SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS Jorge Cancela, CIAUD/FAUL/UL PNPOT Território e Economia Circular Lisboa, 27 out CCDRLVT

Documentos relacionados
GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS ESTRUTURA ECOLÓGICA DO MUNICIPIO DE SETÚBAL

CONTRIBUIÇÃO DA ESTRUTURA ECOLÓGICA DE SETÚBAL PARA UMA COMUNIDADE MAIS RESILIENTE AOS RISCOS AMBIENTAIS

Seminário Território e Economia Circular

Estrutura Ecológica Municipal: para além da inscrição no PDM

Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados Senhora e Senhores Membros do Governo

SERVICOS ECOSSITEMICOS E SUA IMPORTANCIA. Angélica María Mosquera Muñoz Bióloga Estudante mestrado de PGT UFABC

Alterações Climáticas, Florestas e Biodiversidade

Gestão de Recursos Naturais e Competitividade: do conhecimento à geração do compromisso

O Planeamento do. Gestão e ordenamento do território

Estrutura Regional de Protecção e Valorização Ambiental

GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ORLA COSTEIRA

WORKSHOP FINANCIAMENTO DA REDE NATURA 2000 Mais e melhores oportunidades provenientes dos fundos da UE para

Mestrado em Engenharia do Ambiente 4º ano / 2º semestre

PROJECTO DE LEI N.º 16/X CRIAÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA DA RESERVA ORNITOLÓGICA DO MINDELO. Exposição de motivos

Biodiversidade e prosperidade económica

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Base de Dados: Manuais de Boas Práticas Florestais e objetivos SEEF

MEC, 4º ano, 2º sem, Desafios Ambientais e de Sustentabilidade em Engenharia. Alterações globais. 3ª aula Maria do Rosário Partidário

Ciclo de Palestras ENCONTROS COM O ICNF

Ordenamento do Território Nível Municipal Ano lectivo 2013/2014

Externalidades associáveis de Ocupação Urbana

Oleiros: floresta de oportunidades

Avaliação Ambiental de Planos Municipais de Ordenamento do Território a integração da agenda ambiental e da sustentabilidade no planeamento local

Os princípios do Direito do Ambiente

PLANO DE ORDENAMENTO DA RESERVA NATURAL DAS BERLENGAS PROGRAMA DE EXECUÇÃO

Ordenamento do Território Nível Municipal Ano lectivo 2013/2014

Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL DE SINTRA-CASCAIS 5. PLANO OPERACIONAL DE GESTÃO

Problemas ambientais globais. Gestão da Floresta Desertificação. 1º Ano Eng.ª Ambiente /2017. Tipos de florestas e sua importância

ENAAC - Grupo Sectorial Agricultura, Floresta e Pescas. Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações Climáticas

Domínio: TERRA UM PLANETA COM VIDA

Estrutura institucional de gestão dos recursos hídricos portugueses Modelo em estudo


PLANO CURRICULAR DISCIPLINAR. Ciências Naturais 8º Ano

Estratégia regional para as florestas Região Autónoma da Madeira

Mapeamento dos serviços dos ecossistemas

Mestrado em Engenharia de Recursos Florestais Economia dos Recursos Naturais Ano Lectivo 2005/06

NATUREZA E BIODIVERSIDADE. Que vantagens lhe trazem?

Política de Coesão da UE

Agroalimentar, Florestas e Biodiversidade

Plano de Pormenor da Praia Grande. Direção Municipal de Ambiente, Planeamento e Gestão do Território

Colégio F3: FOOD, FARMING & FORESTRY. IGOT 22 abril 2016

Os Espaços Verdes no projecto LIPOR

ESTRUTURA ECOLÓGICA MUNICIPAL

2ª CONFERÊNCIA Dia Internacional para a Redução de Catástrofes Naturais

Domínio: TERRA UM PLANETA COM VIDA

SERVIÇO DOS ECOSSISTEMAS NAS CIDADES. biodiversidade e adaptação climática o serviço da qualidade de vida. Gestão da Estrutura Ecológica do Barreiro

AMBIENTE E TERRITÓRIO 9 ª aula

Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro Escola Básica de Eugénio de Castro Planificação Anual

Seminário Nacional. Iniciativas para limitar a Degradação das Terras nas áreas Susceptíveis à Desertificação em Portugal

ESPAÇOS VERDES TECNOLOGIAS DE ÁGUA

Extensity Uma Abordagem Integrada. Contributo dos sistemas agro-florestais para o sequestro de carbono. Cobertura Geográfica e Temática

2. Termos de referência 2.1 Área de Intervenção 2.2 Enquadramento no PDM

Regadio, Paisagem Rural e Ordenamento do Território. Os Novos Oásis?...

