ESCOLHA SOB INCERTEZA

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Transcrição:

MICROECONOMIA I ESCOLHA SOB INCERTEZA Rafael V. X. Ferreira rafaelferreira@usp.br Março e Abril de 2017 Universidade de São Paulo (USP) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) Departamento de Economia

Escolha sob Incerteza Para alguns problemas, incerteza não é determinante. Para outros, é fundamental para a análise. Iremos incorporar incerteza ao arcabouço que já estudamos em teoria do consumidor. Vimos que X é o conjunto das escolhas possíveis: definição é geral o suficiente para acomodar incerteza. Escolhas sob incerteza possuem características específicas, que permitem fazer previsões mais fortes, ao impor restrições adicionais às preferências de indivíduos racionais.

Alternativas arriscadas Indivíduo precisa escolher uma dentre várias alternativas arriscadas. Cada alternativa pode resultar em um dentre vários resultados possíveis. O resultado que irá efetivamente ocorrer é incerto. Mas indivíduo conhece as probabilidades objetivas de ocorrência de cada resultado. C {c 1, c 2,..., c N } denota os resultados possíveis. Por exemplo: 1. Cestas de consumo 2. Payoffs monetários

Loterias simples Uma loteria simples é uma distribuição de probabilidade sobre esses resultados: Definição Uma loteria simples é uma lista L (p 1, p 2,..., p N ), com p n 0, n 1,..., N, e N n 1 p n 1, onde p n pode ser interpretado como a probabilidade de ocorrência do n-ésimo evento.

Loterias simples Por exemplo, se C (0, 500, 1000), duas loterias simples podem ser: 1. L 1 (0, 1, 0) ( 1 2. L 2 2, 1 4, 1 ) 4 Uma loteria simples pode ser representada como um ponto do simplex de dimensão (N 1): {p R N + : p 1 + p 2 + + p N 1}

Loterias Compostas Uma versão mais geral de loterias, que permite que os resultados possíveis sejam, eles próprios, loterias. Definição Considere K loterias simples L k (p k 1, pk 2,..., pk ), k 1,..., K e N probabilidades α k 0, com K k 1 α k 1. A opção arriscada que resulta na loteria L k com probabilidade α k, para k 1,..., K é chamada de loteria composta e representada por: (L 1, L 2,..., L K ; α 1, α 2,..., α K )

Loterias Compostas Por exemplo, se C (0, 500, 1000) e temos as duas loterias simples: 1. L 1 (0, 1, 0) ( 1 2. L 2 2, 1 4, 1 ) 4 A loteria composta que resulta na loteria L 1 com probabilidade 1 2 e na loteria L 2 com probabilidade 1 2 pode ser escrita como: ( ) L 1, L 2 ; 1 2, 1 2

Loterias Reduzidas Dada uma loteria composta (L 1, L 2,..., L K ; α 1, α 2,..., α K ), a loteria reduzida correspondente é a loteria simples (q 1, q 2,..., q N ) que gera a mesma distribuição sobre os resultados possíveis. q 1. q N α 1 p1 1. p 1 N + α 2 p2 1. p 2 N + + α K pk 1. p K N q n K α k pn k k 1 Note que: N q n ( N K α k pn k α k n 1 n 1 k 1 k 1 n 1 ) K N pn k K α k 1 k 1

Preferências sobre loterias: hipóteses 1. O indivíduo é consequencialista : para qualquer escolha envolvendo risco, apenas as loterias reduzidas são relevantes. Logo, o indivíduo deve ser indiferente entre duas loterias compostas com a mesma loteria reduzida. 2. Racionalidade: preferências completas e transitivas sobre L, o conjunto de todas as loterias simples sobre o conjunto de resultados possíveis C. 3. Continuidade: pequenas mudanças nas probabilidades não alteram o ordenamento de preferências entre duas loterias quaisquer. Garante a existência de uma função utilidade U : L R representando. 4. Axioma da Independência: permite-nos representar por um tipo de função de utilidade particularmente útil.

