Defesa, com a Segurança e com o Desenvolvimento Nacionais. As tecnologias de observação da Terra, meteorologia e telecomunicações, junto com a capacidade de acesso autônomo ao espaço são essenciais ao Estado para que este possa cumprir seu dever de monitorar e controlar o aproveitamento sustentável do meio ambiente e das riquezas naturais, de realizar previsões de tempo e pesquisas sobre mudanças climáticas, mitigar efeitos de desastres ambientais, bem como fornecer meios eficazes para garantir a Segurança Nacional. Atualmente, as principais motivações dos Estados para investirem na atividade espacial são a geração de vantagens competitivas, o desenvolvimento científico e tecnológico, o crescimento econômico, o monitoramento do meio ambiente, o prestígio global e a segurança, por meio do poder estratégico oferecido pelo espaço (SANTANA JUNIOR, 2015). O domínio da tecnologia espacial é imprescindível para o Brasil, um país com aproximadamente 8,5 milhões de km 2 de área territorial, 16.440 km de fronteiras secas, 7.367 km de litoral e 4.450.000 km 2 de plataforma continental, abundância de recursos naturais e mais de 200 milhões de pessoas para proteger, alimentar e comunicar. De fato, o Brasil só pode ser verdadeiramente monitorado e vigiado através de sistemas espaciais. Atualmente, diversos programas governamentais são fortemente baseados no uso de dados e informações derivadas de sensores orbitais. A Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL, 2008) definiu o setor espacial como um dos três setores considerados estratégicos para a Defesa Nacional. No âmbito da Defesa, o Programa Espacial Brasileiro provê a infraestrutura espacial necessária ao funcionamento de diversos projetos estratégicos, como os Sistemas

12 de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), de Proteção da Amazônia (SIPAM), entre outros. Ciente da importância estratégica do acesso e do uso do espaço, o Brasil deu seu primeiro passo para organizar e iniciar suas atividades espaciais em 1961, com a criação da Comissão Nacional de Atividades Espaciais. Desde então, o país estruturou suas iniciativas nesse setor, estabelecendo, em 1979, a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), criando, em 1994, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e por meio desta instituiu, em 1996, o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), com a finalidade de organizar a execução das atividades destinadas ao desenvolvimento espacial. O Programa Espacial Brasileiro (PEB) representa o conjunto de iniciativas do País para a realização de atividades espaciais, visando permitir o uso da tecnologia espacial e de suas aplicações para solução dos problemas nacionais e em benefício da sociedade brasileira. O desenvolvimento do PEB tem como base a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), elaborada em 1994 pela AEB, na qual estão estabelecidos os objetivos e as diretrizes que deverão nortear as ações do Governo brasileiro voltadas à promoção do desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional. O principal instrumento de planejamento e programação da PNDAE é o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), o qual responde às orientações superiores definindo missões e estabelecendo ações destinadas à concretização dos objetivos da PNDAE. O PNAE norteia o desenvolvimento do PEB, servindo como diretor e indutor das atividades espaciais a serem desenvolvidas no país por meio dos Órgãos executores do SINDAE. Desde 1994 foram aprovadas quatro edições do Programa. A primeira compreendendo o período de 1996 a 2005, a segunda o de 1998 a 2007, a terceira o de 2005 a 2014, e a quarta e atual, o de 2012 a 2021. Essa última edição, com duração de 10 anos, foi atualizada para permitir a observância das orientações e diretrizes do Tratado do Espaço, da Política Nacional de Defesa (BRASIL, 2012 c), da Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL, 2008) e do Livro Branco de Defesa Nacional (BRASIL, 2012 b). É um produto também da avaliação dos resultados dos Planos anteriores e das contribuições oferecidas por instituições governamentais e privadas (SAE, AAB, AAIB, INPE, IAE, dentre outras).

13 No PNAE 2012 2021 foram estabelecidas 8 (oito) diretrizes estratégicas, 12 (doze) ações prioritárias e definidos 8 (oito) projetos mobilizadores e estruturantes, por meio dos quais busca-se alavancar, fortalecer e dinamizar as atividades espaciais no País. Tais projetos são importantes iniciativas estratégicas e estão orientados para atender às necessidades e as demandas nacionais na área espacial, de modo que seus resultados e impactos estão fortemente relacionados com o sucesso do Programa Espacial Brasileiro. Segundo (BRASIL, 2012), o PEB somente terá êxito ser for alavancado por projetos mobilizadores e estruturantes, que concentrem esforços em metas claras e definidas, que coloquem desafios tecnológicos à pesquisa e à indústria, que organizem a cadeia produtiva nacional e ampliem o mercado de bens e serviços espaciais. Sendo assim, é por meio desses projetos que o PEB pretende atingir seus principais objetivos até 2021. Desta forma, a avaliação dos resultados e impactos obtidos por esses projetos serve como indicador para avaliar a evolução e o progresso do PEB no período. O desenvolvimento e domínio de tecnologias espaciais é uma atividade que apresenta complexidade e riscos tecnológicos, tem alto custo e ciclos de desenvolvimentos longos. Os recursos são, em sua maior parte, de natureza governamental. O Estado tem papel fundamental e é figura central na execução do Programa, cabendo a ele planejar e, num primeiro momento, financiar as atividades espaciais. É sabido que um dos fatores críticos para o sucesso do PEB é o aporte continuado de recursos orçamentários. Para concretizar todas as propostas previstas no PNAE 2012 2021, faz-se necessário dispor de recursos da ordem de R$ 9,1 bilhões (BRASIL, 2012). Quando a atual edição do PNAE foi proposta, em 2012, o cenário econômico do país era bastante promissor. Entretanto, não tardou para essa situação ser revertida por uma crise econômica sem precedentes que vem assolando o país nos últimos dois anos. Nos cinco anos de vigência do Programa, os recursos anuais alocados pelo Governo Federal têm sido inferiores ao previsto e a atual crise econômica deverá agravar ainda mais essa situação, comprometendo fortemente a execução dos projetos programados. Além disso, o PEB notadamente não está numa posição de realce nos programas de governo. Esses dois aspectos aliados aos desafios inerentes ao desenvolvimento e ao