CONFERÊNCIA NACIONAL ESTATUTO DA AGRICULTURA FAMILIAR PORTUGUESA. ESAC - Escola Superior Agrária de Coimbra 23 e 24 de Junho 2017

PROJECTO NASCENTES PARA A VIDA: Gestão Florestal: estratégias para o futuro e boas prática de gestão e de investimento

Política de. Coesão da UE Propostas da Comissão Europeia. Política de. coesão

Os Recursos Geológicos na Região do Norte: Ambiente e Ordenamento do Território

Silvicultura II Licenciatura em Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais 3º ano, 2º semestre Ano letivo

GESTÃO DA ARBORIZAÇÃO URBANA. Eng.Ambiental. Bruna de Souza Otoni Prefeitura Municipal de Araçuaí -MG

Impactes sectoriais. Impactes Ambientais 5 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Vital Rosário Licenciado em Urbanismo Adjunto da Coordenação do PROT OVT

O valor da árvore na cidade

Ambiente e Política Agrícola Impactes actuais e potenciais. Terra Sã 2013 Colóquio Agricultura 2020 Lisboa

Ordenamento e gestão do território Grandes empreendimentos obras públicas e construção sustentável

O PAPEL ESTRATÉGICO DA AGRICULTURA BIOLÓGICA Jaime Ferreira Lisboa, 19 Abril 2013

Mestrado em Engenharia do Ambiente 4º ano / 2º semestre (2009/10)

VOLUME II Introdução e enquadramento

Relatório Breve do Workshop de 15 Fevereiro 2016

MESTRADO EM GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA AULAS DE ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS 1º TUTORIAL: ECONOMIA DOS SERVIÇOS DO ECOSSISTEMA AULA 1/5

Quadro político e legislativo relativo ao ordenamento do território. Planeamento Urbano 2011/12 JOÃO CABRAL FA/UTL

Problemas ambientais globais

O Sistema Nacional de Indicadores de Ordenamento do Território e a sua articulação com outros sistemas de indicadores

O PAPEL DA REDE RURAL NACIONAL

A ARH do Tejo, I.P., enquanto Promotora. de Instrumentos de Gestão Territorial

A agricultura portuguesa e o futuro da PAC pós 2013

Plano estratégico para requalificação e valorização da rede hidrográfica da região centro

Projeto de Requalificação de Áreas Degradadas da Serra da Estrela. Rui Xavier 2012

CONFERÊNCIA ENGENHARIA DE SEGURANÇA PORTUGAL - BRASIL AUDITÓRIO DA SEDE NACIONAL DA ORDEM DOS ENGENHEIROS LISBOA 18 DE JULHO DE 2018

O Novo Fundo Europeu na Comissão das Pescas

ALQUEVA UMA PLATAFORMA PARA O. Conselho Nacional da Água 49.ª Reunião Plenária Lisboa, 05 julho 2013

Politicas de Gestão de Recursos das Áreas Baldias. Pedro Gomes

Impactes sectoriais. Sistema edafoclimático, hidrologia, hidrogeologia. Impactes Ambientais 5 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Desafios, Estratégias e. Instrumentos de Sustentabilidade. para o Ambiente Urbano. Carla Silva. Serpa, 20/11/2010

Delimitação e normativa para a urbanização rural difusa em Mafra

XX CONGRESSO ENGENHARIA 2020

Vertente Localização e Integração

Agroecologia e Sistemas Agroflorestais

Ordenamento do Espaço Rural

Ordenamento do Território Nível Municipal Ano lectivo 2013/2014

Avaliação Ambiental Estratégica

É uma floresta de árvores originárias do próprio território. Neste caso, a floresta autóctone portuguesa é toda a floresta formada por árvores

INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA DE REDES ELÉCTRICAS

Avaliação e Controlo dos Efeitos. decorrentes da Aplicação dos. Paulo Areosa Feio

Desenvolvimento Local. Aula 15. Política de desenvolvimento Rural em Portugal: Principais instrumentos de financiamento para o período

Enquadramento Legal. Famalicão 14 de Julho de Luis Fragoso. Responsabilidade Ambiental

FUNÇÕES DESEMPENHADAS PELAS DIFERENTES TIPOLOGIAS DA REN

A Agricultura e o Desenvolvimento Territorial Integrado Sistemas de Agricultura e Atractividade dos Territórios Rurais

QUE MEIOS FINANCEIROS?

CAPÍTULO I. Disposições gerais. Artigo 1º. Objecto e Âmbito

Transcrição:

SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS Jorge Cancela, CIAUD/FAUL/UL PNPOT Território e Economia Circular Lisboa, 27 out. 2016 CCDRLVT

Em várias regiões da China, o desaparecimento dos insectos polinizadores muito provavelmente por uso excessivo de agroquímicos, obriga à sua substituição por pessoas especializadas para fazer este trabalho de recolha manual do polén, seu transporte e colocação noutras flores, para a frutificação das mesmas.

Este é apenas um exemplo dos milhares de serviços ambientais ou serviços dos ecossistemas, a que só damos valor quando os perdemos.