Preferências sobre loterias: hipóteses Definição Uma relação de preferências sobre L é dita contínua se, para quaisquer L, L, L L, os dois conjuntos abaixo forem fechados: {α [0, 1] : αl + (1 α)l L } [0, 1] {α [0, 1] : L αl + (1 α)l } [0, 1] Definição Uma relação de preferências sobre L satisfaz o axioma da independência se, para todo L, L L L e α (0, 1), tivermos: L L αl + (1 α)l αl + (1 α)l

Axioma da Independência Note que o AI não é necessariamente razoável no contexto da teoria do consumidor tradicional. Por exemplo: suponha que o consumidor prefere {2 chocolates, 0 bananas} a {0 chocolates, 2 bananas} Não há porque o consumidor preferir {2 chocolates, 1 bananas} a {1 chocolates, 2 bananas} mesmo que ambos sejam uma combinação entre as cestas anteriores e a cesta {2 chocolates, 2 bananas}.

Utilidade esperada Veremos a seguir que o axioma da independência nos permite representar as preferências na forma de utilidade esperada. Definição A função de utilidade U : L R tem a forma de utilidade esperada se existe uma designação de números (u 1, u 2,..., u N ) para os N resultados possíveis, de modo que para cada loteria simples L (p 1, p 2,..., p N ) L, temos: U(L) p 1 u 1 + p 2 u 2 + + p n u N A função de utilidade U : L R na forma de utilidade esperada é chamada de utilidade de von Neumann-Morgenstern.

Linearidade da utilidade esperada Note: U(L) p n u n é linear nas probabilidades. Segue que: n Proposição A função de utilidade U : L R tem a forma de utilidade esperada se, e somente se satisfaz a propriedade: ( K ) K U α k L k α k U(L k ) k 1 para quaisquer probabilidades (α 1, α 2,..., α K ) 0 K e loterias L k L, k 1,..., K e K α k 1. k 1 k 1

Linearidade da utilidade esperada Demonstração ( ) 1. Suponhamos que U( ) satisfaz: ( K ) K U α k L k α k U(L k ) k 1 k 1 2. Sejam (L 1,..., L N ) loterias degeneradas. 3. Podemos escrever L N n 1 p nl n. Temos então: ( N ) N N U(L) U p n L n p n U(L n ) p n u n n 1 n 1 n 1 4. Logo, U( ) tem a forma de utilidade esperada.

Linearidade da utilidade esperada Demonstração ( ) 1. Suponhamos que U( ) tem a forma de utilidade esperada. 2. Considere qualquer loteria composta: (L 1, L 2,..., L K ; α 1, α 2,..., α K ) em que L k (p k 1,..., pk N ). 3. A loteria é reduzida é L k α h L k. 4. Temos, então: ( K ) ( N K ) ( K N ) K U α k L k u n α k pn k α k u n pn k α k U(L k ) k 1 n 1 k 1 k 1 n 1 k 1

Cardinalidade da Utilidade Esperada Diferentemente da Teoria do Consumidor que vimos até agora, apenas transformações afins crescentes preservam ordenamento de preferências representado por utilidade esperada. Proposição Suponha U : L R é uma utilidade esperada de v.n-m. para a relação de preferências sobre L. Então Ũ : L R é outra utilidade esperada de v.n-m. para a relação de preferências se, e somente se, existem α, β > 0 tais que Ũ(L) βu(l) + α.