14 domínio das tecnologias espaciais certamente impactam o PEB. Uma questão importante é saber em que medida os projetos mobilizadores e estruturantes foram ou estão sendo comprometidos e dessa forma avaliar a evolução, o progresso e a situação atual do PEB. Essa questão pode ser sintetizada na seguinte pergunta: em que medida os projetos mobilizadores e estruturantes definidos no PNAE 2012 2021 estão produzindo os resultados e impactos desejados, ou seja, contribuindo para alavancar, fortalecer e dinamizar as atividades espaciais no País? Conhecer a realidade atual do desenvolvimento do PEB é fundamental para balizar decisões, atualizar o Programa, formular novas estratégias e orientar o atendimento das necessidades e das demandas nacionais na área espacial. Dessa forma, o objetivo final deste trabalho é conhecer e avaliar a situação atual dos projetos mobilizadores e estruturantes definidos no PNAE (2012-2021) e por meio deste diagnóstico inferir sobre o progresso e a realidade do PEB. O PEB compreende um conjunto de políticas, estratégias, diretrizes, ações, projetos e programas que orientam a execução das atividades espaciais, as quais derivam de diferentes publicações, tais como: a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa, o Livro Branco de Defesa Nacional, dentre outros. De um modo geral, no PNAE são cristalizadas as ações, as diretrizes e os objetivos constantes nesses documentos. Este trabalho abordou apenas o PNAE. O estudo ficou restrito a avaliação do estágio atual de desenvolvimento dos projetos mobilizadores e estruturantes definidos no PNAE 2012 2021. Estão fora do escopo do trabalho a análise de projetos das versões anteriores do Plano, bem como do andamento das ações prioritárias e da implementação das diretrizes estratégicas. A metodologia utilizada para atingir o objetivo proposto foi a pesquisa exploratória bibliográfica e documental. Os dados foram obtidos sobretudo em documentos atuais e disponíveis. As principais fontes de consulta foram aquelas disponibilizadas pelos principais órgãos executores do PNAE, ou seja, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), além de consultas a empresários, especialistas e pesquisadores do setor espacial. Esses dados estavam em sua maioria acessíveis, ostensivos e passíveis de tratamento e interpretação, sendo suficientes para responder ao problema de pesquisa proposto. A ideia central foi confrontar os resultados tangíveis, parciais ou totais,

15 obtidos pelos projetos mobilizadores e estruturantes com aqueles pretendidos, verificando o grau de execução dos mesmos e inferindo sobre os impactos dos mesmos no PEB. A confrontação desses resultados permitiu ainda conhecer em que medida os projetos evoluíram, identificar seus principais óbices, sua situação atual e perspectivas, bem como fornecer subsídios que possam servir de base para a atualização do PNAE. O Trabalho está estruturado em quatro seções. A introdução apresenta o contexto das atividades espaciais e sua a relevância para o país, bem como descreve o problema, o objetivo, a justificativa, o escopo e a metodologia empregada. Em seguida, O Programa Espacial Brasileiro é apresentado, destacando-se sua evolução, sua organização, sua estruturação e suas orientações normativas, especialmente as derivadas do PNDAE. A Seção seguinte detalha o PNAE 2012 2021, onde são descritos os projetos mobilizadores e estruturantes. Na sequencia, esses projetos são destacados, avaliando-se suas características, aplicações, resultados e impactos esperados, os objetivos estratégicos a serem atingidos, os resultados obtidos e a situação atual. A última seção reúne os principais argumentos e conclusões.