Valor da árvore urbana

Árvore urbana custos: proveitos: P árvore e plantação T poda R remoção e limpeza de ramos e árvores D controlo de pragas e doenças I rega S reparações de prejuízos em infra estruturas C remoção de lixo e folhas L indemnizações devidas a reclamações relacionadas com as árvores AD programas de administração, inspecções e outros custos

E + AQ + CO2 + H + A --------------------------------------- = 5 P + T + R + D + I + S + C + L + AD E + AQ + CO2 + H + A = 5 P + T + R + D + I + S + C + L + AD

E + AQ + CO2 + H + A --------------------------------------- = 5 P + T + R + D + I + S + C + L + AD E + AQ + CO2 + H + A = 5 P + T + R + D + I + S + C + L + AD

VALOR ANUAL ESTIMADO DOS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS: 130.000.000.000.000 EUROS cento e trinta triliões (milhões de milhões) de euros (adaptado para euros de Costanza et al, 2014) Divida pública portuguesa: 240.000.000.000 EUROS (duzentos e quarenta mil milhões) de euros (IGCP, setembro 2016)

Água doce P: O que são então os serviços dos ecossistemas? R: O conjunto de benefícios que as pessoas obtêm dos mesmos Fixação de CO2 Materiais de construção e lenhas Controlo de erosão Flora medicinal (Ecossistema: sistema biótico e abiótico conectado por trocas de energia e matéria) Melhoria da qualidade dos efluentes Pesca Recreio

ESTRUTURA ECOLÓGICA MUNICIPAL Decreto Regulamentar nº 9/2009, de 29 de Maio: A estrutura ecológica municipal é o conjunto de áreas de solo que, em virtude das suas características biofísicas ou culturais, da sua continuidade ecológica e do seu ordenamento, têm por função principal contribuir para o equilíbrio ecológico e para a protecção, conservação e valorização ambiental, paisagística e do património natural dos espaços rurais e urbanos. A estrutura ecológica municipal existe em continuidade no solo rural e urbano

ESTRUTURA ECOLÓGICA URBANA Decreto Regulamentar nº 9/2009, de 29 de Maio no interior dos perímetros urbanos, a estrutura ecológica municipal compreende os espaços verdes de utilização colectiva e outros espaços, de natureza pública ou privada, que sejam necessários ao equilíbrio, protecção e valorização ambiental, paisagística e do património natural do espaço urbano, nomeadamente no que diz respeito a: a) Regulação do ciclo hidrológico (preservação da permeabilidade do solo e criação de áreas de retenção, no quadro de prevenção de cheias urbanas); b) Regulação bio climática da cidade (redução das amplitudes térmicas e manutenção do teor de humidade do ar); c) Melhoria da qualidade do ar (diminuição da concentração da poluição atmosférica nos centros urbanos); d) Conservação da biodiversidade (manutenção de habitats).

Mapping and Assessment of Ecosystems and their Services (MAES)

1º trabalho com metodologia MAES em Portugal, 2014

Como aplicar os serviços dos ecossistemas no ordenamento do território? 1ª fase: Definir MAES Mapear MAES Quantificar Valorar Normativos de gestão participada

Como aplicar os serviços dos ecossistemas no ordenamento do território? 2ª fase: Cruzamento com REN (adaptação da regulamentação da REN para inclusão de atitudes proactivas de valorização do capital natural baseadas em cartografia dos serviços dos ecossistemas) Integração em regimes de classificação e qualificação do solo (trabalhar em limiares de utilização e objectivos monitoráveis) Atribuição de valor para fins de usos concorrentes do solo (ex: incentivos PDR) Atribuição de incentivos de mercado ou não monetários (como as empresas integram a prestação de serviços ambientais nas suas contabilidades, ver antiga PAC Plano Zonal de Castro Verde ) Mecanismos de trocas e incentivos (ex: revisão PDM Sintra) Monitorização e avaliação (quem faz e como?)

Nas paisagens humanizadas em desertificação demográfica, qual será a evolução da estrutura e composição da paisagem e dos serviços dos ecossistemas associados?

As nossas paisagens são humanizadas: Valorar os serviços dos ecossistemas, em paisagens humanizadas sustentáveis, é valorizar quem as cria e mantem. É este um grande desafio do ordenamento e gestão das paisagens rurais e urbanas.

Como valorizar quem aumenta valor? (após mapeados e valorados os serviços dos ecossistemas): Reconhecimento certificação atribuída, normas de exemplo Pagamentos directos em função de resultados ( conservation means business ) Reduções fiscais em IMI Simplificação processual a PSIN: Práticas Sustentáveis de Interesse Nacional (ex: agricultura biológica) Possibilidade de incorporar a fiscalidade verde com redução de taxa REN: risco (nova situação de ocupação de leitos de cheia nos EUA: Repeatedly Flooded Communities Preparation Act ) valorização (serviços de ecossistemas)

Mecanismos de equilíbrio de capital natural Restauro de habitats degradados com aumento do valor de capital natural Mecanismos de cap and trade e compensação de impactes para actividades geradoras de capital natural negativo Financiamento directo e indirecto a áreas e ações de capital natural relevante

Muito obrigado