Teorema da Utilidade Esperada Se preferências sobre loterias são contínuas e satisfazem o Axioma da Independência, então são representáveis por uma função de utilidade com a forma de utilidade esperada. Proposição Suponha a relação de preferências racionais sobre o espaço de loterias L satisfaz continuidade e o axioma da independência. Então admite uma representação de utilidade na forma de utilidade esperada. Isto é, podemos designar um número u n para cada realização n 1,..., N de tal modo que para quaisquer duas loterias L (p 1, p 2,..., p N ) e L (p 1, p 2,..., p ), temos: N L L N u n p n n 1 N u n p n n 1

Teorema da Utilidade Esperada Demonstração Demonstração se dará em 5 passos: 1. Se L L e α (0, 1), então L αl + (1 α)l. 2. Sejam α, β [0, 1]. Então β L + (1 β)l α L + (1 α)l se, e somente se, β > α. 3. L L, existe um α(l) tal que [1 α(l)]l + α(l) L L, e este α(l) é único. 4. A função U : L R que designa U(L) α L para todo L L representa a relação de preferências. 5. A função utilidade U : L R que designa U(L) α L para todo L L é linear e, portanto, tem a forma de utilidade esperada.

Teorema da Utilidade Esperada 1. Se L L e α (0, 1), então L αl + (1 α)l. Demonstração: O resultado segue do Axioma da Independência. Como L L, temos: L αl + (1 α)l αl + (1 α)l αl + (1 α)l L

Teorema da Utilidade Esperada 2. Sejam α, β [0, 1]. Então β L + (1 β)l α L + (1 α)l se, e somente se, β > α. Demonstração: Seja β > α, sem perda de generalidade. Podemos escrever: [ ] [ ] β α β L + (1 β)l L + 1 β α [α L + (1 α)l ] 1 α 1 α } {{ }}{{} γ Do passo anterior, sabemos que L α L + (1 α)l. Aplicando o mesmo passo novamente: γ L + (1 γ)[α L + (1 α)l] α L + (1 α)l Segue, pois, que β L + (1 β)l α L + (1 α)l. γ

Teorema da Utilidade Esperada 3. L L, existe um α(l) tal que [1 α(l)]l + α(l) L L, e este α(l) é único. Demonstração: Segue da hipótese de continuidade das preferências, e da escolha de L e de L.

Teorema da Utilidade Esperada 4. A função U : L R que designa U(L) α L para todo L L representa a relação de preferências. Demonstração: Partindo do passo anterior, para quaisquer duas loterias L, L L, temos: L L α L L + (1 α L )L α L L + (1 α L )L Pelo passo 2, isso é verdade se, e somente se, α L α L.

Teorema da Utilidade Esperada 5. A função utilidade U : L R, que designa U(L) α L para todo L L, é linear e, portanto, tem a forma de utilidade esperada. Demonstração: Queremos mostrar que, L, L L e β [0, 1], temos U(βL + (1 β)l ) βu(l) + (1 β)u(l ). Por construção temos: L U(L) L + [1 U(L)]L e L U(L ) L + [1 U(L )]L Aplicando o AI, temos: βl + (1 β)l β[u(l) L + [1 U(L)]L] + (1 β)l β[u(l) L + [1 U(L)]L] + (1 β)[u(l ) L + [1 U(L )]L]

Teorema da Utilidade Esperada 5. A função utilidade U : L R, que designa U(L) α L para todo L L, é linear e, portanto, tem a forma de utilidade esperada. Demonstração (cont. 1): Note que essa última loteria é equivalente a: [βu(l) + (1 β)u(l )] L + (1 βu(l) (1 β)u(l )]L As duas loterias compostas abaixo resultam na mesma loteria reduzida: { U(L) L + (1 U(L))L com Pr β U(L ) L + (1 U(L ))L com Pr (1 β) { L com Pr βu(l) + (1 β)u(l ) L com Pr [1 βu(l) (1 β)u(l )]

Teorema da Utilidade Esperada 5. A função utilidade U : L R, que designa U(L) α L para todo L L, é linear e, portanto, tem a forma de utilidade esperada. Demonstração (cont. 1): Logo: βl + (1 β)l [βu(l) + (1 β)u(l )] L + (1 βu(l) (1 β)u(l )]L Segue que U(βL + (1 β)l ) βu(l) + (1 β)u(l ), como consequência do passo anterior.