16 2 O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO O Programa Espacial Brasileiro (PEB) representa o conjunto de iniciativas do país para a realização de atividades espaciais, as quais, segundo BRASIL (2005), podem ser entendidas como o esforço sistemático para desenvolver e operar sistemas espaciais, bem como a necessária e correspondente infraestrutura, visando permitir o uso da tecnologia espacial e de suas aplicações para solução dos problemas nacionais e em benefício da sociedade brasileira. Utiliza-se a expressão sistemas espaciais para indicar engenhos destinados a operar no espaço ou a viabilizar a operação no espaço de equipamentos destinados a permitir ao homem acesso a informações ou serviços, tais como as estações espaciais; os satélites; as plataformas espaciais; as cargas úteis (equipamentos de medidas, observações ou telecomunicações); os foguetes e os veículos de transporte espacial. Já a infraestrutura corresponde ao conjunto de instalações, sistemas ou equipamentos de superfície, bem como serviços associados, que proporcionam o apoio necessário à efetiva operação e utilização dos sistemas espaciais. Incluem-se nesta categoria os centros de lançamento de foguetes, de veículos lançadores de satélites e de balões estratosféricos; os laboratórios especializados de fabricação, testes e integração; as estações e os centros de rastreio e controle, bem como os de recepção, tratamento e disseminação de dados de satélites, etc. De acordo com (BRASIL, 2005), as atividades espaciais de um país organizam-se usualmente em programas, compostos de subprogramas, projetos e atividades de caráter continuado. Ao conjunto desses programas costuma-se referir como o Programa Espacial do País. O Brasil ao longo do tempo definiu uma política, formulou e estabeleceu um programa e instituiu um sistema para conduzir suas atividades espaciais. O PEB está consubstanciado em diversos documentos superiores que elencam um conjunto de objetivos, estratégias, diretrizes, ações e projetos. 2.1 ANTECEDENTES Segundo (BRASIL, 2005), as atividades espaciais no Brasil iniciaram-se com a edição do Decreto Presidencial nº 51.133, de 3 de agosto de 1961, quando foi

17 criado o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE). Subordinado ao, então, Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), que exercia suas atividades no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), o grupo tinha a missão de estudar e propor a Política Espacial Brasileira e elaborar o plano de criação da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE). Em 1965 o Ministério da Aeronáutica inaugurou o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), em Natal (RN), dedicado à prestação de serviços de rastreio e lançamento de foguetes de sondagem nacionais e estrangeiros. Em 1966 foi criado o Grupo Executivo de Trabalhos e Estudos de Projetos Espaciais (GETEPE), subordinado ao CTA, com a missão de planejar, construir e operar um campo de lançamento de foguetes. A fusão com o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) do CTA, em 1969, originou o Instituto de Atividades Espaciais (IAE), que a partir de 1991 passou a chamar-se Instituto de Aeronáutica e Espaço. Em 1971 a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE) foi criada como órgão complementar do Conselho de Segurança Nacional, presidido pelo Ministro-Chefe do então Estado Maior das Forças Armadas (EMFA) e com a finalidade de exercer a coordenação interministerial e propiciar o assessoramento à Presidência da República nos assuntos correlatos às atividades espaciais. Nesse mesmo ano extinguiu-se o GOCNAE e foi criado o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), como principal órgão de execução para o desenvolvimento das pesquisas espaciais, no âmbito civil, de acordo com orientação da COBAE. As iniciativas nacionais no setor espacial só ganharam novo impulso a partir de 1979 com a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). Primeiro programa espacial brasileiro com características efetivas de grande porte e longo prazo, a MECB estabeleceu como metas o desenvolvimento de pequenos satélites de aplicações (coleta de dados ambientais e sensoriamento remoto) e de um veículo lançador compatível com os portes e missões daqueles satélites, bem como a implantação de infraestrutura básica requerida por estes projetos. Motivada pela MECB, em 1986 foi implantado do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Município de Alcântara (MA), para dar suporte ao lançamento de veículos de lançamento de satélites (VLS) nacionais e estrangeiros. Em 1994, sucedendo a COBAE, foi criada, com natureza civil, a Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia federal vinculada à Presidência da República,

18 com a finalidade de promover o desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional. Em 2003, a AEB foi desvinculada da Presidência da República e subordinada ao atual Ministério da Ciência, Tecnologia e inovação (MCTI). 2.2 DOCUMENTOS E ORIENTAÇÕES NORMATIVAS Em 1994, cumprindo obrigação legal, a AEB aprovou a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), documento que, segundo (BRASIL, 2005), estabelece os objetivos e as diretrizes que deverão nortear as ações do Governo brasileiro voltadas à promoção do desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional. O objetivo geral da PNDAE é promover a capacidade do país para, segundo conveniência e critérios próprios, utilizar os recursos e as técnicas espaciais na solução de problemas nacionais e em benefício da sociedade brasileira. Das diretrizes da PNDAE merecem destaque (BRASIL, 2005): concentração de esforços em programas mobilizadores; cooperação internacional; incentivo à participação industrial; capacitação em tecnologias estratégicas; pragmatismo na concepção de novos sistemas espaciais; valorização das atividades científicas; ênfase nas aplicações espaciais; coerência entre programas autônomos; tecnologias de uso duplo; formação e aprimoramento de recursos humanos; integração das universidades e das empresas brasileiras nas atividades espaciais; desenvolvimento de sistemas espaciais; desenvolvimento e difusão das aplicações espaciais; e efetiva utilização das informações técnico-científicas de interesse espacial. O principal instrumento de planejamento e programação da PNDAE é o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), o qual responde às orientações superiores definindo missões e estabelecendo ações destinadas à concretização dos objetivos do PNDAE. O PNAE norteia o desenvolvimento do PEB, servindo como diretor e indutor das atividades espaciais a serem desenvolvidas no país por meio dos órgãos executores. A AEB tem a obrigação legal de elaborar e atualizar o PNAE, que cobre períodos decenais, sujeito a revisões, onde estão especificadas as linhas mestras para execução das ações e a visão estratégica do Programa. Desde 1994 foram aprovadas quatro edições do Programa. A primeira compreendendo o período de 1996 a 2005, a segunda o de 1998 a 2007, a terceira o de 2005 a 2014, e a quarta e

19 atual, o de 2012 a 2021. Além do PNAE, o setor espacial brasileiro é destacado na Estratégia Nacional de Defesa (END), lançada em 2008. A END considera que o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) disporá de um complexo de monitoramento, incluindo veículos lançadores, satélites geoestacionários e de monitoramento, aviões de inteligência e respectivos aparatos de visualização e de comunicações, que estejam sob total domínio nacional. (BRASIL, 2008, p. 20). A END determina ainda, que o Ministério da Defesa (MD) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e da AEB, promovam medidas com vistas a garantir a autonomia de produção, lançamento, operação e reposição de sistemas espaciais, por meio do desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e sistemas de solo. Também balizador do PEB, a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), de 2012, estabeleceu metas para o PEB até 2020. Para o setor espacial destacou o desenvolvimento de veículos lançadores de satélites (VLS) e microssatélites (VLM), a parceria com a Ucrânia para lançamento do Cyclone-4 a partir do território nacional, e o CLA como infraestrutura essencial para o sucesso do desenvolvimento espacial. A ENCTI e a END incumbiram o Comando da Aeronáutica (COMAER), juntamente com outros órgãos governamentais, da responsabilidade de buscar autonomia do ciclo completo associado ao campo espacial, que inclui a produção, lançamento, operação e reposição de sistemas espaciais, abrangendo desde veículos lançadores a satélites e seu segmento solo. Com base nessas estratégias o COMAER estruturou o Plano Estratégico Militar da Aeronáutica, PEMAER 2010 2031, com as metas estruturantes para o campo espacial. Dentre elas destacam-se: habilitar o País no desenvolvimento e construção de engenhos aeroespaciais, qualificar veículos lançadores, promover campanhas de lançamentos e aperfeiçoar a infraestrutura necessária para a prestação de serviços de lançamento. Também por atribuição da END, a condução de todo projeto espacial de defesa está a cargo do Comando da Aeronáutica, o qual instituiu, em 2012, o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) com a finalidade de implantar a infraestrutura de sistemas espaciais de defesa, com uso compartilhado (duais, militar e civil), de forma a atender às necessidades estabelecidas na END para o setor espacial. O PESE é organizado de forma complementar ao PNAE, da AEB,

20 buscando atender às necessidades militares específicas. O programa também estimula a indústria nacional, garantindo uma demanda contínua de produtos com um índice crescente de nacionalização. Os institutos de pesquisa e ensino nacionais também são beneficiados através da aquisição e desenvolvimento de tecnologias de ponta. Para conduzir o PESE, o Comando da Aeronáutica criou a Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCSISE). Essa Comissão é responsável tanto pela elaboração como pela implantação do Programa. Outro documento norteador do PEB é o Livro Branco da Defesa Nacional, aprovado em 2013, onde está expresso que os projetos espaciais visam ao desenvolvimento científico-tecnológico, fortalecendo o poder aeroespacial brasileiro, a pesquisa científica, a inovação, as operações nacionais de lançamentos e os serviços tecnológicos em sistemas aeroespaciais. Um dos principais objetivos do Programa Espacial Brasileiro, de caráter estratégico, segundo o Livro Branco, é alcançar autonomia no desenvolvimento das atividades espaciais. 2.3 ESTRUTURAÇÃO O Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE) tem a finalidade de organizar a execução das atividades destinadas ao desenvolvimento espacial de interesse nacional. Além da AEB, como órgão central, fazem parte do SINDAE, como órgãos executores, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), subordinado ao Comando da Aeronáutica, além dos setores industrial e acadêmico. O PNAE é um programa de caráter multissetorial e sua execução ocorre de forma descentralizada no âmbito do SINDAE. Como órgão central do SINDAE, a AEB é responsável por coordenar a formulação de propostas de revisão da PNDAE e de atualização do PNAE, bem como executar, fazer executar e acompanhar as ações do Programa. Como principais órgãos setoriais do SINDAE, o INPE e o DCTA, são os responsáveis pela execução dos principais projetos e atividades estratégicas do PNAE. O DCTA é o executante dos projetos de veículos lançadores, sendo responsável pela implantação e atividades de operação e manutenção da infraestrutura associada. Além disso, coordena e executa atividades de pesquisa e