Paradoxo de Allais Suponha que há três payoffs monetários: (1) R$ 2.500.000 (2) R$ 500.000 (3) R$ 0 Considere dois conjuntos de escolha, L e L : L: e L 1 [ 0.00 1.00 0.00 ] L [ 0.10 0.89 0.01 ] 1 L : e L 2 [ 0.00 0.11 0.89 ] L [ 0.10 0.00 0.90 ] 2 Que escolha você faria? Frequentemente as pessoas preferem L 1 a L 1 e L 2 a L 2. Essas preferências contradizem o axioma da independência.

Loterias Monetárias e Aversão ao Risco Formalização da noção de aversão ao risco, no contexto de alternativas arriscadas cujos resultados possíveis são valores expressos em unidades monetárias (loterias monetárias). Tratamos o valor monetário como uma variável contínua. Representação via utilidade esperada pode ser extendida para o caso de domínio infinito:

Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Seja X variável aleatória contínua denotando um valor monetário. Definição Uma loteria monetária é uma função de distribuição acumulada F : R [0, 1]. Dado x, F(x) mede a probabilidade de a realização do payoff X ser menor ou igual a x. Se F( ) tem uma função de densidade f ( ), então: F(x) x f (s)ds

Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Funções de distribuição preservam a estrutura linear das loterias: Dada uma loteria composta (L 1, L 2,..., L K ; α 1, α 2,..., α K ). Denotemos por F K ( ) a distribuição de payoffs sob a loteria k. A distribuição do payoff associado à loteria reduzida é dada por: K F(x) α k F k (x) k 1 Assim, para estudar loterias sobre valores monetários, definimos o espaço de loterias L como o conjunto de todas as distribuições de probabilidade possíveis, com domínio não-negativo [a, ).

Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Aplicação do Teorema da Utilidade Esperada: existe uma designação de valores u(x) tais que F( ) pode ser avaliada como: U(F) u(x)df(x) Note: U(F), que tem L como domínio, é a utilidade esperada de v.n-m.; u(x), que tem como domínio o conjunto de realizações monetárias possíveis, é a utilidade de Bernoulli. u(x)df(x) é a esperança matemática de u(x). 1. A função u(x) substitui os valores (u 1, u 2,..., u N ). 2. Se F(x) tem função densidade f (x), então U(F) u(x) f (x)dx. 3. Essa formulação inclui os casos em que um número finito de realizações tem massa positiva.

Aversão ao Risco Atenção O teorema de utilidade esperada não impõe restrições sobre a função de Bernoulli, u(x). A especificação de u(x) é responsável por capturar atributos comportamentais da escolha individual. hipóteses básicas: u( ) é contínua, estritamente crescente e limitada (acima e abaixo).

Aversão ao Risco Definição Um tomador de decisão é dito: avesso ao risco se, para qualquer loteria F( ), a loteria degenerada que resulta num payoff certo xdf(x) é ao menos tão boa quanto a loteria F( ). neutro ao risco se, para qualquer loteria F( ), ele é indiferente entre a loteria degenerada que resulta num payoff certo xdf(x) e a loteria F( ). estritamente avesso ao risco se indiferença ocorre apenas quando as duas loterias são iguais (i.e., quando F( ) é degenerada).

Aversão ao Risco e Concavidade de u( ) Da definição de aversão ao risco, segue que um indivíduo é avesso ao risco se, e somente se: ( ) u(x)df(x) u xdf(x), para todo F( ) Essa desigualdade se chama Desigualdade de Jensen, e define a concavidade de uma função. Logo, aversão ao risco (estrita) é equivalente a concavidade (estrita) de u( ): 1. utilidade marginal de um dólar adicional é (estritamente) decrescente; 2. o risco de ganhar ou perder um dólar com probabilidades iguais não compensa.