21 desenvolvimento de interesse para os sistemas de transporte espacial e temas correlatos. O INPE é o executante dos projetos de satélites e cargas úteis e de suas aplicações, bem como da implantação e das atividades de manutenção e operação da infraestrutura associada ao desenvolvimento, integração, testes, rastreio e controle de satélites, e da recepção, processamento e disseminação de dados. Cabe ainda ao INPE a coordenação e execução das atividades de pesquisa e desenvolvimento nos campos das ciências e das aplicações espaciais, como também no das tecnologias de satélites, cargas úteis e domínios correlatos. No novo horizonte decenal, as empresas nacionais e os núcleos universitários, que fazem, também, parte do elenco de participantes do SINDAE, deverão merecer maior esforço de ampliação de seu envolvimento na execução do programa espacial. Consoante com a PNDAE, a participação das indústrias e empresas nacionais na execução do PNAE deverá ser permanentemente buscada pela AEB, como órgão central, e pelos órgãos setoriais de execução do SINDAE, como forma de garantir a máxima realização dos benefícios potenciais associados com o domínio da tecnologia e com a utilização dos meios espaciais. Espera-se, também, que as universidades brasileiras não desempenhem apenas o papel fundamental na formação dos recursos humanos especializados requeridos pelo setor espacial, mas atuando, preferencialmente, sob a forma de redes cooperativas de pesquisa, venham a contribuir com a definição dos grandes rumos do Programa e a capacitar-se crescentemente para a execução de projetos do PNAE, em complementação aos dois principais órgãos de pesquisa e desenvolvimento setoriais.

22 3 O PROGRAMA NACIONAL DE ATIVIDADES ESPACIAIS 2012 2021 Reconhecendo que a soberania e autonomia de um país estão proporcionalmente relacionadas à sua capacidade de desenvolvimento tecnológico e que a tecnologia espacial é a de maior amplitude nesse cenário, o Brasil atualizou seu Programa Nacional de Atividades Espaciais, firmando o interesse estratégico e geopolítico das atividades espaciais, que fortalecem a autonomia e soberania do país. Segundo BRASIL (2012), a quarta versão do Programa teve antecipada sua revisão, prevista para acontecer somente em 2014, para recepcionar mudanças no cenário estratégico do Estado, como as novas oportunidades criadas pelo Governo Federal: o programa para o desenvolvimento de tecnologias críticas; as ações de absorção tecnológica no contexto do desenvolvimento do satélite geoestacionário de defesa e comunicações estratégicas (SGDC); os novos direcionamentos dos Fundos Setoriais; a Estratégia Nacional de Defesa; as ações da Agenda Tecnológica Setorial (ATS) no contexto do Plano Brasil Maior; a atuação especial do Programa Ciência Sem Fronteiras para área espacial; as iniciativas legislativas para a desoneração do setor, dentre outras ações de governo. De acordo com BRASIL (2012), essa nova versão do PNAE foi resultado da avaliação feita pela AEB dos resultados dos três PNAE's anteriores (1996, 1998 e 2005), e de contribuições oferecidas por importantes instituições governamentais e privadas em anos recentes. A análise da organização e do funcionamento do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), liderado pela AEB, igualmente enriqueceu o documento. Ainda de acordo com o Programa, a elaboração da revisão contou com amplo debate e participação de todas as instituições que representam o setor espacial: Ministério da Defesa, por meio do Comando da Aeronáutica; Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB); e Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira. Segundo o documento, a quarta versão é, certamente, mais realista que as anteriores porque busca o caminho da realização concreta e produtiva, com base na força e na criatividade das empresas industriais, mobilizadas por políticas públicas e apoiadas pelo talento das universidades e centros de pesquisa. Também é sonhadora, porque deseja promover mudanças vigorosas no espírito e na forma com que as atividades espaciais têm sido conduzidas. Reconhece tudo o que foi feito de

23 bom, mas, ao mesmo tempo, almeja ampliar e acelerar bem mais o que é necessário e deve ser feito de bom e rentável no programa espacial. A ideia motriz é que, em matéria de espaço, é preciso dar um salto qualitativo e transformador, e com toda a pressa possível. Dinamizar e imprimir maior velocidade aos projetos não é mera opção, é ação urgente. Há que aproveitar as capacidades já acumuladas e as preciosas oportunidades atuais. O Programa reconhece que o país não está na estaca zero. No país já se faz boa ciência básica na área espacial. O Brasil também já dispõe de bons centros de pesquisa tecnológica, com desempenho ascendente e competente. Já há no país um aguerrido grupo de pequenas e médias empresas atuantes no setor espacial, que constituem o alicerce e o esteio do Programa. Entretanto falta ainda uma indústria espacial pujante, proativa, arrojada, desbravadora. Também é preciso, e muito especialmente, de grandes empresas capazes de liderar projetos de envergadura e de projetar portentosas realizações ou seja, negócios em escala global, em benefício do país, da população, da economia nacional e de nossos parceiros. Apesar disto, é preciso ir além e atravessar o Rubicão. 3.1 DIRETRIZES ESTRATÉGICAS A quarta edição do PNAE estabeleceu as seguintes diretrizes estratégicas (BRASIL, 2012, p. 8): 1) Consolidar a indústria espacial brasileira, aumentando sua competitividade e elevando sua capacidade de inovação, inclusive por meio do uso do poder de compra do Estado, e de parcerias com outros países. 2) Desenvolver intenso programa de tecnologias críticas, incentivando a capacitação no setor, com maior participação da academia, das instituições governamentais de C&T e da indústria. 3) Ampliar as parcerias com outros países, priorizando o desenvolvimento conjunto de projetos tecnológicos e industriais de interesse mútuo. 4) Estimular o financiamento de programas calcados em parcerias públicas e/ou privadas. 5) Promover maior integração do sistema de governança das atividades espaciais no país, por meio do aumento da sinergia e efetividade das ações entre os seus principais atores e da criação de um Conselho Nacional de Política Espacial, conduzido diretamente pela Presidência da República. 6) Aperfeiçoar a legislação para dinamizar as atividades espaciais, favorecendo e facilitando as compras governamentais, o aumento de

24 recursos para o Fundo Setorial Espacial, e a desoneração da indústria 7) Fomentar a formação e capacitação de especialistas necessários ao setor espacial brasileiro, tanto no país quanto no exterior. 8) Promover a conscientização da opinião pública sobre a relevância do estudo, do uso e do desenvolvimento do setor espacial brasileiro. 3.2 AÇÕES PRIORITÁRIAS A quarta edição do PNAE estabeleceu as seguintes ações prioritárias (BRASIL, 2012, p. 10): 1) Atender às necessidades e demandas do país para a área espacial, dentro dos prazos e custos acertados. 2) Integrar a política espacial às demais políticas públicas em execução. 3) Fomentar a formação, captação e fixação de especialistas qualificados na quantidade necessária para dinamizar nossas atividades espaciais. 4) Dominar as tecnologias críticas e de acesso restrito, com participação da indústria, junto com a competência e o talento existente nas universidades e institutos de pesquisa nacionais. 5) Alcançar a capacidade de lançar satélites a partir do nosso território. 6) Usar o poder de compra do Estado, mobilizando a indústria para o desenvolvimento de sistemas espaciais completos. 7) Transferir à indústria as tecnologias de produtos espaciais desenvolvidos pelos institutos de pesquisa. 8) Incorporar aos sistemas encomendados pelo Estado as tecnologias, partes e processos desenvolvidos e dominados pela indústria brasileira. 9) Comprometer a indústria em todas as etapas do desenvolvimento dos projetos espaciais da concepção à construção de equipamentos a sistemas espaciais completos. 10) Estimular a criação de empresas integradoras na indústria espacial. 11) Elevar a Política Espacial à condição de Política de Estado, firmando o interesse estratégico e geopolítico das atividades espaciais, que fortalecem a autonomia e soberania do Brasil. 12) Aperfeiçoar a governança integrada do Programa Espacial Brasileiro. 3.3 PROJETOS MOBILIZADORES E ESTRUTURANTES Segundo (BRASIL, 2012), os projetos mobilizadores e estruturantes são importantes iniciativas estratégicas e estão orientados para atender às necessidades e as demandas nacionais na área espacial, de modo que seus resultados e impactos estão fortemente relacionados com o sucesso do Programa Espacial Brasileiro.

25 Esses projetos foram definidos para serem os propulsores tecnológicos e de pesquisa capazes de organizarem a cadeia produtiva nacional e ampliarem o mercado de bens e serviços espaciais. De acordo com o Programa, o PEB somente terá êxito ser for alavancado por projetos que concentrem esforços em metas claras e definidas, que coloquem desafios tecnológicos à pesquisa e à indústria, que organizem a cadeia produtiva nacional, que ampliem o mercado de bens e serviços espaciais e que superem as barreiras que nos impedem de ter acesso ao conhecimento e à comercialização de importantes tecnologias espaciais, particularmente a de veículos lançadores e satélites. Sendo assim, é por meio desses projetos que o PEB pretende atingir seus principais objetivos até 2021. Os projetos mobilizadores e estruturantes definidos no Programa atual podem ser visualizados na Figura 1. Figura 1 - Projetos mobilizadores e estruturantes Fonte: BRASIL (2012, p. 18).

26 Cabe ressaltar que alguns projetos já estão em andamento e que, segundo BRASIL (2012), a lista não esgota as iniciativas do PEB, podendo ser modificada com a inclusão ou retirada de projetos no futuro. Esses projetos podem ser classificados em missões espaciais e projetos de acesso ao espaço. No tocante às missões espaciais, os projetos citados estão orientados para atender às grandes necessidades nacionais nas áreas de observação da Terra, meteorologia, telecomunicações e ciências. Quanto aos projetos de acesso ao espaço, referentes aos veículos lançadores e às bases de lançamento, seu desenvolvimento deve buscar atender tanto à demanda nacional, quanto a estrangeira compatível com os veículos que serão operados a partir do território nacional. De acordo com (BRASIL, 2012), ao longo dos 10 anos do presente PNAE, deve-se concentrar esforços prioritários para desenvolver, concluir e operacionalizar esses sistemas espaciais, junto com a necessária infraestrutura de solo requerida para sua integração e testes, operação e distribuição de dados. Na Figura 2 é apresentada a programação das missões espaciais (desenvolvimento dos satélites). Figura 2 - Programação das missões espaciais. Fonte: BRASIL (2012, p. 19).