Equivalente Certeza Definição Dada uma função de utilidade de Bernoulli u( ), o equivalente certeza de F( ), denotado por c(f, u), é o valor monetário para o qual o indivíduo é indiferente entre a loteria F( ) e um valor sem risco c(f, u). u(c(f, u)) u(x)df(x) Para um indivíduo avesso ao risco, c(f, u) é menor que o valor esperado de X: trade-off entre o retorno esperado e um risco mais baixo. c(f, u) xdf(x) De fato, a desigualdade acima é equivalente à aversão ao risco.

Prêmio de Risco Definição Dada uma função de utilidade de Bernoulli u( ), um valor monetário fixo x e um número positivo ɛ, o prêmio de probabilidade (ou prêmio de risco), denotado por π(x, ɛ, u), é o excesso de probabilidade de sucesso (em relação a probabilidades iguais de sucesso e fracasso) que deixa o indivíduo indiferente entre o resultado sem risco x e a loteria entre dois resultados x + ɛ e x ɛ. u(x) ( 1 + π(x, ɛ, u) 2 ) u(x + ɛ) + ( 1 π(x, ɛ, u) 2 ) u(x ɛ) Geometricamente, é fácil mostrar que aversão ao risco é equivalente a termos π(x, ɛ, u) 0, para todo x e todo ɛ > 0.

Aversão ao Risco: caracterização Proposição Suponha que o indivíduo é maximizador de uma utilidade esperada, com função de utilidade de Bernoulli u( ) sobre valores monetários. Então, as seguintes propriedades são equivalentes: 1. O indivíduo é avesso ao risco 2. u( ) é côncava 3. c(f, u) xdf(x), para todo F( ) 4. π(x, ɛ, u) 0, para todo x, ɛ > 0

Aversão ao Risco Absoluta Definição Dada uma função de utilidade de Bernoulli u( ) sobre valores monetários, duas vezes continuamente diferenciável, o coeficiente de aversão absoluta ao risco de Arrow-Pratt em x é definido como: r A (x) u (x) u (x) É uma medida da curvatura de u( ). Para um indivíduo avesso ao risco, r A (x) 0. Exemplo: u(x) e ax, para a > 0, é chamada de função de utilidade CARA (Constant Absolute Risk Aversion).

Aversão ao risco entre indivíduos Definição Dadas funções de utilidade de Bernoulli u 1 ( ) e u 2 ( ), dizemos que u 2 ( ) é mais avesso ao risco que u 1 ( ) se: 1. r A (x, u 2 ) r A (x, u 1 ), para todo x. 2. Existe uma função crescente e côncava φ( ) tal que u 2 (x) φ(u 1 (x)) para todo x, i.e., u 2 ( ) é uma transformação côncava de u 1 ( ) 3. c(f, u 2 ) c(f, u 1 ), para qualquer F( ).

Aversão ao risco entre indivíduos (cont.) Definição (cont.) Dadas funções de utilidade de Bernoulli u 1 ( ) e u 2 ( ), dizemos que u 2 ( ) é mais avesso ao risco que u 1 ( ) se: 4. π(x, ɛ, u 2 ) π(x, ɛ, u 1 ), para quaisquer x e ɛ. 5. Sempre que u 2 ( ) achar uma loteria F( ) ao menos tão boa quanto um resultado livre de risco x, então u 1 ( ) também acha F( ) ao menos tão boa quanto x. Ou seja, qualquer risco que u 2 ( ) aceitar partindo de uma posição sem risco x também será aceita por u 1 ( ). Equivalentemente: u 2 (x)df(x) u 2 ( x) implica u 1 (x)df(x) u 1 ( x)

Aversão ao risco entre indivíduos Proposição As definições (1) a (5) anteriores são equivalentes.

Aversão ao risco entre níveis de renda É possível analisar também como relação com o risco varia com níveis de renda. A função de utilidade de Bernoulli u( ) exibe aversão absoluta ao risco decrescente se r A (x, u) é uma função decrescente de x. Comparar aversão ao risco em diferentes níveis de renda é similar a compará-la para indivíduos diferentes: 1. Dois níveis de renda iniciais, x 1 > x 2. 2. Seja z a mudança na renda. 3. O indivíduo avalia risco comparando u 1 (z) u(x 1 + z) a u 2 (z) u(x 2 + z). 4. r A (x 2, u) r A (x 1, u), para x 1 > x 2 se, e somente se r A (z, u 2 ) r A (z, u 1 ), para todo z.

Aversão ao risco entre níveis de renda Proposição As seguintes propriedades são equivalentes: 1. u( ) exibe aversão absoluta ao risco decrescente. 2. Sempre que x 2 < x 1, u 2 (z) u(x 2 + z) é uma transformação côncava de u 1 (z) u(x 1 + z). 3. Para qualquer risco F(z), o equivalente certeza c x da loteria formada ao adicionar risco z ao nível de renda x, dado por u(c x ) u(x + z)df(z), é tal que (x c x ) é decrescente em x. Isto é, quanto maior for x, menos o indivíduo estará disposto a pagar para se livrar do risco. 4. O prêmio de risco π(x, ɛ, u) é decrescente em x. 5. Para qualquer F(z), se u(x 2 + z)df(z) u(x 2 ) e x 2 < x 1, então u(x1 + z)df(z) u(x 1 ).

Aversão relativa ao risco O conceito de aversão relativa ao risco nos permite avaliar alternativas arriscadas cujos resultados são ganhos ou perdas percentuais da riqueza atual. Seja t > 0 o acréscimo ou decréscimo percentual da riqueza. Um indivíduo com utilidade de Bernoulli u( ) e riqueza inicial w avalia o risco percentual aleatório t usando ũ(t) u(tx). Um pequeno risco em torno da posição inicial t 1 pode ser avaliado usando: ũ (1) ũ (1) wu (w) u (w)

Aversão relativa ao risco Definição Dada uma utilidade de Bernoulli u( ), o coeficiente de aversão relativa ao risco em w é r R (w, u) wu (w) u (w) Como r R (w, u) varia com a renda? Se r R (w, u) é decrescente em w, então indivíduos mais ricos são menos avessos ao risco com respeito a loterias sobre percentuais de sua riqueza. Atenção: aversão relativa ao risco decrescente aversão absoluta ao risco decrescente.

Aversão relativa ao risco Teorema As seguintes condições sobre uma utilidade de Bernoulli u( ) são equivalentes: 1. r R (w, u) é decrescente em w 2. Sempre que w 2 < w 1, ũ 2 (t) u(tw 2 ) é uma transformação côncava de ũ(t). 3. Dado qualquer risco F(t) para t > 0, o equivalente certeza c w definido por u( c w ) u(tx)df(t) é tal que w/ c w é decrescente em w.

Comparando distribuições de payoffs Até agora, fixamos uma loteria e comparamos diferentes indivíduos (funções utilidade) em termos de suas aversões ao risco. Agora, compararemos loterias (distribuições de payoff) em termos de risco e retorno. Quando podemos dizer que uma distribuição F( ) 1. Tem retornos maiores que outra distribuição G( )? (Domonância estocástica de primeira ordem) 2. É menos arriscada que outra distribuição G( )? (Dominância estocástica de segunda ordem) Observação: Restringiremo-nos às distribuições F( ) que satisfazem F(0) 0 e F(x) 1 para algum x.

Dominância estocástica de primeira ordem Quando podemos dizer que a distribuição F( ) tem retornos maiores que outra distribuição G( )? Dois critérios equivalentes: 1. Se todo agente maximizador de utilidade esperada que prefere mais a menos preferir F( ) a G( ). 2. Se para qualquer valor monetário x, a probabilidade de receber ao menos x é maior sob a loteria F( ) que sob G( ).