27 espaço. Na Figura 3 é apresentada a programação dos projetos de acesso ao Figura 3 - Programação dos projetos de acesso ao espaço. Fonte: BRASIL (2012, p. 20). O PNAE 2012 2021 destaca a importância de parcerias com outros países, pois elas facilitam e incrementam os investimentos, dividem custos e riscos, aumentam a quantidade de projetos, impulsionam a abertura de novos mercados, dinamizam a indústria e lhe dá sustentabilidade, ampliam a segurança e a confiabilidade dos produtos e serviços e resolvem problemas regionais e globais. Entre os acordos vigentes à época, destacavam-se: com a Ucrânia, para lançamentos comerciais do VLC-4 a partir do CLA; com a Alemanha, os projetos do satélite de reentrada atmosférica (SARA) e do veículo lançador de microssatélites (VLM); com a Argentina (Projetos Sabia-Mar e Plataforma Multi-Missão PMM),

28 dentre outras. O Programa destaca que, atualmente, cooperação espacial é promover o desenvolvimento conjunto científico, tecnológico e industrial com parceiros confiáveis, baseado no interesse mútuo, no esforço comum e no compartilhamento de benefícios. O Programa foi planejado para ser executado em duas fases. Na primeira (consolidação) serão concluídos projetos já iniciados no passado e iniciados outros, de modo a ampliar e consolidar um conjunto de ações destinadas a elevar a capacitação industrial, o domínio tecnológico, o desenvolvimento de competências e a regulação das atividades espaciais. Na segunda fase (expansão) deve-se lançar e desenvolver novos projetos, de maior complexidade tecnológica e de alto valor estratégico, impondo ao programa desafios inéditos. Para concretizar todas as propostas previstas no PNAE 2012 2021, faz-se necessário dispor de recursos da ordem de R$ 9,1 bilhões, sendo 47 % destinados aos projetos de missões satelitais, 17% para projetos de acesso ao espaço, 26% para a infraestrutura espacial e 10% para outros projetos especiais e complementares (BRASIL, 2012).

29 4. ANÁLISE DOS PROJETOS MOBILIZADORES E ESTRUTURANTES ESTABELECIDOS NO PNAE 2012 2021 Neste Capítulo serão apresentados os projetos mobilizadores e estruturantes definidos no PNAE 2012 2021. Os projetos serão abordados em função da classificação: missões espaciais e acesso ao espaço. Cada projeto será apresentado destacando-se suas características, objetivos estratégicos a serem obtidos, suas aplicações, resultados conquistados e a situação atual. 4.1 MISSÕES ESPACIAIS No tocante aos satélites, os projetos citados estão orientados para atender às grandes necessidades nacionais nas áreas de observação da Terra, meteorologia, telecomunicações e ciências. 4.1.1 Os satélites CBERS 3 e 4 O Programa Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS) é resultado de uma parceria entre o Brasil e a China, envolvendo o INPE e a CAST (Academia Chinesa de Tecnologia Espacial), firmada no ano de 1988, cujo objetivo era a produção de dois satélites avançados de sensoriamento remoto para mapear os territórios dos dois países. Pretendia-se que os satélites levassem a bordo, além de câmeras imageadoras, um repetidor para os Satélites de Coleta de Dados (SCD). Segundo o INPE (2016), o programa, que recebeu investimentos superiores a US$ 300 milhões, foi desenvolvido em um princípio de responsabilidades divididas (30% Brasil e 70% China), tendo como intuito a implantação de um sistema completo de sensoriamento remoto de nível internacional. Foram então desenvolvidos os satélites CBERS-1 e 2, que, segundo o INPE, são idênticos em sua constituição técnica, missão no espaço e em cargas úteis (câmeras, sensores, computadores e outros equipamentos para experimentos científicos). Esses equipamentos visavam, além de atender às necessidades dos dois países, permitir o ingresso no emergente mercado de imagens de satélites. Após o sucesso dos primeiros satélites, lançados a partir do Centro de Lançamento de Taiyuan, na China, o projeto teve continuidade em 2002, com a proposta de construção de dois novos satélites, os CBERS-3 e 4,

30 com novas cargas úteis e uma nova divisão de responsabilidades entre o Brasil e a China, com 50% de investimentos para cada país. Em função de o lançamento do CBERS-3 ser viável apenas para um horizonte em que o CBERS-2 já tivesse deixado de funcionar, com prejuízo para ambos os países e para os inúmeros usuários do CBERS, o Brasil e a China, em 2004, decidiram construir o CBERS-2B e lançá-lo em 2007. O CBERS-2B operou até o começo de 2010. Os CBERS-3 e 4 são satélites de sensoriamento remoto equipados com quatro sensores ópticos operando na faixa espectral 1 do visível e do infravermelho, com resoluções espaciais 2 variando de 5 a 70 metros: uma Câmera Pancromática e Multiespectral (PAN), uma Câmera Multiespectral Regular (MUX), um Imageador Multiespectral e Termal (IRS) e uma Câmera de Campo Largo (WFI). A órbita dos dois satélites é a mesma que a dos CBERS-1, 2 e 2B. O CBERS-3 foi lançado, conforme previsto no PNAE, em 9 de dezembro de 2013, mas devido a uma falha ocorrida com o veículo lançador Longa Marcha 4B, o satélite não foi colocado na órbita prevista, resultando em sua reentrada na atmosfera da Terra. Após a falha do lançamento, Brasil e China decidiram antecipar o lançamento do CBERS-4 - originalmente previsto para dezembro de 2015 - para dezembro de 2014. Assim, em 07 de dezembro de 2014, o CBERS-4 foi lançado com sucesso da base de Taiyuan. Segundo (INPE, 2016), as imagens obtidas pela câmera WFI do CBERS-4 já estão disponíveis no catálogo online do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. A WFI a bordo do CBERS-4 possui quatro bandas espectrais com resolução espacial de 64 metros, cobrindo uma faixa no solo de 866 km. Sua resolução temporal 3 é de 5 dias. 1 A faixa ou banda espectral é a porção do espectro eletromagnético em que determinado sensor opera. Sensores orbitais imageadores normalmente operam nas faixas espectrais do visível, do infravermelho e das microondas. Um sensor capaz de obter imagens em diferentes bandas espectrais é classificado como multiespectral. A banda pancromática refere-se a toda porção do visível do espectro eletromagnético. 2 A resolução espacial ou geométrica expressa a capacidade de um sensor imageador registrar detalhes de uma cena. Muitas vezes a resolução espacial de uma imagem costuma ser expressa pelo tamanho da cena representada por um pixel; por exemplo, se cada pixel da imagem representa uma parte da cena de 1 metro x 1 metro, diz-se que a imagem tem resolução espacial de 1 metro. 3 A resolução temporal expressa a frequência com que uma determinada superfície é observada ou imageada por um sensor orbital. Por exemplo, um sensor com resolução temporal de 5 dias revisita uma determinada área da superfície terrestre a cada 5 dias.

31 Segundo INPE (2015), as imagens da MUX, câmera multiespectral que oferece resolução espacial de 20 metros e largura de faixa imageada de 120 km, também estão disponíveis no catálogo do CBERS-4 desde dezembro de 2015. A MUX e a WFI são as primeiras câmeras desenvolvidas para satélites projetadas e fabricadas no Brasil e suas imagens permitem uma vasta gama de aplicações, tais como monitoramento de desastres naturais, de queimadas, do desflorestamento da Amazônia, da expansão agrícola, do desenvolvimento urbano, etc. Em continuidade do projeto de desenvolvimento, fabricação, teste, lançamento e operação em órbita do satélite de sensoriamento remoto da série CBERS em cooperação com a China, visando ampliar a capacidade do País em monitorar seus recursos naturais e o meio ambiente, foi definido o desenvolvimento do CBERS-4A. Todas as fases da missão serão desenvolvidas em cooperação com a China. Os custos para o desenvolvimento do satélite, seu lançamento e operação serão divididos igualmente entre os dois países. O CBERS-4A levará a bordo três câmeras uma chinesa e duas brasileiras. A câmera Multiespectral e Pancromática de Ampla Varredura (WPM) está sendo desenvolvida pela China para obter imagens com resolução espacial de 2 metros na banda pancromática e de 8 m nas bandas multiespectrais, com largura de faixa imageada de 92 km. As câmeras brasileiras serão réplicas da WFI e da MUX que estão a bordo do CBERS-4. A câmera WFI terá resolução espacial de 55 m, com largura de faixa imageada de 684 km, enquanto a câmera MUX terá capacidade de prover imagens com resolução espacial de 16 metros, com largura de faixa imageada de 95 km. De acordo com (INPE, 2015b), na fabricação do CBERS-4A serão utilizadas partes e peças sobressalentes dos satélites CBERS-3 e CBERS-4, além das várias tecnologias aplicadas no desenvolvimento desses satélites. São partes constituintes da missão: o satélite, o segmento solo, as aplicações e o sistema de operação e lançamento. A missão CBERS-4A está com seus estudos de viabilidade e projeto preliminar concluídos, o que representa 3% do satélite. O satélite CBERS-4A tem seu lançamento previsto para o final de 2018 (COSTA, 2016). Segundo a AEB, a família de satélites de sensoriamento remoto CBERS trouxe significativos avanços em aplicações espaciais no Brasil, com mais de 15.000 usuários cadastrados, representando cerca de 1.500 instituições. De acordo com a