Dominância estocástica de primeira ordem Definição Dizemos que a distribuição F( ) domina estocasticamente em primeira ordem a distribuição G( ) se, para qualquer função não-decrescente u : R R, tivermos: u(x)df(x) u(x)dg(x)

Dominância estocástica de primeira ordem Proposição A distribuição de payoffs monetários F( ) domina estocasticamente em primeira ordem a distribuição G( ) se, e somente se, F(x) G(x), x.

Dominância estocástica de segunda ordem Agora, comparamos distribuições em termos de quão arriscada são (dispersão de payoffs). Restringiremo-nos a comparar distribuições com a mesma média. Definição Para duas distribuições F( ) e G( ) com a mesma média, dizemos que F( ) domina estocasticamente em segunda ordem (é menos arriscada que) G( ) se, para qualquer função não-decrescente e côncava u : R R, tivermos: u(x)df(x) u(x)dg(x)

Dominância estocástica de segunda ordem Dominância estocástica de segunda ordem está intimamente relacionada ao conceito de mean-preserving spreads. Um mean-preserving spread de uma distribuição F( ) é construído da seguinte forma: 1. Considere uma loteria composta. 2. O promeiro estágio é a loteria F( ), com realização x. 3. O segundo estágio toma x como dado, e adiciona aleatorização com um payoff de x + z, em que z é distribuído de acordo com H x (z), com média zero, i.e., zdhx (z) 0 4. A loteria reduzida, denotada por G( ), é chamada de mean-preserving spread.

Dominância estocástica de segunda ordem Exemplo Suponha que F( ) designa iguais probabilidades a 2 e 3 reais, x {2, 3}. Em seguida, se x 2, suponha que com igual probabilidade, o payoff final é 1 ou 3. Se x 3, então com probabilidades iguais o payoff final é 2 ou 4. Então G( ) designa probabilidade 1/4 aos quatro possíveis resultados 1,2,3,4. De forma geral, se G( ) é um mean-preserving spread de F( ), então F( ) domina estocasticamente em segunda ordem G( ). A volta também vale. Logo, os dois conceitos são equivalentes.

Dominância estocástica de segunda ordem Teorema Considere duas distribuições F( ) e G( ) com a mesma média. Então as seguintes afirmações são equivalentes: 1. F( ) domina estocasticamente G( ) em segunda ordem. 2. G( ) é um mean-preserving spread de F( ) x 3. 0 G(t)dt x F(t)dt, para todo x. 0

Incerteza via estados da natureza Até agora, os consumidores apenas se importavam com as distribuições dos payoffs, e não com as causas que podem originá-las. Estados da natureza: 1. S é o conjunto finito de possíveis estados. 2. s S é um estado. 3. π(s) ou π s é a probabilidade (objetiva) de que s S ocorra. Neste arcabouço, uma possibilidade incerta com retornos monetários (não-negativos) é capturada por uma variável aleatória.

Incerteza via estados da natureza Definição Uma variável aleatória é uma função g : S R + que mapeia estados em ocorrências monetárias. Uma variável aleatória g gera uma loteria monetária F( ) tal que: F(x) π(s) x s:g(s) x Note que F( ) não monitora qual estado da natureza resulta em um dado payoff monetário (perda de informação). Uma variável aleatória também pode ser representada por um vetor (x 1,..., x S ), em que x s é o payoff no estado s. O conjunto de todas as variáveis aleatórias não-negativas é, então, dado por R S +.

Preferências e utilidades contingentes Considere uma relação de preferências racional sobre R S +. Argumento análogo à teoria do consumidor: L S. Mais uma vez, sempre qe possível, gostaríamos de representar por uma função de utilidade que tem a forma de função de utilidade esperada estendida. Definição A relação de preferências tem a representação de utilidade estendida se, para cada s S, existe uma função u s : R + R tal que para cada (x 1,..., x S ) R+ S, (x 1,..., x S ) ( x 1,..., x S ) π(s)u s (x s ) π(s)u s ( x s ) s s